domingo, 15 de novembro de 2009
Eu soltei uma risada involuntária diante daquele comentário visivelmente humorístico. Era impossível que elas estivessem falando sério, não... Não mesmo.
- Sofie tem melhorado seu arsenal de piadas.
- Estou falando sério. – Ela contestou nervosa.
- Não vou fazer isso.
- Eu acho desnecessário que ela vá. Além do mais, pode ser perigoso. – Sam alertou-as para o meu contentamento. Parecia ser a única pessoa naquele aposento que não cheirara alguma droga ilícita antes de jogar Banco Imobiliário. – Não estou indo lá para reconhecer pessoas, quero tratar de negócios. Esse plano não vai funcionar.
- Pode parar de ser ranzinza? – Rebecca perguntou e eu fiquei sem saber se ela estava ou não brincando.
- Estou sendo realista. Seria muita bobagem se eles colocassem alguém do alto escalão para seqüestrar a Mel. – Fez uma cara muito cética. É claro que isso não aconteceu.
- Ela pode reconhecer amigos antigos do pai dela, afinal, Sofie era muito pequena quando ele se foi.
Confesso que fiquei um pouco admirada com a rapidez de raciocínio dela. Não que ela não costumasse pensar, é que ela geralmente reservava qualquer raciocínio lógico para as compras.
- Não vai dar certo. A Mel não vai conseguir reconhecer ninguém.
- Que?
Esta expressão “não vai conseguir” me despertou de reflexões profundas sobre como a minha vida seria se Sam e eu fôssemos noivos de verdade. Eu, realmente, odiava quando as pessoas achavam que tinham o direito de me dizer o que consigo, ou não, fazer. Tirando o que é potencialmente impossível, eu era capaz de fazer qualquer coisa, desde que me dedicasse.
- Eu conhecia sim os amigos do meu pai.
- Isso não significa nada. – Ele rebateu.
- Posso sim lembrar os rostos, tenho boa memória. – Disse irritada e cruzei os braços.
- Então você topa? – Rebecca perguntou cheia de animação por ter dado uma idéia que procedera.
- Não!
Ela ficou confusa. Colocou a mão sobre os olhos e deitou-se no sofá. Na minha cabeça isso fazia sentido, quero dizer, falar que é capaz de algo não significa, exatamente, a mesma coisa de aceitar um noivado fictício.
- Por que você usou esse tom? – Sam pareceu ficar ofendido.
- Porque não estamos noivos! – Será que não era óbvio?
- Você disse como se tivesse pavor da idéia.
- Não disse, não.
- Eu tenho bons ouvidos.
- Por que estamos discutindo sobre algo que nem existe? – Agora eu entendi a vontade súbita da Rebecca de deitar-se e não dizer mais nada sobre aquele debate sem fundamento.
- Eu não estou discutindo. – Ele colocou o ponto final na conversa de uma maneira só dele. – Eu informei que iria à reunião no domingo. Não quero brincar de casinha.
- Silêncio. – Sofia ordenou como se fosse o general de alguma tropa alienígena. – Mal entraram em um noivado imaginário e já estão brigando como marido e mulher. – Ela girou o pescoço alguns graus e encarou-o com cautela. – Samuel, além de poder reconhecer alguém, a Mel também pode participar e ouvir conversas entre mulheres de executivos. Esposas sabem mais de intrigas que os próprios maridos. Qualquer informação é necessária. O que temos que pensar agora é onde podemos conseguir esse anel.
- Eu tenho alguns. – Balancei os ombros pouco me importando se a minha fala significava que eu havia concordado com aquele plano maluco. Naquela hora, eu já tinha perdido as forças para discutir algo que percebi que não desistiriam tão fácil.
- Não pode ser qualquer anel, qualquer mulher reconhece um anel de noivado. – Rebecca quebrou seu silêncio, momentaneamente, ainda deitada no sofá encarando o teto.
- Podemos pegar o da Sarah. – Sofie sugeriu sem sequer um pingo de remorso por roubar a própria mãe.
- Não vamos roubar a mamãe.
- Devolvemos depois, qual o problema?
- Como vão fazer para tirar um anel do dedo da sua mãe? – Rebecca nos olhou pela primeira vez desde que havia deitado.
- Não, a Sarah não usa. Ela o colocou em uma caixinha na última gaveta do guarda-roupa, embaixo de toalhas de mesa bordadas. A chave está no criado-mudo dentro de um pote vazio de creme antiidade. – Minha irmã respondeu sem parar para respirar.
- Como você sabe disso? – Eu fiquei admirada.
- Tudo muito previsível. – Ela jogou os ombros para trás e logo endireitou a postura.
- Ainda não acho uma boa idéia. – Sam comentou de pé, apoiando o corpo musculoso sobre a parede.
- Nem eu. – Olhei para baixo tentando encontrar o motivo que me fazia acreditar ardilosamente que, com certeza, aquele não era um bom plano.
Eu era sim uma garota que acreditava no casamento. E, sem dúvida, um dos meus sonhos era casar-me com um cara que me amasse e me respeitasse acima de tudo. Alguém doce e bom, que soubesse construir uma família. Eu tinha plena certeza da importância que a família exercia na vida de alguém, eu prezava muito a minha.
O problema é que eu não queria entrar no pesadelo de fingir ser casada com alguém que, algum dia, tentara me matar e eu ainda tinha dúvidas se ele desistira mesmo desse plano. Ele também não parecia nada contente com essa idéia. Então, mesmo que não fosse um casamento real, ainda acarretaria um clima horroroso durante algumas horas. E, sinceramente? Eu não gosto de fingir.
Pode parecer mentira, já que eu estava fazendo todo aquele teatro, durante o dia, para que o Sam acreditasse que não estava acontecendo nada de errado e, durante a noite, eu fazia questão de simular que não estava abalada, que não estava destruída. Não gosto que sintam pena de mim, portanto, não me sentia tão culpada sobre esse último ponto, mas um sentimento ruim despontava em mim a cada vez que encontrava o alter ego do Sam no elevador. Agora, fingir ser uma noiva feliz ao lado de alguém que não teve o mínimo de compaixão ou humanidade por mim era demais.
E se me perguntassem como ele fez o pedido? E se questionarem sobre onde passaremos a lua de mel? E o que eu responderia caso indagassem sobre o vestido que eu usaria na cerimônia? É o tipo de coisa que as mulheres adoram perguntar às noivas, talvez imaginando como seria o próprio casamento, talvez só para liberar a inveja contida.
Eu não seria capaz de inventar tudo isso e conseguiria, muito menos, fingir nesse momento. Qualquer reles mortal, então, poderia ver em meus olhos o meu ponto fraco, poderia enxergar a forma da amargura, iriam vislumbrar os destroços do meu interior. E ninguém é bom o bastante para enganar a própria alma.
- Acho que deveríamos fazer. – Suspirei depois de vários minutos de reflexão.
Todos na sala se voltaram para mim com os olhos meio arregalados. Eu havia dito, momentos antes, que não queria aquela farsa e, agora, já mudara de idéia. E eu não me importava muito que os outros não me compreendessem, eu entendia a mim mesma.
O que mudou minha opinião então? Minutos atrás, percebi que Sam era meu ponto fraco. Não havia outro motivo para que eu não aceitasse a idéia do casamento com exceção do fato de que ele me destruíra. Eu não queria fingir ser noiva de alguém que me tratara com tanta frieza, mas enquanto eu recusasse esse plano, significaria que eu ainda me sentia abalada com essa história e eu não poderia permitir que ele exercesse esse sentimento sobre mim para sempre. Se aquele era meu ponto fraco, eu iria lutar contra ele.
Se eu conseguisse passar essas horas nessa situação de noiva fictícia, significaria que eu dera um passo à frente e, finalmente, conseguiria prosseguir com a minha vida. Isso, contudo, ainda me incomodava. Eu sentia um leve aperto nas entranhas a cada vez que lembrava que ele sumiria de novo assim que tudo estivesse acabado e ele estivesse com a encomenda, de acordo com o que combinamos. Mas várias vezes eu me traía pensando o quanto seria bom se isso acontecesse e eu não sentisse mais nada.
Por mais que essa reflexão me trouxesse medo, meu lado racional gritava a favor dela. Era bem mais coerente que eu o deixasse ir. Então eu não estaria mais com a encomenda e todos os problemas seriam transferidos a ele e eu não deveria me sentir culpada ou amedrontada sobre o que pudesse acontecer, como me sinto agora, enquanto traço essas linhas de pensamento. O certo seria que eu deixasse tudo para trás e cortasse qualquer relação que pudesse nos trazer, de novo, ao mesmo ponto. Então eu estaria livre.
Se eu fosse capaz de superar, se pudesse esquecer qualquer dano, qualquer ressentimento e carinho que um dia houvera, eu poderia seguir em frente. No fundo, eu apenas queria o que qualquer garota almeja: uma vida longa e feliz. Livre de planos, armadilhas, medo, insegurança e, cima de tudo, livre de mentiras. E, se isso implicasse lutar contra meu lado, predominantemente, emocional, eu o faria.
- Posso conversar com você um instante? – Ele pediu tentando ser educado, mas não conseguia disfarçar a frustração pela minha atitude.
- Sofie, vamos até o quarto da Mel? Quero te mostrar uma coisa...
- Não tenho mais 11 anos. – Sofie respondeu irritada e seguiu minha amiga. As duas desapareceram no corredor.
Sam esperou que o silêncio se estabelecesse para começar a falar. Não estava nada contente.
- Qual é o seu problema?
- Eu não tenho um problema. – Respondi decidida. Levantei-me do chão e deixei que meu corpo caísse sobre o sofá da sala. O tabuleiro em cima da mesa de centro tremeu.
- Você não está psicologicamente estável.
- Eu agradeceria se você não dissesse que eu estou louca, obrigada.
- Você não está agindo como a Mel. – Ele estranhou e franziu o cenho. – O que está acontecendo com você?
- Você. É isso o que está acontecendo comigo.
Era a pura verdade. Desde que ele chegara, aprontara uma confusão na minha cabeça e eu não estava mais, de fato, agindo como eu mesma. Tinha idéias completamente contraditórias, não sabia mais o que fazer, sentia-me, às vezes, fraca como qualquer verme que come terra. Eu só queria acabar com isso, queria voltar à minha vidinha simples e tediosa de sempre.
- Ah, então agora a culpa é minha. – Sam riu amargamente. – Fico imaginando o quanto isso é conveniente para você.
- Quê? Não se atreva a falar sobre conveniência.
- Não vejo outro motivo que te faça agir assim. É realmente muito conveniente dizer que eu sou a causa de todo o ruim que acontece na sua vida.
Isso fez meu sangue ferver. Era muita hipocrisia dizer isso depois de tudo o que fizera.
- Porque você agora é o inocente, certo? – Ironizei sorrindo amarelo. Joguei os cabelos da franja que caíram no meu olho para trás.
- Não. Mas também não tenho culpa de suas instabilidades emocionais. Você não consegue entender a si mesma, então começa a agir por impulso e depois me culpa por suas escolhas erradas.
- Você é que está errado. Você não me conhece.
Durante todo o tempo em que passamos juntos, ele não tentara me conhecer. Estava apenas pensando na melhor maneira de conseguir o que queria. Contudo, essa idéia não mais me deixaria arruinada porque eu seguiria em frente de uma vez por todas.
- Conheço mais do que você imagina. – Ele moveu um pouco as costas para sair da posição em que estava há vários minutos. Parecia muito desapontado. – Você costumava ser tão doce, forte, decidida... – E ele destruíra tudo isso, eu quis dizer, mas não pude me sentir tão suscetível. – Disse-me que detestava mentiras e, olhe agora, está concordando com essa farsa. – Ele levantou o tom de voz quase como se estivesse prestes a gritar.
- Porque eu quero te cortar da minha vida! – Eu retruquei irritada. Ele não estava em condições de me julgar. – Se fizermos isso e funcionar, então vou me livrar de você o mais rápido possível.
Os olhos dele brilharam de raiva. Tive até a impressão de que o verde se transformara em chamas vermelhas e crepitantes. Eu senti medo ao ver seus lábios tão convidativos tremerem. Ele não raciocinava muito quando estava nervoso, era capaz de qualquer loucura.
Moveu-se para frente e, ainda com a expressão que me causava um grande temor, fitou-me brutalmente. Estava perto e me olhava como uma serpente que analisa a presa. Então recuou.
- Se é assim que você quer... – Disse antes de sair, fechando a porta com um estrondo.
Eu parei de concentrar minhas forças em permanecer sentada, deitei-me no sofá assim que ele se retirou. Era de meu conhecimento que, provavelmente, Rebecca e Sofia estavam nos escutando através da porta do meu quarto, mas eu não me importei muito.
Senti-me bastante mal por ter dito aquilo. Não era, com certeza, o que eu queria de verdade. Não queria me livrar dele, mas eu sentia que deveria fazer isso. Como ele mesmo dissera, eu virara outra pessoa. Uma pessoa que, visivelmente, o desapontara, mas eu só poderia voltar a ser eu mesma quando estivesse livre de todos esses sentimentos que me prendiam e aniquilavam ao mesmo tempo. Era preciso cortar laços, era preciso que nos separássemos, era preciso seguir em frente.
- Você sabe que dia é hoje? – Sofia perguntou-me com um leve tom de censura.
- Sei. Quinta-feira... – Dias sem sequer ver o Sam, mas era óbvio que ela não se importaria com isso. – Seu dia de organizar a cozinha.
- Errado. – Ela respondeu enquanto enchia, pela manhã, a costumeira tigela de cereais. – Dia da Coluna Estrela.
- Droga.
Era o dia em que a coluna quinzenal, na qual Sarah entrevistava uma celebridade local, seria escrita e impressa no dia seguinte. Isso, por motivos claros, significava que ela ficaria no trabalho até mais tarde.
- Devo lembrá-la de não se atrasar quando for me buscar no curso.
Fiz uma careta. Além da preguiça, eu ainda estava um pouco traumatizada visto que, da última vez, quase sofri um seqüestro.
- Você poderia, pelo menos, fingir estar menos desanimada. Falta só uma semana para acabar.
- Ainda bem.
A palavra “fingir” lembrou-me do plano do noivado fictício que colocaríamos em prática no domingo. A esperança de que conseguíssemos qualquer pista fez meu estômago revirar. Isso era bom e ruim ao mesmo tempo.
- Rebecca ligou aqui ontem. Disse que arranjou a roupa perfeita para você, o que eu acho cientificamente improvável. Não acredito na perfeição.
- Obrigada por avisar. – Meu estômago revirara outra vez.
Ontem eu passara mais da metade do dia trancada no meu quarto. Eu até mesmo esquecera as precauções que eu estava tomando ao passar a maior parte do tempo no colégio para evitar qualquer atentado surpresa. Nada disso parecia ter mais importância quando eu me visualizava fingindo ser uma noiva feliz e apaixonada por alguém que eu decidira esquecer. A idéia de que, se eu fizesse isso, eu provaria a mim mesma que não estava mais tão danificada não saía da minha cabeça. Seria a nossa despedida. Irônico, sem dúvida.
