sábado, 10 de outubro de 2009

Capítulo 11 – Separação (parte 2)

Naquela manhã, eu me arrumei com vagareza, tinha o tempo necessário para isso. Ao tentar relaxar o corpo e estralar alguns ossos, percebi que não era somente a cabeça que estava doendo. A região óssea logo abaixo do pescoço onde recebi a cotovelada estava com uma marca quase imperceptível, mas doía ao simples toque. Outros músculos também causavam dor a cada movimento brusco ou não planejado.

Sofia já estava pronta e Sarah já estava esperando lá embaixo reclamando da demora quando eu finalmente terminei de me arrumar. Pedi à Sofie que não contasse nada à mamãe, esperei muito que ela tivesse entendido essa parte e não dissesse palavra alguma sobre esse assunto enquanto eu não descia.

Tranquei a porta do apartamento meio distraída. Estava pensando no que eu faria à tarde na escola. Talvez eu pudesse revisar algumas matérias ou inventar alguma coisa para estudar na biblioteca. Entrei muito compenetrada no elevador, apertei o botão do térreo e mal percebi que ele estava encostado na parede, me encarando com um sorriso no canto dos lábios.

- Distraída? – Perguntou em um bom humor contagiante.

- Um pouco. – Respondi com um sorriso. Meu coração deu aquela normal parada e depois começou a bater muito rápido. – Como você está? – Perguntei corando e encarando os olhos verdes.

- Na verdade... – Ele disse um intrigado. – Um pouco dolorido. – Fez uma cara de confusão. – Meus músculos ardem como se eu tivesse praticado luta livre. – Sorriu desajeitado e ingênuo.

- Você deve ter dormido de mau jeito... – Eu sugeri olhando para o chão.

- Provavelmente. – Ele concordou de maneira desconfiada.

- Bom, tenho que ir. – Eu falei assim que as portas se abriram para o térreo. Não iria ficar ali tentando arrumar desculpas e um jeito novo de mentir.

- Ei, Mel! – Sam chamou docemente quando eu já tinha virado as costas. – Você parece estar mais feliz.

- Estou. – Confirmei sorrindo de novo, mal ele sabia que era a maior causa de algo que pudesse se aproximar da felicidade.

- Aquele outro dia em que nos encontramos no elevador, no mês passado... Nada legal ver você daquele jeito. Fico feliz que você tenha – olhou para baixo um pouco indeciso e logo voltou a me fitar – encontrado a felicidade que procurava. – Encarou o chão novamente parecendo envergonhado e ao mesmo tempo melancólico.

- Oh, isso é muito gentil de sua parte. – Eu estava tocada de verdade. Foi muito sensível da parte dele perceber a minha diferença de humor, mesmo tendo ficado pouco tempo em minha presença. – Você sumiu.

- Viajei. Precisava refletir sobre algumas coisas que têm me deixado confuso.

- Oh, espero que tenha funcionado. – Sorri.

Ele apenas acenou tranqüilo e as portas se fecharam, ele deveria estar indo à garagem subterrânea. O que me deixou intrigada é que ele não mais mencionou remarcar aquele nosso encontro perdido, talvez achasse que não era o que eu queria. Talvez tenha desistido de mim. Não fazia o tipo grudento.

Fiquei com a sensação de que eu havia sido uma pessoa malvada e egoísta. Afinal, fui eu que desmarquei o encontro mentindo que estava doente e o tratei com distanciamento sem qualquer explicação. Ignorei todas as suas ligações e o deixei falando sozinho com a secretária eletrônica diversas vezes porque não tive coragem de encará-lo depois que descobrira a verdade. Pensando dessa maneira, eu me sentia ainda mais suja, ele era a única vítima ali.

Sofie já estava impaciente no momento em que pisei na calçada. Ela já havia entrado no banco da frente e colocado os cintos, agora olhava pela janela com um olhar de censura.

- Não sei o que você tanto faz no elevador...

Eu resolvi ignorar essa crítica. Eu já estava confusa o suficiente para tentar explicar à minha irmã os motivos que me levavam a ficar feliz por ele ter reaparecido e, ao mesmo tempo, chateada por ele ter aceitado ficar somente porque ofereci a encomenda. Na minha cabeça de idéias deturpadas e insanas, ele tinha que ter escolhido ficar porque me queria, mas não havia sido eu mesma que o havia afastado? Não fora eu quem mencionara a palavra “ódio” em primeiro lugar? Afinal, que tipo de pessoa bipolar eu era? Nem se eu adquirisse uma segunda personalidade eu seria tão contraditória.

- Por que você está no meu lugar? Saia já daí. – Reclamei meu usual posto na parte frontal do carro.

A verdade é que eu pouco ligava o lugar em que eu estava sentando, o que importava é que eu ficasse próxima o bastante do aparelho de som para escolher as músicas que eu queria. Eu não conseguiria alcançar botão algum ao sentar na parte traseira do veículo.

- Você perdeu seu direito de escolher. – Ela respondeu mandona.

- Desculpa? – Achei não ter ouvido direito.

- Procure não se atrasar amanhã. – Sofie retrucou toda autoritária e apertou o botãozinho dos vidros, que se fecharam na minha cara.

Fiquei irritada. Onde está o respeito com os mais velhos? Não que eu fosse uma anciã, mas ela tinha treze anos e já queria me tirar de um lugar tradicional onde me sentava! Como fica o respeito aos rituais? Isso deveria ser ilegal.

Abri a porta de trás com fúria, sentei-me contrariada e fechei a porta no mesmo humor com que foi aberta. Isso pareceu irritar mamãe.

- Mellanie, meu carro não tem culpa das suas crises. – Ela tentou me repreender, o que não ajudou nada.

- Hoje vamos ouvir meu CD de músicas. – Sofie informou do banco da frente para meu profundo descontentamento.

- Mãe! – Tentei recorrer a uma autoridade maior, mas Sarah pouco se importava se eu precisava ouvir minhas músicas no começo da manhã para que meu dia começasse bem.

- Você escolhe todos os dias, Mellanie. Deixe sua irmã escolher desta vez. – Ela respondeu olhando no retrovisor para ter certeza de que não havia algum carro vindo em sua direção. – Tenho certeza que vamos gostar das músicas daquele dinossauro roxo.

Fala sério, quantos anos Sarah achava que Sofie tinha? Sete?

Meus pensamentos sórdidos foram interrompidos por algo que quebrou qualquer contexto imaginável para aquela situação. Uma orquestra sinfônica de no mínimo uns cinqüenta músicos tocando música erudita começou a ressoar a todo volume naquele automóvel. Uma melodia que intercalava o doce e o forte deixou meus olhos do tamanho de duas bolas de tênis. Isso não pareceu incomodar o coral que cantava algo suave em um dialeto desconhecido.

- Você está fora de si?

- É uma orquestra que usa melodias baseadas em Beethoven e Mozart como meio de comunicação interplanetar.

- Ela não é um doce? – Sarah perguntou satisfeita.

Fiquei refletindo alguns instantes sobre o momento em que saí totalmente da realidade e fui parar em um universo paralelo, 3D e bizarro. Um solo muito bonito de violino me manteve nessa concentração durante grande parte do trajeto. Não é que eu não gostasse de música clássica, qualquer pessoa sabe apreciar tão boa música. O grande fato é que: eu estava indo para a escola. Isso te soa que preciso de algo que me dê mais sono? Definitivamente, eu não iria perder tempo no elevador amanhã.

Desci do carro com o humor já abalado. Minha irmã não fazia questão de ouvir aquele som da insanidade todos os dias, eu fazia questão de ouvir o meu. Parei de praguejar contra o mau início do dia quando percebi que Rebecca tinha nos visto chegar e estava caminhando em nossa direção. Sarah beijou o rosto de Sofia, que fez uma careta, e logo partiu.

- Você está bem?

- Poderia estar melhor se tivesse parentes normais. – Respondi irritada e Sofie me censurou com os olhos antes de começar a caminhar ao nosso lado carregando livros quase mais pesados que o próprio corpo.

- Sua irmã me ligou ontem... – Ela começou o assunto.

- Tive um contratempo.

- Fiquei preocupada, é claro. – Rebecca foi contando no momento em que adentramos o pátio da escola e nos deparamos com vários alunos sentados em bancos que conversavam animadamente esperando o começo das aulas. – Sofie me perguntou se você não estava comigo e que tinha se atrasado mais de uma hora.

