domingo, 4 de julho de 2010

Capítulo 12 - Reunião (parte 5)

Depois de inúmeras batalhas com objetos inanimados estendidos pelo piso do meu quarto, finalmente, cheguei até a porta. Porém, antes que eu tivesse sequer a chance de encostar as mãos na maçaneta, a porta já se abrira, revelando uma garota alta, loira e bem arrumada que me fuzilava com olhar de cobrança enquanto se postava parada sob o portal apoiada pelos seus saltos finos de cor marfim.

- Eu liguei para você o dia todo! Por que não me atendeu? – Rebecca começou a me lançar perguntas fortes como se eu estivesse sob interrogação policial. – Liguei no telefone da sua casa e Sofia me disse que estava dormindo! Não acreditei nisso! Por que ainda não está arrumada? Anda! – Ela pareceu bem desesperada no momento em que deu um passo para frente e fechou a porta do meu quarto atrás de si.

Rebecca definitivamente já se sentia em casa. Não me era surpresa que ela já tivesse a liberdade de abrir a porta do meu guarda-roupa quando bem entendesse e começasse a escolher a roupa que eu deveria usar aquela noite. Seus cabelos loiros cuidadosamente arrumados e enrolados balançavam de agitação e felicidade enquanto ia para lá e para cá recolhendo mais peças, como por exemplo, acessórios para os cabelos, brincos e etc. O salto fino batucava o meu chão em um ritmo acelerado enquanto ela murmurava palavras para si mesma que, ainda que outra pessoa pudesse ouvi-las, seria incapaz de compreendê-las.

- Por que ainda está parada? – Ela pareceu ficar pouco ofendida com a minha falta de ação, mas não era isso que me deixava preocupada.

- Eu preciso pegar uma... uma coisa. Na sala. – Disse tentando parecer o mais casual possível.

- É uma coisa que você vai vestir? – Os olhinhos da minha amiga brilharam sobre a expectativa de que eu tivesse comprado uma roupa nova para usar. Para falar a verdade, isso até fazia parte dos meus planos para hoje à tarde, os quais, eu nem preciso dizer, afundaram completamente por culpa da minha irmã e sabe-se-lá-qual-maluquice ela estava aprontando desta vez.

- Não exatamente. – Virei os olhos para o lado na esperança inútil de que isso desviasse o assunto.

- Mel! Já está quase na hora! As pessoas vão chegar daqui a pouco e o que quer que você queira fazer agora, pode esperar! Toma. – Ela estendeu a mão e me ofereceu um pedaço de pano cor salmão que eu notei ser um vestido.

- Mas não p... – Eu já estava pronta para contrariá-la quando me deparei com o olhar sério de ameaça. Ela tinha preparado tudo, a lista pequena de convidados, a comida que iria ser servida. Era importante para ela. Além disso, refleti sozinha, a caixa está dentro do meu apartamento, não iria sumir na meia hora enquanto eu me vestia. Depois eu refaria meus passos, procuraria a bendita e a guardaria no fundo da gaveta antes que as pessoas chegassem.

- Depressa.

Não consegui me concentrar muito enquanto eu tentava enfiar o meu corpo por entre aqueles pedaços apertados de pano. Eu tinha sérios problemas com alguns tipos de tecido, principalmente os que grudavam sobre o corpo, depois de tomar banho. Tudo o que eu mais desejava no íntimo do meu ser era que eu pudesse vestir uma bata ou uma camiseta larga combinada com uma calça jeans. Rebecca não iria me deixar escapar dessa tão fácil.

Os momentos que se passaram depois do nosso pequeno diálogo vencido pelos cabelos loiros e a insistência indestrutível da minha melhor amiga foram calmos. Ela deitou-se sobre a minha cama desarrumada e se divertia lendo algumas revistas que eu tinha largado por aí. O mais chamativo sobre essa atividade é que ela não dava a mínima se a revista era sobre ciência, história ou culinária, ela conseguia transformar tudo em tópicos que ela mais gostava, tais como celebridades, maquiagem e estética.
- Será que esses dois aqui são casados? – Perguntou alegre enquanto eu tentava domar meu cabelo rebelde. Olhei para trás e encarei a figura de uma reportagem sobre o pantanal que exibia dois biólogos sorridentes. Ela bateu as unhas vermelhas e grandes sobre a imagem. – Será? Ele é muito velho para ela...

- Isso não significa muita coisa. – Adverti. Eu estava tendo um sério problema com a minha franja. É incrível como o cabelo resolve não colaborar sempre nas piores horas.

- Deixa que eu te ajudo com isso. Vem cá. – Ela indicou com os dedos onde eu deveria me sentar para que ela me ajudasse a arrumar a juba. Não hesitei, não era como se eu entendesse alguma coisa de penteados.

- Como você está? – Perguntei ao me lembrar que a correria de alguns minutos atrás não permitiu um começo normal de conversa.

- Bem. – Ela sorriu desajeitada e parou de movimentar as mãos que prendiam os meus cabelos em alguma coisa que eu não conseguia ver ainda. – Por que a pergunta?
- O Lean disse que vinha... Você sabe. – Revirei os olhos e encarei o chão, mesmo sabendo que ela não podia ver meu rosto na posição em que estava.

- Não tenho nada a ver com isso. – Ela respondeu secamente e voltou a mexer nos meus cabelos. Eu sabia que ela esperava que eu mudasse de assunto, mas era meu dia, eu me sentia velha e tinha o direito de conversar sobre o que eu quisesse. Pelo menos por hoje.

- Você ainda acha que gosta dele?

- Não. – Eu senti a mentira saindo em um sussurro frio e entrando pelos meus ouvidos. Também notei que as mãos, outrora firmes e que se mexiam ligeiras sobre a minha cabeça, tornaram-se trêmulas e ineficazes. Rebecca estava retendo sentimentos dentro de si e não conseguia falar sobre eles porque decaíam sobre a palavra que ela nunca acreditou ser verdadeira. E talvez nem eu mesma acreditasse, até que acontecesse comigo. O amor pode ser traiçoeiro. É como uma víbora noturna que chega, traiçoeira, ligeira e dá o bote. Então tudo está perdido.

- Hum. – Olhei ainda mais para baixo enquanto tentava imaginar como deveria fazer para explorar melhor esse assunto. – Ai! – Senti um puxão de cabelo forte. Ela realmente tinha perdido a cabeça com uma simples pergunta. – Sabe, eu acho que o coração é como uma planária.

Ela continuou arrumando meus cabelos, puxando fio após fio para montar alguma coisa não identificada no topo da minha cabeça. Achei que ela nem tivesse ouvido, já que ficou em silêncio depois da minha frase babaca, mas logo parou, de repente, de se mexer.

- Peraí... O quê?

- Bom... – Eu revirei os olhos novamente, indecisa. Eu não tinha realmente certeza do que eu estava falando e eu deveria parar, com urgência, dessa mania de pensar alto. – Sabe? Planárias, aqueles bichinhos pequenos da aula de ciências? – Ela se deslocou um pouco do lugar para me olhar com os olhos de quem não estava me compreendendo. – Pois é, as planárias têm alta capacidade de regeneração. Se forem cortadas, não vão morrer, vão gerar nossas planárias.

- E daí?

- O coração é o órgão mais regenerativo do corpo. Você nunca vai morrer de amor, só vai ficar mais forte.

