terça-feira, 28 de julho de 2009
– O que você disse a ele?
– Que eu era sua amiga, claro. Isso pareceu confundi–lo ainda mais. Ele tem algum problema de memória? Parecia tão à vontade comigo aquele dia no luau... – Ela começou a falar e a rir, arrumando os cabelos loiríssimos.
– Você disse alguma coisa além disso? Comentou sobre a festa? – Eu estava desesperada. Se isso fosse verdade, era provável que, quando Sam me levou à casa do avô, já tinha mais clareza da verdade, apesar de isso não ser algo tão fácil ou simples de se imaginar sobre si mesmo.
Nessa hora ouvi um pigarro alto.
– Srta. Grizzo... – O professor disse meu nome em tom de repreensão.
– Desculpe–me. Eu não percebi que o senhor havia chegado.
– A Srta. teria notado se não estivesse tão envolvida na conversa com a Srta. Barcelos. Olhem para frente. As duas. – Ele virou–se para a lousa, mas logo se voltou novamente para Rebecca. – E, Barcelos, você deveria saber que a sala de aula não é um salão de cabeleireiros.
O resto da aula passou devagar. Eu sempre achei incrível como o tempo parece ser relativo, a aula de matemática passou muito lentamente naquele dia. Isso porque eu precisava conversar mais com a Rebecca, precisava saber exatamente o que ela dissera ao Sam, ainda mais na frente da May. Inclusive, a May era outra que já deveria estar desconfiada. Um violoncelista que só faz apresentações durante o dia? No mínimo suspeito.
Era justamente por esse tipo de coincidências que o avô do Sam o mantivera naquela mansão por tantos anos. Seria bem mais simples de lidar com isso se ele tivesse menos contato social. Embora o Sam, mesmo morando sozinho, não fosse alguém que se envolve muito com os vizinhos (com a minha exceção, claro) ou tem muito contato social, era inevitável que esses tipos de incidentes acontecessem. Tirando como exemplo, Sofia no carro e agora Rebecca.
Outra coisa que me preocupava é essa tal lista, agora que isso ficara mais claro em minha cabeça, que as pessoas naquela foto e seus parentes estavam sendo caçados, flashes de memória eram mais nítidos em minha cabeça. Como se pedaços de conversa para os quais eu nunca dera a devida importância fizessem mais sentido agora.
Lembro–me, neste momento, perfeitamente bem que é costume de Sam ficar mais nervoso e apressado à medida que chega a hora de nossas despedidas noturnas. Então quando pergunto o que está acontecendo, ele diz que está cuidando da minha segurança. Eu não sabia que tipo de ações estão implícitas na palavra “cuidando”, mas é certo que me sentia um tanto quanto receosa sobre isso. Eu já pedira para ele parar com essa perseguição, mas agora ele sempre argumentava que estava dando um jeito de me tirar “dessa” e, por “dessa”, eu agora tinha sérias convicções de que ele se referira à lista.
Não era claro que havia uma lista, mas eu tinha a plena certeza de que ela existia. Era coincidência demais que praticamente todas as pessoas que pareciam ter estado naquela foto, naquele grupo, estavam mortas ou desaparecidas e, o pior e o que mais me afeta, seus filhos também. Era coincidência demais e eu me lembro perfeitamente bem de que comecei esta história dizendo que não acreditava nelas. Havia uma lista e eu sabia que meu nome e o do Sam estavam nela e, ao mesmo tempo, tinha a certeza de que não haveria maneiras de sairmos de lá. Não até darmos o que estavam procurando. Eu precisava pegar minha encomenda logo.
Dois outros horários se passaram sem que eu tivesse tempo de esclarecer com Rebecca as exatas palavras que disse ao Sam e à May no sábado. Eu, também, decidira contar a verdade sobre o que estava acontecendo. Rebecca nunca me decepcionara como amiga, nunca contara meus segredos. Ela tinha um voto de confiança e poderia me ajudar.
– Meu Deus, o que aconteceu com você? – Eu perguntei assustada quando olhei o rosto sangrando de Lean no intervalo do lanche. Havia um corte enorme em sua testa, parecia bem feio.
– Estava no treino de basquete, tive o azar de sentar logo abaixo da estátua do guerreiro.
– Ai. – Eu exclamei só ao pensar em alguém que se levantou e deu com a cabeça na espada de concreto do guerreiro.
– Pois é.
– E a enfermeira?
– Tirou férias justo hoje. – Ele respondeu pensando, certamente, no azar.
– Não tem ninguém lá?
– A substituta teve que socorrer o sobrinho que torceu o pé.
– Nossa.
– Eu sei. – Ele disse incomodado e irritado com toda a situação.
– O que houve com você? – Rebecca perguntou preocupada quando sentou–se à nossa mesa ao lado do Lean.
– Estátua. – Ele respondeu apenas. A impressão que eu tinha era de que ele havia ficado com muita vergonha após eu tê–lo pegado com ela bêbada na festa. Acho que ele se sentia culpado por tirar vantagem quando ela estava visivelmente fora de si.
– Uh, está muito feio. Vem cá. – Ela o puxou para mais perto, tirou um lenço da bolsa enorme com estampa de zebra e começou a dar batidinhas suaves com o pano em cima do machucado. Estava ficando mais limpo, com certeza.
– Não precisa.
– Fica calado. – Ela evitou a tentativa dele de se desvencilhar do lenço.
– Você não gosta de tocar em mim. Azar, se lembra?
– Eu posso lidar com um pouco de má sorte. – Ela sorriu e continuou limpando.
Desta vez ele conseguiu sair do braço que o prendia, levantou–se e disse apenas:
– Obrigado. – Tinha ficado visivelmente magoado.
– O que foi isso? – Ela perguntou inocentemente.
– Sou eu quem pergunta: o que foi isso?
– Ele precisava de um curativo.
– Sei. – Eu respondi sem acreditar nessa mentira deslavada. Estava na cara que Rebecca começou, de uma hora para a outra, a ser mais gentil com o Lean.
– Tive o sonho da praia de novo. – Ela confessou.