- Adeus. – Ela acenou cordialmente e pegou o corredor da direita, onde poderia chegar até a sala.

- Bom, não foi nada.

- Certo. – Ela parou de insistir.

- Como andam as coisas com o Lean?

- Do mesmo jeito que continuaram o mês todo...

- Ainda não está falando com ele? – Indaguei depositando minha bolsa em uma das mesas de concreto que havia espalhadas pelo lugar.

- Ele é que não está falando comigo. – Ela respondeu irritada e sentou-se no banco enquanto começou a folhear uma revista sobre moda.

- Sei. – Sorri ao acaso. – Você deveria parar logo com bobagens, ele é um cara legal. – Suspirei pensando no meu melhor amigo. Ninguém poderia me dizer, com alguma certeza, a mesma coisa sobre o Sam.




Observei os pingos de chuva que batiam no vidro das janelas do carro da minha mãe. Era realmente interessante o som que essas pequenas gotas produziam ao atingir a superfície. Da mesma forma, eu me sentia mais inspirada ao saber que coisas tão pequenas eram capazes de ocasionar um som tão estrondoso. Eu ia observando o arco-íris que se formava no horizonte e me perguntava em pensamentos se o todo seria tão bonito sem as partes. Claro que não. Que reflexão boba.

- Você precisava mesmo que eu viesse? – Sarah perguntou concentrada no trânsito que piorava razoavelmente a cada vez que chovia.

- Sim. Não poderia ir para casa nessa chuva. – Respondi com a voz calma ainda entretida com a noite que estava quase chegando.

Senti meus músculos arderem um pouco mais. Além do estresse do dia anterior, ainda somava-se o cansaço de ter passado o dia todo no colégio. Como se a manhã inteira não fosse o suficiente.

- Você tem noção de que eu tenho um trabalho, certo? – Sarah disse rispidamente, jogando as palavras fortes para cima de mim. – Um trabalho sério, não acha? Algo que faço para sustentar a casa? Isso te lembra algo?

- Não quis atrapalhar. – Encostei a cabeça na janela e desviei o olhar. Em outros dias eu poderia me irritar com a falta de atenção, talvez naquele dia eu só estivesse muito cansada. – Preciso que busque Sofie por alguns dias. – Suspirei devagar e o vidro ficou um pouco embaçado.

- Por que você não consegue cumprir o que diz, Mellanie? – Ela ficou muito irritada, mas logo afastou a franja para atrás da orelha, respirou fundo e piscou freneticamente algumas vezes. Sofie tinha o exato mesmo método de controlar a irritação. – Lembro-me com clareza de tê-la ouvido dizer que se encarregaria da sua irmã quando tirasse aquele gesso.

- Preciso fazer um trabalho para a escola. – Esperei verdadeiramente que essa mentira funcionasse.

Eu não deveria ter pedido que Sarah me pegasse às seis da tarde e me levasse para casa. Isso, de maneira visível, interrompera seu trabalho e causara uma exaltação momentânea que eu deveria evitar. Eu poderia ter ido à pé ou pegado um ônibus, é claro, mas era essencial que ela buscasse Sofia por esses dias. Eu me esqueci de mencionar isso hoje pela manhã, aquela música exótica me distraíra.

Eu andei raciocinando um pouco enquanto fingia estar prestando atenção em livros grossos e empoeirados que achei no fundo das prateleiras da biblioteca. É inútil tentar estudar quando se tem algo tão grande que desvia seu pensamento a cada minuto. Não era, definitivamente, tão simples me livrar do receio de que acontecesse de novo. E, se eu tivesse o poder de ler bolas de cristal naquele momento, eu certamente veria uma névoa roxa sobre o futuro. Era difícil imaginar o que aconteceria no capítulo seguinte. Naquela hora, eu não desconfiava dos rumos inimagináveis que essa história seguiria.

O pensamento era bem simples. O curso de Sofia já deveria estar quase acabando e eu não poderia me atrever a buscá-la sozinha por enquanto. O plano mais óbvio para mim seria que eu e Sam passássemos a ir buscá-la juntos, só que eles já sabiam que estávamos nisso juntos. Então, nesse caso, o óbvio seria o previsível. O previsível nunca é bom.

Eu, decisivamente, não queria ficar parada. Sofie disse que iria pensar em algo, eu não estava conseguindo pensar em outra coisa, isso deveria significar que, de alguma forma, uma de nós teria uma idéia logo. Enquanto esse momento não chegasse, ela estaria a salvo indo e voltando com a minha mãe, que odiava passar em caminhos novos, alternativos e solitários.
- Por que não pode fazê-lo durante o dia?

- Estou fazendo com Rebecca. – Respondi no impulso. Não que eu gostasse de meter minha melhor amiga em minhas mentiras, mas é que já era usual recorrer a ela nos momentos em que eu não sabia o que dizer.

- E ela não pode?

- Ela tem aula de teatro. Você sabe como ela leva a sério essa idéia de ser atriz... – Levantei os ombros eximindo-me de culpa, eu era quase um anjo praticando o bem na terra... Ou era isso o que eu queria que ela pensasse. – Além do mais, Sofie sai no horário em que você costuma voltar para casa.

- Isso me lembra, por que não foi buscá-la ontem? – Rebateu recordando-se desse fato. Estava ficando esperta. – Nem a vi chegar em casa.

- Você provavelmente dormiu feito uma pedra... – Balancei a cabeça indecisa. Eu estava um pouco cansada de ficar arrumando desculpas. Tinha que enrolar Sarah e Sam durante o dia, isso dava trabalho.

- Você não me respondeu. Está muito estranha ultimamente. Mal sai do quarto, inventa caminhadas noturnas, está cheia de olheiras, na mesma hora está indo em festas com colegas da Sofia que você mal conhece... Ontem saiu à noite e nem se preocupou com a sua irmã, voltou em horário desconhecido... – Ela reparou sem encarar meu rosto. – Está usando drogas?

- Que?! – Fiquei estupefata. Era incrível que alguém tão próximo fosse tão alheio à minha vida e aos meus problemas. – Estou só passando por tempos difíceis, ok? – Fiquei um pouco irritada e carreguei minha bolsa debaixo da chuva pesada assim que ela parou o carro em frente ao prédio.

- Como vou saber disso? – Ela gritou para que eu a ouvisse diante do barulho dos pingos que caíam e se esborrachavam no concreto.

Ainda de pé na chuva, abaixei um pouco a cabeça para observá-la e meus cabelos molharam parte do carpete.

- Se você prestasse atenção teria percebido. – Fechei a porta com cuidado e logo me abriguei no hall do edifício.

Era aliviador não sentir mais a pressão dos pingos sobre si. Olhei para as paredes cor de creme e me senti mais feliz por estar de volta. Não que eu tivesse passado tanto tempo fora, mas porque eu gostava de ficar em casa. Nunca fui do tipo que gosta de sair o tempo todo, às vezes eu aprecio só pegar um bom livro e me perder durante horas dentro dele. Ficar fora de casa o dia todo tentando arrumar o que fazer é deveras cansativo.

Joguei as chaves com desmazelo em cima do móvel encerado da minha mãe depois que abri a porta do apartamento. Ela provavelmente reclamaria quando chegasse em casa, mas eu não estava tão preocupada.

Foi relaxante tomar um bom banho e saber que eu, finalmente, estaria sozinha nas próximas horas até que Sofia chegasse reclamando de alguém novo que não é capaz de desempenhar uma simples tarefa. Senti-me tão mais revigorada depois de vestida com uma roupa quente e confortável. Talvez eu fizesse chocolate quente... no microondas.

Percebi que havia algumas mensagens não lidas no meu celular. Enruguei as sobrancelhas tentando imaginar quem seria. Não imaginei que fossem Lean ou Rebecca já que tínhamos nos encontrado mais cedo, mas realmente me surpreendi quando li o nome do Noah.

Eu também estava devendo uma a ele. Nosso encontro já estava desastroso antes, não quis nem imaginar o que ele pensou quando eu fiquei completamente calada e nem ao menos o cumprimentei direito depois que ele me deixara em casa. A culpa foi completamente do Sam, a cada hora que passava a minha fúria ia aumentando. É sempre ele. Agora eu estava um pouco envergonhada por ter aceitado o convite do Noah e, assim que tive um encontro com um cara estúpido que quis me matar, fiquei tocada demais para ser ao menos educada ou agradável. Por que eu estou deixando o Sam estragar a minha vida?

