domingo, 26 de setembro de 2010

Capítulo 13 - Fim (Parte 1)

- Você fez o quê? – Sam esbravejou enquanto remexeu-se na poltrona de estofado vermelho que estava na sala de estar do apartamento. Eu tinha pedido para ele se sentar.

Já fazia quase dez minutos que ele estava ali gritando e berrando e gritando de novo. Eu não me importei muito, ele era um pouco exagerado, por isso Sofia gostava tanto dele. E, por falar nela, ela era a figura que estava com os olhos quase lacrimejando pelo deleite de me ver levar uma bronca. Fechei os olhos com vontade, eu era teimosa demais para me abalar com essas reclamações.

- Eu quis fazer isso.

- Você está tentando se matar? – Ele perguntou preocupado. Nossa, que exagero.

- Provavelmente. – Sofia concordou e logo recebeu em resposta meu olhar irritado de “não se intrometa”. Não sei por que diabos ela estava lá, será que não tem o bom senso de saber que, quando um casal briga, terceiros deveriam se retirar do aposento? Ora, que absurdo.

- Pare de gritar comigo. – Eu pedi com a voz calma, mas firme. Ele abaixou os ombros e suspirou cansado, mas, quando retornou à palavra, o tom alto havia desaparecido.

- Mel... – Ele disse com aquela voz de quem está tentando reparar o erro de gritar com a namorada feito um maníaco do parque. – Seja racional, por favor.

- Agora eu já fiz. Não adianta gritar comigo. – Apoiei o meu prendedor de cabelo entre os lábios e comecei a mexer nos fios. Eu queria prendê-los logo de uma vez, estavam me incomodando sobre os olhos naquele momento de tensão.

- Por que não me esperou?

- Porque à noite teríamos a festinha que a Rebecca organizou, ué. – À mim parecia óbvio. E, no fundo, a verdade é que eu não queria esperar mais um minuto para ter a encomenda em minhas mãos. A falta da bendita chave da caixa me fazia querer chorar feito uma recém-nascida por dez dias.

Sam suspirou tentando arrumar o pouco da paciência que tinha. As mãos grandes juntaram-se à sua face e ele ficou em silêncio. Parecia que eu o tinha aborrecido. Sofia pigarreou alto. Não entendi porque ela queria chamar a atenção agora, mas, pelo jeito, ela só queria quebrar o silêncio constrangedor.

- Você significa muito para mim e você sabe disso.

- Eu sei. – Respondi me sentindo um pouco culpada. E eu sabia que tinha me arriscado indo lá sozinha, mas eu não consegui me conter. Além do mais, não havia acontecido nada.

- Então por que se expôs assim?

- Dá pra você parar de agir desse jeito?

- Como? – Ele perguntou ficando irritado de novo e aumentando levemente o tom de voz.

- Como se fosse o meu pai.

Ele ficou em silêncio novamente. Olhou para cima como se estivesse tentando se concentrar o bastante para não fazer algo idiota. Como se eu também não estivesse exasperada com toda essa discussão que já levava minutos demais e ninguém mais tinha palavras produtivas a dizer.

Eu não era mais uma criança. Talvez esse seja o grande problema de se fazer 18 anos hoje em dia. Por mais que você pense que já tem idade o suficiente para tomar as próprias decisões, as pessoas que estão ao seu redor sempre te verão como se ainda fosse um bebê. Alguns dizem que, quanto mais os séculos passam, mais as gerações levam tempo para amadurecer.

Não tenho certeza se é verdade. Uma coisa era certa, a minha avó Melinda, descendente de italianos, tinha se casado aos 16 anos de idade e logo já tinha um filho nos braços, o irmão mais velho de mamãe. Logo veio Sarah e os dois outros irmãos mais novos, meus tios. Imaginei-me com 18 anos e já casada, tendo a responsabilidade de cuidar do marido e de dois filhos. Definitivamente, eu não saberia dizer se teria maturidade o suficiente para isso.