Eu arregalei os olhos por impulso. Surgia um nó em minha garganta a cada vez que esse assunto era desenterrado. Eu não sabia se contava ou se deixava passar. Em qualquer uma das duas opções, Rebecca ficaria muito irritada comigo se descobrisse e, eu sabia, ela iria descobrir uma hora ou outra. O certo era que a verdade tivesse sido contada no dia seguinte ao luau, mas, novamente, eu não tive coragem suficiente para dizê–la. O que me restava refletir era se meus erros me tornavam humana ou se eu era humana porque errava.
– Preciso contar–lhe uma coisa.
Eu tinha outros problemas que exigiam minha maior atenção. O casal Rebecca e Lean não estava no topo da minha lista.
– Diga. – Ela parou de comer a barra de cereais e fitou–me com atenção.
– Antes preciso que me conte exatamente o que você disse ao Sam no sábado.
Ela não suspirou nem mais uma vez antes de relatar toda a situação, desde o momento em que o viu, até o momento em que lhe deu as costas. Contara com todos os detalhes a feição da ruiva ao ouvir a história e como ele parecera ter ficado assustado ao vê–la chamando pelo nome.
Levantamos do banco onde estávamos sentadas e continuei a ouvi–la enquanto andávamos pelo pátio um pouco lotado por causa da hora do intervalo. Logo iria bater o sinal e ficaria ainda mais difícil chegarmos às salas, lugar onde, caso chegássemos atrasadas, perderíamos a aula.
Quando ela terminou de falar, eu senti que não poderia agüentar mais. Eu sabia que era um segredo, sabia que não poderia contar, mas essa história já estava me atravessando o pescoço e, obviamente, Rebecca desconfiou que alguma coisa não estava certa. Chegou até a me perguntar se o Sam tinha algum irmão gêmeo ou coisa parecida. Porque, é claro, apesar de serem a mesma pessoa, é perceptível a diferença entre as duas personalidades. As feições, os olhares, a forma como conversam e agem nas mais simples coisas cotidianas.
Então eu contei–lhe a verdade. Contei sobre como ele alternava duas pessoas diferentes e que a causa disso era o acidente de carro que os pais sofreram. Não pude contar sobre como eu estava ameaçada de morte ou sobre as pessoas que Sam matara. Eu tinha a certeza de que isso a deixaria ainda mais aterrorizada e preocupada. Ela nunca apoiaria o meu namoro com um suposto assassino e seria capaz de fazer coisas impensadas, como ir à polícia, caso soubesse sobre como eu deveria ter sido o alvo na noite em que Felix foi ferido.
Sendo assim, contei–lhe somente parte da verdade. A parte emocional com que eu sofria. A maneira como meu peito apertava e doía quando eu o via durante o dia e não podia tocá–lo ou dizer o que sentia. Isso era a parte cruel, correr perigo de morte era o lado mais banal porque de nada vale a existência se não é possível viver emoções fundamentais com intensidade.
E eu deixei bem claro que, apesar de todo o sofrimento, valia a pena continuar insistindo nesse relacionamento. Era certo que eu não poderia tê–lo por inteiro, mas o que eu sentia era tão forte que, por enquanto, tê–lo somente pelas partes satisfazia meu ser cheio de sentimentos novos.
– Deixa eu ver se eu entendi... – Rebecca fitou–me com os olhos castanhos enquanto andávamos. – Você está, literalmente, namorando um cara e ele não sabe disso.
– Bem, parte dele sabe. – Suspirei pensativa. Meu Sam eram dois Sam e isso não me incomodava tanto assim. Aliás, ter duas personalidades distintas era o que me fazia inteiramente atraída a ele. Um era sensível, romântico e tímido, o outro era selvagem, perigoso e corajoso. Qual o problema de amar uma pessoa que pode ser o branco e o preto, a noite e o dia ao mesmo tempo?
Eu certamente sabia qual era o grande problema. Eu não havia dito isso ainda, quero dizer, ele ainda não ouvira um “eu te amo” vindo da minha parte. Porque, na verdade, foi ali, conversando com a Rebecca, que realmente percebi o quanto ele era imprescindível para minha existência. Foi só ali que eu pude contabilizar minhas emoções, tirar as coisas a limpo e entender o que se passava dentro de mim.
Era isso, eu o amava. O amava com tanta intensidade que doía. Amo como seus olhos serenos conseguem me acalmar durante a luz do dia e, da mesma maneira, amo como o verde selvagem faz meu coração bater acelerado apenas com um olhar. E eu precisava do verde. Aquele verde era essencial para mim, como a última gota de absinto da garrafa.
Talvez eu estivesse com medo demais para admitir. Aliás, eu tinha a certeza de que o meu receio era o que estava me impedindo de verbalizar palavras tão doces e simples. Palavras tão verdadeiras...
– Por que não conquista logo a outra parte dele?
– O outro Sam não sabe o que acontece. – Rebecca também não estava ciente da história toda. Não sabia que, além de ter dupla personalidade e o fato de um Sam ser totalmente inverso ao outro, a segunda parte dele colocava a própria vida em risco se aventurando à noite pela cidade para tirar meu nome de uma lista de morte. E eu não iria dizer isso a ela.
– Você sabe porque isso tudo está acontecendo. – Ela constatou com seriedade.
– O que quer dizer?
– Você sabe o que quero dizer. Já percebeu o quanto você se envolve nessa teia de mentiras e omissões e depois não consegue mais sair dela?
– Eu sei, mas eu não faço isso por mal. Eu só tento fazer com que as coisas funcionem.
– E eu sei disso. E esse é o problema. Você não é Deus, Mel. Você não é alguém responsável por todo mundo. Alguém que tem sempre que ficar cuidando para que todas as partes fiquem satisfeitas, você não é uma mãezona.
Eu poderia ter ficado um pouco ofendida por isso, mas eu gostava da maneira como Rebecca me dizia as coisas sem abusar de eufemismos. Era o jeito dela, falava e pronto.
– O problema é que você sempre tenta proteger o Sam, a outra parte dele, a Sofia, a sua mãe, seus vizinhos. Então você omite. Concordou com essa maluquice de que o Sam é criança demais para saber a verdade sobre ele mesmo, qual é, o cara tem vinte anos e você não é a mãe dele. Omitiu que ele tem esse problema e ainda omite para a sua mãe que um cara que pode ser perigoso, porque ainda não esqueci a história que você me contou na noite em que o Felix foi baleado, está te visitando todas as noites na sua casa.
