quarta-feira, 5 de maio de 2010

Capítulo 12 - Reunião (parte 4)

Pela primeira vez, a chave de todo aquele mistério estava em minhas mãos. Minha vontade era de abrir aquela pequena caixa naquela mesma hora, mas, mais uma vez, preferi ouvir meu instinto. A vantagem de ser tão pequena é que eu pude colocá-la dentro do casaco e escondê-la com uma das mãos sem fazer qualquer escândalo.

O caminho de volta pra casa pareceu mais longo que o habitual. Algumas pessoas na rua ou no ônibus lançavam olhares estranhos ao alto volume irregular sob o meu casaco. Eu não tinha certeza sobre quem estava com mais medo: se eram essas pessoas ou eu. Isso fazia meus finos braços tremerem por debaixo do tecido, mas, felizmente, ninguém percebia.

Meus passos rápidos faziam um leve som ecoar no ambiente. O Sol custava a aparecer no momento em que pude respirar tranqüila. Algumas nuvens cinzentas se moviam lentamente no céu, mesclando o tom neutro com o amarelado e o laranja que iam surgindo com vagareza no horizonte no momento em que eu finalmente pude respirar tranqüila. Senti as células de todo o meu corpo vibrando de agitação e alívio ao mesmo tempo em que eu já encarava o tão simpático porteiro do condomínio. Eu iria abrir aquele pacote assim que chegasse em casa e finalmente atiraria na minha curiosidade com balas de prata.

O corredor estava calmo como sempre, nem sinal de viva alma naquele local banhado por paredes cor creme. Até o “Senso Ação”, um jornal diário sensacionalista que era rival do jornal onde minha mãe trabalhava, ainda estava no exato lugar onde tinha sido entregue esta manhã e não havia sido recolhido pela minha vizinha. Mas não foi exatamente isso que chamou minha atenção.

Um cheiro estranho invadiu as minhas narinas e eu me perguntei se a vizinha não estava acordada o bastante para recolher o próprio jornal, mas se estava bem o suficiente pra assar algumas bolachinhas de sabor e cheiro muito duvidáveis. A ação de destrancar a porta foi o que me fez perceber que aquele odor não vinha do apartamento ao lado, mas sim do meu. Eu teria ficado mais assustada se não tivesse reconhecido o cheiro de mostarda no meio daquele amontoado de sensações olfativas diferentes.

E não eram somente olfativas. De repente, os tecidos do meu corpo começaram a chacoalhar de felicidade intensa. Era como se eu tivesse acabado de me lembrar de algo que me levava às nuvens. Tentei me concentrar nos meus problemas, no motivo que me trazia ali, na coisa importantíssima que eu deveria fazer, mas a imagem que insistia em ficar na minha cabeça era a de um pôr do sol maravilhoso com girassóis e abelhinhas dançando e cantando juntos. A alegria jorrava em todas as pétalas em tons de cor-de-rosa e amarelo vibrantes e, nada do que eu fizesse, a faria ir embora.

Flutuei cantarolando pelo assoalho da sala de televisão em direção ao corredor enquanto sentia uma espécie de dormência em todos os meus sentidos, pés, mãos e principalmente cabeça. Imagens e pensamentos não muito claros se formavam agora encobertos por uma espécie de névoa cinzenta e semi-opaca.

Um sorriso bobo e completamente aleatório brotou na minha face enquanto me esforcei pra bater na porta do quarto que parecia ser a origem de toda aquela alegria cintilante. Por algum motivo, dei uma gargalhada bem alta do som das batidas na porta. De repente, aquela batida parecia ser tão engraçada, mais hilária que nunca. Ri ainda mais alto quando um ET de cor verde musgo abriu a porta com um solavanco.

- O que você quer? – O ET perguntou com a voz abafada por trás de duas grandes trombas verdes cor de musgo. Achei ainda mais engraçado quando olhei pra baixo e me dei conta que aquele ser de outro mundo tinha uma voz fina, feminina e familiar...

- Haha, o que você está fazendo aqui? – Perguntei com a voz feliz e distante, perguntando a mim mesma o que traria uma criatura tão exótica a esse nosso mundinho. Pensei no quanto deveria ser maravilhoso viajar pelo universo em uma nave parecida com uma tampa de panela coberto por papel celofane. Voar pelos altos e cantar juntamente com as estrelas o hino do universo feliz...