- Como você pode saber? – Ela perguntou um pouco chorosa, mas tentando se controlar. Apoiou-se sobre a perna direita e bateu o pé esquerdo leve e freneticamente no chão enquanto voltava a se concentrar nos meus cabelos.

- Achei que estivesse morrendo uma vez. – Relembrei e senti um frio na ponta do estômago. Não era uma sensação legal. – E eu sempre fui o mais forte que eu pude, mas isto, isto achei que não pudesse agüentar.

- E como você fez? – Indagou atenciosa.

- Eu parei de lutar contra eu mesma.

- Ah. – Rebecca ficou sem ter o que dizer. – Não sei se é o que está acontecendo comigo.

- Olha, Becca, se o Lean não for o cara certo – falei com seriedade enquanto girei o corpo para vê-la com clareza – nada vai impedir que outro não seja. Talvez você tenha passado tanto tempo negando um romance sério e isso a impediu de olhar em volta.

- Mas eu nunca quis um namorado. Namoros são tão... anos 60. – Ela disse desiludida. Eu sabia que era assim que ela pensava. – Eu acho que o bom do contato humano são os beijos, os amassos, o sexo... Eu não quero alguém pra ficar me ligando ou me enchendo quando eu quero sair, sem contar que é tão bom provar pessoas novas e lugares novos...

- Olha, talvez você pense assim, ou ache que pensa dessa maneira, mas o que o seu corpo está provando que quer é algo a mais. – Respondi sendo sincera e ela me observava com um pouco de desconfiança nos olhos grandes. – Se fosse assim, você não estaria sofrendo. No fundo, você deve estar sentindo falta de alguém especial, alguém que possa te fazer carinho enquanto você come miojo e assiste novela mexicana, alguém que te ache a coisa mais linda mesmo descabelada e com um pijama colorido.

- Não sei... – Parecia mesmo muito indecisa e danificada. Senti solidariedade pela minha melhor amiga, eu já tinha passado por isso. Já estive quebrada, recolhendo meus caquinhos pelo chão. – E, mesmo que fosse, eu e o Lean não daríamos certo.

- Talvez sim, talvez não. – Dei de ombros e suspirei profundamente pensando nas possibilidades. Poderia ser bem legal se os dois se entendessem. Aí poderíamos sair os quatro. Na minha mente, isso parecia certo e feliz, mas não há como imaginar o que teria acontecido se nada aconteceu. O “se” não vale nada no mundo real. Talvez no mundo das idéias...

- Como vou saber com quem daria certo?

- Não vai saber. Quem sabe essa seja a graça...

- Mel? – Sofia entrou no quarto de repente. Estava toda arrumada formalmente, vestida como se fosse uma mulher de negócios anã. A saia social azul marinho cintilante com alguns botões escuros pregueados nas laterais fazia par com uma blusa bege mais larga, presa na região do umbigo com uma cinta preta. Havia uma faixa espessa de uma telinha bordada ao redor da gola, que se completava perfeitamente com um colar de pingente de pérola, que deveria ser falsa.

- Estou quase pronta...

- Você sabia que já tem gente chegando? – Ela perguntou com uma pitada de ironia na voz.

- Já vamos.

- Certo. – Ela já estava fechando a porta quando parou, subitamente, e ficou me encarando com um ar que eu não consegui entender muito bem. Parecia nervosa ou, até mesmo, indecisa. – Depois entrego o seu presente.

Eu fiquei surpresa. Não era comum que ela participasse de demandas sociais como a entrega de presentes a cada ano, na data de aniversário de cada um. Ao mesmo tempo, fiquei mais feliz sabendo que ela se dera ao trabalho de comprar alguma coisa. Sarah não fizera tanto.

Rebecca terminou de arrumar meus cabelos quando prendeu uma linda borboleta com pedrinhas prateadas nas asas ao coque nada tradicional que fizera em mim. Parte dos meus cabelos claros cor de mel estavam presos à borboleta e escapavam dela fazendo ondas descompassadas no topo. Antes disso, eles se entrelaçavam em várias finas tranças que saíam da raiz e faziam o trajeto do contorno da cabeça. Ela deixou algumas mechas que caíam, onduladas, pelos ombros e pescoço. Eu gostei bastante. Não fazia muito o meu estilo, mas ficou um penteado bem mais descolado e juvenil que o que ela fizera quando Sam e eu fomos à reunião.

Ela também me ajudou com a maquiagem. Contornei meus olhos castanho-claros com um lápis preto e coloquei uma sombra alaranjada com branco cintilante nas extremidades. Achava que blush era bastante forçado, mas Rebecca colocou um tom laranja meio dourado que combinava bastante com a minha pele pouco morena sem exageros. Devo admitir que a minha aparência ficara bem melhor se comparada à dias atrás quando eu parecia mais uma doente recém saída do estado de coma. Meu estado de espírito também contribuía com isso. Eu não era muito fã de festas, mas seria agradável ter um momento de paz no meio de tantas coisas confusas que estavam acontecendo ao mesmo tempo.

De uma hora para a outra, comecei a escutar balbúrdias vindas da sala de estar. Eram as pessoas que já haviam chegado se interagindo em minha casa sem a minha presença. Não que eu me preocupasse muito com isso, outras perturbações estavam rondando a minha cabeça naquele exato momento. Como eu poderia ter sido estúpida o bastante para ter deixado a caixa por aí? Bom, pelo menos eu tinha a plena certeza de que ela estava no apartamento e isso me tranqüilizava, em partes. Mesmo assim, não era fácil tentar pensar na felicidade de completar 18 anos quando se tinha algo tão urgente a ser tratado.

- Você não vem? – Rebecca perguntou enquanto me encarava com uns olhos preocupados. Eu estive quieta desde o momento que Sofia entrara no quarto me falando sobre o presente. – Tem algo errado?

- Não, não! – Sorri disfarçadamente desviando o olhar do chão. – Eu vou só... Vou telefonar pro Sam e já vou.

- Certo... – Ela acenou com a cabeça e balançou os cabelos loiros brilhantes. – Ei, Mel... Escuta, sobre hoje mais cedo... Não comenta com ninguém, ok?

- Claro, né. – Como se ela ainda precisasse me pedir segredo sobre as nossas conversas depois de tanto tempo de amizade. Aliás, como se eu tivesse mais alguém próximo para contar... Bom, só o Lean, mas eu não iria contar uma conversa sobre ele justo para ele, né?

- Obrigada. – Ela sorriu tímida e já estava indo embora quando eu a interrompi.

- Ei, Becca!

- Sim? – Parecia preocupada sobre o que eu poderia dizer, mas tentou ocultar esse sentimento o máximo que pôde. Voltou a colocar a mão branca e cheias unhas pintadas de roxo metálico na maçaneta.

- Tenho certeza que, se você procurar, vai encontrar alguém perfeito para você e que mereça tudo o que você é. – Desabafei. Não consegui conter meu momento sentimentalista, mas eu sabia que talvez ela precisasse ouvir isso de uma amiga. Além de tudo, eu realmente acreditava no que eu disse.