– Mas eu...
– Eu ainda não terminei. – Ela sorriu tentando parecer simpática. – E o pior, você está omitindo que está completamente apaixonada por ele.
Odeio quando as pessoas conseguem me ler tão bem assim. Essa era a total verdade que eu vinha tentando negar de uns tempos para cá. Eu estava apaixonada, eu estava amando, mas preferia fingir que não sentia as pernas tremerem ou o coração tentando pular para fora do meu peito.
– E não adianta falar que não está. Eu percebo como você revira os olhos somente com a simples menção do nome.
– Eu faço isso? – Eu perguntei assustada.
– Faz. – Ela riu como se isso fosse, de alguma forma, engraçado. – E por que não diz isso a ele?
– Eu não tenho certeza se eu o amo realmente. Você sabe que isso implica muita responsabilidade, “amor” é uma palavra séria.
Ela riu mais uma vez.
– Não sei se você está tentando enganar a mim ou a si mesma. Você nunca pareceu tão bem ao lado de alguém como parece agora. Nunca falou tão flutuante sobre alguém como faz agora. Até a sua pele está mais brilhante. Do que você tem medo?
– Eu não sei. – Eu me esforcei para ser sincera. Já que estávamos discutindo a história sem máscaras, eu queria que continuasse assim. – Eu me considero uma garota forte.
– Amar não te faz mais fraca, pelo contrário.
– É que ele me faz perder todas as defesas, todo o raciocínio, todo o senso crítico. Sinto que entro em uma zona perigosa, onde não posso ter o controle do que faço. Quando estou ao lado dele, não há como evitar que eu haja por instinto.
– E qual o grande problema? Continue assim e logo vai virar a Sofia. Você não precisa fazer cálculos para saber quando beijá–lo. Você simplesmente sabe. Não dá para ser racional quando se ama.
Embora esta última fala dela fosse totalmente verdadeira, eu tive a sutil impressão de que ela não estava mais falando de mim.
– É por isso que você está ignorando as superstições do azar, não é? Porque está agindo como uma boba apaixonada que não sabe raciocinar direito quando vê quem ama.
– Cale–se, sua boba apaixonada que não sabe admitir que está amando. – Ela riu amigavelmente e empurrou meu ombro.
– Então somos duas bobas apaixonadas. – Eu suspirei sem mais esperanças. Era definitivo. – Eu culpo os homens.
– Eu culpo os hormônios.
Durante o resto das aulas daquele dia eu fiquei planejando. A conversa com Rebecca me fizera acordar para a realidade. Agora que eu tinha admitido meus sentimentos para ela e, principalmente, para mim mesma eu teria que verbalizá–los para a pessoa central desse assunto: o Sam. Eu estava muito receosa de isso apontar que estava completamente cega por ele, que ele e o verde dos olhos poderiam me controlar a qualquer hora se quisessem. Ele fora o caçador, eu fora a presa.
O grande problema é que eu não conseguia me decidir como dizer. Se deveria simplesmente chegar e dizer logo sem mais delongas ou se isso requereria um momento mais especial.
Descartei logo a noite de hoje. Em minha cabeça, tentei convencer–me que o motivo era o de que iríamos levar Sofie para o curso e, uma declaração dessas, não pode ser dita na frente de terceiros. No fundo, contudo, eu sabia que eu simplesmente estava adiando isso até o momento em que estivesse mais preparada.
É claro que outro fator que me deixava duvidosa seria a resposta dele. Ele poderia dizer que me amava também... ou não. Sam é muito difícil de se ler, principalmente sua segunda parte, que tenta sempre encobrir tudo com aquele humor irônico. A primeira personalidade era mais sensível e romântica, já a outra era bastante imprevisível e tinha grandes dificuldades ao demonstrar sentimentos. Quero dizer, as poucas conversas que nos levavam a discutir sobre nós dois geralmente acabavam em choro (meu) ou a sensação mútua de que não deveríamos estar envolvidos. Resumindo, minha declaração tinha tudo para ser um desastre.
– Vamos te levar ao curso. – Sam informou Sofia, depois de horas de meus intermináveis pensamentos torturantes sobre o que eu deveria dizer se, é claro, resolvesse dizer o que eu deveria dizer. Eu sei, confuso.
Eu passara tanto tempo no sofá refletindo sobre mim mesma, meus medos e reais sentimentos que, quando Sam chegou na hora combinada, havia a marca exata do meu corpo no estofado.
– Você vai dirigir? – Sofia olhou para mim e perguntou receosa, ainda incrédula a respeito das minhas novas capacidades de direção.
– Ela já teve algumas lições... – Sam intercedeu, mas ainda incerto a respeito das minhas novas capacidades de direção. – Além do mais, não é muito longe... – Ele tentou amenizar o sentimento de catástrofe que, no fundo, acreditava que poderia acontecer.
Eu mal estava escutando. Ainda estava imersa nas minhas reflexões profundas sobre dizer algo que as pessoas dizem para as outras todos os dias. Quero dizer, as pessoas sempre dizem que amam as pessoas que são muito próximas a elas, não é? Não é algo tão grande assim... Rebecca estava certa, eu não conseguia me convencer. Eu deveria ter um sistema próprio de “anti–auto–enganação”.
– Eu vou a pé. Fim. – Ela disse decidida.
– Qual é! Ela já consegue fazer o básico, só precisa de mais treino... – A incerteza na voz dele estava aumentando.
– Que treine com a sua vida então! – Sofia cruzou os braços e respondeu irritada. – Eu ainda não consegui sequer um doutorado. Não estou pronta para morrer.
A palavra “morrer” também me fez desligar um pouco desse diálogo. Sofia acabara de dizer que só estaria contente ao morrer quando alcançasse pelo menos um doutorado, e eu? Quando eu sentiria que poderia morrer a qualquer momento e que não faria a diferença porque eu havia vivido e minha vida valera à pena?
– Você precisar dar uma chance à ela.