Mas espere um pouco, talvez eu tivesse maturidade o suficiente para decidir aonde e quando eu deveria ir a qualquer lugar. Ou o “direito de ir e vir” não era mais válido? Aliás, o que significava exatamente “ir e vir”? Eu poderia ir aonde? E se eu não quisesse voltar? Eu poderia freqüentar o local que quisesse? Talvez as coisas fossem um pouco mais complicadas do que isso.

O nosso direito de optar é muito mais complexo do que imaginamos. Os limites não são muito bem traçados se todas as variáveis forem consideradas. São infinitas as decisões que a mente humana pode fazer e, praticamente, todas elas envolvem bastante a vida de terceiros. Então será que a escolha é somente minha? Quero dizer, será mesmo que ir ou não pegar aquela caixa sozinha era algo que cabia somente a mim? E se algo acontecesse? As conseqüências atingiriam a mim exclusivamente?

Claro que não. Sam ficaria arrasado se algo desse errado no meu planinho egoísta e sem qualquer linha racional. Eu não pensei nele quando me arrisquei, não pensei em minha mãe, ou em Rebecca, Sofia, Lean... Mas também não posso ser tão dura comigo mesma. A possibilidade de receber qualquer coisa que seja do meu pai me encheu de um sentimento estranho, o qual não passava pelo meu corpo há anos. Não sei se existe um nome para isso. Talvez eu o chamasse de “lar”, a sensação de pertencer a um lugar, a um alguém, a uma família. Acolher algo que fora guardado especialmente para mim, vindo de uma pessoa muito especial mexeu com a minha cabeça.

- Desculpa. – Eu disse baixinho.

- É isso o que você acha? – Ele perguntou ainda bastante aborrecido. – Você acha que eu ajo como se fosse o seu pai? – Eu tentei me aproximar e segurar as mãos trêmulas que ele repousava sobre os joelhos, mas ele desvencilhou-se de mim e pôs se de pé.

- Não foi o que eu quis dizer... – Suspirei baixinho.

Não era possível que ele fosse também tão rígido comigo. Quero dizer, para uma pessoa que já disse que se importa tanto comigo, era também alguém que se esquentava com qualquer coisinha.

- Você sempre faz isso.

- O quê? – Eu perguntei com a voz esganiçada. Como assim eu “sempre” fazia isso? Isso o quê? Quero dizer, por que a culpa de tudo é sempre minha?

- Sempre se coloca em situações inseguras por puro capricho.

- Capricho? Quer dizer que você acha mesmo que eu gosto de estar sendo ameaçada de morte?

- Ah claro. – Ele completou com ironia. – Porque você nunca esteve sozinha, à noite, em uma rua longe do mundo e quase foi seqüestrada por sabe-se-lá-quem. Também nunca foi na direção de alguém armado quando eu te pedi pra ficar em casa.

- Isso foi um deslize! – Eu gritei quando a minha vontade era de sufocá-lo com uma almofada cheia de missangas coloridas que estava em cima do sofá. Era incrível que ele estava jogando na minha cara que eu sempre me metia em confusões e que precisava da ajuda dele para não acabar morta em algum canto por aí. – Você é inacreditável.

- Eu? – Ele deu uma gargalhada seca e começou a andar para lá e para cá pela sala. Sofia ainda estava sentada na poltrona, mas agora levantava as sobrancelhas o máximo que podia e tinha, em mãos, uma caderneta e um lápis comum. Estava nos observando e fazendo anotações rápidas no papel. Por que não existia o direito de ter uma irmã normal? Àquela altura, eu trocaria fácil pelo “ir e vir”.

- Sim. Você é que fica exagerando cada coisinha para virar motivo de discussão. Eu já pedi desculpa pela minha má colocação, não tem motivo pra essa sua irritação. – Falei tentando acalmar as coisas.

- Rimas. – Sofia murmurou e continuou a escrever.

Senti vontade de sufocar com a almofada uma segunda pessoa naquela sala.

- Você também estaria irritada se a sua namorada tentasse se matar a cada brecha que ela encontra.

- Caramba, você é surdo? - Eu comecei a gritar de novo. Quantas vezes eu tinha que repetir que eu não estava na trilha secreta para o suicídio?