No tempo em que fiquei trancada no meu quarto escuro, apenas coloquei uma música alta nos meus fones de ouvido e fiquei deitada na cama. Eu estava concentrando forças para romper essa barreira. No fim do dia, eu já estava convencida por completo de que conseguiria bancar a noiva do Sam sem qualquer recaída. E, no final daquele dia, estaria livre de qualquer outro sentimento que ele me trouxesse.
- Vou me trocar. Sarah já deve estar acordada. – Sussurrei antes de tomar o último gole de leite quente da minha xícara.
Troquei-me em tempo recorde. Nem mesmo Sofia estava na sala ainda quando voltei já pronta. Logo ela apareceu resmungando algo sobre o laço do cabelo que não ficara simétrico e Sarah já estava nos esperando lá embaixo.
Ela não estava conversando comigo desde aquele dia em que eu insinuei que ela não se importa com os filhos. Acho que nós duas tínhamos dificuldade para encarar a verdade. Eu não suportara o fato de que ela também não estava me reconhecendo e perguntara se eu estava sob o uso de drogas, então joguei uma frase dura sobre ela. Ela também não conseguira encarar as minhas duras palavras.
Pisei no colégio com o desânimo de sempre. Rebecca, ao contrário, estava radiante ao ponto de dar pulinhos de excitação assim que nos vira chegando. Sofia fez uma expressão cansada e logo se afastou. Não era o tipo otimista.
- Adivinha que dia é hoje!
- Você também? – Respondi fazendo cara feia para uns garotos do primeiro ano que assoviaram ao passar. – Isso é uma espécie de jogo?
- O quê? – Ela pareceu um pouco confusa, mas não tirou o sorriso da face bonita. – Não, sua tola! Falta exatamente um mês para o seu aniversário. Precisamos fazer uma festa, com muitos balões, bebidas com aqueles guarda-chuvinhas, um povo diferente...
- Nem pense nisso.
Eu nem estava me lembrando desse detalhe. Meus problemas me distraíram a ponto de esquecer meu próprio aniversário.
- Precisamos de uma festa! – Ela balançou os cabelos cor de trigo com a agitação.
- Podemos fazer uma pequena reunião. – Dei de ombros.
Eu também não era tão anti-social assim. Eu gostava de comemorar meu aniversário, mas sem grandes festas. Queria apenas reunir as pessoas que gosto em algo mais simples.
- Eu, você, o Lean, a Sofie, a Sarah... – Fui contando os convidados que eu tinha em mente nos dedos das mãos. Bom, não eram tantos assim, realmente.
- Você vai chamar o Sam? – Ela vibrou de curiosidade e logo desviou os olhos atentos.
- Um mês é muito tempo. – Refleti sozinha pensando o que eu estaria fazendo em um mês. Desejei realmente que as coisas estivessem bem melhores que agora.
- Você não quer comentar sobre o que Sofie e eu ouvimos ontem, não é?
- Não. – Fui sincera enquanto desvencilhava de um grupo de alunos mais novos passando no pátio.
- Eu tenho uma dúvida. – Ela correu para me acompanhar.
Eu deveria ter previsto que ela não deixaria que o assunto escapasse, assim, tão facilmente. Se eu era teimosa o suficiente, Rebecca estava virando minha discípula nesse aspecto. Não desistiria de me fazer perguntas acerca daquele plano besta com o qual surgiram ontem.
- Já estou muito nervosa, começo a suar frio a cada vez que penso nisso, não podemos deixar para depois?
- Eu sei como você faz. – Ela sorriu e arrematou perfeitamente meus pensamentos. Esse era o problema de se ter uma melhor amiga tão próxima: em certo estágio, ela começa a ler a sua mente. Não que fosse ruim o tempo todo. – Vai dizer sempre depois até que eu pare de tocar no assunto e você faça as coisas do seu jeito. – Piscou satisfeita consigo mesma por ter sido tão exata. – Não vai conseguir. Você precisa de mim.
- Não preciso. – A menos que ela me ensinasse a agir como uma noiva de um ser bipolar.
- Claro que precisa. Eu sou uma inútil para você, eu sei, mas não quando o assunto envolve eventos e festas sociais. – Rebecca sorriu animada.
Observei a excitação brotando em seus olhos e a sua vontade de dar pulinhos de alegria. Um pássaro branco pousou na estátua logo ao seu lado.
- Você não é uma inútil. – Eu neguei veemente e cerrei um pouco meus olhos para evitar a luz forte que atingia o pátio.
Definitivamente, Rebecca não era inútil. Ao contrário, era a pessoa que me ajudava sempre quando podia, apesar de todo o medo e a inaptidão para tarefas mais lógicas. Ás vezes tudo o que você precisa é uma xícara de chocolate quente e um ombro amigo.
- Então pare de me tratar como uma e comece a conversar! Conte-me tudo com todos os detalhes! Por que estavam gritando? Ele saiu furioso? Por que bateu a porta? Vocês vão mesmo naquela reunião?
- Bom, eu vou. – Eu disse fazendo pirraça. Lembrar sobre a discussão não estava me trazendo boas vibrações. A cada vez que eu lembrava o quanto Sam conseguia ser teimoso, orgulhoso e abusado tudo ao mesmo tempo, eu ficava louca... de raiva, é claro.
- Eu achei que você não tivesse gostado da minha idéia.
- E não gostei! – Eu arregalei os olhos e fitei-a de um jeito espantado. Quem, afinal, gostaria de se fingir casada com alguém que quebrou seu coração? Aliás, eu estava disposta a provar que ele não tinha me quebrado por completo, mesmo assim era uma situação desagradável.
Rebecca balançou os cabelos loiros confusa.
- Então por que você concordou? – Ela levantou as sobrancelhas mostrando-se aflita.
Eu não sabia como explicar aos outros. Ou, mesmo, no fundo sabia que se eu tentasse explicar minhas palavras pareceriam tão absurdas e ridículas que eu poderia ficar com vergonha, mas dentro de mim elas faziam um pouquinho de sentido.
- Você não vai entender. – Eu olhei para baixo tentando me livrar do imenso nó que havia surgido, de uma hora para a outra, dentro da minha garganta.
- Tente. – Ela ficou me encarando com aqueles olhos enormes esperando que eu começasse.
Contemplei as nuvens esperando que elas me dissessem qual seria a melhor maneira de começar, mas eu apenas vi um peixe estampado em uma delas. Isso não me ajudou muito.
- Ok. – Eu disse depois de muito tentar me concentrar. – Por que eu não aceitaria esse plano?
Ela me observou procurando sinais da minha loucura aparente. Pela expressão em seu rosto, estava começando a ficar com medo.
- Pelo motivo óbvio. – Ela respondeu ainda com o estranhamento da minha questão.
- Que é...? – Tentei fazer com que ela completasse o raciocínio.
- Você não consegue fingir-se de noiva dele porque ele te machucou, ué. – Ela deu de ombros e observou-me com piedade.
- E eu preciso superar isso. Não posso ficar me lamentando sozinha no escuro a vida toda por causa dele que, aliás, é um babaca.
- Você é orgulhosa demais. – Ela sorriu singela sobre tudo o que eu disse. Sentou-se na mesa mais próxima e abriu a bolsa colorida com tons de verão. – Você não quer provar a si mesma que já o superou, você quer provar a ele que você não sente mais nada. – Ela esclareceu ainda procurando algo na bolsa que, segundos depois, mostrou-se ser uma revista com uma modelo morena na capa.
- E qual é o problema?
Eu sinceramente não entendia o que havia de tão errado em mostrar ao Sam que eu não era só mais uma menininha ingênua com quem, uma vez, ele brincou. Poderia ser infantilidade, eu sei, mas eu realmente não fazia o tipo “sente pena de si mesma sem fazer nada”.
- Não vai dar certo, é claro. – Ela respondeu com certeza plena do que estava falando.
- Claro que vai. – Eu sacudi a cabeça me convencendo disso. Sentei-me também.
Eu, talvez, tivesse clareza de que tudo o que eu estava tentando fazer era ferir quem havia me ferido. Uma espécie de um “olho por olho, dente por dente” moderno. É claro que eu sabia que incomodaria o Sam ver que eu estava tão contente e descontraída com situação que tem tudo para ser constrangedora e nostálgica.
- Você tem a noção de que, tentando provar que não se importa mais com ele, pode se machucar ainda mais?
- Eu duvido muito.
De alguma maneira, eu achava que não tinha como me sentir mais ferida, mais traída, mais acabada. Talvez eu só fosse pessimista ou, talvez, eu não soubesse que minha história estava apenas começando.
- Eu acho você tão corajosa às vezes. – Ela refletiu balançando a perna que estava por cima da outra no ar. Olhou para cima procurando uma leve brisa.
- Isso não é coragem. – Eu fiquei pensativa perguntando a mim mesma se ela não estava, mais uma vez, confundindo coragem com estupidez. – É algo que preciso fazer. Um risco que decidi enfrentar.
- E você não vai mesmo dar para trás? – Rebecca me olhou por cima da revista de moda.
- Não. Agora é a hora do tudo ou nada. É o passo que preciso dar para superar isso de vez.
- Eu já escolhi a sua roupa. – Ela sorriu orgulhosa. Parecia gostar muito mesmo de ajudar como podia.
- Obrigada. – Eu não me sentia muito a vontade nessa posição, mas também não conseguiria escolher sozinha algo para vestir. Sem contar que os meus gostos a respeito de roupas não seguem o padrão. Por mim, eu colocava uma calça jeans, uma blusinha preta com um decote simples e umas sandálias, mesmo não gostando muito, de salto alto. Simples, casual, pronto. O problema é que não é assim que as pessoas se vestem em reuniões formais. Nem precisava dizer.
- Você pode ir buscá-la no sábado. Posso arrumar seu cabelo também, apesar de eu achar ele bonito quando você não resolve só amarrá-lo com um elástico.
Embora tenha ouvido a dura crítica sobre a minha preguiça e indisposição de arrumar meu cabelo, outra palavra me chamara a atenção naquela frase. “Sábado” me lembrava de outra promessa que eu havia feito.
- Não posso ir à sua casa no sábado. – Lembrei-a. – Tenho aquele encontro com o Noah.
Ela sorriu de um jeito enigmático e sacana. Como uma mãe faria se estivesse fazendo a previsão de que a filha iria aprontar alguma. Só faltou as palavras “juízo, viu?”. Eu, assim como qualquer outra pessoa que estivesse na mesma situação, olhei-a com uma expressão angelical.
- Ele está virando meu amigo.
- Aonde vão? – Ela perguntou não contendo a curiosidade. Ficou ainda mais animada ao lembrar-se de que eu ainda tinha esse compromisso no sábado à noite.
- Ele não disse. – Dei de ombros e comecei a observar um pombo que acabara de
assustar uma menina do 1º grau. Ela dava passos de costas sem nem olhar que rumo estava tomando, gritava de pavor da criatura voadora.
A sexta feira passou rápida e tranqüila, como qualquer outro dia. Não escutei nem sinal do Sam e perguntei a mim mesma se ele teria viajado de novo. Ele costuma ficar quieto quando está nervoso, mas, quando acontece, pelo menos o vejo na calçada passeando com o cachorro. Desta vez, como naquela em que ele disse que havia ficado umas semanas fora da cidade, também não ouvia sequer sinal do Tosha em qualquer lugar. Senti-me um pouco trêmula ao pensar que, talvez, ele tivesse desistido da história. Afinal, qual era o problema dele? Digo, além de ser turrão e rabugento? A idéia de que deveríamos nos passar por noivos deveria ser um fardo para mim, afinal, eu sou a pessoa que deveria estar emburrada aqui. Se alguém tem um verdadeiro motivo para não aceitar esse plano, sou eu. Por que então ele está tão relutante? Eu também tentei não pensar muito nisso, embora fosse difícil. A primeira resposta que vinha a minha cabeça era, naturalmente, que ele tinha pavor de nos imaginar noivos, casados ou seja lá o que for. De qualquer forma, é contraditório que uma pessoa que me contara tantas mentiras resolvera prezar pela verdade justo agora.
Enfim, com a presença ou não do Sam, tive que seguir minha rotina normal, pegando-me, é verdade, dispersa algumas vezes imaginando onde ele deveria estar. É simplesmente terrível quando você é traída pelos próprios pensamentos. Nada de novo no colégio, nada de novo no condomínio, nada de novo passando na televisão. É o famoso tédio. Não deveria ser assim nas sextas-feiras, mas a minha foi dessa maneira. Terminei comendo frango frito na frente do computador, o que fez Sofia reclamar por horas contínuas sobre a gordura nas teclas e um monte de informações novas que não consegui abstrair. Ela sempre tomava posse do meu computador, por que eu não poderia engordurar o teclado o quanto quisesse?
O sábado começou mais tranquilamente ainda. Acordei com o barulho dos pombos na minha sacada, mais estreita que a da sala de estar. Não é que eu não goste de animais, não é isso... Mas acho que eles poderiam, de vez em quando, permitir que eu dormisse algumas horas a mais. Isso é o que acontece quando assassinam um velho que alimenta os pássaros: eles acabam saindo do terraço e pedindo comida na sua sacada às sete da manhã... em um sábado.
Sofia já estava de pé. Seu corpo funcionava de acordo com um relógio biológico perfeito. Dormia sempre na mesma hora, acordava sempre no mesmo horário. Não tinha o atraso de sequer um minuto, funcionava como uma máquina. Isso me assustava às vezes, mas então eu lembrava que a minha irmã não teve culpa de se transformar em algo que apenas lembrava uma criança. Era outra vítima.
- E então? Preciso me certificar de que tudo correrá bem. – Ela disse sentada na mesma cadeira colocando os cereais na mesma tigela. – Qual a sua história?
Observei-a preocupada. Não sabia se era a hora da manhã, o sábado ou se as palavras dela não estavam mesmo fazendo sentido.
- Qual história?
Ela encarou a jarra de leite decepcionada. Não era culpa minha se a minha bola de cristal estava no conserto.
- Todas as pessoas no âmbito social fazem às noivas recentes perguntas básicas, por exemplo, como se conheceram, como foi que ele pediu sua mão em casamento, entre outras. – Fitou-me atentamente por entre as lentes grossas. – Qual a sua história?
Eu pensei um pouco, mas me abstive de dar muita atenção a isso. Como, desde o princípio, eu havia pensado que houvesse essa possibilidade e que ela, certamente, me deixaria deprimida, por isso a estava evitando.
- Bom, a gente se conheceu por amigos em comum e ele simplesmente ajoelhou e fez o pedido. – Simplifiquei tudo enquanto mordia uma bolacha que fez um estalo seco. A história era simples, perfeita, nada que indicasse que qualquer estranha deveria fazer mais perguntas e pedir mais detalhes.
Sofia fez uma cara de quem estava pensando se acreditaria nessa história se ela lhe fosse contada.
- Sam tem um tumor no cérebro?
- Que?
- Alguns tipos de tumores cerebrais fazem que as pessoas cometam ações impulsivas e inesperadas diante de lapsos de bom julgamento.