As coisas não eram tão simples assim. Eu não queria que ele fosse embora, mas ainda sentia o sangue ferver ao lembrar a maneira como fui enganada, humilhada e, principalmente, controlada. Quando foi que outra pessoa teve influência no meu apetite? Parece que o Sam sim. Mal comi direito no último mês, mal raciocinei, mal me lembrei das coisas mais simples como checar se os sapatos que calço são do mesmo par. E a culpa é de quem? Toda dele.

Irritada, resolvi distrair a mente. Nos últimos tempos, eu estava com uma espécie de medo de praguejar contra ele em minha cabeça e, no dia seguinte, ele não estar mais ali, como aconteceu no mês passado. Eu não o queria, definitivamente não, mas ele iria ter que me suportar e me ajudar com os problemas agora. Ou talvez eu só não quisesse que ele fosse embora. Sinceramente? Tem dias que nem eu mesma me agüento.

Peguei a primeira revista que encontrei na bagunça do meu quarto. Deitei na cama com as costas para o teto e comecei a folhear as páginas de uma revista que descobri ser do tipo que trata de assuntos científicos de maneira mais leve e casual. Descobri que o número 41 é o número mais sorteado na loteria, mas acho que isso não resolveria de fato os meus problemas.

Escutei um barulho conhecido na minha sacada. Coloquei as mãos sobre o rosto tentando concentrar paciência. Eu estava de mau humor, não era uma boa hora para que ele aparecesse. Hoje eu já tinha o culpado até mesmo por ter me esquecido de fechar a torneira ao escovar os dentes.

E, um segundo depois, ele estava lá. Abanando a mão e sorrindo amarelo enquanto recebia leves pingos de chuva no rosto. Levantei-me desconsolada, abri a porta de vidro que nos separava e voltei a folhear a revista como se não fizesse tanta questão.

- Próximo passo: comprar uma fantasia do homem aranha. – Suspirei em voz baixa, mas ele conseguiu me ouvir.

- Não gosto tanto assim do homem aranha, mas se isso vai te deixar interessada... – Sorriu travesso.

- Só quero que pare de entrar aqui assim. – Respondi seriamente. Não estava com humor para gracinhas.

- Isso é minha marca. Você quer apagar a minha marca.

Balancei a cabeça contrariada. O bom humor dele estava me irritando.

- O que você faz aqui? – Perguntei desconfiada enquanto ele já ia entrando pelo corredor como se fosse da casa.

- Achei que tínhamos um acordo. – Ele respondeu despreocupado, entrou na cozinha e abriu a geladeira. – O que tem pra comer?

- Nem sei. – Respondi sentando-me no sofá e ligando a televisão.

Ele me encarou da cozinha com uma expressão chocada.

– Tem sopa em pó. – Dei de ombros. Fazia décadas que ninguém almoçava ou jantava naquele lugar. Sofie e eu tomávamos café da manhã, depois almoçávamos fora e, à noite, eu fazia só um lanche.

- É de galinha. – Ele levantou o pacote decepcionado.

- Caipira. – Completei satisfeita.

- Vou pedir comida chinesa. – Ele decidiu abruptadamente.

- Faça logo a sopa.

- É de galinha! – Ele disse mais uma vez pegando o telefone sem fio e discando um número que deveria estar em sua memória.

A voz dele falando com alguém do restaurante chinês me desconcentrou momentaneamente da televisão. Tentei recuperar a atenção na revista, que ainda estava em minhas mãos.

- O que estamos vendo? – Ele perguntou depois de algum tempo e sentou-se ao meu lado.

- Eu estou vendo. – Corrigi com ênfase. A culpa do meu mau humor era dele. Ele que me atrasara no elevador e fizera com que Sofia pudesse escolher suas músicas de gente biruta. Eu realmente necessitava de boa música para relaxar.

- Por que está me tratando como se não me conhecesse? – Ele perguntou intrigado, mas não com chateação.

- Eu não o conheço.

- Claro que conhece. – Contrariou-me com precisão. Parecia realmente paciente e bem humorado hoje.

- Conheço a pessoa que você quis que eu pensasse que conhecia.

- Errado. Eu não estava fingindo quando disse coisas sobre mim. – Sam olhou-me um pouco ressentido agora. Eu não tinha culpa de, depois de tantas mentiras, não saber o que ele estava falando de verdade. – Como não fingi agora, sabe, eu não gosto mesmo de sopa de galinha.

- Isso não é sobre a sopa... – Vi que ele iria fazer outra gracinha. – Nem sobre a galinha. Eu só não consigo confiar em você de novo. – Constatei com sinceridade e tristeza ao mesmo tempo.

- Nem se eu te mostrar o presente que tinha preparado para o seu aniversário? – Ele perguntou esperançoso.

- Acho que não. – Olhei para baixo tentando pensar se isso mudaria algo para mim. – Eu só estou cheia de danos... Não estou conseguindo nem entender a mim mesma. – Admiti finalmente, mas senti vergonha. – Acho que preciso de um tempo.

- Eu também me sinto assim.

Foi a primeira vez naquela noite que olhei em seus olhos. Ele deveria estar mentindo.

- E por quê? – Perguntei de maneira ríspida. – Se eu não me engano, eu fui a prejudicada aqui.

Ele mordeu os próprios lábios macios, talvez refreando as palavras impensadas que pudessem vir. Nunca o vi se esforçando para conter a si mesmo, estava tentando melhorar.

- Não quero falar disso. Você só me machuca de várias maneiras e não faz idéia. Não gosto de bancar o sentimental. – Respondeu decidido e levantou-se do sofá. Resolveu ir preparar alguns pratos, já que o jantar deveria estar chegando.

Achei um absurdo ele ter dito tal coisa. Eu o machucava? Então eu nem gostaria de analisar a recíproca. Quero dizer, olhem para a figura arruinada que eu virei.

- Sabe qual foi a última? – Ele indagou rindo de si mesmo de maneira gelada enquanto se apoiava no balcão e começava a me olhar. – Ter certeza da sua frieza.

- A minha frieza? – Ri também.

Não que eu fosse um mar de sentimentalismo, mas eu era sim uma pessoa quente, uma pessoa com sentimentos, esperanças e sonhos. Se um de nós era frio, este seria ele, que conviveu comigo durante meses enquanto planejava a melhor maneira de me matar.

- Você só me quer por perto porque acha que posso protegê-la. – Ele riu mais uma vez, agora de maneira mais sinistra. Parecia mesmo estar magoado comigo. – Eu teria feito isso. Não foi o que fiz ontem? Coloquei tudo em risco por você.

- Oh, me desculpe por ser a coitada por quem o super herói se arriscou. – respondi sem pensar. Se eu tivesse raciocinado um pouquinho, teria dito algo que soasse menos ingrato.

- Desculpe por ter salvado a sua vida. – Sam jogou isso na minha cara com ironia.

- Desculpe por não ter morrido.

Ele debruçou-se sobre o balcão desconsolado. Passou as mãos pelos cabelos que caíram para frente e me observou com uma expressão muito decepcionada e dolorosa.

- Quando você vai acreditar que não quero vê-la morta? Sabe, eu não entendo você.
Nem eu me entendia. Por que eu estava discutindo aquilo, afinal? O que ele fez foi maravilhoso e eu estava lá reclamando sabe-se lá por qual motivo. Eu acho que só não gostei de ter sido chamada de fria.

- Eu errei. Certo. Eu sei disso. – Intensificou o olhar brilhante. - Só que parece que você não observa tudo o que eu faço. Digo, quando foi que te ameacei com uma faca? Ao contrário, eu só quis... Ah, não quero discutir mais isso. Chega. – Ele disse cansado.

- Obrigada.

- O quê? – Esteve distraído por um momento.

- Por ter me ajudado. – Completei um pouco sem jeito e não consegui evitar olhar para outro lado ou gaguejar. – Foi muito legal da sua parte.

Ele pareceu mais satisfeito.

- Eu fiz porque eu quis. Não estava interessado em qualquer troca, mas agora eu sei que você só me quer por perto por causa disso. Porque acha que está segura comigo. É frustrante. – A amargura surgiu em seu tom de voz, mas logo desapareceu quando ele atendeu o interfone. A comida chegara rápido.