Uma música nada sonolenta encheu a sala de melodia e cortou o que o Sam iria falar no momento. Todos ficamos surpresos com este fato, já eu que percebi que, até mesmo Sofia, parara de fazer anotações e procurava a fonte do som. Levei alguns segundos para perceber que o bolso do Sam estava vibrando e não tinha nada a ver com o que Rebecca desejaria que fosse.

- Droga. – Ele resmungou e segurou o celular com as mãos. Apertou um botão que o fizera parar de tocar e colocou-o de volta no bolso.

- Você não vai atender? – Perguntei tranqüila quase esquecendo a briga.

- É a Júlia.

Isso respondeu a minha pergunta.

- Olha, eu acho que a nossa discussão não vai levar a nada... – Falei tentando acalmar os ânimos de novo. Eu não queria brigar com ele por motivos bobos. – A gente podia esquecer tudo isso e... – Tentei me aproximar de novo, mas ele segurou uma das minhas mãos.

- Eu estou com a cabeça quente. – Respondeu secamente e afastou a minha mão de si. – Não quero brigar com você. Volto outra hora.

- Sam... – Eu resmunguei descontente, mas ele já estava pegando a jaqueta que deixara em cima do sofá. Então beijou a minha testa e saiu do apartamento, sem olhar para trás.




- Por que a gente tem que brigar tanto se a gente se ama? – Perguntei cansada e sem mais esperanças para uma Rebecca do outro lado da linha.

- Porque o amor é uma droga. – Ela suspirou descontente.

- O coração é uma planária, lembra disso...

- O meu é uma lombriga, sei lá.

- Não falou com o Lean ontem? – Aproveitei a brecha na conversa para deitar-me de bruços na cama.

- Não sei se ele está falando comigo... – Ela respondeu indecisa.

A noite estava calma por trás dos vidros da janela. Horas já tinham se passado desde que o Sam saíra feito um furacão do meu apartamento, mas nem por isso as coisas estavam tão tranqüilas ali dentro quanto do lado de fora. O céu estrelado estava pouco mais encoberto por nuvens do que na noite anterior, quando pudemos ver, claramente, várias das constelações existentes. Meu estômago sentiu um arrepio gelado ao pensar no quanto tudo estava diferente em um período de apenas um dia.

Não é que a briga com o Sam demarcaria o fim do nosso relacionamento. Sei lá, acho que o nosso namoro já sobreviveu a muitos outros contras para terminar por uma coisinha boba como o motivo pelo qual brigamos. Se duplas personalidades, infinitas mentiras, às vezes, até mortais e um monte de gente querendo nos matar não conseguiram desatar o nó de afeto que tínhamos um com o outro, eu duvidava que um pequeno impulso de minha parte fizesse isso. Suspirei alto e olhei para o teto cheio de pequenas estrelas desenhadas com neon. Esperava que eu estivesse certa.

- Eu o vi falando com você ontem. – Confessei sem rodeios. Resolvi esquecer um pouquinho dos meus problemas que pareciam andar em círculo e me ater na vida sentimental de outra pessoa que não fosse eu mesma. Sem contar que eu estava, é claro, com um pouquinho de curiosidade.

Ela suspirou também. Parecia estar completamente desiludida com a situação. Eu não a culparia por isso. Para mim, ser iludida com qualquer coisa é um dos piores castigos que existe. É como sentir o seu chão desabar de uma vez, sem qualquer compaixão alheia.

- É, ele falou comigo. – Respondeu desanimada. – Mas ele está naquela pequena fase irritante de fingir que nada aconteceu, entende?

- Sei. Odeio isso. – Falei com sinceridade enquanto balançava as minhas pernas no ar.

- Eu também. – Ela refletiu e parou subitamente, como se fosse dizer algo, mas tivesse mudado de idéia. Suspirou mais uma vez e resolveu se abrir: - Sabe, não é como se ele se importasse com alguma coisa, não é? Quero dizer, ele ficou sem falar comigo naquela situação estranha por semanas e, de repente, acha que é só chegar e sorrir e dizer “oi Becca, tudo bem?”, digo, ele não está nem aí se eu estou bem. – Respirou fundo e pareceu ter tirado algo muito pesado de dentro do peito, mas logo ficou indecisa. – Você acha que ele se importa?