- Casar comigo é um lapso de bom julgamento? – Parei de comer para me sentir ofendida com a resposta.
- Não, mas sejamos realistas: ninguém conhece uma pessoa e três meses depois está fazendo o pedido de casamento... A não ser que ela tenha um tumor. – Completou o pensamento orgulhosa de si mesma e afundou uma colher no mar de cereais e leite. – Ou que esteja muito desesperada.
Eu fiquei refletindo sobre isso por um momento. Nessa história do tumor, quem seria o mais fora de si, o homem em questão ou a mulher que aceitou o casamento num ímpeto de excitação e loucura?
Não sei quantos minutos exatamente se passaram até que Sofie levantou-se para colocar a tigela vazia na pia e guardar a caixa de cereais no armário, em ordem alfabética, claro.
- O Noah vai vir aqui hoje. – Eu esperei até o sábado para lembrá-la do meu compromisso porque sabia que isso provocaria aquela avalanche de mau humor.
- Ah é. – Ela virou-se para me reprovar com os olhos. – Esqueci que agora são amiguinhos. – Parecia muito chateada mesmo. – É com esse tipo de gente com a qual você se mistura, Mellanie. Ele se gaba tanto de ser tão esperto, inteligente e sagaz, mas, vou te dizer a verdade, não saberia dizer nem os primeiros vinte números da seqüência de Fibonacci sem usar uma calculadora! – Saiu batendo os pés e fechou a porta com raiva. Acho que ela pensava que eu estava me aproximando do Noah por julgá-lo mais inteligente que ela.
Passei a tarde inteira ouvindo música. Achei que seria um pouco demais ficar me preocupando sobre o encontro de mais tarde. Não iria acontecer nada, pensei comigo mesma. Eu também não iria me arrumar como se estivesse indo casar, acho que uma roupa discreta, porém bonitinha cairia bem. Também não me preocupei muito com a segurança do local, ainda estava com aquela idéia na cabeça de que, contanto que eu estivesse em um lugar cheio de gente e não inventasse de pegar atalhos sombrios, eu estaria afastada do perigo.
Quando começou a escurecer, eu já estava vestindo uma calça jeans e uma blusinha lilás decotada, apesar dos sinais de chuva que estavam aparecendo lá fora. Levei um casaco por via das dúvidas. Se não chovesse hoje, certamente choveria amanhã. Noah havia me enviado uma mensagem dizendo que me buscaria às sete e meia em ponto. Desci cinco minutos antes de dar o horário.
Na hora exata, um aroma quase doce demais invadiu o ar. Eu o achei diferente. Pensei que pudessem ser os cabelos loiros que não estavam tão cuidadosamente arrumados como da última vez. Talvez fosse apenas impressão minha.
Ele sorriu ao me ver. Os dentes alinhados a mostra exprimiam algum sentimento na linha entre a bondade e a animação. Era difícil explicar a diferença entre ele e o meu tão inconstante vizinho. Indaguei se as divergências eram mesmo exteriores ou se apenas dependiam da maneira aflita com que a minha caixa torácica enfunava-se e recolhia-se em cada situação. No caso, muito mais aceleradamente ao mentalizar a imagem do vizinho.
Noah caminhou em minha direção. Estava realmente animado com o nosso primeiro encontro que, na verdade, eu não estava levando muito como um encontro. Eu estava mais em clima de saída entre amigos. Não que eu estivesse arrependida de ter aceitado o convite dele. Creio que nunca enganei a mim mesma, ou a ele, acreditando que algo a mais pudesse acontecer entre nós. Eu só não tinha a certeza se ele tinha isso em mente.
- Você se sente melhor?
Eu corei um pouco. Não havia como não sentir uma pontada de vergonha ao lembrar o último episódio em que estive em sua companhia.
- Desculpe-me por aquele dia. – Eu murmurei encarando as minhas sandálias de salto alto nada confortáveis.
Observei as leves rugas que se formaram em sua testa. Pareceu não ter entendido.
- Está se desculpando pelo quê? – Sorriu meio constrangido.
Rolei os olhos pensativa. No fundo, eu me sentia culpada por ter aceitado o convite da festa da Paola mesmo sabendo das minhas péssimas condições psicológicas e, consequentemente, ter arruinado em potencial a noite de alguém que eu via como amigo. Recente, mas amigo.
- Eu não estava me sentindo muito bem.
- Eu percebi. – Ele respondeu e eu corei mais um pouco. Ele não disse em tom de censura como se estivesse tentando me constranger, mas com um pesar perceptível. Às vezes, eu notava esse olhar atravessado e penoso com que ele me atingia. Observava-me como se sentisse dó de um destino terrível que me aguardava. Algumas vezes, eu desconfiava que Sofie houvesse “deixado escapar” a desilusão e toda a dor que eu sofrera com o Sam e, por isso, o Noah estava tentando me animar, apesar da expressão piedosa que lhe traía com freqüência. – O importante é que já se sente melhor. – Sorriu desajeitado, observou alguns dos carros passando na rua, mas logo se recuperou. – Vamos, você vai gostar disso! – A animação brotou novamente em seu rosto fino.
Fiquei imaginando o que ele tinha planejado. Esperei verdadeiramente que não fosse grande coisa. Eu não saberia como reagir caso ele tivesse preparado uma super surpresa, além disso, não temos tanta intimidade assim. Quando chegamos de carro ao determinado lugar, vi que não tinha lá muitos motivos para preocupação.
Era um barzinho fechado quase escondido pelos outros restaurantes e comércios da avenida movimentada. Vários carros passavam velozes jogando um banho de luz nos pedestres e sobre os meus olhos, acabara de pisar na calçada.
Eu gostei do clima de animação e novidade do lugar. Os letreiros luminosos e piscantes completavam o ar de excitação das pessoas que passavam rindo alto e segurando sacolas de lojas que haviam acabado de fechar. A brisa da noite que caía também me despertava uma leve sensação de aconchego.
Atravessamos a avenida e passamos pelas portas de madeira lisa do pequeno barzinho cor de flor de Liz e bem apresentado no exterior. Lá dentro, descobri que a intenção de conforto era contínua. Havia um bar bem iluminado que se estendia por todo o lado direito do local. Algumas pessoas estavam sentadas descontraidamente conversando aos arredores. Tomavam alguns drinques coloridos apesar de eu ter achado um pouco cedo para aquele horário de início de noite. Do lado esquerdo, várias mesinhas pequenas e redondas se postavam de maneira aleatória em frente a um palco não muito alto, não muito extenso. O ponto alto de iluminação era ali, pelo visto, alguém iria se apresentar naquela noite. Esperei verdadeiramente que não fosse um ventríloquo nem um palhaço, tenho uma espécie de medo irracional com relação a esse tipo de show.
Noah escolheu uma das mesinhas sob a luz fraca e bem perto do palco, arrastou uma cadeira para que eu me sentasse. Depois, sentou-se à minha frente. Peguei-me observando seus cabelos claros e bonitos, mas logo desviei meu olhar para as persianas escuras que impediam a entrada da claridade pelas janelas.
- Ainda está vazio. – Ele reclamou um pouco decepcionado. – Mas logo deve começar. – Sorriu esperançoso e eu tive que me virar para poder ver o ponto do palco que ele estava examinando. Dois homens estavam montando uma bateria ali. Fiquei, definitivamente, mais animada.
- É bem legal aqui. – Comentei enxergando melhor a decoração das paredes, cheias de pôsteres e fotos de diferentes bandas e artistas. Algumas pinturas abstratas também colaboravam com a harmonia estética do lugar.
- Eu também gosto. – Ele abriu ainda mais o sorriso caloroso e ficou mais à vontade.
Não parecia mais aquele Noah formal e pomposo da outra noite. Agora postava as pernas de uma maneira bem mais descontraída dentro de uma calça jeans por debaixo da mesa. Apoiou uma das mãos, tranqüilo, no encosto da cadeira.
- Eu costumo vir aqui para relaxar. – Comentou amigavelmente de uma maneira cativante. – Eles costumam ter um som legal, muitas vezes lembro de você.
- Ah. – Eu sorri de volta, meio sem jeito. Aquela pergunta “o que tem de errado comigo?” apareceu de novo na minha cabeça. Ali, naquele lugar, eu parecia na companhia de um garoto tão sedutor, bonito, educado, perfeitinho, etc, etc, etc. E, mesmo assim, não me despertava metade do interesse que o meu vizinho sabia como despertar. Aliás, decidi que, enquanto minha raiva não passasse, eu não citaria seu nome outra vez nessa história. Ele era só o vizinho e fim. E que vizinho...
Um rapaz educadinho apareceu anotando o que iríamos beber, Noah pediu um suco e eu decidi acompanhá-lo. Conversamos sobre trivialidades por bastante tempo. Ele tinha, de fato, muitas histórias para contar sobre vários lugares que já havia conhecido e experiências pelas quais já passara. Qualquer novo assunto lhe lembrava uma nova história divertida que terminava de um jeito meio maluco. Eu ria muito da maneira como ele contava tudo e, até eu que sou uma pessoa bastante fechada, resolvi me abrir e contar algumas histórias que ainda estavam na minha mente. Acredito que tenha sido a coisa mais divertida que eu fizera em algumas semanas. De algum modo, a vida parecia muito mais fácil enquanto eu estava ali comendo amendoins salgados, dando risadas e relembrando fatos.
- E o que a sua irmã pensava? – Ele perguntou sorrindo.
- Bem, - eu tomei um tempo para mastigar outro amendoim – acreditava que tinha sido mesmo o papai Noel que comera os biscoitos que ela e mamãe faziam.
Ele riu muito e mexeu nos cabelos, descontraído.
- Sofia? Acreditando em papai Noel?
- Ah – eu joguei os ombros para cima pensando – naquela época ela era bem diferente. – Sorri nostálgica. – Quando via que os biscoitos que ela havia feito para o papai Noel tinham sumido...
- E você comia tudo caladinha? – Noah me jogou um olhar de falsa censura.
- Às três da manhã! – Rimos juntos de tal maldade.
Eu percebi que ele se lembrara de outra história, mas foi interrompido por um som um tanto alto. A multidão que aparecera no bar nesse par de horas aplaudiu com vivacidade. Várias pessoas gritavam e assobiavam à medida que a luz sobre o palco aumentava e quatro garotas, vestidas de uma maneira bem rebelde, subiam e pegavam os instrumentos. Quando começaram a tocar, a galera foi à loucura.
- Banda cover de The Donnas! – Eu gritei para que Noah pudesse me ouvir. Uau, isso sim foi surpresa. – Uma das minhas bandas femininas favoritas!
Como ele sabia? Fiquei muito chocada, mas de um jeito bom, é claro. Foi o melhor cover de The Donnas que eu já ouvi na minha vida! Gritei muito junto com a multidão enquanto elas tocavam “Take it off” de uma maneira impecável. É realmente uma das melhores músicas e serviu pra dar uma animada no ambiente.
A noite decorreu com várias outras canções ousadas e decididas e o resto do pessoal parecia estar adorando, não tanto quando eu, é óbvio. Noah também estava surpreso por ter acertado tanto assim sobre a banda e o lugar. Ele disse (ou pelo menos tentou ser ouvido) que não sabia que era uma das minhas favoritas, mas achou que fazia o meu estilo. Bom, o importante é que ele estava certo. Eu gostei de verdade.
Mais no finalzinho da noite, elas se despediram e foram aplaudidas mais uma vez, então alguns outros côveres se apresentaram. Um deles até de Raul Seixas, um dos músicos mais admiráveis, em minha opinião. As pessoas ao redor agora pareciam mais calmas, bêbadas e comunicativas. Toda a animação do começo havia passado e agora estavam mais prestando atenção nos próprios copos do que na música em si.
Infelizmente, estava ficando muito tarde e Sarah não iria aceitar que eu ficasse fora de casa se o horário passasse daquele.
- Acho melhor nos prepararmos para sair. – Ele disse preocupado e, ao mesmo tempo, chateado ao olhar as horas no relógio de pulso. – Vou pedir a conta.
- Podemos dividir... – Sugeri meio sem jeito, sabendo que ele iria recusar.
- Não seja boba. – Ele sorriu e fez um gesto para o rapaz educadinho com gel no cabelo, que compreendeu a intenção e dirigiu-se para o caixa a fim de fechar a conta.
- Tem certeza? – Eu perguntei e ele me lançou um olhar atravessado de reprovação. Preferi não tocar mais nesse assunto. – Enquanto isso eu vou ao banheiro rapidinho. – Comentei já me levantando. Olhei ao redor e a plaquinha fluorescente com o símbolo feminino estava visível do outro lado, mais para perto do bar. Noah intensificou ainda mais a expressão preocupada.
- Você está bem, não está?
Encarei seu rosto de novo e, por alguns segundos, estranhei a pergunta. Logo depois, entendi que na última vez que eu disse a ele que iria ao banheiro, voltei parecendo uma morta-viva. Sim, isso mesmo, no fatídico desfile da Paola. Minha sorte é que estava bem escuro, senão ele veria meu rosto se transformar em um tomate.
- Estou legal. – Respondi apenas e desapareci entre as várias pessoas que locavam aquela parte do barzinho.
Percebi que a parte onde ficavam as bebidas estava relativamente mais calma que a parte da música. Aquelas pessoas que eu vi quando entrei ainda estavam lá, só que, visivelmente, mais bêbadas. Ainda conversavam alto e riam como se não houvesse amanhã. Uma mulher alta e magrela conversava sem parar segurando um palito preso em uma azeitona. Quase caí em cima dela quando tropecei em um degrau que a pouca luz não me permitiu enxergar. Uns homens que a acompanhavam deram uma leve risadinha.
Cheguei ao estreito corredor no fundo do bar e adentrei a porta da direita, que a plaquinha indicando ser o banheiro feminino. Como eu havia pensado, havia três chamadas não atendidas da Sarah e uma mensagem de texto: “Onde você está, mocinha?Acha bonito deixar a sua irmã sozinha em casa? Volte já!”. Tentei ligar de volta para ela e avisar que eu já estava chegando, mas o celular estava desligado. Eu, certamente, enfrentaria seus poucos momentos de “mãe atenciosa” amanhã. Hoje, aliás. Já passava da meia noite. Também havia um recado da Rebecca: “E aí? Como está indo? Que gosto ele tem? Me liga.”, mas esse eu preferi ignorar no momento.
Voltei ao corredor estreito no qual, do lado esquerdo, ficava o banheiro masculino. Bem em frente ao cômodo em que eu havia entrado. Desta vez, não foi um “quase” eu, de fato, esbarrei em um homem que estava indo na direção contrária. Sorte a minha que ele não estava segurando nenhuma bebida, se não Sarah me mataria pelo cheiro de álcool na roupa. Deixemos claro que agora a culpa não foi minha, ele é que estava tonto demais para se desviar de mim. Eu estava visível.
- Desculpe-me. – Falei apenas por ser a coisa mais educada a se dizer quando algo do tipo acontece. Meu maior desejo foi perguntar “Não me viu não?”, mas achei que poderia soar meio rude.