- Mel? Mel? – O meu novo amigo extraterrestre pareceu preocupado com o meu estado atual. E qual o problema em ser feliz? Digo, cadê toda aquela paz e amor que os hippies pregavam? Era tudo mentira? E como ficam as vacas nessa história? Tentei erguer os dedos em sinal de “V”, mas esqueci, no meio do trajeto, porque eu tinha levantado a mão pra começar. – O que houve com você?

- Hakuna Matata...

- Olha pra mim! – O ET de um metro e meio de altura levantou a mão e chacoalhou meus braços. Eu sorri de novo.

- Os seus problemas você deve esquecer... – Ele fechou a porta do quarto e foi me conduzindo até o sofá da sala com os pequenos olhos castanhos arregalados. – Isso é viver...

- Alguém te deu alguma coisa pra beber? O que houve? – O ET de repente tirou a própria face e se transformou na minha irmã. Achei a coisa mais divertida do universo e ri em alto volume novamente enquanto me perguntava se ele conseguiria se transformar, também, na Madonna... – Mas que cheiro é esse? – Ela perguntou enquanto dilatava as narinas para tentar descobrir a fonte daquele cheiro singular.

Eu nunca havia reparado como a parede da sala, atrás da televisão, era engraçada. A textura tinha milhares de pontinhos que pareciam milhões de formiguinhas correndo e seguindo o próprio fluxo. Tipo naquele filme infantil que tem vários insetos que querem, sei lá, arrumar briga com alguns morcegos ou gafanhotos, sei lá... Do que eu estava falando mesmo? Ah, peixe!

- Ah, droga... – Sofia disse com um tom de desespero na voz enquanto tampava o nariz com as próprias mãos e jogava a cara de ET pra cima de mim, sentada no sofá. – Coloque isso!

Eu ri da voz fanha e abafada. Pessoas seriam tão mais interessantes se falassem sempre com a mão no nariz. Fato.

- Estou falando sério, coloca isso! – Ela forçou a máscara verde escura na minha cabeça, arrancando alguns fios de cabelo.

- Ai!

Minha irmã aproveitou meu estado de corpo mole para me puxar para fora do sofá e me arrastar pelo corredor até o meu quarto com uma mão só. Fez uma cara super desagradável quando abriu a porta e eu sabia, no fundo de mim, que ela estava se perguntando se deveria quebrar a promessa que fizera de não ultrapassar a porta até que eu organizasse tudo lá dentro. Depois de algum tempo de indecisão, ela deu de ombros e entrou, me arrastando pra dentro e fechando a porta.

- Você se sente tonta? Como se sente? – Perguntou retirando os dedos que tampavam o nariz e fazendo uma voz um pouco animada demais pra quem envenenara a própria irmã. Eu cambaleei até a minha cama e percebi que o cheiro não havia chegado ao meu quarto, pelo menos não ainda.

- Eu... E-eu... – Tentei falar, mas ainda estava muito confusa. Agora que eu havia sido tirada daquele aquário de sabe-se-lá-o-quê as coisas estavam mais claras e menos brilhantes. Eu não via mais todos os objetos em aquarela fluorescente. – Dor de cabeça.

- Mel? Mellanie? Mel! – Ela tentou gritar comigo, mas a minha cabeça já estava longe no momento em que meus cabelos castanhos tocaram meu travesseiro e meus olhos se fecharam.




Minha cabeça parecia mais um pedaço de chumbo quando eu acordei e me dei conta que as estrelas já olhavam pra mim. Ainda cambaleante, tentei deixar o corpo ereto e me concentrar no dia em que eu estava. Parecia que eu tinha apagado por muito tempo e já estava alheia ao calendário. Com um pouco de dificuldade e uma das mãos massageando a cabeça latejante, peguei meu celular. Além de perceber que já passava das sete horas, também notei uma dúzia de chamadas não atendidas.
- Ah não! – Falei em voz alta quando lembrei que hoje era o meu aniversário e que eu tinha acabado de acordar. Pessoas iriam chegar logo e, certamente, iriam rir da minha cara amassada.