Becca ficou imóvel. Talvez estivesse demasiada tocada para fazer alguma coisa. Eu sabia que ela também não era do tipo que chora por amor. Aliás, nem em amor ela acreditava, bom, pelo menos até antes dessa história toda com o Lean. Sua mão apoiada na maçaneta começou a tremer e as unhas fizeram pequenos estalos quando tocaram o metal. Ela, então, ajeitou os cabelos e marchou com os saltos altos para dentro do quarto novamente. Seus passos reproduziram sons macios enquanto ela deslizava pelo meu tapete vermelho de forma rápida e hesitante. Estendeu os braços no susto e me apertou. Abraçou-me como se eu fosse a melhor amiga do mundo e eu me senti um pouco aflita, pois sabia que, ultimamente, não era isso o que eu havia sido.

Meus problemas chegaram a tal ponto que eu parei de me preocupar, talvez, com aqueles que faziam parte da minha vida. E eu sabia que, apesar disso, Rebecca continuava sentindo o mesmo carinho e amizade por mim. Ela não se importava por eu ter sido um pouco ausente em seus problemas com o Lean, por ter faltado nas aulas e tê-la deixado sozinha encarando a lousa. Não são tempestades passageiras que derrubam amigas de verdade. E eu reconheço que posso ter sido um pouco egoísta. É claro que eu amo o Sam, mas ele não é tudo em minha vida. Eu não desistiria da minha vida por ele e, nem se ele quisesse, não largaria tudo para fugir com ele. Há outras pessoas importantíssimas no quebra-cabeça de quem eu sou, meus amigos, minha família e, inclusive, ele. Todos eles juntos me proporcionam a existência que, agora, eu não trocaria por nada. Porque, agora, finalmente, ao completar meus dezoito anos de vida, sinto que vivi por completo. E a sede pela vida e pela felicidade é plena.
Senti-me agradecida pelo abraço dela. Isso me fez lembrar do quanto eu amava as pessoas a minha volta e do quanto queria ser feliz. E, mais uma vez, observei o sentimento de luta andando pelo meu corpo, subindo pelas minhas veias. E tive a certeza de que tudo daria certo.

Ela, então, se afastou. E, sem dizer nada, saiu saltitante do quarto. Também parecia satisfeita com a nossa amizade. Eu fiquei parada. São poucas as coisas que me tocam dessa maneira. Talvez eu, como a maioria das pessoas, tenha se treinado a ficar inerte aos sentimentos como forma de auto-defesa. Algumas pessoas não sentem nem um pingo de choque ou pesar ao ver a reportagem de um crime frio e premeditado no noticiário das sete. Eu não as culpo. É comum vestir um colete à prova de emoções nos dias de hoje porque aí você não tem nada a perder. E por isso, as pessoas mais frias, talvez sejam as mais sensíveis. Eu era assim, até que fui dilacerada pelo Sam e custei a recolher meus pedacinhos. Hoje eu vejo que tudo valeu à pena.

Deixei de me deixar pelos pensamentos e centrei-me no que estava na minha frente. Eu estava parada frente à escrivaninha onde eu tinha uma foto com o meu pai. Lá estava eu, nos meus oito anos, vestida de índio e com o rosto pintado com tinha vermelha segurando um algodão-doce. Penas coloridas se prendiam no topo da minha cabeça e eu olhava curiosa para a câmera enquanto me equilibrava nos braços do meu pai. Eu me lembro vagamente daquele dia. Papai nos levou a um festival cheio de apresentações e brincadeiras. Eles pintavam e caracterizavam as crianças em uma das barraquinhas. Sofia não estava na foto porque ainda era um bebê e ficara com medo do palhaço, aí minha mãe tivera que levá-la para casa.

Observei com atenção o homem na foto. Era bem vestido e sorria feliz com a filha nos braços. Era tão alto quanto elegante, trajava uma calça social preta e uma camisa branca enquanto pisava, com os sapatos sociais cinzas, sobre a grama do lugar bonito e cheio de balões coloridos. Nem mesmo as fracas rugas na testa e na região dos olhos diminuíam sua expressão bonita e singela. De repente, na minha cabeça, surgiu a imagem de uma bala atravessando seu peito. A imagem clara de como aquela face alegre se transformara, em segundos, em um retrato da dor e da infelicidade. Não era essa a imagem que eu queria guardar dele, balancei as mechas soltas de cabelo no ar tentando me livrar desse pensamento. Voltei a concentração para os olhos claros e fixos, firmes como o chão em que pisava, mas ternos como o doce que eu tinha em mãos.

Sorri levemente. Eu não acreditava, definitivamente, que aqueles olhos teriam feito qualquer coisa indigna. Aqueles olhos não teriam dado a ordem de matar os pais do Sam. Aqueles olhos não teriam me deixado, em mãos, uma bomba-relógio prestes a explodir. Eu confiava naqueles olhos. Eles não teriam a intenção de me causar qualquer dor.

Um barulho grave estalou por trás de mim, seguido de uma respiração forte. Com o susto, eu soltei o porta-retrato que estava em minhas mãos. Ele bateu no móvel com um som oco e ficou virado para baixo. De repente, as duas pessoas na foto estavam encarando a madeira avermelhada da minha escrivaninha cheia de bagunça. Sam encostou as mãos na minha cintura e levou a boca ao meu pescoço.

- Feliz aniversário. – Disse baixinho.

- Você demorou. – Eu respondi esticando um dos braços para trás e levando uma das mãos aos cabelos pretos e macios que eu tanto gostava.

- Não foi minha culpa. – Ele se defendeu e eu entendi. Não havia horário certo para que ele “aparecesse”. Era chato viver assim, mas eu esquecia todos os ônus quando a pele dele já estava de encontro com a minha.

Senti seu cheiro agradável. Para mim, o cheiro dele era o melhor que existia. O ar batia em sua pele e levava o odor intoxicante às minhas narinas, logo passava por dentro de mim e batia nos meus pulmões que quase explodiam de satisfação. E aí era fatal. Eu já não conseguia mais obter o foco em nada.

Sam passou uma das mãos sobre a minha barriga e, estando por trás de mim, continuou a beijar o meu pescoço. Minha pele ficava arrepiada ao notar a respiração forte passeando pela minha clavícula e cervical. Eu fechei os olhos e me deixei sentir o que só ele me fazia sentir. Até hoje, eu ainda era capaz de saber que a saudade me dava uma pontada no peito quando eu pensava no tempo em que ficamos separados. E nós dois isolados parecia tão incoerente e errado quanto um paradoxo. Ele continuou a alisar a minha pele da região da barriga e aproveitou meus olhos fechados para desvirar a fotografia que, segundos antes, estivera em minhas mãos.

- É o seu pai. – Ele não perguntou, afirmou sem incertezas. Eu achei estranho o tom que ele usou. Não queria falar desse assunto com ele.

- É. – Respondi mesmo sabendo que não havia nada para ser respondido.
Virei-me para beijar seus lábios. Agora estávamos de frente um para o outro e eu estava tentando ocupar a boca dele para que aquele assunto se perdesse, que ficasse entre as milhares palavras não ditas que ficam vagando pela mente de cada um. Nem tudo deve ser discutido, nem tudo deve ser dito, aliás, há muito em que a vantagem é dada pelo silêncio.

Passei as minhas mãos pelo pescoço forte enquanto ainda fixava os meus lábios nos dele. Deslizei uma delas pelos seus ombros e braços rijos até alcançar a mão dele, que ainda segurava com firmeza o porta-retratos. Subi com a outra mão pelos seus cabelos e risquei sua pele levemente com as unhas, esperei um gemido tímido e quase inaudível da parte dele para tirar a fotografia de sua posse.