- Não. – Eu não tive medo de parecer muito rude. Eu não gostaria que me iludissem e não poderia fazer o mesmo com a minha melhor amiga. E, além do mais, eu sabia que ela me entenderia.

- Tem razão. Ele não está nem aí. – Disse ao telefone, parecendo mais irritada que infeliz. – Onde estava ele quando eu estava, realmente, mal? Ele estava preocupado se eu estava bem? Porque ele não veio me dizer “oi Becca, tudo bem?”, com certeza não.

Não era bem assim também. Eu tinha certeza que, apesar das aparências, Lean também não era o cara mais frio do universo. É claro que ele deveria ter se preocupado um pouquinho com ela, mas não pôde demonstrar para não piorar as coisas. Mas é claro que eu também mantive a minha boca calada. Ela estava confusa e, talvez, estivesse buscando no ódio uma maneira de se proteger.

- Hum... Você tem comida aí? – Perguntei quando percebi que meu estômago deu reviravoltas de fome. Eu não havia comido nada ainda naquela noite. Lembro que decidi esperar pelo Sam e talvez pudéssemos sair para comer e comemorar meu aniversário a dois, mas parece que os meus planos não foram muito bem sucedidos. Desde então, eu não tinha apetite para mais nada, mas agora o meu fisiológico estava começando a protestar.

- Deve ter um monte de porcaria light. – Rebecca respondeu parecendo nada satisfeita. Suspirou brevemente. – Por que a gente sofre tanto pra ficar com um corpo legal pra ser rejeitada por pessoas que acham que cuecas foram feitas pra ficarem de fora da calça?

Foi a minha vez de suspirar. Eu percebi que não adiantaria tentar mudar o assunto que tudo cairia sobre a mesma questão. Ela estava profundamente machucada com isso e era incapaz de esquecer.

- Você não é gorda. – E mesmo se fosse, isso mudaria qualquer sentimento nas pessoas que realmente se importavam com ela? Com certeza, não.

- Então por quê?

- Becca... – Eu respirei fundo. Eu não sabia mais o que dizer a ela.

- Ahhh! – Desesperou-se momentaneamente. – Desculpa. Tenho que parar de pensar nisso, de falar nisso, que saco.

- Relaxa. Eu já te disse que você vai encontrar alguém legal. Talvez você só não esteja procurando no lugar certo.

- Hum. – Respondeu pensativa e calou-se por muito tempo.




A manhã não estava mais tranqüila que a noite anterior. Os pássaros não mais cantavam em grupos quase colados à janela do meu quarto de apartamento no quinto andar. O vento fazia um ruído inconstante casado com os galhos das árvores próximas e com as folhas secas espalhadas pelo chão do pátio lá no térreo. Meus olhos repousaram sobre o horizonte coberto por prédios e tiveram a pequena impressão de que, talvez, a chuva estivesse próxima, embora eu nunca tenha sido boa para previsões meteorológicas.

Minhas roupas de dormir estavam, estranhamente, incômodas. O meu quarto parecia menor que o habitual e o ar entrava pelos pulmões com uma sensação pesada. Somente Sofia parecia tão doida como sempre enquanto completava uma tigela de leite com o cereal “Cérebro Radical” que comprara mês passado.

- Qual o problema? – Ela perguntou quando eu me aproximei arrastando meus pés pelo chão. O esforço de levantá-los para ser capaz de dar um passo corretamente parecia grande demais.

- Estou com uma sensação estranha. – Respondi em meio a um bocejo e sentei-me à mesa. Aquela cena era triste. Sobre a toalha branca e rendada, só havia o cereal com todas as vitaminas B possíveis e uma jarra de leite desnatado. Eu, definitivamente, iria fazer as compras no próximo mês.

- Você está grávida?