Sai chutando algumas revistas de música que estavam no chão do quarto a fim de procurar alguma toalha pra já entrar no meu banheiro e começar a me arrumar. Rebecca ficaria louca da vida se me visse nesse estado a essa hora. Despi-me com rapidez e já comecei a tirar o xampu que caiu dentro dos meus olhos com tamanha pressa. Não sei porque eles não fazem aquela versão que não faz arder os olhos também pra adultos.

Minha cabeça ainda estava zumbindo. Eu tinha muita clareza do que acontecera hoje à tarde. Minha memória estava intacta. Sofia, para variar, tinha aprontado mais uma vez. Eu sabia que aquela broca e aquele monte de mostarda enlatada não eram destinados a um chazinho da tarde com a Barbie. Meu ódio pela minha irmã ferveu por alguns segundos antes de eu pensar que a pena pra assassinato familiar deveria ser de, pelo menos, uns trinta anos. Talvez se ninguém ficasse sabendo... Não, quero dizer, ela tinha aquela cabecinha pequena toda voltada para o mal, o meu mal principalmente, mas eu ainda amava aquela amostra grátis de ser humano. E, bom, família é família, não é? Como você não escolhe, tem que aturar pacientemente essas coisas habituais, como por exemplo, tentativa de envenenamento.

Fechei os olhos ardentes e senti as gotas de água fria caindo sobre a minha pele. Não era só a nova experiência da Sofia que me causava certo tremor. Havia outra coisa, lá no fundo da minha mente, que também me era fonte de forte preocupação. Meu coração disparou e meus olhos se arregalaram na medida em que eu usei uma das mãos trêmulas pra fechar a torneira do chuveiro. Finalmente me deu aquele estalo na consciência... “A caixa!”.

Estendi uma das mãos para fora do boxe de vidro para agarrar minha toalha que estava pendurada na parede de azulejos brancos comuns. Como eu poderia ter me esquecido disso? Aliás, eu nem me lembro de tê-la guardado em algum lugar quando cheguei. Eu devo ter soltado a caixa em algum momento entre o que eu abri a porta e o que eu deitei na cama, mas quando? Como eu pude ter dormido tanto? Tudo bem, eu não havia
tido a melhor noite de todas, mas nossa, dormir a tarde toda?

A porta do banheiro fez um som oco quando bateu na parede com intensidade. Saí chutando coisas aleatórias pelo chão do quarto enquanto enrolava uma toalha sobre meus cabelos cor de mel. Olhei rapidamente para a sacada que me revelava uma noite bonita lá fora. As estrelas estavam mais brilhantes do que nunca e o céu estava limpo. A porta de vidro estava fechada. Fiquei um pouco ruborizada ao lembrar que o Sam poderia aparecer ali a qualquer momento e me veria somente enrolada numa toalha. Mas isso não era o mais importante a se pensar naquela situação.

32 comentários:

Marta disse...

Obrigado por ter postado!
Já tinha passado tanto tempo,que estava morrendo de SAUDADES.
O cap esta PERFEITO,amei.
Quando saíra o próximo?

BjinhOoOS (:

Aninha Costa disse...

mto boom
ai tava com saudades
naum aguentava mais esperar...
mas nao se procupe...
mesmo q demore pra postar d novo, esse vai continuar sendo meu blog preferido...
vc escreve mto bem
parabens
^^

Anônimo disse...

Adoro a Sofia :)

Fiquei feliz d vc ter postado, estava com saudades d ler entrar aqui no blog e ler Inverso
Tentando te ajudar com os anuncios

Silmariana disse...

ahhhh ameeei *-* achei tao engraçado a parte do et kkkkkkk

Anônimo disse...

Ahhhh adoreeeiiii!! Posta mais Lihn!!!!

Dayanne disse...

lindoooo *-*

Rayssa disse...

cara eu amo muito o que vc escreve, vc tem mesmo o dom, deveria se dedicar mais a isso!!! vc eh brilhante, amo inverso e quero mto q seja publicado!!!

Nadia disse...

Adoreeei essa parte kkkkkk ri demais da parte do et!! hakuna matata!! KKKKKKKKKKK COMO VC PENSA NUMA COISAS DESSA? sua criatividade me impressiona, amo o q vc escreve, mtu sucesso sempre!!

Anônimo disse...