– Você está me pedindo para entrar em um carro com uma pessoa que precisa pensar por um momento qual lado é a direita e qual é a esquerda.
– No fim ela acaba descobrindo. – Sam tentou emendar. – Seja compreensível, apóie sua irmã.
– Eu estou apoiando! – Alterou a voz para contrariar. – Mel, vá na frente de carro e tente não morrer. – Ela deu uma batidinha no meu ombro tentando demonstrar o apoio, pegou a maleta preta e já iria sair pela porta da frente.
– Sofie, não vamos morrer. – Sam falou como argumento final tentando convencê–la. – Podemos matar algum gato ou atingir um poste, mas morrer é demais.
Cansei daquele papo.
– Já chega. – Tomei as chaves da mão dele. – Vocês vão comigo e vão agora. Andem!
Era extremamente irritante o diálogo entre seu namorado e a sua irmã discutindo qual era o estrago máximo que você poderia fazer no comando de um veículo. Eu estava decidida a mostrar para esses dois chatos que eu era capaz de dirigir.
– Mas eu já disse que eu não... – Minha irmã tentou contestar.
– Eu não estou perguntando, eu estou dizendo que você vai.
– Se eu morrer, eu te mato. – Ela sibilou apenas. Depois saiu do apartamento marchando em irritação. Não havia me contrariado porque vira que, desta vez, eu estava determinada.
– Ficou brava? – Sam perguntou rindo da minha ira decisiva.
– Atropelar um gato... Francamente.
– Qual o problema? – Ele deu aquele sorriso torto. – O Tosha ficaria satisfeito.
– Fique na minha frente e você verá qual gato eu vou atropelar. Vamos. – Eu passei por ele que ainda estava rindo de mim, agora, dando gargalhadas da minha fúria repentina.
Sam me seguiu pelas escadas estreitas do prédio e eu percebi que ele havia estacionado o carro na frente da entrada principal do condomínio. Sofie já estava na calçada, contemplando o veículo preto e batendo os pés no chão em nervosismo.
Agora que eu estava lá de fora, não achava mais brilhante essa idéia de dirigir. Se eu já tinha sérios problemas para controlar o carro de dia, imagina quando a noite mais escura já havia chegado? A visibilidade seria muito menor, o que significava que eu teria muito mais chances de arrebentar o veículo novinho que o Sam havia comprado.
– Eu acho que... Bom, o carro é seu e é novo e...
– Está fraquejando? – Ele indagou com aquele sorriso de quem adora me ver encabulada.
– Não.
Mais uma vez, meu orgulho venceu.
– Você deveria ter comprado um trator. – Sofia alertou receosa. Percebi que suas narinas estavam tremendo quando abriu a porta de trás e entrou no automóvel. Não perdeu nem um segundo antes de amarrar os cintos de segurança com toda a força que tinha.
– Vai dar tudo certo. – Sam sorriu para mim tentando parecer bondoso e simpático. Ele não conseguia dar esse tipo de sorriso, então percebi que ele também não acreditara nas próprias palavras. – Fique calma.
– Eu estou calma.
– Então não fique nervosa.
– Não vou ficar. – Era exatamente ele, o nervosismo, que estava me fazendo contrariar todas as frases como modo de defesa.
– Olha o centro de pesquisas fica perto. Andaremos oito quarteirões, depois viraremos à esquerda, mais três quarteirões, passamos pela ponte, esquerda de novo e pronto. Simples. – Ele foi me explicando enquanto sentou no banco do passageiro e se certificou do cinto.
– Isso significa exatamente 58 postes de iluminação, três semáforos, uma ponte e enésimos carros no caminho à noite. Ela tem 12% de chance de não atingir nada.
– Pare de aterrorizá–la. Ela precisa aprender.
– Depois que ela tirar carteira, vou ficar lisonjeada em ir com ela, até lá, somos suicidas.
– Fique quieta! – Eu falei enérgica sem olhar para o banco de atrás. – Estou tentando me concentrar.
– Você consegue. – Sam disse, desta vez, parecendo que realmente acreditava em mim.
Eu enfiei a chave na ignição. Eu sabia o que fazer. Sabia exatamente como preceder, mas o medo era tão forte que me fizera esquecer até como eu me chamava. Era muita responsabilidade em minhas mãos e, por falar em mãos, eu conseguia sentir o suor frio escorrendo por elas.
Fechei os olhos por um momento e coloquei as duas mãos sobre o volante do carro. Estava tentando passar todo o plano mais uma vez na minha cabeça para tentar não falhar. De repente, lembrei–me da frase de Cristian Trent “se você está convencida de que não consegue, não conseguirá”. Então um sentimento novo brotou em mim, eu iria chegar intacta ao curso de Sofia. Girei a chave e liguei o carro.
– Ótimo, agora devagar... – Sam falou satisfeito. Aposto que, em sua mente, dissera para si mesmo que eu desistiria na última hora. Acho que ficou contente por estar errado. Eu não desisto.
Fiz exatamente da maneira que ele me ensinara nos dias que passamos treinando no estacionamento vago. Conclui cada etapa com sucesso e já estava na hora de sairmos da porta do condomínio. O nervosismo me fez apertar muito fortemente o acelerador, o que nos fez voar para frente e quase atingir uma árvore.
– Freia, freia! – Sofia gritou por impulso e eu freei.
O corpo de todas as pessoas dentro do veículo foi projetado para frente e, após a freada brusca, para trás. Meus cabelos voaram por cima do meu rosto e eu comecei a respirar pela boca. Sam não disse nada, quando eu o contemplei pelo canto do olho, ele estava com aquela expressão estranha de quem está tentando não rir. Sofia, ao contrário, não estava achando graça alguma.
– Eu não contabilizei as árvores no meu cálculo. Nossas chances caíram para 4%.
Isso me irritou. Acelerei novamente e virei o volante para a esquerda para sairmos do acostamento. Uma motocicleta buzinou quando quase a acertei.
– Olhe no retrovisor. – Sam me corrigiu.
Isso teria sido mais útil se ele tivesse dito mais cedo. Agora eu já estava no centro da avenida e havia muitos carros passando por mim buzinando ou virando o pescoço para entender porque não estávamos nos movendo.