- Por que você sempre pergunta isso? – Senti-me ofendida. Tudo bem que, da última vez que eu recebi essa pergunta, eu não tinha um namorado. Mas, para falar a verdade, as coisas não tinham avançado tanto assim. Não que eu não tivesse vontade, às vezes.

- Então o que você quer dizer?

- Esquece. – Respondi me contentando em encher uma caneca de leite e colocá-la para aquecer no microondas.

A verdade é que tudo parecia esquisito porque o Sam sumira. Ele não havia ligado desde que saíra batendo a porta na noite anterior. Eu pensei que ele daria as caras depois de esfriar a cabeça, mas não, desaparecera pelo resto da noite e nem se dera ao trabalho de mandar qualquer mensagem de celular, ligação, ou sinal de fumaça, sei lá.

Eu não sabia ao certo se esse era o real motivo pra sensação de um buraco negro me consumindo por dentro. Talvez os arrepios fossem um mal pressentimento com relação ao futuro, mas eu não sou tão supersticiosa como a Becca. Ou ao menos não era.

- Vocês terminaram? – Sofia perguntou tentando manter o tom de uma pergunta retórica, mas com uma pitada de preocupação na voz. Eu me senti um pouco emocionada. Às vezes, é fácil pensar que ela é um pequeno robozinho sem sentimentos que só se importa com “outros filhos do universo”, como ela mesmo chamava.

- Não! – Esganicei com um pouco de certeza que logo foi se esvaindo. – Acho que não...

Ela aproveitou a minha distração com o apito do microondas avisando que o leite estava pronto para retirar a caderneta do bolso do robe. Começou a fazer novas anotações usando um lápis azul escuro todo desenhado com carinhas verdes cheios de antenas. O pouco de felicidade que eu senti achando que ela estava preocupada com os meus problemas se transformou na pequena vontade do uso da “murroterapia”.

Não havia muita certeza acerca do que ela pretendia fazendo esse tipo de coisa. Será que estaria montando uma “peça de teatro da vida real”, servindo-se dos meus conflitos com o meu namorado para criar um enredo? Ora, se isso fosse verdade, alguém provavelmente teria que freqüentar um pronto-socorro. Mas claro que eu não faria isso, quer dizer, aquele ser completamente do avesso ainda era a minha irmã mais nova.

- O que você está fazendo? – Disse como quem não quer nada enquanto abria os armários e procurava chocolate em pó para acrescentar ao leite. As prateleiras estavam cheias de produtos light e com fibras. Pensei na casa da Becca. Isso deveria ser uma nova tendência ou, então, uma liquidação muito boa nos supermercados.

- Não é da sua conta. – Ela respondeu fazendo mais anotações no bloquinho de papel.

- Mal criada. – Resmunguei encontrando um saco de granola. Eu teria que me contentar com isso.

Ela respirou fundo. Talvez estivesse cansada de me tratar como se fosse um ser inferior somente porque eu não sei desenvolver fórmulas aplicadas de física nuclear. Quero dizer, eu ainda sou uma pessoa, não sou?

- Estou encontrando os pontos de repetição e freqüência de ocasiões singulares para fazer análise do comportamento humano referindo-se a relacionamentos. Vocês humanóides são muito interessantes.

Eu parei na metade do movimento de levar a caneca de leite à boca. A seguinte pergunta estava passando pela minha mente: quando eu iria me acostumar com a conduta esquisita da minha irmã? Eu, profundamente, esperava que isso acontecesse em tempo próximo.

- Você precisa ver mais desenho animado. – Suspirei pensativa. Pelo menos eu não iria mais me importar com as tais anotações. Algumas crianças brincam de bonecas, outras brincam de carrinho, Sofie brinca de analista comportamental vinda de outro mundo. Normal.