Ele não se importou muito. Usou a mão livre para agarrar a minha cintura e aprofundar os nossos beijos calorosos. O gosto dele era inexplicavelmente bom. Ele por inteiro era inexplicavelmente bom. Se dependesse de mim, usaríamos a noite inteira para nós dois, mas eu sabia que hoje não poderia ser assim. Com muita dificuldade, desgrudei nossos corpos quentes e mirei seus olhos cor de oliva.
- Precisamos ir.

Sam pareceu não gostar muito da interrupção. Seus lábios já estavam vermelhos de tanto eu apertá-los nos meus e seus cabelos estavam, definitivamente, mais bagunçados do que estavam quando ele chegou. Olhou-me chateado porque sabia que era verdade o que eu dissera.

- Vamos.

Quando entrei na sala, ela já estava ocupada por cerca de trinta pessoas, todas sorridentes e bem vestidas gritando “feliz aniversário” ou “parabéns”. Depois de algum tempo, eu percebi que eu não conhecia metade delas, mas tudo bem. Rebecca já havia ressaltado que a lista de pessoas que eu conhecia era pequena demais para uma festa que se preze. No mínimo, ela convidara até mesmo sobrinhos da madrinha da vizinha para “lotar” o apartamento, que nem era tão grande assim.

Lean também levara alguns amigos e eu sabia que esse era o motivo da expressão de desaprovação que Rebecca trazia no rosto enquanto conversava com outras garotas. Os amigos dele eram os mais “alternativos” possíveis. Usavam tênis maiores que a tigela de cerâmica indiana da Sarah e calças tão largas quanto as do palhaço que Sofia odiara quando era pequena. E eu tinha certeza que aquelas cuecas coloridas foram feitas para serem mostradas de propósito. Uma delas até mostrava o começo da estampa do Bob Esponja.

- Aê mina! Felicidades aê no seu aniversário! – O cara da cueca do Bob Esponja disse antes de levar uma das mãos ao ar e me cumprimentar batendo a palma da mão dele na minha. Logo em seguida levou um dos salgadinhos servidos na bancada inteiro na boca – O bagulho aqui tá muito doido! – Disse de boca cheia.

Eu fiquei sem entender se isso era um elogio. Resolvi admitir que sim. Imediatamente percebi um ruído diferente ao meu lado, Sam estava se contorcendo para não rir da minha cara. Dei-lhe um beliscão nas costas que o fez parar.

No fim das contas, acabei sentindo gratidão por a Rebecca ter pensado em tudo. Foi bom me distrair assim eu confesso que, mesmo com todos os problemas por quais Sam e eu estávamos passando, esse aniversário foi o melhor que eu já tive. Acredito que as outras pessoas também tinham se divertido. Lean e os amigos trocaram a música pop que Rebecca trouxera por hip hop e começaram a se mexer no centro da sala. Isso pareceu ter animado as outras pessoas a dançar também, com exceção da Becca, que ficou fazendo bico em um canto. Sofia foi outra que encarava os amigos do Lean dançando com um ar de reprovação total, mas isso era típico dela. Logo tivemos que desligar a música, já que o horário não permitia mais o som em tão alto volume.
As pessoas voltaram a dialogar alegremente, bebendo, rindo e contando histórias engraçadas. Percebi, em um momento, que Sofia estava tentando explicar pra uma desconhecida a sua teoria sobre os extraterrestres que, pelo jeito, não interessou nem um pouquinho a ouvinte. Conheci também várias outras amigas da Rebecca, uma bem baixinha com a voz fina que se chamava Bianca e outra alta e magra que me lembrava um graveto porque tinha a voz bem seca. Não lembro mais o nome dessa, sei que ela me entreteve por alguns minutos me contando sobre o projeto que ela tinha sobre reciclagem das embalagem de batons.

Logo os convidados começaram a ir embora e a festa ficou mais parada. A sujeira também só era visível depois que o lugar ficava mais vazio. Deixei para me preocupar com isso depois já que Rebecca me convenceu a abrir os presentes. Ela estava toda curiosa para saber o que eu havia ganhado.

Depois de várias embalagens e embrulhos espalhados pelo chão, constatei que Rebecca havia me dado uma blusa amarelinha cheia de desenhos bonitinhos contornados com pedrinhas; Sofia me dera um aparelho que, de acordo com ela, detectava a presença de extraterrestres invisíveis e ela garantiu que ele apitaria caso algum passasse pelo meu quarto; Lean me presenteara com uma caixinha de música que, ao ser aberta, ao invés de tocar a costumeira música clássica, tocava hip hop e a bailarina também fora trocada por um menininho de boné ao contrário dançando freneticamente; Sam me dera o cd de uma das minhas bandas preferidas e eu gostei muito porque estava esperando que Sarah me desse algum dinheiro para que eu pudesse comprá-lo. De resto, ganhei brincos, outras peças de roupas, um perfume e até uma corrente prateada e larga que eu suspeitei ter sido presente de um dos amigos do Lean.

Foi divertido abrir os presentes na companhia de Becca, Sofia e Sam. A gente achava motivo para rir de qualquer novo pacote. Sam, principalmente, tinha um humor negro fatal sobre a boa vontade de algumas pessoas de terem embrulhado o presente sem qualquer habilidade para tal, de forma que acabava saindo apenas um emaranhado de papel, fita adesiva e até cola.

- Vocês nos dão licença? – Ele perguntou seriamente para Sofia e Rebecca que, ainda rindo, recolhiam os papéis dispersos pelo chão. Eu o observei com curiosidade e surpresa, não entendi muito bem o motivo do pedido. Então ele me esclareceu: - Preciso dar a você o seu presente.

- Você já me deu o presente. – Afirmei confusa e tirei uma mecha de cabelo que estava sobre meu olho.

- Venha comigo.

Assim eu o fiz. Com as mãos dele firmes sobre as minhas, o segui pelo corredor até o meu quarto e fiquei imaginando o que poderia ser, já que eu não percebi nenhum outro embrulho com ele quando nos cumprimentamos mais cedo. Ele caminhava decididamente como se tivesse certeza do que estava fazendo e isso me deu maior segurança. Ele soltou uma das minhas mãos para abrir a porta do quarto.
Suas mãos se separaram das minhas assim que entramos. Ele me deu as costas e caminhou pelo quarto calmamente enquanto eu fechei a porta e me certifiquei que Rebecca e Sofia ainda continuavam na sala. Quando olhei novamente, Sam já estava próximo à sacada. Suas mãos deslizaram a porta de vidro que separava o quarto desta. Eu o segui.

Apoiei as minhas mãos sobre a grade da sacada e senti a brisa leve batendo na minha face e balançando meus cabelos. Sam estava próximo a mim, quase na mesma posição, observando o céu noturno. Por segundos, ficamos calados, apenas cobertos pela noite sem nuvens. Os carros já não faziam tanto barulho lá embaixo devido ao horário. Voltei a minha atenção ao meu namorado. Ele ainda estava calado, parecia nem mais notar que eu estava ali. Fiquei ainda mais confusa.

- Deve ser difícil para você... – Comecei a falar, depois de minutos intermináveis de espera.

- O quê? – Ele perguntou confuso. Parecia mesmo ter esquecido a minha presença.

- Quero dizer, nunca ver o dia.