- Que nada, a culpa foi minha. – Ele respondeu apoiando-se na parede. Deveria estar mesmo muito tonto.
Quando ele se mexeu, inclinou-se de uma forma que a luz do corredor atingira diretamente sua face. Aquele rosto já próximo à meia-idade, o formato do nariz, os olhos profundos, a boca um pouco torta... Tudo muito familiar. Observei ainda por mais algum tempo até perceber que ele estava me encarando.
- Eu não o conheço de algum lugar? – Perguntei confusa. Eu tinha a certeza de que já havia o visto, só não sabia onde e nem quem era.
O homem provavelmente achou que a minha pergunta foi uma daquelas cantadas de péssimo gosto e sorriu de um jeito meio safado. Olhou-me dos pés a cabeça e disse:
- Se você quiser...
Achei melhor sair dali rápido antes que eu perdesse a cabeça. Eu costumo ficar muito irritada com esse tipo de cantada descarada, ainda mais vinda de um bêbado que tinha idade para ser meu pai.
- Com licença. – Eu falei de um jeito firme e usei um dos braços para tirá-lo do meu caminho. Noah estava, naquela mesma hora, olhando para aquela direção. Fez um sinal com a mão assim que me viu, mas eu já o havia notado ali. Lembrei-me do degrau naquele lugar e encontrei meu acompanhante de novo sem maiores transtornos.
- Pronta?
- Vamos. – Sorri.
O caminho da volta foi tranqüilo. Ele dirigia muito bem, pegou avenidas mais movimentadas e seguras naquela hora da madrugada e foi conversando comigo sobre o lugar. Perguntou o que eu tinha achado da música, da comida, do ambiente, etc. Respondi, sincera, que havia adorado tudo e que poderíamos repetir essa noite outra hora. Ele pareceu satisfeito por ter me agradado.
Só quando ele estacionou na frente do meu condomínio e abriu a porta para que eu descesse do carro é que veio aquele estalo na minha cabeça sobre o que deveria vir depois. Acho que toda garota já está cansada de saber o que acontece, ou pelo menos deveria, quando um cara a leva para sair, o encontro corre divinamente e ele a leva de volta para casa.
Parei na frente da portaria, na qual o porteiro já havia me reconhecido e aberto o portão, e esperei o que ele iria fazer. Não que eu fosse uma pessoa tipicamente passiva, mas talvez ele só fosse dizer tchau e logo iria embora.
- Bom... – Ele começou meio indeciso. – Adorei ter passado a noite com você, Mel. – Eu sorri desajeitada, minhas mãos começaram a suar de nervosismo.
- Foi divertido. – Respondi finalmente sentindo que ele estava esperando alguma espécie de sinal que viria de mim.
Então ele se aproximou ainda mais e lentamente. Manteve os olhos fixos nos meus para ter certeza de que eu também queria o beijo. O problema era que eu não queria. Tudo bem, a noite foi ótima. Tudo bem, ele era um cara maravilhoso. Mas não era o cara que eu queria para mim. Eu estava sim um pouco sem jeito por ter que recusar o beijo e eu não sabia como fazê-lo. Meu melhor amigo do sexo oposto era o Lean e, graças a alguma força divina lá em cima, ele nunca havia tentado nada comigo. De repente, eu estava ali parada sob a luz da portaria, pensando em como iria dizer ao Noah que ele entendera errado e que eu me sentia um lixo por estragar, pela segunda vez, uma noite nossa. Mas por mais culpa que eu sentisse, eu não iria beijar alguém por piedade ou porque estava com medo de ferí-lo.
E eu não tinha mais tempo para pensar no que dizer ou o que fazer, porque quando terminei meu raciocínio acima ele já estava perto demais. Seu cheiro quase doce demais invadiu minhas narinas e, na última hora, eu desviei-me uns graus para a direita e apressei-me a beijar a sua bochecha. Acho que ele entendeu, já que parou na mesma hora e afastou-se um pouco.
- Boa noite, Mel. – Disse tentando não parecer muito chateado, porém não teve muito sucesso. Seu desapontamento era perceptível.
- Boa noite... – Eu respondi desolada e com um pouco de dó. Ele tinha sido a pessoa que realmente havia me feito esquecer todos os problemas, mesmo que somente por algumas horas. Contudo a idéia de que se eu o beijasse estaria o enganando porque daria a impressão de que eu tinha um interesse que eu não tinha continuava na minha cabeça. Isso amenizou um pouco a culpa.
Noah não demorou a ir embora. Logo deu as costas e entrou em seu carro novinho e bonito. Acenei com uma das mãos, ele retribuiu o gesto e logo sumiu. Olhei para cima e encarei o céu nublado. Não havia chovido como eu esperara. Quando desci um pouco os olhos, tive a impressão de que um vulto, que estivera na sacada segundos antes, acabara de reentrar em seu apartamento, logo acima do meu.
O dia correu agitado. Acordei tarde depois de ouvir uma bronca daquelas vinda da Sarah assim que cheguei em casa. Pelo menos, havia conseguido convencê-la de que eu precisava dormir na casa da Rebecca para fazermos um trabalho valendo nota para a segunda, dia seguinte. Sofia não esclareceu bem como, mas tinha conseguido pegar mesmo o anel de noivado da mamãe. Não faltaram ordens expressas para ter cuidado com ele, já que ela poderia perceber a ausência da jóia na gaveta a qualquer momento.
Na casa da Becca, mal tive tempo de terminar de me arrumar de maneira digna para uma recém noiva e já estava escurecendo. Mal encarei a noite pela janela do quarto da minha melhor amiga e ouvi um apito familiar de que meu celular havia recebido uma mensagem. “Onde você está? Estou indo te buscar.” Ela dizia apenas e eu nem precisei verificar o remetente. Sabia quem era. Respondi rapidamente e voltei e comecei a me vestir.
Rebecca havia arrumado uma saia social castanha, mas que tinha um rendado bem bonitinho, então não parecia tão “roupa de gente idosa”, mas persistia na elegância. A blusa branca decotada também seguia o estilo “sou chique, mas não chata”. Os sapatos eram belíssimos e não incomodavam tanto, mas o que eu mais gostei foi o penteado que ela fez. Ela, por incrível que pareça, conseguiu prender meus cabelos castanhos claros em um coque alto com algumas mechas soltas que caíam levemente sobre o meu pescoço. Toda aquela arrumação me dera uma aparência mais velha, que era o que Rebecca queria desde o princípio para que eu não parecesse nova demais para estar noiva. Claro que eu também não fiquei parecendo velha demais. Sorri para o espelho pensando que a aparência estava na medida certa. Minha amiga também me ajudou na maquiagem um pouco discreta.
Eu insisti bastante, mas ela não quis esperar lá fora comigo. Disse que os seguranças de sua casa bem abastada estariam lá, então não teria perigo. Também foi persistente na idéia de que não queria segurar vela nem por um segundo, elogiou meu visual e ficou dentro da mansão.
Não demorou muito até que um carro preto já conhecido chegasse. Sam (eu havia decidido chamá-lo pelo nome de novo) não desceu do carro e nem abriu a porta como Noah fizera. Isso me mostrou que ele deveria ainda estar irritado comigo por ter aceitado aquela farsa, mas não pude confirmar nada porque não consegui enxergar seu rosto através dos vidros fumê.
Ver que ele ainda estava nervoso me deixou nervosa, já que, é claro, eu tinha a plena certeza de que quem tinha o direito de ficar brava ali era eu. Abri a porta um pouco mais bruscamente do que eu planejara e sentei-me no banco do passageiro. Ele ficou me observando entrar em seu carro com aquela cara de quem comeu e não gostou. Eu fingi que não me importei.
Fiquei esperando que ele desse a partida para que saíssemos logo dali, mas ele não se moveu. Continuou me encarando como se esperasse alguma coisa. Depois de algum tempo, resolvi ceder e olhar para ele, ainda com uma expressão impaciente e irritada. Nossos olhos se encontraram pela primeira vez em alguns dias que pareceram muitos. Senti um arrepio familiar na espinha.
- Algum problema? – Perguntei rispidamente.
Ele ficou lá me olhando com cara de bobo e não disse nada. Nem sequer se deu ao trabalho de responder a minha pergunta. Ficou passeando os olhos por mim como costumava fazer quando estava me analisando, ou como eu tinha o hábito de dizer, “tirando um raio-x da minha alma”.
Eu já estava ficando impaciente demais e com vontade de mandá-lo parar de me encarar e começar a se mexer, quando ele, como se adivinhasse meus pensamentos, deu a partida no veículo. Isso me fez respirar de novo. Era uma sensação muito incômoda aquela de que ele estava me perfurando com o olhar. Apoiei meu cotovelo na porta e a cabeça no cotovelo e desviei minha atenção para a paisagem lá fora. As pessoas, os carros, qualquer coisa que evitasse minha intenção de reparar o quanto ele estava bonito. É claro que ele estava bonito, não precisava nem fazer esforço e eu tinha alguma coisa com ternos. Ou talvez alguma coisa com ele usando o terno. Vai saber...
Fiquei contando os postes de iluminação para passar o tempo e evitar o Sam mais um pouco. Ele também não poderia dizer exatamente que estava se esforçando para me notar ali. Esse silêncio pesado seguiu-se até o fim da pequena viagem quando ele entrou por um estacionamento subterrâneo de um prédio comercial.
Saímos do carro ainda com aquela greve de palavras e entramos pelo elevador do estacionamento. Foi quando meu nervosismo começou a ficar grande demais. Eu não havia me preparado para fingir estar noiva, feliz e apaixonada e também já tinha a idéia de que viagens de elevador com o Sam costumavam ser meio tensas. Era muito difícil ficar em sua companhia em um espaço tão limitado sem sentir aquela vontade brotando. Tentei ignorar isso olhando para o outro lado. Ele também estava me evitando fingindo estar descobrindo algo novo e inusitado nos botões do elevador, onde ele acabara de apertar o da cobertura.
Subimos inúmeros andares naquele clima pesado, até que ele pigarreou e resolveu largar de ser tão orgulhoso.
- Qual é o plano? – Perguntou apenas e voltou a me fitar por inteira. Senti a pele ardendo mais desta vez.
- Como não combinamos nada para falar, é melhor não ficarmos muito juntos. As pessoas podem perceber. – Eu sussurrei do jeito mais racional possível deixando minhas intenções pessoais de lado. Também seria mais fácil, para mim, fingir algo se ele não estivesse me observando, escutando o que eu estou dizendo. Vislumbrei o anel brilhante na minha mão direita.
- Certo. – Ele balançou a cabeça de leve, positivamente. – Vamos nos separar.
Fim do capítulo 11.
Nota da Autora: Bom, acho que essa última frase explica o título do capítulo :P Sei que muitas pensaram no pior, então espero que seja uma espécie de alívio haha.
Agora, estou criando essa nota para me desculpar de coração por causa de quase 1 mês de espera na qual eu não consegui escrever nada. Eis os motivos: Além de eu estar em uma fase muito corrida de final de ano e, consequentemente, vestibular, ainda tive a notícia de que eu estava perdendo a visão em um dos olhos. Como é possível imaginar, eu fiquei desestruturada tanto fisica quanto psicologicamente já que é muito duro receber uma noticía dessas sendo que eu amo fazer o que faço (no caso, escrever e desenhar). Mas agora eu já estou lidando melhor com a situação, voltei a escrever essa semana e creio que o meu caso não é tão grave e que, o mais importante: tem solução :)
Então queria me desculpar de verdade com todas vocês e pedir que vocês não desistam de mim porque vou levar essa história até o fim (tomei como objetivo de vida haha). Desculpa mesmo, para compensar, essa parte deu mais de 15 páginas de Word na letra nº 11.
Vou tentar escrever a próxima o mais rápido que eu puder (:
Adoro todas vocês porque, incrivelmente, os comentários foram uma das coisas que me ajudaram a seguir em frente diante do meu problema. Revisarei o capítulo amanhã, então desculpa todos os erros (acabei de terminar agora às 12:51 exatamente).
Beijos eeee... por favor, lembrem-se de repassar o blog aos amigos ;*
- Sofie tem melhorado seu arsenal de piadas.
- Estou falando sério. – Ela contestou nervosa.
- Não vou fazer isso.
- Eu acho desnecessário que ela vá. Além do mais, pode ser perigoso. – Sam alertou-as para o meu contentamento. Parecia ser a única pessoa naquele aposento que não cheirara alguma droga ilícita antes de jogar Banco Imobiliário. – Não estou indo lá para reconhecer pessoas, quero tratar de negócios. Esse plano não vai funcionar.
- Pode parar de ser ranzinza? – Rebecca perguntou e eu fiquei sem saber se ela estava ou não brincando.
- Estou sendo realista. Seria muita bobagem se eles colocassem alguém do alto escalão para seqüestrar a Mel. – Fez uma cara muito cética. É claro que isso não aconteceu.
- Ela pode reconhecer amigos antigos do pai dela, afinal, Sofie era muito pequena quando ele se foi.
Confesso que fiquei um pouco admirada com a rapidez de raciocínio dela. Não que ela não costumasse pensar, é que ela geralmente reservava qualquer raciocínio lógico para as compras.
- Não vai dar certo. A Mel não vai conseguir reconhecer ninguém.
- Que?
Esta expressão “não vai conseguir” me despertou de reflexões profundas sobre como a minha vida seria se Sam e eu fôssemos noivos de verdade. Eu, realmente, odiava quando as pessoas achavam que tinham o direito de me dizer o que consigo, ou não, fazer. Tirando o que é potencialmente impossível, eu era capaz de fazer qualquer coisa, desde que me dedicasse.
- Eu conhecia sim os amigos do meu pai.
- Isso não significa nada. – Ele rebateu.
- Posso sim lembrar os rostos, tenho boa memória. – Disse irritada e cruzei os braços.
- Então você topa? – Rebecca perguntou cheia de animação por ter dado uma idéia que procedera.
- Não!
Ela ficou confusa. Colocou a mão sobre os olhos e deitou-se no sofá. Na minha cabeça isso fazia sentido, quero dizer, falar que é capaz de algo não significa, exatamente, a mesma coisa de aceitar um noivado fictício.
- Por que você usou esse tom? – Sam pareceu ficar ofendido.
- Porque não estamos noivos! – Será que não era óbvio?
- Você disse como se tivesse pavor da idéia.
- Não disse, não.
- Eu tenho bons ouvidos.
- Por que estamos discutindo sobre algo que nem existe? – Agora eu entendi a vontade súbita da Rebecca de deitar-se e não dizer mais nada sobre aquele debate sem fundamento.
- Eu não estou discutindo. – Ele colocou o ponto final na conversa de uma maneira só dele. – Eu informei que iria à reunião no domingo. Não quero brincar de casinha.
- Silêncio. – Sofia ordenou como se fosse o general de alguma tropa alienígena. – Mal entraram em um noivado imaginário e já estão brigando como marido e mulher. – Ela girou o pescoço alguns graus e encarou-o com cautela. – Samuel, além de poder reconhecer alguém, a Mel também pode participar e ouvir conversas entre mulheres de executivos. Esposas sabem mais de intrigas que os próprios maridos. Qualquer informação é necessária. O que temos que pensar agora é onde podemos conseguir esse anel.