Observei-a levantar-se elegantemente trajando o costumeiro robe prateado e colocando a tigela, já vazia, dentro da pia cheia de louças sujas. A situação estava deplorável. Sarah não ficava em casa nem o tempo mínimo para perceber que as vasilhas estavam se acumulando e formando uma aglomeração que logo pareceria o Pico da Neblina. Sofia era outra que se desfazia totalmente da tarefa da limpeza alegando que ainda tinha 13 anos e podia nos denunciar por trabalho escravo infantil. Era incrível como ela só se considerava criança quando lhe era conveniente. E eu... Bem, meu jantar é uma lasanha de microondas, isso deve ser algum sinal sobre a minha completa preguiça para mexer em qualquer coisa na cozinha.

Ela retirou alguns talheres e um martelo de bater bife que fora usado na noite anterior como quebra-nozes e colocou a tigela por debaixo deles para que a montanha não ficasse desequilibrada e caísse a qualquer hora. De repente, me veio uma idéia à cabeça.

Levantei-me em um salto, o que fez a minha irmã ficar me observando atentamente com os olhos meio cerrados, desconfiada. Por que eu não havia pensado nisso antes? Talvez a chegada da festa tenha desestabilizado as minhas idéias. Sentei-me no chão em frente à prateleira da sala e retirei, em um rápido movimento, todos os livros pesados que estavam sobre uma caixa grande de madeira toda enfeitada com pedrinhas coloridas que formavam o desenho de uma borboleta. Abri a caixa com cuidado e retirei, dela, uma segunda caixa, relativamente menor. Ergui-me novamente e corri para repousar a encomenda em cima da mesa da cozinha.

- O que você está fazendo? – Sofia perguntou como se eu estivesse prestes a acender uma dinamite que explodiria toda a cozinha planejada em pedras de granito.
Eu não perdi tempo em responder. Meu coração havia se acelerado novamente e eu conseguia sentir a adrenalina pulsando no meu sangue. Eu finalmente descobriria o que tinha lá dentro daquela maldita caixa que quase me tirara o sono. E logo tudo estaria esclarecido e tudo ficaria bem.

Peguei o martelo de bater bife que estava no topo do morro de louças sujas e enfiei-o debaixo de um jato de água. Quando já estava limpo e reluzente, sequei-o com um pano de prato. Sofia, mais rápida que um disparo de espingarda, entendeu a idéia que eu tive e correu para o outro lado da mesa, segurando as pontas inferiores do robe para que não se arrastassem sobre o chão. Agarrou a caixa com os dedos pequenos e finos e amparou-a com os braços como se estivesse protegendo um bebê de um assassino frio e rancoroso.

Nesse meio tempo, eu corri para alcançá-la antes que ela me tomasse a minha preciosa encomenda, mas Sofie foi mais rápida. A expectativa de finalmente abri-la fez a minha ira alcançar o topo. Girei o martelo pesado de metal entre os meus dedos e desejei que um raio laser saísse dos meus olhos e perfurasse o rosto desafiador da minha irmã. Que ousadia.

- Devolve agora! – Gritei ameaçadora batendo com o martelo na palma da minha mão direita como se fosse um taco de beisebol ou sei lá.

- Você perdeu a cabeça? – Ela esganiçou segurando a caixa com mais força, a mesa ainda entre nós. – Pare de agir feito uma lunática!

- Me dá! – Berrei ainda mais alto, mas ela não se assustou e nem se mexeu até eu começar a deslocar do lugar onde eu estava. Só então Sofie começou a dar alguns passos para trás em direção a sacada da sala. – O que está fazendo? Isso é meu! Me devolve isso, Sofia! Não é seu! – Desesperei-me quando percebi que ela estava chegando cada vez mais próximo das grades da sacada e sendo iluminada pelo sol que raiava lá fora.

- Abaixa esse martelo! – Gritou enquanto alguns de seus cabelos saíram do costumeiro coque e começaram a voar com o vento. Seus olhos repousaram sobre a rua movimentada da manhã de domingo lá embaixo. Meu corpo tremeu por inteiro.



Nota da Autora: Espero lançar a segunda parte logo. A notícia que eu tinha para dar é que estou passando por problemas com suspeita de transtorno bipolar (irônico não?), enfim, há dias que estou muito bem e escrevo. Outros não consigo levantar da cama.
Agradeço a compreensão das leitoras.