- Ah. – Ele acenou com a cabeça e o vento remexeu seus cabelos mais escuros que a noite. – Eu já vi o dia... Poucas vezes.

- Ah. – Foi a minha vez de dizer. A tentativa de puxar assunto e evitar o silêncio foi completamente frustrada.

Voltei a encarar a paisagem lá embaixo. Alguns vizinhos passavam lentamente por debaixo das árvores, que tinham as folhas agitadas pelo ar em movimento. Notei que algumas corujas também passeavam pelo meu condomínio. Uma delas fez um vôo muito bonito e rasante em direção ao chão. Não consegui ver se ela havia encontrado alguma presa.

- Quando o outro... – Ele continuou e eu me senti aliviada. – Digo, quando meu outro lado fica um pouco – e eu sabia que ele estava usando de eufemismo – irritado, eu consigo ter flashes do dia. Também já consegui manter o controle sob a luz do sol, mas é bastante raro.

- Entendo. – Suspirei. Senti pesar por alguém ter que passar por essa situação nada estável psicologicamente. Por alguns momentos, eu só queria resolver todos os problemas dele, de forma que nada lhe causasse qualquer aborrecimento jamais.

- Eu gosto da noite. Acostumei-me bastante a ela. – Ele admitiu e também suspirou forte ao meu lado.

Encostou uma das mãos, acidentalmente, sobre a minha que repousava sobre o metal. Ele percebeu que a minha pele estava fria. Eu não estava vestindo nada além do vestido salmão que tinha um pano bem fininho, por isso ele segurou as minhas mãos e recobriu o meu corpo com o dele. Recebi o abraço quente com alívio, mais um pouco e meus dentes poderiam começar a bater. Sam me envolveu por completa e continuou a observar o céu.

- Também me interesso muito por astronomia. – Disse por fim.

Eu ainda estava confusa, mas admirei o fato de ele não se deter às limitações que tinha. Outra pessoa poderia reclamar e chorar eternamente por não ter a presença da luz do Sol em sua vida. O Sam não. Ele, simplesmente, aceitou a noite e ainda se interessa por ela.

- Quero lhe dar uma estrela.

Fiquei paralisada. Nem o meu peito se mexia mais com a minha respiração, eu parecia ter congelado por completo. Senti o suor brotando com intensidade em minhas mãos geladas. Eu estava em choque.

Não sei o que havia me causado isso. Acho que foi o impacto da frase “quero lhe dar uma estrela”, quero dizer, quando alguém havia ganhado uma estrela? Bom, eu iria ganhar uma. E isso era tão maravilhoso e surpreendente que as palavras eram ineficientes e travavam na minha garganta como se ela estivesse fechada.

Ainda envolvendo meu corpo com os braços, ele beijou os meus cabelos na altura da testa. Provavelmente, estava sentindo o meu nervosismo, mas resolveu fingir que não estava vendo. Acariciou um pouco mais os meus cabelos com a boca e desgrudou um dos braços de mim para poder apontar o dedo para o céu estrelado.

- Você deu sorte. As nuvens não estão ali hoje e a posição está perfeita. – Ele sorriu calmamente tentando um momento de descontração, porém eu ainda estava procurando palavras para me expressar. – Está vendo aquela estrela ali?

Seu dedo apontava firmemente uma estrela enorme e brilhante no intenso azul escuro do céu. O brilho vermelho e intenso dela era o que a fazia diferente de todos os outros pontos brilhantes, de todas as outras irmãs. Mesmo sem saber nada de astronomia, senti que ela era importante.

- É a Antares. É uma das maiores estrelas do céu. Centenas de vezes maior que o Sol. – Ele disse calmamente enquanto retornava o braço ao meu redor. Ele me abraçou apertado. – Ela me lembra você.

Eu fiquei lisonjeada. Ainda estava sem fala, mas se eu pudesse dizer algo, perguntaria o que tenho em comum com uma estrela tão linda, grande e imponente no céu. Encostei a cabeça, feliz, em seu peito robusto. Ele sabia que era um sinal de carinho.

- Os antigos Persas acreditavam que era uma das quatro guardiãs do céu. – Sam continuou sentindo que eu poderia interrompê-lo a qualquer instante e isso poderia desencorajá-lo a falar mais. Eu sabia que não era tão fácil que ele pudesse se expressar dessa maneira. - Antares fica na constelação de escorpião. Alguns dizem que é o coração do escorpião.

Uma onda de frio noturno nos atingiu na sacada. Eu dei uma leve tremida enquanto ainda observava a estrela brilhante. Senti que Sam me abraçou ainda mais forte ao perceber meu tremor. Acariciei seus braços fortes com as minhas mãos.

- O escorpião é um animal venenoso e, às vezes, letal. Frio demais para que tenha um coração. Até que ele descubra o dele. – Disse rapidamente e sussurrando. Se houvesse alguém perto, poderia até pensar que ele não dissera nada. Foi a vez de o meu coração palpitar rapidamente. Na verdade, ele estava quase pulando para fora. – A Antares é sua.

Eu não sabia o que dizer. Se as palavras já estavam travadas antes, agora é que resolveram ficar entaladas de vez no fundo da garganta. Milhares delas pipocavam na minha mente criando frases sem sentido que eu não conseguia mais controlar a proporção ou a intensidade. Tudo o que eu pensava não parecia ser claro ou coeso o bastante. Meus olhos começaram a arder já que eu nunca imaginara que alguém me dissesse algo que se assemelhasse a isso. Na verdade, eu sequer imaginara que teria alguém para amar tanto assim.

Deixei que o meu corpo falasse por mim. Já que não conseguia me expressar por meio de palavras, permiti que a minha boca tivesse outra função. Virei o corpo e beijei-lhe a linha que ia do pescoço à orelha com intensidade. Usei as mãos para trazer seu corpo para mais perto de mim, já que um centímetro parecia distância demais. Agarrei os seus cabelos negros puxando com força enquanto sugava seus lábios macios e quentes. Sam me beijava forte e decisivo. Eu gostava quando era assim, não tem nada pior que um beijo fraco e sem vontade. Não era o caso dele.

Ele passou os braços pelas minhas costas e me puxou para mais perto. Eu já estava apoiada nas pontas dos pés para poder alcançá-lo devido a sua altura, mas isso não me importava muito naquela hora. Mordi o pé do seu pescoço e ele deixou escapar uma respiração forte. Sem nem perceber, já estávamos dentro do quarto e eu já não estava mais com frio. E nem ele, pelo que pude perceber.

Sam tirou a jaqueta preta e a arremessou para perto da porta que dava para a sacada. Eu balancei os pés e consegui soltar meus sapatos de salto enquanto me sentava sobre a minha cama. Foi instintivo puxá-lo pela camiseta enquanto me deitava com as costas sobre o colchão macio. Logo ele já estava em cima de mim e continuava me beijando intensamente. Ele não parecia ter outra preocupação que não fosse meu corpo.

Não refleti muito sobre o que poderia acontecer em seguida, já que a minha cabeça virara uma maré de pensamentos confusos entrelaçados. Eu só sabia que o queria. O queria muito. O queria para sempre. Continuei e beijar-lhe a boca enquanto soltei uma das mãos para passear pelo seu tórax definido. Senti os sulcos na pele dele formando gominhos na barriga e aquilo me causou uma sensação de explosão interna enquanto ele me beijava forte e acariciava, também, o meu corpo.