Eu me senti uma covarde. Não tive a coragem de dizer que não era por esse motivo que eu não queria que ele fosse embora, mas meu orgulho, mais uma vez, falara mais alto. Eu acho que só não queria ser aquela garota que fora feita de idiota e, no fim, ainda acaba se declarando para o infeliz. Ele já me destruíra uma vez quando nem sequer sabia que eu estava tão apaixonada, não agüentaria isso de novo. Não agüentaria dizer que o amava e não ouvir nada em resposta ou, pior, perceber risadas tardias por ter caído no mesmo truque duas vezes. Eu cometia um erro apenas uma vez.

- Eu pedi frango xadrez para você. – Ele comentou animado com a chegada da comida, mal pagou a moça que trouxera a entrega e já estava distribuindo macarrão e frango pelos pratos.

- Obrigada. Frango é bom. – Eu respondi enquanto ele me entregava um prato que estava mesmo cheiroso.

Ele só sorriu, mas não se desfez da expressão contrariada.




- Preciso de sapatos novos. – Ela me observou com os grandes olhos castanhos assim que chegou apressada e bateu com os livros no tampo da mesa ao lado da minha.

- Você já tem uns quarenta pares. – Lembrei-a sem muito entusiasmo.
- São da coleção passada.

Eu não era capaz de compreender essa linha de pensamento que determinava que objetos novos comprados há pouco tempo precisavam, urgentemente, serem substituídos com a chegada da nova estação. Por esse motivo, apenas concordei com a cabeça.

- Acho que estou ficando maluca.

- Por que? – Dei um giro na cadeira para focalizá-la melhor.

- Não sei, acho que é essa situação estranhíssima que estou vivendo com o Lean... Acredita que ultimamente – abaixou o tom de voz como se fosse confessar algo que ninguém mais pudesse ouvir – estou tendo a impressão de estar sendo perseguida? – Riu de si mesma com volúpia. – Outro dia tive quase certeza, aquela sensação estranha na nuca, entende?

- Você viu alguém? – Perguntei na mesma hora tentando entender se esse era um motivo para pânico.

- Não. – Sorriu desconcertada. – Devo estar ficando louca.

Fiquei sentindo aquele medo gelado percorrendo minhas terminações nervosas durante minutos. As coisas estavam entrando em uma dimensão jamais imaginada por mim. Eu tentei proteger a minha irmã, é claro, mas não pensei que Rebecca tinha alguma chance de também virar alvo dessa brincadeira sem graça.

O fato é que eu contava tudo... bem, quase tudo a ela. Eu não iria tentar fazer como as mocinhas corajosas (ou eu deveria dizer estúpidas?) do cinema que preferem manter o segredo longe e proteger todos em silêncio. Eu não tinha reais condições de me atrever a fazer algo do tipo. Afinal: que tipo de garota eu achava que eu era para colocar em risco coisas de tamanha importância? Eu era apenas normal. Isso me levava à conclusão de que eu deveria alertar Rebecca.

- Precisamos conversar.




- Você sabe que isso não é necessário. – Eu disse pela milésima vez enquanto Rebecca e eu estávamos andando, depois de ter acabado de descer no ponto do metrô.

O céu estava em um tom avermelhado forte típico de fim de tarde. Nuvens negras, porém, estavam presentes no horizonte. O clima de constante chuva continuaria por alguns dias.

- Ah, é sim. – Ela contrariou decidida e deu passos mais rápidos.

- Eu deveria pensar melhor antes de agir. – Disse chateada chutando uma pedra.

Eu havia contado de forma distante a minha atual situação, mas isso fora o suficiente para ela ter uma reação de desespero acima do comum. Eu apenas falara que eu estava sendo seguida por algo que eu ainda não tinha e que ela, por ser minha amiga, deveria também tomar cuidado e evitar andar sozinha em lugares afastados. Isso gerara toda aquela iniciativa de insistir ficar comigo a tarde toda e querer dormir em minha casa com medo de um atentado.
Eu não via chances reais de um atentado assim, na frente de todos. Na verdade, eu tinha esperança que eles parassem por um tempo, até que tivéssemos uma idéia. Também difícil de prever.

- Você não pode dormir lá em casa o mês inteiro. – Informei, não de maneira mal educada, mas tentando ser coerente. Que desculpa Rebecca daria à mãe para ficar no meu apartamento durante vários dias seguidos?

- Como você consegue? – Ela perguntou horrorizada.

- O quê?

- Não ter medo.

Continuei andando e fitei um ponto na linha que separava o céu e a terra. Refleti durante mais alguns passos sobre essa assertiva. Não era verdade que eu não sentia medo. Aliás, se eu não fosse capaz de sentir e até observar o temor que todas as minhas células exalavam, eu estaria pensando com maior clareza.

Como eu poderia ter certeza de que estava fazendo a coisa certa? Quero dizer, desde quando pedir ajuda a um assassino em série com dupla personalidade era mais viável que chamar a polícia? Colocar esses pensamentos no papel como eu havia tentado fazer durante a manhã toda no colégio só me mostrava que era uma escolha extremamente estúpida a se tomar, mas, ainda assim, algo me dizia que eu teria mais chances dessa maneira.

Sam não era confiável, mas era o único que tinha uma visão ampla de toda a situação, além de mim. As outras pessoas que sabiam partes da história perdiam alguns detalhes como o fato de o meu vizinho ser capaz de entrar no meu apartamento pela sacada e ter um transtorno dissociativo de identidade que tinha horário mais pontual que o relógio de pulso que Sofia usava para fazer miojo de exatos três minutos. Isso sem contar todas aquelas histórias estranhíssimas do atentado ao Felix e a invasão da minha casa na qual reviraram todas as nossas coisas, com a exceção do quarto de Sofie, sem arrombar a porta.

Vendo tudo por esse lado, era bem capaz que a polícia não conseguisse ligar um atentado a um viúvo com um assalto fantasma em que nada foi roubado e um quase seqüestro da vizinha. Aliás, ninguém iria. Portanto, Sam era o único que conseguia enxergar a amplitude de nossos problemas e, tendo em vista que estava interessado na encomenda que eu iria receber, não creio que iria pisar fora da linha. Isso, contudo, não garantia que estávamos seguros.

- Eu estou com medo. – Admiti sem vergonha alguma.

- Então por que ainda não estamos na delegacia? – Ela perguntou irritada.

- Com quais provas? Diríamos o quê? – Imaginei a mim mesma dizendo ao delegado “É que meu ex-namorado de personalidade dupla que me traíra insiste que estamos ameaçados por pessoas que não conhecemos que querem algo que não sabemos o que é”. Nem eu acreditaria em mim.

- E você tem um plano melhor? – Ela arregalou os olhos quase tendo um ataque. O medo dela definitivamente ultrapassava quilômetros do meu. Estava andando muito depressa, quase correndo, com receio de que seríamos atacadas ali mesmo, na calçada de uma grande avenida no fim da tarde.

- O que nós passamos a tarde toda discutindo? Eu já disse que somos quatro cabeças pensantes, logo bolamos em alguma coisa.

- Quatro? – Ela parou um pouco para tomar fôlego. Eu, que estava ligeiramente atrás tentando acompanhar o passo, logo a alcancei.

- Sim. Você, Sofie, Sam e eu. – Repeti cansada.

Eu já tinha contado a história da maneira como quase fui seqüestrada mil vezes. Já havia reforçado todos os pontos que nos davam ligeira tranqüilidade e dito o que eu esperava que acontecesse durante a tarde toda. A cada minuto ela ficava mais nervosa e amedrontada e eu não sabia mais o que repetir para tentar acalmá-la. Ela parecia esquecer tudo o que eu havia numerado no instante seguinte à minha fala, então surgia com um pânico ainda maior.

- Vocês voltaram? – Ela disse com a voz livre de medo. Era normal que esquecesse tudo por causa de uma nova fofoca.

- Não.

- Então eu não sei o que fazer! – Ela berrou na calçada e começou a choramingar novamente. Alguns pedestres que estavam passando, viraram o pescoço para tentar descobrir o motivo da choradeira. – Se não for a idéia de chamar a polícia, não sei o que podemos fazer.

- Calma. – Eu disse mais uma vez. Talvez a milésima naquela tarde. – Pedi à Sofie que faltasse no curso hoje. Vamos aproveitar que você resolveu dormir aqui e vamos nos reunir. Tenho certeza que algo vai surgir.