Acelerei outra vez. Pelo espelho do centro, pude ver Sofie tampando os olhos com as mãos. Agora foi mais fácil, eu deveria andar oito quarteirões em linha reta, qual dificuldade poderia ter?
O automóvel foi deslizando suavemente pela avenida, em uma velocidade normal, sem mais desafios, sem ultrapassagens, sem perigo. Eu estava orgulhosa de mim mesma. Aumentei um pouco a velocidade porque estávamos um pouco atrasados para deixar Sofia no Centro. Enrolamos muito com o dilema de quem deveria dirigir e, olha, eu estava desempenhando bem essa função... Até o primeiro semáforo.
Eu estava na velocidade limite quando vi a luz amarela, por um momento ou dois fiquei na dúvida se deveria frear bruscamente ou acelerar mais um pouco e passar. A segunda opção me pareceu melhor naquele momento. Acelerei diante da luz amarela que, logo depois, ficou vermelha, então assustei alguns pedestres na calçada, quase bati em um caminhão que passava no semáforo verde da outra avenida e arranquei alguns galhos das plantas que se encontravam no canteiro central.
Depois disso, eu perdi totalmente o controle do veículo por causa do susto. Quase acertei a traseira de um carro na frente do nosso que estava em velocidade menor, fiz a ultrapassagem e desmontei um ciclista da própria bicicleta, freei bruscamente no próximo semáforo (eu havia aprendido a lição... ou quase) e Sofia bateu a cabeça no vidro, mas o mais importante de tudo: chegamos inteiros ao nosso destino.
– Chão! Chão firme! – Sofia gritou desesperada quando saiu correndo do veículo. Pegou a maleta preta e sumiu de vista.
Sam começou a dar gargalhadas no banco do passageiro e eu ainda estava em choque. Não foi uma completa catástrofe como tinha grandes chances de ter sido, mas estava longe de ser uma viagem tranqüila.
– Do que está rindo?
– Foi divertido. – Ele continuou olhando para frente e rindo de alguma piada que só era contada em sua cabeça.
– Foi um desastre.
– Não exagere.
– Eu quase atropelei uma pessoa.
– Qual é, ele montou na bicicleta de novo em dois segundos! – Ele riu com mais intensidade ainda.
– Podia ter sido perigoso, Sam! – Eu me alterei com a maneira com que ele costumava levar meus desastres como humor.
– Você precisa relaxar mais. Eu não teria deixado você atropelar alguém. – Ele ficou mais sério agora, mas ainda continha aquela expressão bem humorada. – Também não deixaria você colocar nossa vida em risco. Só prometa nunca fazer isso sozinha. Nunca.
– Certo.
– Enquanto você não tiver carteira, não vai dirigir sozinha.
– Tudo bem. – Eu estava tão assustada que poderia concordar com qualquer coisa naquele momento, mas Sam estava correto. Só nos arriscamos assim porque ele estava ao meu lado, pessoas que não sabem dirigir jamais devem tentar fazer algo sozinhas.
Ficamos parados dentro do automóvel por mais um tempo, eu ainda precisava me recuperar dessa experiência marcante. Eu tinha sérias suspeitas de que minha respiração poderia nunca mais voltar ao normal, mas eu estava enganada. Depois de alguns minutos, consegui me acalmar.
– Eu acho que arranhei seu carro. – Eu disse finalmente. Ouvi o tilintar de vários objetos diferentes arranhando o metal durante o trajeto.
– Sem problemas. – Ele sorriu com o habitual humor negro. – Comprei esse carro para praticarmos, não esperava nem que fosse voltar inteiro. Você fez um bom trabalho.
– Sabia que você é irritante?
– Eu sou irritante. – Ele deu de ombros despreocupadamente.
– Sim, muito. Você me irrita ao máximo. Fica rindo do que faço de errado, sempre com esse sorrisinho torto irritante. E a sua perfeição me incomoda.
Ele arregalou os olhos ainda sorrindo.
– Perfeição?
– Sim.
– Eu estou tão longe da perfeição que nem consigo mais vê–la.
Eu não discuti. Não faz o meu feitio ficar babando por causa de um cara, mesmo que seja o Sam e, tudo bem, ele fosse perfeito, ou quase.
– Eu posso falar com a Sarah sobre consertar o carro e...
– Não precisa.
– Mas eu arranhei.
– Estou pouco me importando para o carro.
– Está vendo o que me irrita? Você é rico...
– Eu sou rico. – Ele me interrompeu.
– Você é engraçado.
– Eu sou engraçado.
– Você é sexy. – Eu continuei minha lista de reclamações acerca do Sr. Perfeição.
– Eu sou sexy. – Ele sorriu torto e depois mordeu o lábio.
Eu achava incrível como ele poderia ser convencido.
– Eu sou seu. – Ele completou depois de algum tempo.
Eu não disse nada.
– Que eu era sua amiga, claro. Isso pareceu confundi–lo ainda mais. Ele tem algum problema de memória? Parecia tão à vontade comigo aquele dia no luau... – Ela começou a falar e a rir, arrumando os cabelos loiríssimos.
– Você disse alguma coisa além disso? Comentou sobre a festa? – Eu estava desesperada. Se isso fosse verdade, era provável que, quando Sam me levou à casa do avô, já tinha mais clareza da verdade, apesar de isso não ser algo tão fácil ou simples de se imaginar sobre si mesmo.
Nessa hora ouvi um pigarro alto.
– Srta. Grizzo... – O professor disse meu nome em tom de repreensão.
– Desculpe–me. Eu não percebi que o senhor havia chegado.
– A Srta. teria notado se não estivesse tão envolvida na conversa com a Srta. Barcelos. Olhem para frente. As duas. – Ele virou–se para a lousa, mas logo se voltou novamente para Rebecca. – E, Barcelos, você deveria saber que a sala de aula não é um salão de cabeleireiros.
O resto da aula passou devagar. Eu sempre achei incrível como o tempo parece ser relativo, a aula de matemática passou muito lentamente naquele dia. Isso porque eu precisava conversar mais com a Rebecca, precisava saber exatamente o que ela dissera ao Sam, ainda mais na frente da May. Inclusive, a May era outra que já deveria estar desconfiada. Um violoncelista que só faz apresentações durante o dia? No mínimo suspeito.