- Eu tenho alguns. – Balancei os ombros pouco me importando se a minha fala significava que eu havia concordado com aquele plano maluco. Naquela hora, eu já tinha perdido as forças para discutir algo que percebi que não desistiriam tão fácil.
- Não pode ser qualquer anel, qualquer mulher reconhece um anel de noivado. – Rebecca quebrou seu silêncio, momentaneamente, ainda deitada no sofá encarando o teto.
- Podemos pegar o da Sarah. – Sofie sugeriu sem sequer um pingo de remorso por roubar a própria mãe.
- Não vamos roubar a mamãe.
- Devolvemos depois, qual o problema?
- Como vão fazer para tirar um anel do dedo da sua mãe? – Rebecca nos olhou pela primeira vez desde que havia deitado.
- Não, a Sarah não usa. Ela o colocou em uma caixinha na última gaveta do guarda-roupa, embaixo de toalhas de mesa bordadas. A chave está no criado-mudo dentro de um pote vazio de creme antiidade. – Minha irmã respondeu sem parar para respirar.
- Como você sabe disso? – Eu fiquei admirada.
- Tudo muito previsível. – Ela jogou os ombros para trás e logo endireitou a postura.
- Ainda não acho uma boa idéia. – Sam comentou de pé, apoiando o corpo musculoso sobre a parede.
- Nem eu. – Olhei para baixo tentando encontrar o motivo que me fazia acreditar ardilosamente que, com certeza, aquele não era um bom plano.
Eu era sim uma garota que acreditava no casamento. E, sem dúvida, um dos meus sonhos era casar-me com um cara que me amasse e me respeitasse acima de tudo. Alguém doce e bom, que soubesse construir uma família. Eu tinha plena certeza da importância que a família exercia na vida de alguém, eu prezava muito a minha.
O problema é que eu não queria entrar no pesadelo de fingir ser casada com alguém que, algum dia, tentara me matar e eu ainda tinha dúvidas se ele desistira mesmo desse plano. Ele também não parecia nada contente com essa idéia. Então, mesmo que não fosse um casamento real, ainda acarretaria um clima horroroso durante algumas horas. E, sinceramente? Eu não gosto de fingir.
Pode parecer mentira, já que eu estava fazendo todo aquele teatro, durante o dia, para que o Sam acreditasse que não estava acontecendo nada de errado e, durante a noite, eu fazia questão de simular que não estava abalada, que não estava destruída. Não gosto que sintam pena de mim, portanto, não me sentia tão culpada sobre esse último ponto, mas um sentimento ruim despontava em mim a cada vez que encontrava o alter ego do Sam no elevador. Agora, fingir ser uma noiva feliz ao lado de alguém que não teve o mínimo de compaixão ou humanidade por mim era demais.
E se me perguntassem como ele fez o pedido? E se questionarem sobre onde passaremos a lua de mel? E o que eu responderia caso indagassem sobre o vestido que eu usaria na cerimônia? É o tipo de coisa que as mulheres adoram perguntar às noivas, talvez imaginando como seria o próprio casamento, talvez só para liberar a inveja contida.
Eu não seria capaz de inventar tudo isso e conseguiria, muito menos, fingir nesse momento. Qualquer reles mortal, então, poderia ver em meus olhos o meu ponto fraco, poderia enxergar a forma da amargura, iriam vislumbrar os destroços do meu interior. E ninguém é bom o bastante para enganar a própria alma.
- Acho que deveríamos fazer. – Suspirei depois de vários minutos de reflexão.
Todos na sala se voltaram para mim com os olhos meio arregalados. Eu havia dito, momentos antes, que não queria aquela farsa e, agora, já mudara de idéia. E eu não me importava muito que os outros não me compreendessem, eu entendia a mim mesma.
O que mudou minha opinião então? Minutos atrás, percebi que Sam era meu ponto fraco. Não havia outro motivo para que eu não aceitasse a idéia do casamento com exceção do fato de que ele me destruíra. Eu não queria fingir ser noiva de alguém que me tratara com tanta frieza, mas enquanto eu recusasse esse plano, significaria que eu ainda me sentia abalada com essa história e eu não poderia permitir que ele exercesse esse sentimento sobre mim para sempre. Se aquele era meu ponto fraco, eu iria lutar contra ele.
Se eu conseguisse passar essas horas nessa situação de noiva fictícia, significaria que eu dera um passo à frente e, finalmente, conseguiria prosseguir com a minha vida. Isso, contudo, ainda me incomodava. Eu sentia um leve aperto nas entranhas a cada vez que lembrava que ele sumiria de novo assim que tudo estivesse acabado e ele estivesse com a encomenda, de acordo com o que combinamos. Mas várias vezes eu me traía pensando o quanto seria bom se isso acontecesse e eu não sentisse mais nada.
Por mais que essa reflexão me trouxesse medo, meu lado racional gritava a favor dela. Era bem mais coerente que eu o deixasse ir. Então eu não estaria mais com a encomenda e todos os problemas seriam transferidos a ele e eu não deveria me sentir culpada ou amedrontada sobre o que pudesse acontecer, como me sinto agora, enquanto traço essas linhas de pensamento. O certo seria que eu deixasse tudo para trás e cortasse qualquer relação que pudesse nos trazer, de novo, ao mesmo ponto. Então eu estaria livre.
Se eu fosse capaz de superar, se pudesse esquecer qualquer dano, qualquer ressentimento e carinho que um dia houvera, eu poderia seguir em frente. No fundo, eu apenas queria o que qualquer garota almeja: uma vida longa e feliz. Livre de planos, armadilhas, medo, insegurança e, cima de tudo, livre de mentiras. E, se isso implicasse lutar contra meu lado, predominantemente, emocional, eu o faria.
- Posso conversar com você um instante? – Ele pediu tentando ser educado, mas não conseguia disfarçar a frustração pela minha atitude.
- Sofie, vamos até o quarto da Mel? Quero te mostrar uma coisa...
- Não tenho mais 11 anos. – Sofie respondeu irritada e seguiu minha amiga. As duas desapareceram no corredor.
Sam esperou que o silêncio se estabelecesse para começar a falar. Não estava nada contente.
- Qual é o seu problema?
- Eu não tenho um problema. – Respondi decidida. Levantei-me do chão e deixei que meu corpo caísse sobre o sofá da sala. O tabuleiro em cima da mesa de centro tremeu.
- Você não está psicologicamente estável.
- Eu agradeceria se você não dissesse que eu estou louca, obrigada.
- Você não está agindo como a Mel. – Ele estranhou e franziu o cenho. – O que está acontecendo com você?
- Você. É isso o que está acontecendo comigo.
Era a pura verdade. Desde que ele chegara, aprontara uma confusão na minha cabeça e eu não estava mais, de fato, agindo como eu mesma. Tinha idéias completamente contraditórias, não sabia mais o que fazer, sentia-me, às vezes, fraca como qualquer verme que come terra. Eu só queria acabar com isso, queria voltar à minha vidinha simples e tediosa de sempre.
- Ah, então agora a culpa é minha. – Sam riu amargamente. – Fico imaginando o quanto isso é conveniente para você.
- Quê? Não se atreva a falar sobre conveniência.
- Não vejo outro motivo que te faça agir assim. É realmente muito conveniente dizer que eu sou a causa de todo o ruim que acontece na sua vida.
Isso fez meu sangue ferver. Era muita hipocrisia dizer isso depois de tudo o que fizera.
- Porque você agora é o inocente, certo? – Ironizei sorrindo amarelo. Joguei os cabelos da franja que caíram no meu olho para trás.
- Não. Mas também não tenho culpa de suas instabilidades emocionais. Você não consegue entender a si mesma, então começa a agir por impulso e depois me culpa por suas escolhas erradas.
- Você é que está errado. Você não me conhece.
Durante todo o tempo em que passamos juntos, ele não tentara me conhecer. Estava apenas pensando na melhor maneira de conseguir o que queria. Contudo, essa idéia não mais me deixaria arruinada porque eu seguiria em frente de uma vez por todas.
- Conheço mais do que você imagina. – Ele moveu um pouco as costas para sair da posição em que estava há vários minutos. Parecia muito desapontado. – Você costumava ser tão doce, forte, decidida... – E ele destruíra tudo isso, eu quis dizer, mas não pude me sentir tão suscetível. – Disse-me que detestava mentiras e, olhe agora, está concordando com essa farsa. – Ele levantou o tom de voz quase como se estivesse prestes a gritar.
- Porque eu quero te cortar da minha vida! – Eu retruquei irritada. Ele não estava em condições de me julgar. – Se fizermos isso e funcionar, então vou me livrar de você o mais rápido possível.
Os olhos dele brilharam de raiva. Tive até a impressão de que o verde se transformara em chamas vermelhas e crepitantes. Eu senti medo ao ver seus lábios tão convidativos tremerem. Ele não raciocinava muito quando estava nervoso, era capaz de qualquer loucura.
Moveu-se para frente e, ainda com a expressão que me causava um grande temor, fitou-me brutalmente. Estava perto e me olhava como uma serpente que analisa a presa. Então recuou.
- Se é assim que você quer... – Disse antes de sair, fechando a porta com um estrondo.
Eu parei de concentrar minhas forças em permanecer sentada, deitei-me no sofá assim que ele se retirou. Era de meu conhecimento que, provavelmente, Rebecca e Sofia estavam nos escutando através da porta do meu quarto, mas eu não me importei muito.
Senti-me bastante mal por ter dito aquilo. Não era, com certeza, o que eu queria de verdade. Não queria me livrar dele, mas eu sentia que deveria fazer isso. Como ele mesmo dissera, eu virara outra pessoa. Uma pessoa que, visivelmente, o desapontara, mas eu só poderia voltar a ser eu mesma quando estivesse livre de todos esses sentimentos que me prendiam e aniquilavam ao mesmo tempo. Era preciso cortar laços, era preciso que nos separássemos, era preciso seguir em frente.
- Você sabe que dia é hoje? – Sofia perguntou-me com um leve tom de censura.
- Sei. Quinta-feira... – Dias sem sequer ver o Sam, mas era óbvio que ela não se importaria com isso. – Seu dia de organizar a cozinha.
- Errado. – Ela respondeu enquanto enchia, pela manhã, a costumeira tigela de cereais. – Dia da Coluna Estrela.
- Droga.
Era o dia em que a coluna quinzenal, na qual Sarah entrevistava uma celebridade local, seria escrita e impressa no dia seguinte. Isso, por motivos claros, significava que ela ficaria no trabalho até mais tarde.
- Devo lembrá-la de não se atrasar quando for me buscar no curso.
Fiz uma careta. Além da preguiça, eu ainda estava um pouco traumatizada visto que, da última vez, quase sofri um seqüestro.
- Você poderia, pelo menos, fingir estar menos desanimada. Falta só uma semana para acabar.
- Ainda bem.
A palavra “fingir” lembrou-me do plano do noivado fictício que colocaríamos em prática no domingo. A esperança de que conseguíssemos qualquer pista fez meu estômago revirar. Isso era bom e ruim ao mesmo tempo.
- Rebecca ligou aqui ontem. Disse que arranjou a roupa perfeita para você, o que eu acho cientificamente improvável. Não acredito na perfeição.
- Obrigada por avisar. – Meu estômago revirara outra vez.
Ontem eu passara mais da metade do dia trancada no meu quarto. Eu até mesmo esquecera as precauções que eu estava tomando ao passar a maior parte do tempo no colégio para evitar qualquer atentado surpresa. Nada disso parecia ter mais importância quando eu me visualizava fingindo ser uma noiva feliz e apaixonada por alguém que eu decidira esquecer. A idéia de que, se eu fizesse isso, eu provaria a mim mesma que não estava mais tão danificada não saía da minha cabeça. Seria a nossa despedida. Irônico, sem dúvida.
No tempo em que fiquei trancada no meu quarto escuro, apenas coloquei uma música alta nos meus fones de ouvido e fiquei deitada na cama. Eu estava concentrando forças para romper essa barreira. No fim do dia, eu já estava convencida por completo de que conseguiria bancar a noiva do Sam sem qualquer recaída. E, no final daquele dia, estaria livre de qualquer outro sentimento que ele me trouxesse.
- Vou me trocar. Sarah já deve estar acordada. – Sussurrei antes de tomar o último gole de leite quente da minha xícara.
Troquei-me em tempo recorde. Nem mesmo Sofia estava na sala ainda quando voltei já pronta. Logo ela apareceu resmungando algo sobre o laço do cabelo que não ficara simétrico e Sarah já estava nos esperando lá embaixo.
Ela não estava conversando comigo desde aquele dia em que eu insinuei que ela não se importa com os filhos. Acho que nós duas tínhamos dificuldade para encarar a verdade. Eu não suportara o fato de que ela também não estava me reconhecendo e perguntara se eu estava sob o uso de drogas, então joguei uma frase dura sobre ela. Ela também não conseguira encarar as minhas duras palavras.
Pisei no colégio com o desânimo de sempre. Rebecca, ao contrário, estava radiante ao ponto de dar pulinhos de excitação assim que nos vira chegando. Sofia fez uma expressão cansada e logo se afastou. Não era o tipo otimista.
- Adivinha que dia é hoje!
- Você também? – Respondi fazendo cara feia para uns garotos do primeiro ano que assoviaram ao passar. – Isso é uma espécie de jogo?
- O quê? – Ela pareceu um pouco confusa, mas não tirou o sorriso da face bonita. – Não, sua tola! Falta exatamente um mês para o seu aniversário. Precisamos fazer uma festa, com muitos balões, bebidas com aqueles guarda-chuvinhas, um povo diferente...
- Nem pense nisso.
Eu nem estava me lembrando desse detalhe. Meus problemas me distraíram a ponto de esquecer meu próprio aniversário.
- Precisamos de uma festa! – Ela balançou os cabelos cor de trigo com a agitação.
- Podemos fazer uma pequena reunião. – Dei de ombros.
Eu também não era tão anti-social assim. Eu gostava de comemorar meu aniversário, mas sem grandes festas. Queria apenas reunir as pessoas que gosto em algo mais simples.
- Eu, você, o Lean, a Sofie, a Sarah... – Fui contando os convidados que eu tinha em mente nos dedos das mãos. Bom, não eram tantos assim, realmente.
- Você vai chamar o Sam? – Ela vibrou de curiosidade e logo desviou os olhos atentos.
- Um mês é muito tempo. – Refleti sozinha pensando o que eu estaria fazendo em um mês. Desejei realmente que as coisas estivessem bem melhores que agora.
- Você não quer comentar sobre o que Sofie e eu ouvimos ontem, não é?
- Não. – Fui sincera enquanto desvencilhava de um grupo de alunos mais novos passando no pátio.
- Eu tenho uma dúvida. – Ela correu para me acompanhar.
Eu deveria ter previsto que ela não deixaria que o assunto escapasse, assim, tão facilmente. Se eu era teimosa o suficiente, Rebecca estava virando minha discípula nesse aspecto. Não desistiria de me fazer perguntas acerca daquele plano besta com o qual surgiram ontem.