Lihn

30 comentários:

Anônimo disse...

:OOOOOOOO Céus!!! :OOOOOO
Obrigada Lihn por postar!


Estarei esperando a parte dois!...

Jéssica disse...

M O R R I D: Caraca, Lihn, muito foda. Quero meu Sam ASAP, na moral. Esperando por mais t1

Junia disse...

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah eu amo MUUUUITO o que você escreve, posta mais logo por favor!

Karyne disse...

s2s2s2s2s2s2

Kinha disse...

LINDOO! Maravilhoso, quero maaais! e o sam é MEEEU

Ana Carolina disse...

aiaiai, foi mto engraçado a parte do "pq não tem o direito de ter uma irmã normal? eu trocaria facil pelo ir e vir" kkkkkkkkkkkkkkkkk

amo inverso, melhoras pra vc fofa!

Joanna disse...

cadê maaais? puxa, vc devia postar mais rápido, eu fico roendo as minhas unhas aqui pro finaal!!

Carlinha XX disse...

muito bom, gosto demais do que vc escreve e o trabalho que vc faz, continue assim que vc vai ser um sucesso!!

Nina disse...

Esse capítulo foi tão pequenininho, só deixou um gostinho de quero maaais :(

amo amo amo amo de montaaaao

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Nem preciso dizer que adoro a sua história.. Vc já sabe não é, Lihn?! Parabéns por mais um início de capítulo fantástico e tenho certeza que vc irá resolver seus problemas logo logo. OBS: Esse é o capítulo final do livro mesmo?! Se for, já estou morrendo de saudades. Tomara que vc consiga publicar logooooo.. E continue escrevendo sempre, já que vc tem o dom, moça! Por isso, nunca desista!!!

Jana disse...

esse é o finaaaal? Jááá? quantas partes tem esse capitulooo?

Ju Fuzetto disse...

Linda tá demais!!!!

Querida fique bem viu!!!

Um beijo

Anônimo disse...

QUERO ESSE LIVRO PUBLICADO!
Preciso tê-lo na minha estante.
Lihnnnnn..
Temos q fazer uma mobilização
para publicar esse livro!!!!!

Anônimo disse...

Comecei a ler hoje. A cy me recomendou.
E já estou amando..
Vc escreve muito bem.
Parabéns!

Anônimo disse...

aaadoreeei!

Jessica Gomes disse...

ninguem tem nem noçao do quanto eu amo essa serie, eu sei que vai ser publicada e vai ser um sucesso!! muita sorte pra vc!! amamos mel e sam

Marina disse...

cade a outra parteeee?

Ana Nunes disse...

adorei a parte, pena que já tá terminando o livro... eu vou sentir muita falta!!

Carol M disse...

quero maaais!

Fenícia disse...

amo muito tudo isso, não sei como vc tem tanto talento pra nos envolver dentro de sua história, prepare-se porque logo vai ter gente de olho em você, viu????? tudo de bom,
fenícia

Natália disse...

cade a segunda parte? esse é o ultimo capitulo do livro? tem continuação? por favoor, precisa ter continuação, eu não sei mais viver sem inverso... e o sam!!

K. Junqueira disse...

Lindo! Amo demaaaaaaaaaaaais essa história, yay!

Sebastiana disse...

mais!!!!!!!!!!!!!

Anônimo disse...

foi de tirar o fôlego, aguardando por mais (:

Mandy disse...

adorei a parte, pena que já tá terminando o livro... eu vou sentir muita falta!! +1

te desejo melhoras ;)

Anônimo disse...

Espero q naum tenha abandonado ela.... quero saber mto o final!
Posta logo plixx.

bjos boa sorte *-*

Anônimo disse...

e mais uma vez ficamos séculos sem inverso :/

Anônimo disse...

sabe de uma coisa? vc deveria ser mais responsável com aqueles que são fãs de inverso. Nada justifica tanta demora assim! Se você não percebeu, isso só faz com que as pessoas desistam de inverso. fikdica

Juliana disse...

Vc escreve Muiito!!
Espero q vc post logo
Parabéns

Postar um comentário