Era justamente por esse tipo de coincidências que o avô do Sam o mantivera naquela mansão por tantos anos. Seria bem mais simples de lidar com isso se ele tivesse menos contato social. Embora o Sam, mesmo morando sozinho, não fosse alguém que se envolve muito com os vizinhos (com a minha exceção, claro) ou tem muito contato social, era inevitável que esses tipos de incidentes acontecessem. Tirando como exemplo, Sofia no carro e agora Rebecca.
Outra coisa que me preocupava é essa tal lista, agora que isso ficara mais claro em minha cabeça, que as pessoas naquela foto e seus parentes estavam sendo caçados, flashes de memória eram mais nítidos em minha cabeça. Como se pedaços de conversa para os quais eu nunca dera a devida importância fizessem mais sentido agora.
Lembro–me, neste momento, perfeitamente bem que é costume de Sam ficar mais nervoso e apressado à medida que chega a hora de nossas despedidas noturnas. Então quando pergunto o que está acontecendo, ele diz que está cuidando da minha segurança. Eu não sabia que tipo de ações estão implícitas na palavra “cuidando”, mas é certo que me sentia um tanto quanto receosa sobre isso. Eu já pedira para ele parar com essa perseguição, mas agora ele sempre argumentava que estava dando um jeito de me tirar “dessa” e, por “dessa”, eu agora tinha sérias convicções de que ele se referira à lista.
Não era claro que havia uma lista, mas eu tinha a plena certeza de que ela existia. Era coincidência demais que praticamente todas as pessoas que pareciam ter estado naquela foto, naquele grupo, estavam mortas ou desaparecidas e, o pior e o que mais me afeta, seus filhos também. Era coincidência demais e eu me lembro perfeitamente bem de que comecei esta história dizendo que não acreditava nelas. Havia uma lista e eu sabia que meu nome e o do Sam estavam nela e, ao mesmo tempo, tinha a certeza de que não haveria maneiras de sairmos de lá. Não até darmos o que estavam procurando. Eu precisava pegar minha encomenda logo.
Dois outros horários se passaram sem que eu tivesse tempo de esclarecer com Rebecca as exatas palavras que disse ao Sam e à May no sábado. Eu, também, decidira contar a verdade sobre o que estava acontecendo. Rebecca nunca me decepcionara como amiga, nunca contara meus segredos. Ela tinha um voto de confiança e poderia me ajudar.
– Meu Deus, o que aconteceu com você? – Eu perguntei assustada quando olhei o rosto sangrando de Lean no intervalo do lanche. Havia um corte enorme em sua testa, parecia bem feio.
– Estava no treino de basquete, tive o azar de sentar logo abaixo da estátua do guerreiro.
– Ai. – Eu exclamei só ao pensar em alguém que se levantou e deu com a cabeça na espada de concreto do guerreiro.
– Pois é.
– E a enfermeira?
– Tirou férias justo hoje. – Ele respondeu pensando, certamente, no azar.
– Não tem ninguém lá?
– A substituta teve que socorrer o sobrinho que torceu o pé.
– Nossa.
– Eu sei. – Ele disse incomodado e irritado com toda a situação.
– O que houve com você? – Rebecca perguntou preocupada quando sentou–se à nossa mesa ao lado do Lean.
– Estátua. – Ele respondeu apenas. A impressão que eu tinha era de que ele havia ficado com muita vergonha após eu tê–lo pegado com ela bêbada na festa. Acho que ele se sentia culpado por tirar vantagem quando ela estava visivelmente fora de si.
– Uh, está muito feio. Vem cá. – Ela o puxou para mais perto, tirou um lenço da bolsa enorme com estampa de zebra e começou a dar batidinhas suaves com o pano em cima do machucado. Estava ficando mais limpo, com certeza.
– Não precisa.
– Fica calado. – Ela evitou a tentativa dele de se desvencilhar do lenço.
– Você não gosta de tocar em mim. Azar, se lembra?
– Eu posso lidar com um pouco de má sorte. – Ela sorriu e continuou limpando.
Desta vez ele conseguiu sair do braço que o prendia, levantou–se e disse apenas:
– Obrigado. – Tinha ficado visivelmente magoado.
– O que foi isso? – Ela perguntou inocentemente.
– Sou eu quem pergunta: o que foi isso?
– Ele precisava de um curativo.
– Sei. – Eu respondi sem acreditar nessa mentira deslavada. Estava na cara que Rebecca começou, de uma hora para a outra, a ser mais gentil com o Lean.
– Tive o sonho da praia de novo. – Ela confessou.
Eu arregalei os olhos por impulso. Surgia um nó em minha garganta a cada vez que esse assunto era desenterrado. Eu não sabia se contava ou se deixava passar. Em qualquer uma das duas opções, Rebecca ficaria muito irritada comigo se descobrisse e, eu sabia, ela iria descobrir uma hora ou outra. O certo era que a verdade tivesse sido contada no dia seguinte ao luau, mas, novamente, eu não tive coragem suficiente para dizê–la. O que me restava refletir era se meus erros me tornavam humana ou se eu era humana porque errava.
– Preciso contar–lhe uma coisa.
Eu tinha outros problemas que exigiam minha maior atenção. O casal Rebecca e Lean não estava no topo da minha lista.
– Diga. – Ela parou de comer a barra de cereais e fitou–me com atenção.
– Antes preciso que me conte exatamente o que você disse ao Sam no sábado.
Ela não suspirou nem mais uma vez antes de relatar toda a situação, desde o momento em que o viu, até o momento em que lhe deu as costas. Contara com todos os detalhes a feição da ruiva ao ouvir a história e como ele parecera ter ficado assustado ao vê–la chamando pelo nome.
Levantamos do banco onde estávamos sentadas e continuei a ouvi–la enquanto andávamos pelo pátio um pouco lotado por causa da hora do intervalo. Logo iria bater o sinal e ficaria ainda mais difícil chegarmos às salas, lugar onde, caso chegássemos atrasadas, perderíamos a aula.