- Certo. – Ela concordou com a voz trêmula e respirou fundo loucamente por alguns segundos para tentar se acalmar.

Não tardou muito para que chegássemos ao prédio. As árvores perto do portão de ferro balançavam fortemente com o vento e a escuridão estava ficando maior a cada minuto. Vi algumas corujas saindo da toca com um pouco de moleza. Rebecca e eu logo subimos pelas escadas.

- Onde está a Sofie?

- Boa pergunta. – Notei jogando minha mochila pesada no chão o que causou um estrondo alto no corredor vazio. Procurei as chaves para destrancar a porta. – Ela disse que tinha coisas para fazer.

- Que tipo de coisas? – Rebecca perguntou com os olhos ainda inchados e arregalados de tanto chorar e jogou os longos cabelos loiros para trás.

- Nem me atrevi a perguntar. – Respondi baixinho tentando imaginar o que minha irmã estava aprontando. Era impossível prever o que poderia sair daquela pequena mente genial.

Consegui, finalmente, encontrar a chave perdida em um dos meus bolsos e destranquei a porta ouvindo um “clic”. Eu já iria empurrá-la com os dedos quando Rebecca me interrompeu.

- Espera! – Ela sussurrou em pânico. – Você não deveria espiar primeiro?

- Para quê? – Perguntei mantendo o mesmo nível baixo por ela estipulado.

- E se tiver alguém aí dentro? – Percebi seus lábios rosados tremendo.

- Já teria nos ouvido a essa hora. – Respondi em meio ao cansaço.

Era um exagero fazer isso, mas senti que ela só ficaria tranqüila se eu abrisse a porta com cautela e focalizasse o olhar entre as frestas da porta para me certificar de que o lugar estava vazio. À medida que fui escancarando a porta, coloquei antes a cabeça para olhar a sala escura e solitária. Como eu dissera, não havia ninguém lá.

- Eu não disse? – Respirei aliviada assim que adentrei o cômodo. Os temores da minha melhor amiga estavam sendo transferidos à mim e eu não poderia deixar que acontecesse de novo. Não posso mais agir guiada pelo medo.

- Mellanie!

Eu escutei meu nome e, involuntariamente, Rebecca e eu pulamos de susto. Sofia apareceu na escuridão. O rosto delicado em meio ás sombras a deixavam com uma expressão muito assombrosa. Senti meu coração pulsar como a batedeira que Sarah ganhou como presente de casamento e nunca usara.

- Não faça mais isso! - Ameacei-a quase pulando em seu pescoço.

- Acho que vou desmaiar. – Rebecca suspirou logo atrás de mim e fechou os olhos com drama.

- Estou testando uma coisa.

- Que coisa? – Eu perguntei ainda irritada.

Rebecca cruzou a sala, agora iluminada, e deitou-se no sofá com a mão sobre a testa.

- Infravermelho. – Ela explicou mostrando um aparelho peculiar.

Levantei minha mochila preta que ainda estava largada ao pé da porta, atravessei o corredor escuro em direção ao meu quarto e, lá dentro, joguei-a de qualquer jeito em cima de uma cama que estava, como em raros momentos, bem arrumada. Voltei à sala.

- O que sua amiga tem? – Sofie perguntou intrigada com os sintomas da Rebecca.

- Ela está com medo.

- Achei que não era para ter comentado nada com ninguém. – Ela me encarou com os óculos grossos e disse essas palavras em tom de repreensão.

- Eu confio na Rebecca.

- Então eu posso contar para a Sarah.

- Mamãe. – Corrigi por impulso.

- Que seja.

Parei de discutir com a Sofia para tentar socorrer a Rebecca. Ela parecia ter sofrido um choque muito grande mesmo com o susto de minutos atrás. Achei melhor levar um copo com água... Bom, funcionou comigo quando o Sam me ofereceu duas noites atrás.

- Obrigada. – Ela respondeu quando tentou erguer-se e tomou um gole pequeno de água.

- Sem problemas.

- Agora que vocês já pararam de exagerar – Sofia interrompeu nosso momento com sua voz irritada – preciso partir.

- Aonde você vai? – Perguntei rispidamente e cruzei os braços.

- Ao lugar de sempre. – Ela fez aquela expressão de quem está cansada de dizer o óbvio. – Apesar de ter que trabalhar com aquele descendente de fuinha, alguém precisa tomar as rédeas e desenvolver o projeto. – Explicou como se fosse o mártir da história.

- Ei, não chame o Noah assim. – Defendi com vigor. Ele era uma pessoa extremamente agradável comigo. Não havia motivos para ser chamado de fuinha.

- Não se atreva a ter algum tipo de relacionamento com ele. Estou quase comemorando o fim do curso, não posso suportá-lo por mais do que esses dois meses.

Então agora a minha irmã tinha o direito de escolher meus amigos? Só porque ela ouviu a música cósmica no dia anterior, já estava achando que tinha o poder de controlar todos que habitavam aquela casa. Mas eu não respondi. Não era esse o ponto em que eu queria chegar.

- Sofie, falte no curso desta vez, por favor. – Ela abriu a boca e eu previ que contestaria meu pedido. – Olhe, precisamos discutir possibilidades hoje, você sabe que nossa situação é séria e que precisamos de uma idéia urgente.

Ela observou os sapatos bem lustrados por um tempo. Estava refletindo se valeria à pena faltar ao curso e deixar que o Noah desenvolvesse a parte de hoje do projeto. Ela tinha uma expressão muito engraçada quando estava pensando. Geralmente mordia o lábio e encarava um ponto da sala sem, realmente, estar enxergando-o.

- Eu ainda não tive tempo de pensar em algo.

- Não precisa. A gente pode discutir e chegar a um consenso do que é o melhor a fazer. – Sugeri esperançosa. Minha irmã era parte fundamental dessa reunião. Ela era, de longe, a pessoa mais realista – ou talvez, pessimista – e engenhosa que eu conhecia.

- Certo. – Ela consentiu com a cabeça e sentou-se na poltrona ao lado do Sofá em que Rebecca ainda estava se recuperando. – Mas só hoje.

Confirmei com a cabeça. Eu realmente tinha esperanças de que uma idéia iluminada brotaria em uma de nossas mentes se nos esforçássemos um pouquinho. Se nada surgisse naquela noite, então não surgiria em dia nenhum.

- Vou levar o copo de volta à cozinha. – Eu disse baixinho à Rebecca, ainda amedrontada, sentada no sofá.

Tirei o copo de suas mãos delicadas e de unhas bem feitas, quando outra voz educada soou no local.

- Boa noite.

Pulamos mais uma vez por causa do susto. Quase deixei o copo cair para que se estilhaçasse em mil pedaços. Ainda trêmula e apavorada, fitei o rosto bonito e bem humorado que aparecera na escuridão do corredor. Senti vontade de esganá-lo. Rebecca deu um gritinho de pânico e voltou a desabar sobre o sofá.

- Ou talvez seja melhor trazer mais água. – Eu disse a mim mesma tentando conter os batimentos acelerados que, desta vez, eu não sabia se foram causados pelo susto ou pela aparição dele.

- Como ele entrou aqui? – Sofia perguntou admirada enquanto ele avançou alguns passos e sentou-se na outra poltrona vaga perto do móvel onde Rebecca estava.

- A casa está cheia hoje, estamos tendo festinha? – Ele brincou e sorriu com a boca cheia de dentes brancos e brilhantes.

- E ninguém te convidou. – Respondi ainda nervosa pelo aparecimento inesperado. Por que, ó céus, por que ele não poderia entrar pela porta como uma pessoa normal? “Talvez porque ele não seja uma pessoa normal” uma voz sussurrou em minha mente e meu coração acelerou-se de novo.

- Eu não vim te ver.

- Ótimo.

Trouxe outro copo de água para a loira jogada no meu sofá. Depois desse novo susto, ela mal teve mãos firmes o suficiente para segurar o copo. Imaginei que, a cada novo sobressalto, ela visse a vida toda passando em frente aos seus olhos e já esperasse a morte certa. Estava muito amedrontada.

- Não faltei à aula para ver vocês dois trocando farpas. – Sofia mencionou tentando parecer casual, mas com o tom seco presente na voz. – Vamos discutir soluções ou não?