Ficamos entre beijos incendiários por vários minutos até que eu pude sentir uma mão quente passando por debaixo do meu vestido e chegando à minha barriga, tocando, realmente, a minha pele nua. Isso me fez mordê-lo os lábios com força e ele pareceu gostar de me ter causado isso.

Um barulho alto interrompeu o silêncio. Eu parei o que estava fazendo na hora. Congelei. Sam, com custo, também parou. Ele levantou a cabeça em alerta e se desgrudou de mim, apoiando o corpo com os dois braços no colchão, de costas pro teto. Eu também queria levantar para ver o que era, mas eu estava entre seus dois braços e se eu levantasse a cabeça, iria colidir com a dele. Ele percebeu a minha intenção de me levantar e disse baixinho:

- Não se mexa.

Nenhum de nós dois estava mais respirando sequer. O medo percorreu meu corpo mais rapidamente que o desejo que eu sentira segundos atrás. Minhas mãos estavam ficando geladas de novo. Sam parecia um pedaço de pedra por cima de mim, eu só não sentia seu peso me atrapalhando porque ele fizera o favor de se apoiar com os braços no colchão, como se estivesse fazendo um exercício de flexão. Mesmo assim, estava imóvel, mas muito atento ao que estava acontecendo do lado de fora do quarto.

- SOFIA! – Ouvi Sarah esgoelar feito uma louca na sala. – MELLANIE!

Uma porta abriu-se próximo à minha. Passos finos percorreram o corredor e, ao longe, pararam.

- O que você pensa que está fazendo? – Sofia perguntou com o tom de voz baixo, mas muito autoritário. Sarah abaixou o volume da voz.

- Oi querida! Foi você que colocou o meu vaso de cerâmica indiana no lugar errado?

- Eu nem o estou vendo por aqui. – Sofia respondeu firmemente em tom de desaprovação.

- Acabei de chutar ele. – Ouvi a conversa tentando fazer o mínimo de barulho possível. Eu sabia que a próxima parada da Sarah era o meu quarto e ela não iria gostar nada nada de ver o vizinho em cima de mim. - A luz estava apagada e alguém o tirou do lugar de sempre.

- Provavelmente foi a Rebecca. Estávamos arrumando.

- Ah. Ela ainda está aí?

- Não. Já se foi. – Sofia respondeu prontamente e outra onda de medo espalhou-se por todas as células que eu tinha. É bem óbvio para mim que a Rebecca foi embora sem se despedir porque não queria atrapalhar o que quer que eu e o Sam estivéssemos fazendo dentro do quarto. E eu sabia que ela havia pensado na coisa que não estávamos fazendo, bom, pelo menos no início. Depois começamos a fazer exatamente o que ela estava pensando que estávamos fazendo. Que confusão. O fato é: eu precisava tirar o Sam dali AGORA. Tentei me mexer, mas ele não deixou. Continuava prestando atenção na conversa.

- Onde a Mel está?

- No quarto. – Sofia respondeu secamente e eu agradeci por ela não ter fornecido maiores informações. Ouvi passos mais fortes, dessa vez acompanhados com saltos finos, na entrada do corredor.

- Se esconde! – Eu disse baixinho, mas na maior velocidade que pude.

- Onde? – Sam perguntou como se fosse loucura, mas loucura, na minha concepção, era a minha mãe nos pegar no meu quarto naquela posição. Tudo bem que ainda estávamos vestidos, mas mesmo assim.

Eu não pensei duas vezes, levantei num pulo e Sam teve que retirar os braços que estavam me prendendo. Ele se sentou na cama por um segundo antes de eu começar a empurrá-lo pra fora.

- Debaixo da cama! Vai!

- Que? – Ele perguntou como se achasse a idéia ridícula, mas eu fingi que nem escutei. Continuei fazendo força para tirá-lo dali, até que ele resolveu me ajudar e fez um barulho grave quando bateu com o corpo no chão. Logo se arrastou para baixo e eu sabia que não era uma posição confortável, já que ele era grande e forte.
Ajeitei-me rapidamente sobre a cama, agarrei o primeiro livro que encontrei no criado-mudo e abri numa página qualquer. Isso foi tudo o que consegui fazer antes que uma mulher trajando roupas sociais do trabalho abrisse a minha porta subitamente.

- Olá querida! – Ela me cumprimentou parecendo mais tranqüila. Pelo menos não estava gritando pela casa. – Feliz aniversário. – Desvencilhou-se das tralhas jogadas pelo quarto, sentou-se na beirada da cama e me deu um abraço apertado. Logo notei que ela trazia consigo um pequeno embrulho. – Isso é para você. Desculpe não poder ter vindo mais cedo.

Abri o pacotinho com as mãos trêmulas, sabendo que Sam continuava sob a cama. Encontrei extrema dificuldade em desatar o nó do laço e percebi que ela estava me observando preocupada com o meu nervosismo. Isso me deixou ainda mais nervosa.

- Deixa que eu ajudo você. – Ela disse por fim e me livrou do sofrimento de abrir um embrulho com o namorado debaixo da cama em que sua mãe estava sentada. Ela logo revelou um par de brincos prateados e pequenos em cima de uma almofadinha preta e dentro de uma caixinha.

- Obrigada. – Eu disse algo pela primeira vez, tentando disfarçar a voz vacilante. Eu realmente gostara dos brincos, mas eu não estava conseguindo me concentrar neles agora. A minha fraca tentativa de concentração nos brincos esvaiu-se por completo quando eu desviei, por acidente, o olhar pro lado e percebi que a jaqueta masculina do Sam ainda estava jogada perto da sacada.

- Fico feliz que gostou. – Sarah respondeu um pouco desconfiada sobre o que pudesse estar acontecendo comigo. - Querida, seu livro... Estava ao contrário.

- Ah. – Respondi apenas, sabendo que qualquer coisa que eu tentasse dizer para explicar só pareceria mais suspeita. Ela deu de ombros.

- Bom... Nos falamos amanhã, né?

Soltei, sem querer, um suspiro aliviado quando ouvi a palavra “amanhã”, o que significava que ela já estava indo embora. Meu olhar ainda se movia rápido, da minha mãe para a jaqueta, da jaqueta para a minha mãe. Por sorte, havia tanta coisa jogada pelo quarto que a peça de roupa do Sam não chamava tanta atenção. Se ela viu, preferiu fingir que não viu, já que beijou a minha testa em seguida, saiu e fechou a porta em um estalo quase inaudível.

Uma massa começou a se movimentar debaixo da minha cama. Percebi uma respiração ofegante inundando meu quarto. Não era a minha, meu corpo gelado ainda estava em choque. Sam estava, de novo, se esforçando para não rir. Dei um tapa em sua cabeça assim que ela apareceu brotando do chão.

- Ai! – Ele resmungou ainda contendo a risada sarcástica.

- Pára de rir de mim! – Eu dei um chilique baixinho, ainda preocupada se a minha mãe poderia voltar.

Ele não conseguiu parar. Estava se esforçando para não rir em alto e bom som e parecia achar ainda mais graça quando eu fiz um bico de quem estava muito irritada.

- Não faz bico. – Disse com ternura, mas ainda contendo a risada, enquanto se sentava ao meu lado na cama e passava um braço ao meu redor e apertava meu ombro. – Fica fofa.