Coontinue postaando
pqe to loucaa pra saaber oqe vai aconteceer certo..!
Eu estoou amando o seu livroo
ele é Lindooo.! PARABÉÉNS

Anônimo disse...

Pra mim, isso tudo é jogada de marketing! E a gente só vai saber o final de Inverso quando comprarmos o livro!

Anônimo disse...

Oi lihn!!!!
To esperando vc terminar..
Qualquer coisa me avisa no msn.
Sou fã da sua história..
Eu amo inverso..
Beijos..

Anônimo disse...

nossa, isso ta jogado as moscas.
já perdi o interesse pela história :/
RESPONDE uma coisa lihn? vc vai postar aquui
o final da historiaa? ou vai fazer a gente comprar?
beijos

Anônimo disse...

a histooria é realmente muito linda, e faz a gente querer ler. mas precisa meeesmo de tanto tempo pra escrever alguma coisa e postar pra gente ? :/ fica chato, e perde a graça da historia ! maaaaais *-*

Maria Clara disse...

pra mim não interessa se tá demorando, inverso é a melhor saga que eu já li e eu vou esperar por ela nem que eu tenha que comprar 50 livros, eu compro, amo demais (LLLLL

Bruna disse...

ela me disse que vai continuar nas ferias, tah chegando *-* espero anciosa!!

Taynare disse...

eu leio inverso desde quando esse blog tinha menos de 10 mil visitas sou uma fã nata e aprecio MUITOOOO o trabalho dela, amo o que ela escreve e sei reconhecer uma pessoa de talento. Espero muito pelo final desse livro. Obrigada por me proporcionar tao boas horas de leitura. beijos

Ana Flávia disse...

nooooossssaaaa que angústia pra saber o que tem dentro da caixa!!! preciso de maaaaaais!!! xDDD

Mariana disse...

pra mim, o melhor livro que existe

Maria Joana disse...

MARAVILHOSO! Amo muito o que tu escreve, tu tem muito potencial e espero que sejsa publicado logo, vc merece!!!

Carlinha Andrade disse...

Nossa ocupei três dias SÓ com o inverso e consegui ler tudo, realmente è uma historia mto fantastica que nao pode deixar de estar na livraria! é apaixonante, vc nos faz sentir, nos faz amar, nos faz odiar, è um monte de sensações juntas que nao consigo explicaaaar! quero maaaaaaaaaaaaasi!

marina disse...

preciso MUITO MUITO MUITO³³³³³³³³³³ do próximo, melhoras flor!!

Nana Barbosa disse...

eu queria que vc não demorasse tanto a postar, fico morrendo aqui :(

Amandinha disse...

Oooooooiiieeee liiiiihn!! to muito orgulhosa de voce e das coisas que vc escreve!!! ja te considero uma amiga por ter adicionado no msn e eu amo mesmo tudo o que vc é e o que vc faz!!! obrigada por ser tao incrivel, sua faa

Amandinha

portuguesinha disse...

como vc consegue escrever algo tão lindo??? tô chocada!!! amo muito esse livro, adoro a mel e o sam, torço muito pra eles e entro aqui todos os dias pra ver se tem novidadeeees!!! xD

Quel disse...

ameeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeei esse capitulo (LLLLLLLLLL

fabiana disse...

Nossaaaaa esse foi tão pequenininho :( quero maaaaais D: Cadê você??? Posta logo! Não to mAIS aguentando!!

Anônimo disse...

amo muito (:

Anônimo disse...

aaah e eu quero dizer que espero muito que inverso seja publicado até as férias e q vc tenha tempo de terminar até lá!!!

Sabrina disse...

eita nóis! espero por mais ansiosa! quase roí todas as minhas unhas lendo esses capítulos rsrsrsrs comecei a semana passada e já terminei é muito bom, espero que vc consiga publicar e que tenha muito sucesso, e as pessoas que dizem que parece crespúculo sao ridículas, inverso naõ tem nada a ver com twilight, é muito melhor :D

Anônimo disse...

cadê o resto????

Jessica disse...

Obrigado por ter postado!
Já tinha passado tanto tempo,que estava morrendo de SAUDADES.
O cap esta PERFEITO,amei.
Quando saíra o próximo?

[2]

quero maaais!

Karina disse...

Foi pequenininha essa parte 4 mas foi muito boa!! Quero maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais [37987368756]

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