- Já estou muito nervosa, começo a suar frio a cada vez que penso nisso, não podemos deixar para depois?
- Eu sei como você faz. – Ela sorriu e arrematou perfeitamente meus pensamentos. Esse era o problema de se ter uma melhor amiga tão próxima: em certo estágio, ela começa a ler a sua mente. Não que fosse ruim o tempo todo. – Vai dizer sempre depois até que eu pare de tocar no assunto e você faça as coisas do seu jeito. – Piscou satisfeita consigo mesma por ter sido tão exata. – Não vai conseguir. Você precisa de mim.
- Não preciso. – A menos que ela me ensinasse a agir como uma noiva de um ser bipolar.
- Claro que precisa. Eu sou uma inútil para você, eu sei, mas não quando o assunto envolve eventos e festas sociais. – Rebecca sorriu animada.
Observei a excitação brotando em seus olhos e a sua vontade de dar pulinhos de alegria. Um pássaro branco pousou na estátua logo ao seu lado.
- Você não é uma inútil. – Eu neguei veemente e cerrei um pouco meus olhos para evitar a luz forte que atingia o pátio.
Definitivamente, Rebecca não era inútil. Ao contrário, era a pessoa que me ajudava sempre quando podia, apesar de todo o medo e a inaptidão para tarefas mais lógicas. Ás vezes tudo o que você precisa é uma xícara de chocolate quente e um ombro amigo.
- Então pare de me tratar como uma e comece a conversar! Conte-me tudo com todos os detalhes! Por que estavam gritando? Ele saiu furioso? Por que bateu a porta? Vocês vão mesmo naquela reunião?
- Bom, eu vou. – Eu disse fazendo pirraça. Lembrar sobre a discussão não estava me trazendo boas vibrações. A cada vez que eu lembrava o quanto Sam conseguia ser teimoso, orgulhoso e abusado tudo ao mesmo tempo, eu ficava louca... de raiva, é claro.
- Eu achei que você não tivesse gostado da minha idéia.
- E não gostei! – Eu arregalei os olhos e fitei-a de um jeito espantado. Quem, afinal, gostaria de se fingir casada com alguém que quebrou seu coração? Aliás, eu estava disposta a provar que ele não tinha me quebrado por completo, mesmo assim era uma situação desagradável.
Rebecca balançou os cabelos loiros confusa.
- Então por que você concordou? – Ela levantou as sobrancelhas mostrando-se aflita.
Eu não sabia como explicar aos outros. Ou, mesmo, no fundo sabia que se eu tentasse explicar minhas palavras pareceriam tão absurdas e ridículas que eu poderia ficar com vergonha, mas dentro de mim elas faziam um pouquinho de sentido.
- Você não vai entender. – Eu olhei para baixo tentando me livrar do imenso nó que havia surgido, de uma hora para a outra, dentro da minha garganta.
- Tente. – Ela ficou me encarando com aqueles olhos enormes esperando que eu começasse.
Contemplei as nuvens esperando que elas me dissessem qual seria a melhor maneira de começar, mas eu apenas vi um peixe estampado em uma delas. Isso não me ajudou muito.
- Ok. – Eu disse depois de muito tentar me concentrar. – Por que eu não aceitaria esse plano?
Ela me observou procurando sinais da minha loucura aparente. Pela expressão em seu rosto, estava começando a ficar com medo.
- Pelo motivo óbvio. – Ela respondeu ainda com o estranhamento da minha questão.
- Que é...? – Tentei fazer com que ela completasse o raciocínio.
- Você não consegue fingir-se de noiva dele porque ele te machucou, ué. – Ela deu de ombros e observou-me com piedade.
- E eu preciso superar isso. Não posso ficar me lamentando sozinha no escuro a vida toda por causa dele que, aliás, é um babaca.
- Você é orgulhosa demais. – Ela sorriu singela sobre tudo o que eu disse. Sentou-se na mesa mais próxima e abriu a bolsa colorida com tons de verão. – Você não quer provar a si mesma que já o superou, você quer provar a ele que você não sente mais nada. – Ela esclareceu ainda procurando algo na bolsa que, segundos depois, mostrou-se ser uma revista com uma modelo morena na capa.
- E qual é o problema?
Eu sinceramente não entendia o que havia de tão errado em mostrar ao Sam que eu não era só mais uma menininha ingênua com quem, uma vez, ele brincou. Poderia ser infantilidade, eu sei, mas eu realmente não fazia o tipo “sente pena de si mesma sem fazer nada”.
- Não vai dar certo, é claro. – Ela respondeu com certeza plena do que estava falando.
- Claro que vai. – Eu sacudi a cabeça me convencendo disso. Sentei-me também.
Eu, talvez, tivesse clareza de que tudo o que eu estava tentando fazer era ferir quem havia me ferido. Uma espécie de um “olho por olho, dente por dente” moderno. É claro que eu sabia que incomodaria o Sam ver que eu estava tão contente e descontraída com situação que tem tudo para ser constrangedora e nostálgica.
- Você tem a noção de que, tentando provar que não se importa mais com ele, pode se machucar ainda mais?
- Eu duvido muito.
De alguma maneira, eu achava que não tinha como me sentir mais ferida, mais traída, mais acabada. Talvez eu só fosse pessimista ou, talvez, eu não soubesse que minha história estava apenas começando.
- Eu acho você tão corajosa às vezes. – Ela refletiu balançando a perna que estava por cima da outra no ar. Olhou para cima procurando uma leve brisa.
- Isso não é coragem. – Eu fiquei pensativa perguntando a mim mesma se ela não estava, mais uma vez, confundindo coragem com estupidez. – É algo que preciso fazer. Um risco que decidi enfrentar.
- E você não vai mesmo dar para trás? – Rebecca me olhou por cima da revista de moda.
- Não. Agora é a hora do tudo ou nada. É o passo que preciso dar para superar isso de vez.
- Eu já escolhi a sua roupa. – Ela sorriu orgulhosa. Parecia gostar muito mesmo de ajudar como podia.
- Obrigada. – Eu não me sentia muito a vontade nessa posição, mas também não conseguiria escolher sozinha algo para vestir. Sem contar que os meus gostos a respeito de roupas não seguem o padrão. Por mim, eu colocava uma calça jeans, uma blusinha preta com um decote simples e umas sandálias, mesmo não gostando muito, de salto alto. Simples, casual, pronto. O problema é que não é assim que as pessoas se vestem em reuniões formais. Nem precisava dizer.
- Você pode ir buscá-la no sábado. Posso arrumar seu cabelo também, apesar de eu achar ele bonito quando você não resolve só amarrá-lo com um elástico.
Embora tenha ouvido a dura crítica sobre a minha preguiça e indisposição de arrumar meu cabelo, outra palavra me chamara a atenção naquela frase. “Sábado” me lembrava de outra promessa que eu havia feito.
- Não posso ir à sua casa no sábado. – Lembrei-a. – Tenho aquele encontro com o Noah.
Ela sorriu de um jeito enigmático e sacana. Como uma mãe faria se estivesse fazendo a previsão de que a filha iria aprontar alguma. Só faltou as palavras “juízo, viu?”. Eu, assim como qualquer outra pessoa que estivesse na mesma situação, olhei-a com uma expressão angelical.
- Ele está virando meu amigo.
- Aonde vão? – Ela perguntou não contendo a curiosidade. Ficou ainda mais animada ao lembrar-se de que eu ainda tinha esse compromisso no sábado à noite.
- Ele não disse. – Dei de ombros e comecei a observar um pombo que acabara de
assustar uma menina do 1º grau. Ela dava passos de costas sem nem olhar que rumo estava tomando, gritava de pavor da criatura voadora.
A sexta feira passou rápida e tranqüila, como qualquer outro dia. Não escutei nem sinal do Sam e perguntei a mim mesma se ele teria viajado de novo. Ele costuma ficar quieto quando está nervoso, mas, quando acontece, pelo menos o vejo na calçada passeando com o cachorro. Desta vez, como naquela em que ele disse que havia ficado umas semanas fora da cidade, também não ouvia sequer sinal do Tosha em qualquer lugar. Senti-me um pouco trêmula ao pensar que, talvez, ele tivesse desistido da história. Afinal, qual era o problema dele? Digo, além de ser turrão e rabugento? A idéia de que deveríamos nos passar por noivos deveria ser um fardo para mim, afinal, eu sou a pessoa que deveria estar emburrada aqui. Se alguém tem um verdadeiro motivo para não aceitar esse plano, sou eu. Por que então ele está tão relutante? Eu também tentei não pensar muito nisso, embora fosse difícil. A primeira resposta que vinha a minha cabeça era, naturalmente, que ele tinha pavor de nos imaginar noivos, casados ou seja lá o que for. De qualquer forma, é contraditório que uma pessoa que me contara tantas mentiras resolvera prezar pela verdade justo agora.
Enfim, com a presença ou não do Sam, tive que seguir minha rotina normal, pegando-me, é verdade, dispersa algumas vezes imaginando onde ele deveria estar. É simplesmente terrível quando você é traída pelos próprios pensamentos. Nada de novo no colégio, nada de novo no condomínio, nada de novo passando na televisão. É o famoso tédio. Não deveria ser assim nas sextas-feiras, mas a minha foi dessa maneira. Terminei comendo frango frito na frente do computador, o que fez Sofia reclamar por horas contínuas sobre a gordura nas teclas e um monte de informações novas que não consegui abstrair. Ela sempre tomava posse do meu computador, por que eu não poderia engordurar o teclado o quanto quisesse?
O sábado começou mais tranquilamente ainda. Acordei com o barulho dos pombos na minha sacada, mais estreita que a da sala de estar. Não é que eu não goste de animais, não é isso... Mas acho que eles poderiam, de vez em quando, permitir que eu dormisse algumas horas a mais. Isso é o que acontece quando assassinam um velho que alimenta os pássaros: eles acabam saindo do terraço e pedindo comida na sua sacada às sete da manhã... em um sábado.
Sofia já estava de pé. Seu corpo funcionava de acordo com um relógio biológico perfeito. Dormia sempre na mesma hora, acordava sempre no mesmo horário. Não tinha o atraso de sequer um minuto, funcionava como uma máquina. Isso me assustava às vezes, mas então eu lembrava que a minha irmã não teve culpa de se transformar em algo que apenas lembrava uma criança. Era outra vítima.
- E então? Preciso me certificar de que tudo correrá bem. – Ela disse sentada na mesma cadeira colocando os cereais na mesma tigela. – Qual a sua história?
Observei-a preocupada. Não sabia se era a hora da manhã, o sábado ou se as palavras dela não estavam mesmo fazendo sentido.
- Qual história?
Ela encarou a jarra de leite decepcionada. Não era culpa minha se a minha bola de cristal estava no conserto.
- Todas as pessoas no âmbito social fazem às noivas recentes perguntas básicas, por exemplo, como se conheceram, como foi que ele pediu sua mão em casamento, entre outras. – Fitou-me atentamente por entre as lentes grossas. – Qual a sua história?
Eu pensei um pouco, mas me abstive de dar muita atenção a isso. Como, desde o princípio, eu havia pensado que houvesse essa possibilidade e que ela, certamente, me deixaria deprimida, por isso a estava evitando.
- Bom, a gente se conheceu por amigos em comum e ele simplesmente ajoelhou e fez o pedido. – Simplifiquei tudo enquanto mordia uma bolacha que fez um estalo seco. A história era simples, perfeita, nada que indicasse que qualquer estranha deveria fazer mais perguntas e pedir mais detalhes.
Sofia fez uma cara de quem estava pensando se acreditaria nessa história se ela lhe fosse contada.
- Sam tem um tumor no cérebro?
- Que?
- Alguns tipos de tumores cerebrais fazem que as pessoas cometam ações impulsivas e inesperadas diante de lapsos de bom julgamento.
- Casar comigo é um lapso de bom julgamento? – Parei de comer para me sentir ofendida com a resposta.
- Não, mas sejamos realistas: ninguém conhece uma pessoa e três meses depois está fazendo o pedido de casamento... A não ser que ela tenha um tumor. – Completou o pensamento orgulhosa de si mesma e afundou uma colher no mar de cereais e leite. – Ou que esteja muito desesperada.
Eu fiquei refletindo sobre isso por um momento. Nessa história do tumor, quem seria o mais fora de si, o homem em questão ou a mulher que aceitou o casamento num ímpeto de excitação e loucura?
Não sei quantos minutos exatamente se passaram até que Sofie levantou-se para colocar a tigela vazia na pia e guardar a caixa de cereais no armário, em ordem alfabética, claro.
- O Noah vai vir aqui hoje. – Eu esperei até o sábado para lembrá-la do meu compromisso porque sabia que isso provocaria aquela avalanche de mau humor.
- Ah é. – Ela virou-se para me reprovar com os olhos. – Esqueci que agora são amiguinhos. – Parecia muito chateada mesmo. – É com esse tipo de gente com a qual você se mistura, Mellanie. Ele se gaba tanto de ser tão esperto, inteligente e sagaz, mas, vou te dizer a verdade, não saberia dizer nem os primeiros vinte números da seqüência de Fibonacci sem usar uma calculadora! – Saiu batendo os pés e fechou a porta com raiva. Acho que ela pensava que eu estava me aproximando do Noah por julgá-lo mais inteligente que ela.
Passei a tarde inteira ouvindo música. Achei que seria um pouco demais ficar me preocupando sobre o encontro de mais tarde. Não iria acontecer nada, pensei comigo mesma. Eu também não iria me arrumar como se estivesse indo casar, acho que uma roupa discreta, porém bonitinha cairia bem. Também não me preocupei muito com a segurança do local, ainda estava com aquela idéia na cabeça de que, contanto que eu estivesse em um lugar cheio de gente e não inventasse de pegar atalhos sombrios, eu estaria afastada do perigo.
Quando começou a escurecer, eu já estava vestindo uma calça jeans e uma blusinha lilás decotada, apesar dos sinais de chuva que estavam aparecendo lá fora. Levei um casaco por via das dúvidas. Se não chovesse hoje, certamente choveria amanhã. Noah havia me enviado uma mensagem dizendo que me buscaria às sete e meia em ponto. Desci cinco minutos antes de dar o horário.
Na hora exata, um aroma quase doce demais invadiu o ar. Eu o achei diferente. Pensei que pudessem ser os cabelos loiros que não estavam tão cuidadosamente arrumados como da última vez. Talvez fosse apenas impressão minha.
Ele sorriu ao me ver. Os dentes alinhados a mostra exprimiam algum sentimento na linha entre a bondade e a animação. Era difícil explicar a diferença entre ele e o meu tão inconstante vizinho. Indaguei se as divergências eram mesmo exteriores ou se apenas dependiam da maneira aflita com que a minha caixa torácica enfunava-se e recolhia-se em cada situação. No caso, muito mais aceleradamente ao mentalizar a imagem do vizinho.