Peguei o copo da mão de Rebecca e repousei-o na mesinha de centro. Achei um espaço no sofá onde eu pude me sentar. Senti meu corpo ficando mais relaxado.

- Eu não tenho idéia nenhuma. – Minha amiga, deitada ao meu lado, apressou-se a falar.

- Eu andei avaliando algumas possibilidades. – Comecei. Senti os olhares do cômodo desviando-se para mim. – Poderíamos tentar usar uma armadilha.

- Explique. – Sofia pediu atenciosa.

- Bom, não pensei muito no decorrer do plano... – Rolei os olhos me sentindo um pouco envergonhada. – Poderíamos usar uma isca, então prendê-los ou gravar alguma coisa e acionar a lei.

- Ah, certo... – Minha irmã tentou ironizar. – E quem seria essa isca?

- Também acho arriscado demais. – Sam interrompeu.

- Alguém tem outra idéia? – Perguntei buscando novas opiniões. Era difícil bolar alguma coisa se ninguém contribuía com nada.

- Vamos jogar Banco Imobiliário®? – Ele sugeriu com aquele humor escondido de sempre.




Fui interrompida pelo toque do telefone. Era imprescindível que eu fizesse aquela contagem, todo o futuro dependia disso e o telefone não se importava. Continuava tocando como se o prédio fosse explodir. Um, dois, três... Toque de uma música qualquer. Quatro, seis, nove... Perdi-me nas contas de novo.

- Mellanie, pare de enrolar e pague logo meu aluguel? – Sofia perguntou já estressada. – Pode contar quantas vezes quiser, você caiu no meu hotel.

- Espera!

- Atende logo esse telefone. – Rebecca disse enquanto agitava os dois dados entre as palmas das mãos.

- Alô? – Eu falei quando me estiquei e, finalmente, consegui alcançar meu celular sobre o sofá.
Tínhamos colocado o tabuleiro sobre a mesinha de centro e afastado um pouco os móveis da sala para que pudéssemos ter mais espaço. Sam tinha a teoria de que se nos distraíssemos um pouco e parássemos de pensar movidos pelo medo, logo alguma idéia surgiria. Eu esperava com sinceridade que ele tivesse razão.

- Oi Mel, é o Noah! – Escutei uma voz animada do outro lado da linha.

- Olá, tudo bem?

- Tudo certo. E com vocês? Está tudo bem aí? Sua irmã não veio ao curso.

- Ah... É, pois é... – Enrolei-me um pouco com as palavras enquanto tentava pensar em uma desculpa. – Tivemos que fazer uma coisa urgente. – Usei a freqüente desculpa da Sofia de colocar a palavra “coisa”, que na verdade indica coisa nenhuma, na frase.

- Há, minha companhia. – A voz dela soou animada logo atrás de mim. – Rebecca está quase falindo.

- Ela está nos detonando. – Sam constatou preocupado.

- Uma coisa? – Noah estranhou. Fechei os olhos esperando que ele não tivesse ouvido a conversa alta bem próxima a mim.

- Pois é...

- Ei, escute... – Ele mudou de assunto e pareceu muito mais agitado que no minuto anterior. – Quer sair comigo no fim de semana? Talvez no sábado à noite...

- Sábado?

- Sim, podemos ir ao cinema ou a algum barzinho. – Ele sugeriu.

Percebi as sobrancelhas do Sam levantando-se e passando a prestar atenção na minha conversa ao telefone enquanto Rebecca estava contando o dinheiro de papel que devia à Sofie. Ele estava decidido a me atormentar.

- Hum, não sei...

- Aquele dia estávamos em um ambiente pouco descontraído, cheio de requintes e tudo o mais. Achei que poderíamos tentar algo mais casual. – Ele explicou esperançoso.

A expressão “aquele dia” me fez recordar de um dia que eu queria esquecer e, só por ter ouvido a simples menção dessas palavras, minhas bochechas coraram um pouco de vergonha.

Era fato que eu havia aceitado sair com o Noah e, por culpa do Sam e de sua presença irritante, não pude dar completa atenção e, muito menos, fiz esforço para ouvir ou comentar as histórias que ele estava contando. Isso o deixou sozinho conversando com Rebecca a maior parte da festa e, depois, quando ela começou a dar amassos com o Lean, Noah ficou sozinho diante da minha desculpa de ir ao banheiro. Depois de uma acompanhante para lá de desolada e frustrante, ele ainda fez o favor de nos trazer aqui com toda a boa vontade e, por estar fora de mim naquela noite, eu nem tinha certeza se eu havia agradecido por isso.

- Sábado me parece bom... – Respondi incerta.

- Então estamos combinados. – Ele disse satisfeito.

- Certo... Então... – Tentei encontrar uma maneira de finalizar aquela conversa. Os olhos do Sam já estavam queimando a minha pele.

- Te busco no sábado às oito!

- Tudo bem.

- Até mais.

- Até. – Desliguei o telefone e, automaticamente, levei uma das mãos à testa. Todos estavam me encarando.

- Ai! – Rebecca exclamou super excitada. – Vocês vão sair? Temos que escolher uma roupa bem legal para você e...

- Eu tenho um plano. – Sam cortou todo o clima de felicidade da Rebecca com o meu encontro com sua seriedade e frieza.

- Você acabou de pensar em um plano? – Sofia indagou incrédula. Era quase inaceitável que alguém tivesse pensado em uma solução antes de si mesma.

- Eu já tinha um. – Ele admitiu ainda me observando com uma expressão carrancuda.

- Então por que estamos jogando mesmo? – Minha irmã arremessou os dados de qualquer jeito na mesa, irritada.

Eu não pude dizer nada. Achei melhor escutar qual era esse grandioso plano super secreto que ele não quis nos comunicar antes de dar uma opinião sólida a respeito. Isso, pelo menos, evitaria que eu pensasse, ao menos por agora, sobre o tal encontro de sábado.

- Achei que seria divertido. – Ele sorriu de lado.

Sofia colocou o rosto entre as mãos tentando se conter. Deveria estar pedindo aos deuses extraterrestres que lhe dessem paciência.

- Fale logo.

- Fiquei sabendo por fontes – e nessa hora eu pensei que tipo de “fontes” eram essas e a maneira como foram “convidadas” e liberar a informação – que a companhia que, em teoria, está querendo o pacote que a Mel vai receber tem acordos comerciais com aquela agencia de moda da Paola Lince. Por esse motivo, aceitei a oferta de tocar o violoncelo naquela festa. – Pensei que ele estivesse se referindo à festa em que deu a desculpa de que havia queimado a mão direita. - Acreditei que alguns diretores da Companhia estariam lá.

- E estavam? – Rebecca interrompeu com a voz trêmula. O medo estava brotando em suas veias mais uma vez.

- É difícil saber. Não sei quem são essas pessoas e nunca as vi. – Ele relaxou o pescoço e ajeitou os cabelos sedosos. – Mas interceptei conversas valiosas sobre uma reunião de executivos em outra cerimônia.

- Isso significa o quê? – Rebecca perguntou sem entender nada.

- Que, se ele estiver certo, podemos descobrir quem está perseguindo a minha irmã. – Sofia arrematou o pensamento de maneira brilhante, como sempre.

- E, se tivermos sorte, também se pode descobrir o que, exatamente, é essa encomenda.

Meus olhos brilharam. Se tivéssemos essas informações, tudo poderia ficar mais claro e mais simples. Além de, é claro, termos, então, provas suficientes para prestar queixa na delegacia.

- A questão é: como você vai fazer para participar dessa reunião? – Minha irmã continuou a seguir o raciocínio. A idéia nova havia revitalizado seu raro ânimo.

- Eu mencionei que estava com bastante dinheiro para investir... Fui convidado. – Ele explicou com um sorriso meio triunfante, meio enigmático. Sam parecia mesmo ter pensado em tudo.

- Eles sabem quem é você. – Eu lembrei-o desse detalhe essencial. Essa Companhia também estava atrás dele, ele não passaria despercebido em uma reunião.

- Não poderão fazer nada comigo. – Deu de ombros convencido como sempre. Às vezes eu tinha a impressão de que ele achava que era imortal ou intransponível.

- Saberão que estamos investigando.

- Não perderemos nada com isso.

Fazia sentido. Quero dizer, na nossa atual situação, não teríamos nada a perder se mostrássemos que não estávamos quietos.