Quando ela terminou de falar, eu senti que não poderia agüentar mais. Eu sabia que era um segredo, sabia que não poderia contar, mas essa história já estava me atravessando o pescoço e, obviamente, Rebecca desconfiou que alguma coisa não estava certa. Chegou até a me perguntar se o Sam tinha algum irmão gêmeo ou coisa parecida. Porque, é claro, apesar de serem a mesma pessoa, é perceptível a diferença entre as duas personalidades. As feições, os olhares, a forma como conversam e agem nas mais simples coisas cotidianas.
Então eu contei–lhe a verdade. Contei sobre como ele alternava duas pessoas diferentes e que a causa disso era o acidente de carro que os pais sofreram. Não pude contar sobre como eu estava ameaçada de morte ou sobre as pessoas que Sam matara. Eu tinha a certeza de que isso a deixaria ainda mais aterrorizada e preocupada. Ela nunca apoiaria o meu namoro com um suposto assassino e seria capaz de fazer coisas impensadas, como ir à polícia, caso soubesse sobre como eu deveria ter sido o alvo na noite em que Felix foi ferido.
Sendo assim, contei–lhe somente parte da verdade. A parte emocional com que eu sofria. A maneira como meu peito apertava e doía quando eu o via durante o dia e não podia tocá–lo ou dizer o que sentia. Isso era a parte cruel, correr perigo de morte era o lado mais banal porque de nada vale a existência se não é possível viver emoções fundamentais com intensidade.
E eu deixei bem claro que, apesar de todo o sofrimento, valia a pena continuar insistindo nesse relacionamento. Era certo que eu não poderia tê–lo por inteiro, mas o que eu sentia era tão forte que, por enquanto, tê–lo somente pelas partes satisfazia meu ser cheio de sentimentos novos.
– Deixa eu ver se eu entendi... – Rebecca fitou–me com os olhos castanhos enquanto andávamos. – Você está, literalmente, namorando um cara e ele não sabe disso.
– Bem, parte dele sabe. – Suspirei pensativa. Meu Sam eram dois Sam e isso não me incomodava tanto assim. Aliás, ter duas personalidades distintas era o que me fazia inteiramente atraída a ele. Um era sensível, romântico e tímido, o outro era selvagem, perigoso e corajoso. Qual o problema de amar uma pessoa que pode ser o branco e o preto, a noite e o dia ao mesmo tempo?
Eu certamente sabia qual era o grande problema. Eu não havia dito isso ainda, quero dizer, ele ainda não ouvira um “eu te amo” vindo da minha parte. Porque, na verdade, foi ali, conversando com a Rebecca, que realmente percebi o quanto ele era imprescindível para minha existência. Foi só ali que eu pude contabilizar minhas emoções, tirar as coisas a limpo e entender o que se passava dentro de mim.
Era isso, eu o amava. O amava com tanta intensidade que doía. Amo como seus olhos serenos conseguem me acalmar durante a luz do dia e, da mesma maneira, amo como o verde selvagem faz meu coração bater acelerado apenas com um olhar. E eu precisava do verde. Aquele verde era essencial para mim, como a última gota de absinto da garrafa.
Talvez eu estivesse com medo demais para admitir. Aliás, eu tinha a certeza de que o meu receio era o que estava me impedindo de verbalizar palavras tão doces e simples. Palavras tão verdadeiras...
– Por que não conquista logo a outra parte dele?
– O outro Sam não sabe o que acontece. – Rebecca também não estava ciente da história toda. Não sabia que, além de ter dupla personalidade e o fato de um Sam ser totalmente inverso ao outro, a segunda parte dele colocava a própria vida em risco se aventurando à noite pela cidade para tirar meu nome de uma lista de morte. E eu não iria dizer isso a ela.
– Você sabe porque isso tudo está acontecendo. – Ela constatou com seriedade.
– O que quer dizer?
– Você sabe o que quero dizer. Já percebeu o quanto você se envolve nessa teia de mentiras e omissões e depois não consegue mais sair dela?
– Eu sei, mas eu não faço isso por mal. Eu só tento fazer com que as coisas funcionem.
– E eu sei disso. E esse é o problema. Você não é Deus, Mel. Você não é alguém responsável por todo mundo. Alguém que tem sempre que ficar cuidando para que todas as partes fiquem satisfeitas, você não é uma mãezona.
Eu poderia ter ficado um pouco ofendida por isso, mas eu gostava da maneira como Rebecca me dizia as coisas sem abusar de eufemismos. Era o jeito dela, falava e pronto.
– O problema é que você sempre tenta proteger o Sam, a outra parte dele, a Sofia, a sua mãe, seus vizinhos. Então você omite. Concordou com essa maluquice de que o Sam é criança demais para saber a verdade sobre ele mesmo, qual é, o cara tem vinte anos e você não é a mãe dele. Omitiu que ele tem esse problema e ainda omite para a sua mãe que um cara que pode ser perigoso, porque ainda não esqueci a história que você me contou na noite em que o Felix foi baleado, está te visitando todas as noites na sua casa.
– Mas eu...
– Eu ainda não terminei. – Ela sorriu tentando parecer simpática. – E o pior, você está omitindo que está completamente apaixonada por ele.
Odeio quando as pessoas conseguem me ler tão bem assim. Essa era a total verdade que eu vinha tentando negar de uns tempos para cá. Eu estava apaixonada, eu estava amando, mas preferia fingir que não sentia as pernas tremerem ou o coração tentando pular para fora do meu peito.
– E não adianta falar que não está. Eu percebo como você revira os olhos somente com a simples menção do nome.
– Eu faço isso? – Eu perguntei assustada.
– Faz. – Ela riu como se isso fosse, de alguma forma, engraçado. – E por que não diz isso a ele?
– Eu não tenho certeza se eu o amo realmente. Você sabe que isso implica muita responsabilidade, “amor” é uma palavra séria.
Ela riu mais uma vez.
– Não sei se você está tentando enganar a mim ou a si mesma. Você nunca pareceu tão bem ao lado de alguém como parece agora. Nunca falou tão flutuante sobre alguém como faz agora. Até a sua pele está mais brilhante. Do que você tem medo?
– Eu não sei. – Eu me esforcei para ser sincera. Já que estávamos discutindo a história sem máscaras, eu queria que continuasse assim. – Eu me considero uma garota forte.