Noah caminhou em minha direção. Estava realmente animado com o nosso primeiro encontro que, na verdade, eu não estava levando muito como um encontro. Eu estava mais em clima de saída entre amigos. Não que eu estivesse arrependida de ter aceitado o convite dele. Creio que nunca enganei a mim mesma, ou a ele, acreditando que algo a mais pudesse acontecer entre nós. Eu só não tinha a certeza se ele tinha isso em mente.
- Você se sente melhor?
Eu corei um pouco. Não havia como não sentir uma pontada de vergonha ao lembrar o último episódio em que estive em sua companhia.
- Desculpe-me por aquele dia. – Eu murmurei encarando as minhas sandálias de salto alto nada confortáveis.
Observei as leves rugas que se formaram em sua testa. Pareceu não ter entendido.
- Está se desculpando pelo quê? – Sorriu meio constrangido.
Rolei os olhos pensativa. No fundo, eu me sentia culpada por ter aceitado o convite da festa da Paola mesmo sabendo das minhas péssimas condições psicológicas e, consequentemente, ter arruinado em potencial a noite de alguém que eu via como amigo. Recente, mas amigo.
- Eu não estava me sentindo muito bem.
- Eu percebi. – Ele respondeu e eu corei mais um pouco. Ele não disse em tom de censura como se estivesse tentando me constranger, mas com um pesar perceptível. Às vezes, eu notava esse olhar atravessado e penoso com que ele me atingia. Observava-me como se sentisse dó de um destino terrível que me aguardava. Algumas vezes, eu desconfiava que Sofie houvesse “deixado escapar” a desilusão e toda a dor que eu sofrera com o Sam e, por isso, o Noah estava tentando me animar, apesar da expressão piedosa que lhe traía com freqüência. – O importante é que já se sente melhor. – Sorriu desajeitado, observou alguns dos carros passando na rua, mas logo se recuperou. – Vamos, você vai gostar disso! – A animação brotou novamente em seu rosto fino.
Fiquei imaginando o que ele tinha planejado. Esperei verdadeiramente que não fosse grande coisa. Eu não saberia como reagir caso ele tivesse preparado uma super surpresa, além disso, não temos tanta intimidade assim. Quando chegamos de carro ao determinado lugar, vi que não tinha lá muitos motivos para preocupação.
Era um barzinho fechado quase escondido pelos outros restaurantes e comércios da avenida movimentada. Vários carros passavam velozes jogando um banho de luz nos pedestres e sobre os meus olhos, acabara de pisar na calçada.
Eu gostei do clima de animação e novidade do lugar. Os letreiros luminosos e piscantes completavam o ar de excitação das pessoas que passavam rindo alto e segurando sacolas de lojas que haviam acabado de fechar. A brisa da noite que caía também me despertava uma leve sensação de aconchego.
Atravessamos a avenida e passamos pelas portas de madeira lisa do pequeno barzinho cor de flor de Liz e bem apresentado no exterior. Lá dentro, descobri que a intenção de conforto era contínua. Havia um bar bem iluminado que se estendia por todo o lado direito do local. Algumas pessoas estavam sentadas descontraidamente conversando aos arredores. Tomavam alguns drinques coloridos apesar de eu ter achado um pouco cedo para aquele horário de início de noite. Do lado esquerdo, várias mesinhas pequenas e redondas se postavam de maneira aleatória em frente a um palco não muito alto, não muito extenso. O ponto alto de iluminação era ali, pelo visto, alguém iria se apresentar naquela noite. Esperei verdadeiramente que não fosse um ventríloquo nem um palhaço, tenho uma espécie de medo irracional com relação a esse tipo de show.
Noah escolheu uma das mesinhas sob a luz fraca e bem perto do palco, arrastou uma cadeira para que eu me sentasse. Depois, sentou-se à minha frente. Peguei-me observando seus cabelos claros e bonitos, mas logo desviei meu olhar para as persianas escuras que impediam a entrada da claridade pelas janelas.
- Ainda está vazio. – Ele reclamou um pouco decepcionado. – Mas logo deve começar. – Sorriu esperançoso e eu tive que me virar para poder ver o ponto do palco que ele estava examinando. Dois homens estavam montando uma bateria ali. Fiquei, definitivamente, mais animada.
- É bem legal aqui. – Comentei enxergando melhor a decoração das paredes, cheias de pôsteres e fotos de diferentes bandas e artistas. Algumas pinturas abstratas também colaboravam com a harmonia estética do lugar.
- Eu também gosto. – Ele abriu ainda mais o sorriso caloroso e ficou mais à vontade.
Não parecia mais aquele Noah formal e pomposo da outra noite. Agora postava as pernas de uma maneira bem mais descontraída dentro de uma calça jeans por debaixo da mesa. Apoiou uma das mãos, tranqüilo, no encosto da cadeira.
- Eu costumo vir aqui para relaxar. – Comentou amigavelmente de uma maneira cativante. – Eles costumam ter um som legal, muitas vezes lembro de você.
- Ah. – Eu sorri de volta, meio sem jeito. Aquela pergunta “o que tem de errado comigo?” apareceu de novo na minha cabeça. Ali, naquele lugar, eu parecia na companhia de um garoto tão sedutor, bonito, educado, perfeitinho, etc, etc, etc. E, mesmo assim, não me despertava metade do interesse que o meu vizinho sabia como despertar. Aliás, decidi que, enquanto minha raiva não passasse, eu não citaria seu nome outra vez nessa história. Ele era só o vizinho e fim. E que vizinho...
Um rapaz educadinho apareceu anotando o que iríamos beber, Noah pediu um suco e eu decidi acompanhá-lo. Conversamos sobre trivialidades por bastante tempo. Ele tinha, de fato, muitas histórias para contar sobre vários lugares que já havia conhecido e experiências pelas quais já passara. Qualquer novo assunto lhe lembrava uma nova história divertida que terminava de um jeito meio maluco. Eu ria muito da maneira como ele contava tudo e, até eu que sou uma pessoa bastante fechada, resolvi me abrir e contar algumas histórias que ainda estavam na minha mente. Acredito que tenha sido a coisa mais divertida que eu fizera em algumas semanas. De algum modo, a vida parecia muito mais fácil enquanto eu estava ali comendo amendoins salgados, dando risadas e relembrando fatos.
- E o que a sua irmã pensava? – Ele perguntou sorrindo.
- Bem, - eu tomei um tempo para mastigar outro amendoim – acreditava que tinha sido mesmo o papai Noel que comera os biscoitos que ela e mamãe faziam.
Ele riu muito e mexeu nos cabelos, descontraído.
- Sofia? Acreditando em papai Noel?
- Ah – eu joguei os ombros para cima pensando – naquela época ela era bem diferente. – Sorri nostálgica. – Quando via que os biscoitos que ela havia feito para o papai Noel tinham sumido...
- E você comia tudo caladinha? – Noah me jogou um olhar de falsa censura.
- Às três da manhã! – Rimos juntos de tal maldade.
Eu percebi que ele se lembrara de outra história, mas foi interrompido por um som um tanto alto. A multidão que aparecera no bar nesse par de horas aplaudiu com vivacidade. Várias pessoas gritavam e assobiavam à medida que a luz sobre o palco aumentava e quatro garotas, vestidas de uma maneira bem rebelde, subiam e pegavam os instrumentos. Quando começaram a tocar, a galera foi à loucura.
- Banda cover de The Donnas! – Eu gritei para que Noah pudesse me ouvir. Uau, isso sim foi surpresa. – Uma das minhas bandas femininas favoritas!
Como ele sabia? Fiquei muito chocada, mas de um jeito bom, é claro. Foi o melhor cover de The Donnas que eu já ouvi na minha vida! Gritei muito junto com a multidão enquanto elas tocavam “Take it off” de uma maneira impecável. É realmente uma das melhores músicas e serviu pra dar uma animada no ambiente.
A noite decorreu com várias outras canções ousadas e decididas e o resto do pessoal parecia estar adorando, não tanto quando eu, é óbvio. Noah também estava surpreso por ter acertado tanto assim sobre a banda e o lugar. Ele disse (ou pelo menos tentou ser ouvido) que não sabia que era uma das minhas favoritas, mas achou que fazia o meu estilo. Bom, o importante é que ele estava certo. Eu gostei de verdade.
Mais no finalzinho da noite, elas se despediram e foram aplaudidas mais uma vez, então alguns outros côveres se apresentaram. Um deles até de Raul Seixas, um dos músicos mais admiráveis, em minha opinião. As pessoas ao redor agora pareciam mais calmas, bêbadas e comunicativas. Toda a animação do começo havia passado e agora estavam mais prestando atenção nos próprios copos do que na música em si.
Infelizmente, estava ficando muito tarde e Sarah não iria aceitar que eu ficasse fora de casa se o horário passasse daquele.
- Acho melhor nos prepararmos para sair. – Ele disse preocupado e, ao mesmo tempo, chateado ao olhar as horas no relógio de pulso. – Vou pedir a conta.
- Podemos dividir... – Sugeri meio sem jeito, sabendo que ele iria recusar.
- Não seja boba. – Ele sorriu e fez um gesto para o rapaz educadinho com gel no cabelo, que compreendeu a intenção e dirigiu-se para o caixa a fim de fechar a conta.
- Tem certeza? – Eu perguntei e ele me lançou um olhar atravessado de reprovação. Preferi não tocar mais nesse assunto. – Enquanto isso eu vou ao banheiro rapidinho. – Comentei já me levantando. Olhei ao redor e a plaquinha fluorescente com o símbolo feminino estava visível do outro lado, mais para perto do bar. Noah intensificou ainda mais a expressão preocupada.
- Você está bem, não está?
Encarei seu rosto de novo e, por alguns segundos, estranhei a pergunta. Logo depois, entendi que na última vez que eu disse a ele que iria ao banheiro, voltei parecendo uma morta-viva. Sim, isso mesmo, no fatídico desfile da Paola. Minha sorte é que estava bem escuro, senão ele veria meu rosto se transformar em um tomate.
- Estou legal. – Respondi apenas e desapareci entre as várias pessoas que locavam aquela parte do barzinho.
Percebi que a parte onde ficavam as bebidas estava relativamente mais calma que a parte da música. Aquelas pessoas que eu vi quando entrei ainda estavam lá, só que, visivelmente, mais bêbadas. Ainda conversavam alto e riam como se não houvesse amanhã. Uma mulher alta e magrela conversava sem parar segurando um palito preso em uma azeitona. Quase caí em cima dela quando tropecei em um degrau que a pouca luz não me permitiu enxergar. Uns homens que a acompanhavam deram uma leve risadinha.
Cheguei ao estreito corredor no fundo do bar e adentrei a porta da direita, que a plaquinha indicando ser o banheiro feminino. Como eu havia pensado, havia três chamadas não atendidas da Sarah e uma mensagem de texto: “Onde você está, mocinha?Acha bonito deixar a sua irmã sozinha em casa? Volte já!”. Tentei ligar de volta para ela e avisar que eu já estava chegando, mas o celular estava desligado. Eu, certamente, enfrentaria seus poucos momentos de “mãe atenciosa” amanhã. Hoje, aliás. Já passava da meia noite. Também havia um recado da Rebecca: “E aí? Como está indo? Que gosto ele tem? Me liga.”, mas esse eu preferi ignorar no momento.
Voltei ao corredor estreito no qual, do lado esquerdo, ficava o banheiro masculino. Bem em frente ao cômodo em que eu havia entrado. Desta vez, não foi um “quase” eu, de fato, esbarrei em um homem que estava indo na direção contrária. Sorte a minha que ele não estava segurando nenhuma bebida, se não Sarah me mataria pelo cheiro de álcool na roupa. Deixemos claro que agora a culpa não foi minha, ele é que estava tonto demais para se desviar de mim. Eu estava visível.
- Desculpe-me. – Falei apenas por ser a coisa mais educada a se dizer quando algo do tipo acontece. Meu maior desejo foi perguntar “Não me viu não?”, mas achei que poderia soar meio rude.
- Que nada, a culpa foi minha. – Ele respondeu apoiando-se na parede. Deveria estar mesmo muito tonto.
Quando ele se mexeu, inclinou-se de uma forma que a luz do corredor atingira diretamente sua face. Aquele rosto já próximo à meia-idade, o formato do nariz, os olhos profundos, a boca um pouco torta... Tudo muito familiar. Observei ainda por mais algum tempo até perceber que ele estava me encarando.
- Eu não o conheço de algum lugar? – Perguntei confusa. Eu tinha a certeza de que já havia o visto, só não sabia onde e nem quem era.
O homem provavelmente achou que a minha pergunta foi uma daquelas cantadas de péssimo gosto e sorriu de um jeito meio safado. Olhou-me dos pés a cabeça e disse:
- Se você quiser...
Achei melhor sair dali rápido antes que eu perdesse a cabeça. Eu costumo ficar muito irritada com esse tipo de cantada descarada, ainda mais vinda de um bêbado que tinha idade para ser meu pai.
- Com licença. – Eu falei de um jeito firme e usei um dos braços para tirá-lo do meu caminho. Noah estava, naquela mesma hora, olhando para aquela direção. Fez um sinal com a mão assim que me viu, mas eu já o havia notado ali. Lembrei-me do degrau naquele lugar e encontrei meu acompanhante de novo sem maiores transtornos.
- Pronta?
- Vamos. – Sorri.
O caminho da volta foi tranqüilo. Ele dirigia muito bem, pegou avenidas mais movimentadas e seguras naquela hora da madrugada e foi conversando comigo sobre o lugar. Perguntou o que eu tinha achado da música, da comida, do ambiente, etc. Respondi, sincera, que havia adorado tudo e que poderíamos repetir essa noite outra hora. Ele pareceu satisfeito por ter me agradado.
Só quando ele estacionou na frente do meu condomínio e abriu a porta para que eu descesse do carro é que veio aquele estalo na minha cabeça sobre o que deveria vir depois. Acho que toda garota já está cansada de saber o que acontece, ou pelo menos deveria, quando um cara a leva para sair, o encontro corre divinamente e ele a leva de volta para casa.
Parei na frente da portaria, na qual o porteiro já havia me reconhecido e aberto o portão, e esperei o que ele iria fazer. Não que eu fosse uma pessoa tipicamente passiva, mas talvez ele só fosse dizer tchau e logo iria embora.
- Bom... – Ele começou meio indeciso. – Adorei ter passado a noite com você, Mel. – Eu sorri desajeitada, minhas mãos começaram a suar de nervosismo.
- Foi divertido. – Respondi finalmente sentindo que ele estava esperando alguma espécie de sinal que viria de mim.
Então ele se aproximou ainda mais e lentamente. Manteve os olhos fixos nos meus para ter certeza de que eu também queria o beijo. O problema era que eu não queria. Tudo bem, a noite foi ótima. Tudo bem, ele era um cara maravilhoso. Mas não era o cara que eu queria para mim. Eu estava sim um pouco sem jeito por ter que recusar o beijo e eu não sabia como fazê-lo. Meu melhor amigo do sexo oposto era o Lean e, graças a alguma força divina lá em cima, ele nunca havia tentado nada comigo. De repente, eu estava ali parada sob a luz da portaria, pensando em como iria dizer ao Noah que ele entendera errado e que eu me sentia um lixo por estragar, pela segunda vez, uma noite nossa. Mas por mais culpa que eu sentisse, eu não iria beijar alguém por piedade ou porque estava com medo de ferí-lo.