- A Mel viu o rosto de um deles. – Rebecca recordou-se em um ímpeto de memória.

- Ele não era um executivo. – Lembrei-a.

- Você disse que ele parecia ter controle sobre os outros dois.

- Isso não faz dele um executivo.

Sofia, que parecia estar bem compenetrada em pensamentos profundos, finalmente se pronunciou:

- Acho que faz um pouco de sentido. – Ajeitou os cabelos lisos no rabo de cavalo. – Mesmo se esse homem não estiver lá, pode haver algum subordinado. Minha irmã está sendo seguida todos os dias talvez reconheça, por alto, uma face que sempre vê e nunca prestou atenção suficiente.

- Como assim? – Perguntei intrigada.

- Sabe quando você tem a sensação de que já viu um rosto antes e não sabe onde ou quando?

- Sei.

- Pode acontecer com alguém que você viu alguma vez, alguém que tenha trombado em você por “acidente”, alguém com quem você já cruzou na rua... Sei lá. Qualquer resquício de memória serve.

- Ainda acho pouco provável. – Dei minha opinião em voz alta e tomei um gole do refrigerante que estávamos bebendo.

- É melhor que nada.

Fiquei pensando sobre esse assunto por um tempo. Era certo que iriam estar diversas pessoas naquela tal reunião, desde executivos milionários até garçons, motoristas, zeladores e outros empregados. Mesmo assim... Quais eram as chances de que eu reconhecesse um rosto?

- Acho que perdi um detalhe. – Sam interrompeu o silêncio depois de um tempo. Sofia encarou-o com precisão. – Eu fui convidado. Como vou levar a Mel comigo?

Ninguém soube responder a essa pergunta. Eu já não estava com bons pressentimentos sobre essa idéia de nos enfiarmos na cova dos leões acreditando, simplesmente, que não poderíamos ser atacados em um lugar onde, com certeza, havia a cobertura da imprensa. E o outro pensamento que também não me trazia tranqüilidade seria essa espécie de “encontro” com o Sam, além de ter que colocar muita pressão sobre mim mesma para reconhecer alguém. O que eu queria mesmo é que alguém tivesse outro plano.

- Nesse tipo de cerimônia, é normal que as pessoas levem acompanhantes, principalmente se tiverem relações fortes. – Rebecca comentou.

Uma luz pareceu ter se acendido na cabeça da minha irmã.

- Verdade! Basta que haja interações sociais sólidas, já li sobre isso.

Levantei a cabeça e fitei as duas que pareciam ter se entendido perfeitamente. Eu ainda estava tentando entender a aparente idéia genial. Elas pareciam estar conversando em outra língua.

- Mas ela não é jovem demais? – Sofia perguntou indecisa.

- Hoje em dia isso é bem comum.

- E quais são as evidências?

- Só precisamos de um anel. Não é difícil conseguir. – Rebecca disse despreocupadamente.

Meus olhos arregalaram-se ao ouvir essa última palavra e eu saí do estado de “transe” em que me encontrava para tentar me focar na atual discussão.

- Anel? Espera aí, do que vocês estão falando?

- Eu também gostaria de saber. – Sam concordou em potencial.

- Vocês vão fingir que são noivos. – As duas responderam juntas e sorridentes

Fim da parte 2.

Nota da Autora: Essa parte demorou um pouco mais porque ficou bem grande, tem quase o tamanho de duas partes juntas. Espero que vocês continuem comentando e que gostem do novo design do blog! Os comentários, como eu já disse, me estimulam a escrever! Beijos.

60 comentários:

Kinha disse...

Primeiraaa a comentaaar!
Achei super hiper mega master blaster maravilhoso essa história de eles fingirem ser noivos HIHSIOJS

Os dois são lindos juntos.

amei como sempre

posta mais =]

Daynara disse...

Meus pensamentos sórdidos foram interrompidos por algo que quebrou qualquer contexto imaginável para aquela situação. Uma orquestra sinfônica de no mínimo uns cinqüenta músicos tocando música erudita começou a ressoar a todo volume naquele automóvel. Uma melodia que intercalava o doce e o forte deixou meus olhos do tamanho de duas bolas de tênis. Isso não pareceu incomodar o coral que cantava algo suave em um dialeto desconhecido.

- Você está fora de si?

- É uma orquestra que usa melodias baseadas em Beethoven e Mozart como meio de comunicação interplanetar.

- Ela não é um doce? – Sarah perguntou satisfeita.


RIII LITROOOOOOOOOOOOOOS!!! TÔ RINDO ATÉ AGORA!!!

Oliiiiivia disse...

Ri muito na parte que elas tão dentro do carro HUIAHUIAHUIAIHUA

E mal posso esperar pra saber o q vai acontecer qndo eles fingirem que são noivos

Anônimo disse...

"Quero dizer, desde quando pedir ajuda a um assassino em série com dupla personalidade era mais viável que chamar a polícia?"

vendo por esse ponto a Mel parece mais louca q o Sam

adorei o cap. e como sempre fiquei super curiosa. O melhor foi ele mostrando, indiretamente, oq sente pela Mel e até mesmo o ciúmes q tem por causa do Noah

ficou legal o novo look, tomei o maior susto qndo eu vi, ja estava acostumada com o antigo

Monick disse...

amei!!!
mal posso esperar pelo proximo...genial essa historia deles terem q fingir q saum noivos a rebeca ea sofia foram bem mais inteligentes q eles!!(qse morri de rir)
vc escreve incrivelmente bem!!
odoorei o novo look!!

Milly disse...

Adoreeei essa idéia de eles fingirem q sao noivos xD
uahahsuahsuahuash'
espero ansiosa pelo próximo capitulo *---*
ahhh ta D+ o novo visual do blog!

Anônimo disse...

Muitoo bom!

Kru o outrooo!

Escrevendo cava vez mais estupidamente bem!

=D

Anônimo disse...

Noivos? nossa vai ser muito legal *O*
Adoreiiiiiiiiiiiiiiiii
Ansiosa para a proxima parte


by Carol Winchester

Anne xD disse...

Linddooo o novo look!

Ele conversando com ela foi perfeitoo.
demonstrando q gosta dela...
eles se amam, mas não admitem isso, rsrsrs.
A idéia de ficarem noivos foi otiiima mesmo, mas como ela vai explicar isso para o Noah e para a Sarah?? =o
cuuriosissimaaaaaaa pela proxima parteee!

Cada vez mais e mais viciadaaa.
Você escreve muitissimooooo bem, parabéns.

Ray disse...

Owwnnnnnnnnnnnn, eles vão fingir ser noivos *-* ?
Que foooooooooofo, posta mais, please *0*

Alexia Janyne disse...

ooun, ameei o novo visual do blog *--*
ameei a parte 2! cadê a parte 3 ?! tôo muuito curioosa!

beeijãão LinLe ;*
vc escreve muuito beem! *--*

Ju Fuzetto disse...

Melzinhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa !!!


Ameiiiiiiiiiii está perfeito!!!!!!!!!!!!!

Adorooooo lerrrr
essa estória!
beijos

Anamara disse...

Ótimooo... tudo empurra Mel pra Sam e vice-versa... kkkkk... Curiosa para o próximo capítulo, como sempre xD Bjo!

Anônimo disse...

Muuuuuuitoooo Lindoo *____*
Amando demais!
Super curiosa pra proxima parte!

Beijooos!
Giulia.
xD

Luciana disse...

adoreeeei muitoo!! Mal posso esperar pra ver o q vai aconteceeer! XD

camila disse...

aah, você não sabe o quanto eu fico feliz quando vejo um capítulo novo, o quanto isso enxe meu coração de vida e o quanto me deixa ansiosa pro próximo capitulo *-*'

queria que postasse mais rápido, mas acho que é dificil

nesse novo layout não tem mais a "previsão pro próximo capítulo"?
gostava mais do layout anterior, tinha cores mais vivas. mas esse é bem bonito tb ^^

Anamaria Cruz disse...

Meu, adorei essa parte
ta engraçada, mordivel, linda, perfeira e etc

eles vao fingir ser noivos?
que lindo *-*

eu quero um sam pra mim comofas?
posta logo a outra parte :D

Ana Luisa disse...

Posta mais logo!

Ray disse...