- Vai embora. – Eu resmunguei tentando não parecer rude, mas eu sabia que ele não me levaria à mal.

- Eu vou. – Respondeu, finalmente, parando de rir. – Por hoje chega. – Beijou-me a testa antes de se levantar.

- Eu te levo até a porta. – Ofereci enquanto ele recolhia a jaqueta do chão e eu me certificava de que Sarah já estava em seu quarto.

Nos despedimos com um breve beijo no corredor do edifício e o observei subir as escadas que o levava ao andar superior. Fechei a porta cuidadosamente, mesmo sabendo que Sarah tinha um sono pesado. Eu não iria arriscar mais nada por hoje. Respirei aliviada quando olhei para o apartamento vazio e vi que estava tudo bem. As meninas fizeram um ótimo trabalho na limpeza do lugar. Só faltava levar os grandes sacos de lixo para fora e recolher os caquinhos do vaso que a minha mãe quebrara.

Deitei-me na cama e apaguei a luz. Quando olhei para o teto, percebi que o Sam havia desenhado várias constelações com tinta fluorescente ao redor do “Seja minha”. Percebi que ele fizera questão de desenhar a constelação de escorpião com uma estrela enorme entre as outras. Antares. A minha estrela.




O dia estava calmo como qualquer outra manhã de sol. Alguns passarinhos cantavam sobre as árvores do prédio e o Sol já estava bem alto no céu. Agora eu entendia um pouco o porquê de o Sam não sentir tanta falta dele. Somente com a ausência dele eu poderia ver as constelações, inclusive a minha estrela preferida a partir de ontem.

Vesti-me depressa e encontrei uma figura de robe prateado comendo cereais à mesa de café da manhã. Ela me observou com olhar de reprovação e eu sabia do que se tratava. Sofia detestava o fato de que não poderia comentar com Sarah sobre o Sam, principalmente ontem à noite naquelas circunstâncias tão incomuns. Senti meu rosto corar.

- Que horas ele foi embora? – Ela perguntou como se fizesse parte da Inquisição enquanto lia a informação nutricional na caixa de cereais.

- Logo depois que a mamãe chegou.

- Hum. – Ela respondeu desconfiada. Não que ela tivesse ciência do que duas pessoas poderiam estar fazendo em um quarto fechado. Sim, ela tinha treze anos, mas não era normal. Ela só tinha a certeza absoluta de que, se fosse algo agradável, Rebecca não teria pedido segredo, como eu tenho certeza que fez. Se estivéssemos na faculdade, Rebecca seria uma daquelas amigas que coloca a plaquinha na porta do quarto da amiga escrito “NÃO PERTURBE” nessa situação. Acho que eu não conhecia alguém mais favorável ao contato humano que ela. Em todos os sentidos.

- Cadê a mamãe? – Eu ainda insistia na história do “mamãe” para ver se Sofia conseguia se acostumar, mas toda e qualquer tentativa minha e da minha mãe pareciam ser inúteis nesse sentido.

- Sarah saiu.

Eu disse que era inútil.

- Ah. – Ela falou ao parecer se lembrar subitamente de algo. – Ontem, fazendo a limpeza, achamos uma caixa de presentes que você não abriu.

Sofia reforçou o laço do seu robe e levantou-se. Caminhou até a estante da sala e segurou um pequeno embrulho. Meus olhos se encheram de animação quando eu percebi o que se tratava. Na noite anterior, com todos aqueles contratempos eu acabei me esquecendo da caixa. Eu deveria tê-la soltado por aí e, por sorte, ninguém que esteve aqui ontem mexeu nela. Estava exatamente do mesmo jeito que eu a recebi.

Peguei a caixinha pequena, do tamanho aproximado de metade de uma caixa de sapato, com cuidado. Ainda estava com o embrulho camurça do estabelecimento em que estivera guardada. Usei uma tesoura para romper, com cuidado, essa embalagem extra de segurança e me deparei com outra caixa, ainda menor, mas revestida com veludo preto e continha dobradiças douradas prendendo a tampa.

Sorri contente. Essa caixa tinha uma aparência muito mais agradável que a anterior, mas é claro que qualquer coisa seria menos feia que papelão. A excitação, novamente, inundou meu corpo. Eu esqueci por tanto tempo aquela curiosidade de ontem que, agora, parecia ter voltado em dobro.

Forcei os dedos na tampa da caixa. Não consegui abrir. Fiz ainda mais força. Ela não abriu. Me senti confusa. Como alguém poderia me dar uma caixa que não abre? Era frustrante! Sofia me observava como se eu fosse um chimpanzé tentando brincar com um quebra-cabeça.

- O que foi? – Perguntei irritada com o mundo.

- Ela não vai abrir. – Respondeu naquele tom como se isso fosse óbvio. Aquele tom que eu odiava.

- Como você pode saber? – Eu gritei nervosa. Como a minha irmã poderia decidir se ela abriria ou não? Desde quando ela era a dona do mundo?!

- Você não enfiou a chave. – Ela deu de ombros respondendo, realmente, com o óbvio. Pela primeira vez, percebi um buraquinho tímido na parte frontal da caixinha. É claro que ela não abriria sem a chave. Como eu sou boba.

Suspirei aliviada de novo. Não é que a caixa não abria, eu só precisava da chave. Sorri. Olhei ao redor como se fosse a coruja de ontem procurando uma presa. Espere um minuto, mas cadê a chave?

Agarrei com rapidez o embrulho em que o homem colocou a caixa para que eu pudesse trazê-la para casa. Era um saquinho de papel camurça outrora fechado com um lacre. Abri a boca do saco e o suspendi, de cabeça para baixo, no ar. Nada caiu. Parece que eu tinha um grave problema.


Fim do capítulo 12.

43 comentários:

Unknown disse...

Que Saudades!!!
Ontem a noite, entrei para saber novidades. Hoje abro e vejo.*felizsorrindo* :)
Adorei o post. Fico na esperança de mais e que não demore.

bjokas

Aninha disse...

Foi PERFEITOOOO *-* Como eu gosto dos dois juntos, eles têm uma química tão forte, é muito demaaais! Espero por mais, bjos

Thalitaaah disse...

Eu já estava morrendo de saudades, adorei o capítulo, como sempre achei perfeito e digo que vc tem o dom da escrita, menina, é tão boa quanto qualquer outra escritora desses best sellers por aí, desejo sucesso pra vc e muito mel e sam pra nós hehe

Lia disse...

Ai achei tão lindo esse capítulo, foi maravilhoso e quente (6) pokpoakapoksapoksa o amasso dos dois, eles combinam mesmo, adoro muito o que você escreve, sempre querendo mais,

Lia

Mandinha disse...

Ameeeeeei (LLL'' Eles são tão lindos, e nossa, achei tão romântica a parte do "quero te dar uma estrela", agora eu também quero uma estrelaaaaa D:

Anônimo disse...

Foi ótimo, estava com saudades desse queridos personagens
to com dó da Rebecca, tem q se arrumar com o Lean

esperando por mais, ainda quero mto saber oq tem na caixa

Vania disse...

Que capítulo quenteeeeeee rsrsrs Esse sam me deixa louca rsrsrs Achei tão lindo ela ganhar uma estrela. Espero por mais s2

Lidia disse...

Adoro demais essa história, esse capítulo, principalmente, foi show, mal posso esperar pelo final *-* ainda quero saber o q tem dentro da caixa e quero uma estrela pra mim também

Lidia disse...