E eu não tinha mais tempo para pensar no que dizer ou o que fazer, porque quando terminei meu raciocínio acima ele já estava perto demais. Seu cheiro quase doce demais invadiu minhas narinas e, na última hora, eu desviei-me uns graus para a direita e apressei-me a beijar a sua bochecha. Acho que ele entendeu, já que parou na mesma hora e afastou-se um pouco.
- Boa noite, Mel. – Disse tentando não parecer muito chateado, porém não teve muito sucesso. Seu desapontamento era perceptível.
- Boa noite... – Eu respondi desolada e com um pouco de dó. Ele tinha sido a pessoa que realmente havia me feito esquecer todos os problemas, mesmo que somente por algumas horas. Contudo a idéia de que se eu o beijasse estaria o enganando porque daria a impressão de que eu tinha um interesse que eu não tinha continuava na minha cabeça. Isso amenizou um pouco a culpa.
Noah não demorou a ir embora. Logo deu as costas e entrou em seu carro novinho e bonito. Acenei com uma das mãos, ele retribuiu o gesto e logo sumiu. Olhei para cima e encarei o céu nublado. Não havia chovido como eu esperara. Quando desci um pouco os olhos, tive a impressão de que um vulto, que estivera na sacada segundos antes, acabara de reentrar em seu apartamento, logo acima do meu.
O dia correu agitado. Acordei tarde depois de ouvir uma bronca daquelas vinda da Sarah assim que cheguei em casa. Pelo menos, havia conseguido convencê-la de que eu precisava dormir na casa da Rebecca para fazermos um trabalho valendo nota para a segunda, dia seguinte. Sofia não esclareceu bem como, mas tinha conseguido pegar mesmo o anel de noivado da mamãe. Não faltaram ordens expressas para ter cuidado com ele, já que ela poderia perceber a ausência da jóia na gaveta a qualquer momento.
Na casa da Becca, mal tive tempo de terminar de me arrumar de maneira digna para uma recém noiva e já estava escurecendo. Mal encarei a noite pela janela do quarto da minha melhor amiga e ouvi um apito familiar de que meu celular havia recebido uma mensagem. “Onde você está? Estou indo te buscar.” Ela dizia apenas e eu nem precisei verificar o remetente. Sabia quem era. Respondi rapidamente e voltei e comecei a me vestir.
Rebecca havia arrumado uma saia social castanha, mas que tinha um rendado bem bonitinho, então não parecia tão “roupa de gente idosa”, mas persistia na elegância. A blusa branca decotada também seguia o estilo “sou chique, mas não chata”. Os sapatos eram belíssimos e não incomodavam tanto, mas o que eu mais gostei foi o penteado que ela fez. Ela, por incrível que pareça, conseguiu prender meus cabelos castanhos claros em um coque alto com algumas mechas soltas que caíam levemente sobre o meu pescoço. Toda aquela arrumação me dera uma aparência mais velha, que era o que Rebecca queria desde o princípio para que eu não parecesse nova demais para estar noiva. Claro que eu também não fiquei parecendo velha demais. Sorri para o espelho pensando que a aparência estava na medida certa. Minha amiga também me ajudou na maquiagem um pouco discreta.
Eu insisti bastante, mas ela não quis esperar lá fora comigo. Disse que os seguranças de sua casa bem abastada estariam lá, então não teria perigo. Também foi persistente na idéia de que não queria segurar vela nem por um segundo, elogiou meu visual e ficou dentro da mansão.
Não demorou muito até que um carro preto já conhecido chegasse. Sam (eu havia decidido chamá-lo pelo nome de novo) não desceu do carro e nem abriu a porta como Noah fizera. Isso me mostrou que ele deveria ainda estar irritado comigo por ter aceitado aquela farsa, mas não pude confirmar nada porque não consegui enxergar seu rosto através dos vidros fumê.
Ver que ele ainda estava nervoso me deixou nervosa, já que, é claro, eu tinha a plena certeza de que quem tinha o direito de ficar brava ali era eu. Abri a porta um pouco mais bruscamente do que eu planejara e sentei-me no banco do passageiro. Ele ficou me observando entrar em seu carro com aquela cara de quem comeu e não gostou. Eu fingi que não me importei.
Fiquei esperando que ele desse a partida para que saíssemos logo dali, mas ele não se moveu. Continuou me encarando como se esperasse alguma coisa. Depois de algum tempo, resolvi ceder e olhar para ele, ainda com uma expressão impaciente e irritada. Nossos olhos se encontraram pela primeira vez em alguns dias que pareceram muitos. Senti um arrepio familiar na espinha.
- Algum problema? – Perguntei rispidamente.
Ele ficou lá me olhando com cara de bobo e não disse nada. Nem sequer se deu ao trabalho de responder a minha pergunta. Ficou passeando os olhos por mim como costumava fazer quando estava me analisando, ou como eu tinha o hábito de dizer, “tirando um raio-x da minha alma”.
Eu já estava ficando impaciente demais e com vontade de mandá-lo parar de me encarar e começar a se mexer, quando ele, como se adivinhasse meus pensamentos, deu a partida no veículo. Isso me fez respirar de novo. Era uma sensação muito incômoda aquela de que ele estava me perfurando com o olhar. Apoiei meu cotovelo na porta e a cabeça no cotovelo e desviei minha atenção para a paisagem lá fora. As pessoas, os carros, qualquer coisa que evitasse minha intenção de reparar o quanto ele estava bonito. É claro que ele estava bonito, não precisava nem fazer esforço e eu tinha alguma coisa com ternos. Ou talvez alguma coisa com ele usando o terno. Vai saber...
Fiquei contando os postes de iluminação para passar o tempo e evitar o Sam mais um pouco. Ele também não poderia dizer exatamente que estava se esforçando para me notar ali. Esse silêncio pesado seguiu-se até o fim da pequena viagem quando ele entrou por um estacionamento subterrâneo de um prédio comercial.
Saímos do carro ainda com aquela greve de palavras e entramos pelo elevador do estacionamento. Foi quando meu nervosismo começou a ficar grande demais. Eu não havia me preparado para fingir estar noiva, feliz e apaixonada e também já tinha a idéia de que viagens de elevador com o Sam costumavam ser meio tensas. Era muito difícil ficar em sua companhia em um espaço tão limitado sem sentir aquela vontade brotando. Tentei ignorar isso olhando para o outro lado. Ele também estava me evitando fingindo estar descobrindo algo novo e inusitado nos botões do elevador, onde ele acabara de apertar o da cobertura.
Subimos inúmeros andares naquele clima pesado, até que ele pigarreou e resolveu largar de ser tão orgulhoso.
- Qual é o plano? – Perguntou apenas e voltou a me fitar por inteira. Senti a pele ardendo mais desta vez.
- Como não combinamos nada para falar, é melhor não ficarmos muito juntos. As pessoas podem perceber. – Eu sussurrei do jeito mais racional possível deixando minhas intenções pessoais de lado. Também seria mais fácil, para mim, fingir algo se ele não estivesse me observando, escutando o que eu estou dizendo. Vislumbrei o anel brilhante na minha mão direita.
- Certo. – Ele balançou a cabeça de leve, positivamente. – Vamos nos separar.
Fim do capítulo 11.
Nota da Autora: Bom, acho que essa última frase explica o título do capítulo :P Sei que muitas pensaram no pior, então espero que seja uma espécie de alívio haha.
Agora, estou criando essa nota para me desculpar de coração por causa de quase 1 mês de espera na qual eu não consegui escrever nada. Eis os motivos: Além de eu estar em uma fase muito corrida de final de ano e, consequentemente, vestibular, ainda tive a notícia de que eu estava perdendo a visão em um dos olhos. Como é possível imaginar, eu fiquei desestruturada tanto fisica quanto psicologicamente já que é muito duro receber uma noticía dessas sendo que eu amo fazer o que faço (no caso, escrever e desenhar). Mas agora eu já estou lidando melhor com a situação, voltei a escrever essa semana e creio que o meu caso não é tão grave e que, o mais importante: tem solução :)
Então queria me desculpar de verdade com todas vocês e pedir que vocês não desistam de mim porque vou levar essa história até o fim (tomei como objetivo de vida haha). Desculpa mesmo, para compensar, essa parte deu mais de 15 páginas de Word na letra nº 11.
Vou tentar escrever a próxima o mais rápido que eu puder (:
Adoro todas vocês porque, incrivelmente, os comentários foram uma das coisas que me ajudaram a seguir em frente diante do meu problema. Revisarei o capítulo amanhã, então desculpa todos os erros (acabei de terminar agora às 12:51 exatamente).
Beijos eeee... por favor, lembrem-se de repassar o blog aos amigos ;*
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31 comentários:
Oi Lihn!
nos desculpe por ficar te incomodando nesse momento dificil para vc, já te disse antes, tenho vc como uma amiga, por isso fikei preocupada. Se cuide direitinho, que tudo vai dar certo. o cap está maravilhoso, digno de vc!
um grande bjo.
Oi Lihn!!!!!!
Está linda essa parte como todas que vc escreve...
Que Deus te ilumine e que esse seu problema de visão se cure rápidinho....
Adoroooooooooooooooooo entrar aqui e ler tudinho!
Obrigada Linda!
E melhoras, não se esqueça estou na torcida pela sua plena recuperação!
Beijos 1.000
[by]Alessandra
Oiii ^^
Desejo melhoras pra vc vio!! ^^
Que Deus te cure logo!
Tenha certez de q todas estamos na torcida por vc!! ^^
O cap é maravilhosooooooo!!!
Amei!
Adorei os devaneios da mel com o Sam hsuahsua
Parabéns! =]
aí! amei ... q triste esses dois assim... =/
quero logo ver esse dois juntos de novO!
bjIns
RaquelM
eu espero que fique tudo bem com você, e que você escreva ainda muitas histórias *-*'
ah, que saudades de inverso =D foi bom ler esse capítulo
Achei muito lindoooooo
Rio demais da Sofia hahahaha!!!!
Melhoras pra vc!
Amiga,
espero que voc melhore.
Já estou curiosa para ler
o cap. 12 HAHAHAHA'
A historia está muuuuito boa
e atualmente estou gostando mais
do Noah do que do Sam ♥
Beeijos Hayetcha
História perfeita como sempre *--*
to amando, espero q nao demore a proxima parte ;)
ahh, e melhoras Lihn ;*
Demais *_*
Ameeeeeeeeiii... Ja estava quase dando um ataque
por nao ver a parte 3..
Mas, ela veio, e se cuide direitinho, queremos o final do livro..
Bjim..
Maravilhoso esse blog...ainda não li a história...mas pode ter certeza que começarei agora. Te darei meu parecer (humilde) logo após, com certeza!!!
p.s. já estou seguindo seu blog!
Nossa nem posso espera pra ler o que vai acontecer nessa festa kkkkk
Lihn estamos torcendo por você tudo vai dacerto ;)
by Carol Winchester
Lihn, muitos pensamentos positivos pra vc, vai td da certo =)
e sim, foi um alivio essa ultima frase, pq eu juro q ja tinha pensado no pior.
Estranho, mas nesse cap. o Noah me pareceu bem melhor pra Mel do q o Sam, e eu nem gosto mto do Noah.
Oh meu deusoo...
Deus é pai e vai te ajudar a superar esse problema, Lihn. Melhoras...
Quanto a história...argh, sou obrigada a falar,
a Mel anda um sacoo, cara, custa entender q o
Sam perdeu o objetivo de 'fazer mal a ela' já a algum tempo antes desse namoro ficar sério?
E o Noah? Desconfio desse cara...
Maaaais, mtu bom!
mas ray, como vc quer que a mel confia nele agora?? ele já tentou matar ela!! fica dificil acreditar!!
Como sempre, adorei o capítulo... Pena que a Mel nao pode dar um chance para o Noah, sabia? Eu gosto desses caras legais que aparecem e ajudam a garota quando ela ta sofrendo por outro... kkk... E caramba, fiquei assustada com a notícia sobre sua visão... Mas ainda bem que você pode se curar... Vou rezar por vc, vai correr tudo bem... Vc merece a melhora... Não desanima, pq vc tem muito apoio aqui pra seguir em frente, e tem q confiar em vc e ficar bem... Beijooo
amo ♥
LINDO DEMAIS! ESSA É A MELHOR SAGA DE TODAS *-*
Tô sempre por aqui!
Sempre divulgando, aaaaaaadoro!
Dá pra virar um filme! ;P ♥
oiiii
ameiii este capítulo... e na terceira parte vc conseguiu me deixar + curiosa do q quando fiquei para o capitulo 11 parte 3... aaa eu gosto mui deste livro, ainda + q mostra tds as coisas q as meninas pensam quando estao com problemas no relacionamento,parece q estou me vendo as vezes quando leio e isso é mui engraçado e super legalll... achei legal a forma como trato o Noah, tipo não deu sinais d q era para namorarem ou ficarem só para alegra ele e sim foi verdadeira mostrando q so queria a amizade... e a irma delata ficando + legal,assim naverdade ja era legal,mas agora c solto pelo menos um pouco apesar d td q aconteceu com ela na infancia...
e o sam ele é maravilhosoooooo....
bjoooo
Gostei demais desse capitulo! adoro o noah!!
Achei demais essa história de eles se fingirem de casados, eu que queria estar no lugar da mel nessa hora acho o sam tão sexy :P
Amo mto essa historia, é tão apaixonante e consegue retratar mtas vezes os meus sentimentos. as vezes eu me sinto como a mel e sei o que ela esta passando, sinto tanta dó dela, coitada hahaha mas ela é super forte e consegue passar por tudo!!
Adorei o capítulo!
Espero que você melhore logo viu?!
Tudo vai dar certo!
um beijo!
ah! boa sorte no vestibular!
;**
Ah...Ja ta terminando o fim de semana hein!Melhoras e boa sorte no vestibular...Bjim
Mais um capítulo perfeito!! Agora é só aguardar para vêr como Sam e Mel irão se comportar na festa e o que estará por vir!!!
Muito ansiosa e aguardando!!!
Beijosss!!
Ah,Lih!Acabou o fim de semana e nada.Vou chorar!
Tecnicamente o fim de semana ainda não acabou! faltam 20 minutoos! huashuahsuahsua
A Lihn ainda tá no prazo! acho que vai ser igual quando ela postou esse ultimo!
Amando muuuito a história Lihn!
E estamos todas torcendo muito por você!
Que Deus te abençoe sempre!
by: giih*
haha vai ser muito engraçado isso!!
Como sempre, muito bom.
Demorei um pouco pra vir, tava meio corrida minha vida também, vestibular e talz.
Vai dar tudo certo com sua visão, ok? Todas nós torcemos por você.
E omg, vou correr pra ler o próximo. Beijos
aaaaaaaaah vou ler o proximo jáá, nem me importo que seja de noite, minha cabeça, esteja doendo, vc escreve muito bem, tem um grande potencial e espero que percebam isso, sou sua fã, beijos!!!!
by linda
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