Mas eeeeeeeei...
Já que todos os capítulos são 'inversos' aos outros, tipo os primeiros 'O Invasor' e 'O visitante' e etc. Apooooooosto que o próximo vai se chamar, tipo, 'União' né?
É o inverso de 'Separação' *------*
Ownnnnn mais, mais *0*

Luh disse...

Amei, sério! *-* O design e o capítulo, claro! E é bom saber que vc está de novo confiante pra escrever sem ligar para os críticos desocupados.
Beijo!

Anônimo disse...

Pelo amor de Deus, esses dois que ficaa juntos LOGO, ja me viciei na serie..
Quando sai o proximo capitulo.. Ameeeeiiiiiiii. Essa serie TEM que ser publicada, vou ser a primeira a comprar.

Dandara disse...

gostei do novo layout sim , levei um susto qndo vi , achei q meu pc tava doido , ou eu tinha entrado no site errado. só sinto falta da previsão ;s

Drika disse...

Mais um capítulo perfeito. AMOOOOO essa história e não vou cansar de repetir isso!! Adorei o novo design do seu blog, ficou lindo!!!
Aguardando mais do que nunca o próximo capítulo onde Mel e Sam se passarão por noivosssssssss, uhuuu!!!
Beijosss!!!!

christiny disse...

ficou lindooo p blog... quando eu olhei pela primeira vez levei um susto com medo d q o livro inverso nao estivesse + aq rs... ai depois reparei q so tinha mudado o visual e foi uma tranformaçao super legalll, assim e maneiro ler e ter ao msm tempo um fundo lindo0!!!
este cap. foi super hiper ultra mega d+++... me amarrei no jeito q o sam ficou quando descobriu q era o noah no telefone com a mel e quando a amiga da mel e a irma dela falaram juntos q eles poderiam fingir q estao noivos, a cara deles deve ter ficado muii engraçado0... e aquela parte d carro quando a sofia bota a musik dela foi super legalll tbe tb a parte q o sam chega e fala boa noite e a amiga da mel e a mel levam um suto rsrsrs
aa na verdade eu amooo tddddd....
vc é super criativaaa
bjo!!!!!

Anônimo disse...

Aguardando ansiosíssima a próxima partee!!!
A história está maaaravilhosaaaaa!!!
continuaa escrevendooo!!! pleaseee!
xD

Beeeeeeeeijoos Giulia!

Tainá disse...

aaah lindo lindo demaais =D
vc é brilhaante *-*
pelo amor de Deus não demora pra postar mais ok? é viciante!
beijos :*

Andressa disse...

Continua logo. *-*

Anônimo disse...

Nooossaa!
Ameei esse Cap.... =^.^=
Acoompanhoo dsd do começoo!
e me Xooneii peloo bloog.!
Too akii toorcendoo pra virar livroo loogoo...

Meel e Saam Nooivos?\0/..


Pooostaa Looogoo ..Pleease!
*-*

Jina disse...

apaixonei nesse livro

Anônimo disse...

Comecei a ler o blog ontem e já terminei todos os episódios, estou ansiosa pelos próximos. Você escreve divinamente, com muitos detalhes, consegue prender a atenção do leitor, transcreve emoções e está desenvolvendo uma história sensacional. Parabéns pelo talento! Já sou fã *-*

By: Tati Lima.

Lorena disse...

fingir que estão noivos; que liindo ♥

Lorena disse...

. eu quero ler maiis :O

Anônimo disse...

Muuuito LIIINDO!
Você ta de parabéns!! escrever assim não é fácil!!

Posta Maisss!!! Por favoor!!
to muito curiosa pra ler eles se fingindo de noivos!!!

Beijoos
XD

Anônimo disse...

aaaaaaaaai, mais por favoor !
*------*
A curiosidade tã me matando, quero saber o que vai acontecer !!
BeejãO
e Parabéens !

Unknown disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
QUERO MAIS *O*, NÃO, EU PRECISO DE MAIS!!!!!
Pela Santa Hello Kit quando vai postar o próximo?????
Logo espero!!!
Alias a história ta ÓTIMA!!! Você tem um dom!! Não, você tem O DOM!!!!

Anônimo disse...

By: Alessandra

Oiii..

Bom, é obvio que estou amando a histório *-*
Mas agora, comentadno do novo design...esté lindo! xD
Só acho que seria melhor de jeito que estavam organizados os capítulos antes, cada um numa página, era mais fácil de encontrar xD

Não estou criticando Ok!!

^^

Anônimo disse...

Olha..eu descobri esse livro ontem...fiquei completamente viciada
kkkk
já devorei inteirinho
torço pra que saia a proxima parte logo!
;D

Unknown disse...

AMO ESSA HISTORIA!

NÃo vejo a hora de saber o q vai acontecer...

Sam&Mel. estão dentro do meu coração.:)

Unknown disse...

Lihn! kd vc?

ESTAMOS CM SAUDADES...

Manda Noticias!

bjkas

Anônimo disse...

By melissa
nossa...nao aguento mais esperar...preciso saber logo o que vai acontecer!!!garota vc me dexo viciada nesse livro!
kkk

Anônimo disse...

poxa adorei ou melhor amei ......

Só q esta na hora de vc escrever mais né estou viciada nesse livro.!!!!! Quero mais bjinhosss

Anônimo disse...

ameei!
voce realmente escreve super bem!
parabéns!
ps: noivos? você é a melhoor!

Júnia

Anônimo disse...

By: Alessandra

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAa

onde estão a próxima parte??
sem unha já!! hehe

Parabéns Mel...sua história é ótemaa!! ^^

Esperando anciosa ^^

Luh disse...

Parou por que? :((

Milly disse...

Parou por que? :(( [2]

Anônimo disse...

Lihn ,
nossa to curiosa ,
quero muito saber o resto...
Ps.: adorei a parte " noivos "


By: Hayetcha

Anônimo disse...

By:Alessandra
Eu juro que vo enlouquecer!!
Faz quase um mês desde a ultima postaem!!
Mel CADÊ VOCÊ??
=[

Nath disse...

Pelo demora espero que na próxima atualização tenha logo umas 3 partes hein u_u
xD cobranças a parte,tá ótimo,quero maaais!

Thay disse...

Parabéns ... Amo de paixão essa história ...
Primeira vez q eu to comentando ..
Ah história tá demais ... Aii quero um Sam pra mim ... Será q ele vao aceitar essa história de serem noivos ... To louca pra ver o restoo ..
Mais ...
Bjinhuuus ;*

Anônimo disse...

como assim??
TRES SEMANAS SEM CAPITULO NOVO!!
TRES SEMANAS!!
T-R-E-S S-E-M-A-N-A-S-!-!-!-!

VC QR ME VER MORTA E ENTERRADA NEH LIHN???

Anônimo disse...

por favor, posta logo!! Já n tenho mais unhas
pra roer!!! ;~~

Jéssica

Anônimo disse...

Lihn, vc está bem?
da ultima vez q eu li um post seu no orkut, estava falando de uns exames?. Pela demora fico até preocupada

Espero q td esteja bem, bjs

Anônimo disse...

Liiihn ,
SOCORRO estou muito curiosa
posta loooogo
HAHAHAHA'
Beeijos

By Hayetcha

Anônimo disse...

Querida Lihn,

Encontrei por acaso seu blog, comecei a ler
sua historia por curiosidade e decidi que só
iria comentar quando eu terminasse. Não sabia que você não tinha terminado a historia e agora estou muito curiosa para saber o final. Sou muito crítica e quando comecei a ler Inverso não botava fé que fosse boa - li em três dias tudo! rsrsrs Considere este comentario como um elogio e saiba que estou ansiosa pelo final. Ficarei atenta todos os dias a espera de uma nova parte da historia. Ah se você conseguir publicar o livro, concerteza o comprarei. Abraços Raquel Maranho

Larizinha disse...

Quero sempre mais *-*

Brubs disse...

Já estou ansiosa!!! será que sai hoje?!? *___*

Anônimo disse...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA não vou conseguir aguentar de tanta curiosidade!!!!!!!!quero o capitulo 12!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Thay disse...

Já estou ansiosa!!! será que sai hoje?!? *___*[2]

Anônimo disse...

peerfect mel

Gabby Tx disse...

Aiaiaiai ki maximuu!!!
Eu poderia muito bem fingir ser "a noiva" dele s a Mel n kisesse, apesar d td ele é mow TDB.


tow viciada vou sentir falta quando acabar.
x.o.x.o.

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