Adoreeeeei esse livro, principalmente, esse capítulo, foi show!! quero muito saber o final e quero saber o que tem dentro da caixa, quero uma estrela pra mim também rsrsrs

Lorena disse...

Como vc consegue escrever tão bem? cada capítulo é mais intrigante e apaixonante que o próx

Lorena disse...

Aliás, que o anterior hpokspokas

Cy disse...

Amo muuuuuuuuuuuuuuuuuitoooo (LLLLL Preciso JÁ desse final!!

Tathyy disse...

lihn promete que não vai enrolar por favor!!! voce me deixa roendo as unhas quando os posts não saem e eu preciso muito saber se o sam vai ficar com a mel e o que houve com o noah? eles nao vão ficar juntos né? ele vai morrer, o que tem na caixa? o sam vai voltar a ser um só??? MEU DEUS VOU FICAR LOUCA!! ps: lindo demais esse capítulo como sempre

Mandinha disse...

Passei pra ler de novo, muito bom, bjs

Ana Julia disse...

HAHA esse cap foi o MÁXIMO, e eu adoro a rebecca ela me faz rir sempre e eu me ligo muito a ela, não sei se tem algo a ver comigo, mas então, muito muito muito bom, espero que seja publicado logo pra eu ter em minha estante o mais cedo possível *-*

Mylena Furtado disse...

HOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOT !
SKPOKSAKS ; uma delicia , estava com saudades :D
mais, mais, mais .
mas, por causa desse capitulo maravilhoso e pelo dom que voce realmente tem pra escrita, da pra esperar um pouquinho.
Triste é saber que Inverso tá acabando!
Bgss

anne disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH NÃO PODE TERMINAR ASSIM!
Caramba!

Luh disse...

UI que caliente!! hehe
Ei Lihn, pare de nos enrolar e fale logo o que tem na caixa, poxa! huahue
Adorei! Abraços!

Julia disse...

cara, como vc consegue escrever tão bem?? amei. quero maaaais

Anônimo disse...

adoooooooooroooooooooooooooooooo!!! posta maisss Lihn!

Mandy disse...

Comecei a ler sua história a há uns três dias e me viciei.
Vc escreve muito bem, adooro essa história.
e...o q será q tem na caixa?

Anônimo disse...

Amei a parte que fala sobre as planárias. Como te disse, ninguém pode reclamar q o seu livro não passa nenhum conhecimento! srsr..
Bem, na verdade, eu sou meio suspeita pra falar alguma coisa.. porque amo Inverso demais.
Ahh e q tortura hein.. Sempre tem alguém pra interromper na hora dos amassos!!!
Não vejo a hora desse livro ser publicado, pois vou guardá-lo com muito carinho e ler sempre q sentir saudade!
Beijão e continue assim.. Vc ainda vai brilhar muito com outros livros e outras histórias..
Vou aguardar, torcendo muito aki!

Aninha Costa disse...

ahhhh q saudadeeeeeee
adoreiii o post
mas cade a chave???
num demoore mto pra postar novamente...
naum me maaate d curiosidade...
to loka pra saber o q tem nessa caixinha
e o sam e a mel juntos?
casal perfeito

bjx

nanda disse...

Parabéns!!!na expectativa do proximo capitulo...
Sucesso para vc!!!

Oh Carol disse...

aaaaaaaaaah preciso de maaaais! terminou numa parte muito boa *-* hot hot hot essa parte, beijooos e amo inverso muito

Unknown disse...

Adorei.
O capitulo estava perfeito como todos os outros, estou lkendo a uma semana e simplismente adorando a historia.
Tenho certesa de que será publicada e que vai virar Bestseller*-*

Lil disse...

Amei, tô louca pra saber como continua...

Dana disse...

quero maaaaaaaaaaaaaaaais :(

Monique Portugal disse...

Oie!
Comentei sobre seu livro lá no meu blog! Parabéns pelo trabalho, adoro!
Bjinhos

http://poderdesis.blogspot.com/2010/08/dica-inverso.html

Vanessa disse...

Ola!!

Comecei a ler o livro essa semana, já estou muito curiosa para saber o que vai acontecer no próximo capitulo.
Já divulguei o seu livro para algumas amigas da faculdade e do serviço.
Eu tenho um colega que tem um livro que foi publicado, eu mostrei para ele o seu blog, ele ficou de ler, eu falei para ele que é muito bom, ele disse que vai mostrar o blog para a editora do livro dele, para ver se eles gostam.. espero que te ajude.

to amando o livro, quando você vai postar mais?

bjinhus

Diana disse...

como sempre eu sou muito muito viciada no que você escreve e eu acho que vc tem muito muito talento, continue assim!!! amo sua história!!! ansiosa pelo fim!!

Márcia disse...

Se alguma editora publicar esse livro vai estar achando um pote de ouro...

Carla Leles disse...

Adorooooo muito o seu trabalho, muito estranho você fazer faculdade de medicina vendo que vc tem tanto talento pra escrever... Sei lá espero que você escreva mais obras e que essa não fique só no blog!! Quero muito que inverso seja publicado, eu gostei tanto que já repassei pra todas as minhas amigas, depois me fala o que posso fazer pra te ajudar a publicar que a gente faz!! beijos

Vanessa disse...

cade o resto quero mais!!!

Thais disse...

Você tem uma boa historia, mas acho que ainda precisaria mudar algumas coisas para lançar como um livro, como a historia do pai da mel e outras coisas pequenas, pois ficou um pouco confuso esta parte da historia e também quando a mel convida a outra personalidade (a diurna) para o aniversario dela, mas quem comparece na festa é o namorado dela. Mas em hipotese alguma mude os personagens!!!!!!! Você tem grande potencial!!! Parabens!!!!

Enny disse...

ain, eu vou morrer de curiosidade! D:
quando irá posta o proximo ?
Comecei a ler, e simplismente amei. É perfeita!
Por favor! Poste mais *-*

Vanessa disse...

eu não achei confuso, pois a personalidade "namorado" também sabia da festa, e a Historia do pai eu creio que ela vai explicar mais sobre o assunto no decorrer do livro.

estou aqui esperando desesperado o restante.

beijoss

Anamara disse...

Demorei para ler esse capítulo para ver se já saía o outro, mas não adiantou... kkkk... adorei... anem, o Sam é tudo de bom ahuiuhai... Aiai, babei...

Carol Winchester disse...

So vou voltar a entra no blog em dezembro perto do fim do ano, pra ver qm sabe se tem um cap. por que faz dois meses que esta nesse semana que vem, Tudo bem que escrever é muito dificil mais pelo menos vim aqui da uma satisfação. O blog fica largado nem parece que você se importa com as leitoras.

Kelly C. disse...

MORRI x_______________x


(LLLLL

Anita disse...

Eu já estava morrendo de saudades, adorei o capítulo, como sempre achei perfeito e digo que vc tem o dom da escrita, menina, é tão boa quanto qualquer outra escritora desses best sellers por aí, desejo sucesso pra vc e muito mel e sam pra nós hehe

[2]

Anônimo disse...

n sei pq eu ainda passo aqui, isso aqui tá as moscas! :~~

Lorena Staneck disse...

que merda em, parar de escrever logo quando iriamos saber oq tinha na caixa ¬¬

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