– Amar não te faz mais fraca, pelo contrário.
– É que ele me faz perder todas as defesas, todo o raciocínio, todo o senso crítico. Sinto que entro em uma zona perigosa, onde não posso ter o controle do que faço. Quando estou ao lado dele, não há como evitar que eu haja por instinto.
– E qual o grande problema? Continue assim e logo vai virar a Sofia. Você não precisa fazer cálculos para saber quando beijá–lo. Você simplesmente sabe. Não dá para ser racional quando se ama.
Embora esta última fala dela fosse totalmente verdadeira, eu tive a sutil impressão de que ela não estava mais falando de mim.
– É por isso que você está ignorando as superstições do azar, não é? Porque está agindo como uma boba apaixonada que não sabe raciocinar direito quando vê quem ama.
– Cale–se, sua boba apaixonada que não sabe admitir que está amando. – Ela riu amigavelmente e empurrou meu ombro.
– Então somos duas bobas apaixonadas. – Eu suspirei sem mais esperanças. Era definitivo. – Eu culpo os homens.
– Eu culpo os hormônios.
Durante o resto das aulas daquele dia eu fiquei planejando. A conversa com Rebecca me fizera acordar para a realidade. Agora que eu tinha admitido meus sentimentos para ela e, principalmente, para mim mesma eu teria que verbalizá–los para a pessoa central desse assunto: o Sam. Eu estava muito receosa de isso apontar que estava completamente cega por ele, que ele e o verde dos olhos poderiam me controlar a qualquer hora se quisessem. Ele fora o caçador, eu fora a presa.
O grande problema é que eu não conseguia me decidir como dizer. Se deveria simplesmente chegar e dizer logo sem mais delongas ou se isso requereria um momento mais especial.
Descartei logo a noite de hoje. Em minha cabeça, tentei convencer–me que o motivo era o de que iríamos levar Sofie para o curso e, uma declaração dessas, não pode ser dita na frente de terceiros. No fundo, contudo, eu sabia que eu simplesmente estava adiando isso até o momento em que estivesse mais preparada.
É claro que outro fator que me deixava duvidosa seria a resposta dele. Ele poderia dizer que me amava também... ou não. Sam é muito difícil de se ler, principalmente sua segunda parte, que tenta sempre encobrir tudo com aquele humor irônico. A primeira personalidade era mais sensível e romântica, já a outra era bastante imprevisível e tinha grandes dificuldades ao demonstrar sentimentos. Quero dizer, as poucas conversas que nos levavam a discutir sobre nós dois geralmente acabavam em choro (meu) ou a sensação mútua de que não deveríamos estar envolvidos. Resumindo, minha declaração tinha tudo para ser um desastre.
– Vamos te levar ao curso. – Sam informou Sofia, depois de horas de meus intermináveis pensamentos torturantes sobre o que eu deveria dizer se, é claro, resolvesse dizer o que eu deveria dizer. Eu sei, confuso.
Eu passara tanto tempo no sofá refletindo sobre mim mesma, meus medos e reais sentimentos que, quando Sam chegou na hora combinada, havia a marca exata do meu corpo no estofado.
– Você vai dirigir? – Sofia olhou para mim e perguntou receosa, ainda incrédula a respeito das minhas novas capacidades de direção.
– Ela já teve algumas lições... – Sam intercedeu, mas ainda incerto a respeito das minhas novas capacidades de direção. – Além do mais, não é muito longe... – Ele tentou amenizar o sentimento de catástrofe que, no fundo, acreditava que poderia acontecer.
Eu mal estava escutando. Ainda estava imersa nas minhas reflexões profundas sobre dizer algo que as pessoas dizem para as outras todos os dias. Quero dizer, as pessoas sempre dizem que amam as pessoas que são muito próximas a elas, não é? Não é algo tão grande assim... Rebecca estava certa, eu não conseguia me convencer. Eu deveria ter um sistema próprio de “anti–auto–enganação”.
– Eu vou a pé. Fim. – Ela disse decidida.
– Qual é! Ela já consegue fazer o básico, só precisa de mais treino... – A incerteza na voz dele estava aumentando.
– Que treine com a sua vida então! – Sofia cruzou os braços e respondeu irritada. – Eu ainda não consegui sequer um doutorado. Não estou pronta para morrer.
A palavra “morrer” também me fez desligar um pouco desse diálogo. Sofia acabara de dizer que só estaria contente ao morrer quando alcançasse pelo menos um doutorado, e eu? Quando eu sentiria que poderia morrer a qualquer momento e que não faria a diferença porque eu havia vivido e minha vida valera à pena?
– Você precisar dar uma chance à ela.
– Você está me pedindo para entrar em um carro com uma pessoa que precisa pensar por um momento qual lado é a direita e qual é a esquerda.
– No fim ela acaba descobrindo. – Sam tentou emendar. – Seja compreensível, apóie sua irmã.
– Eu estou apoiando! – Alterou a voz para contrariar. – Mel, vá na frente de carro e tente não morrer. – Ela deu uma batidinha no meu ombro tentando demonstrar o apoio, pegou a maleta preta e já iria sair pela porta da frente.
– Sofie, não vamos morrer. – Sam falou como argumento final tentando convencê–la. – Podemos matar algum gato ou atingir um poste, mas morrer é demais.
Cansei daquele papo.
– Já chega. – Tomei as chaves da mão dele. – Vocês vão comigo e vão agora. Andem!
Era extremamente irritante o diálogo entre seu namorado e a sua irmã discutindo qual era o estrago máximo que você poderia fazer no comando de um veículo. Eu estava decidida a mostrar para esses dois chatos que eu era capaz de dirigir.
– Mas eu já disse que eu não... – Minha irmã tentou contestar.
– Eu não estou perguntando, eu estou dizendo que você vai.
– Se eu morrer, eu te mato. – Ela sibilou apenas. Depois saiu do apartamento marchando em irritação. Não havia me contrariado porque vira que, desta vez, eu estava determinada.
– Ficou brava? – Sam perguntou rindo da minha ira decisiva.
– Atropelar um gato... Francamente.
– Qual o problema? – Ele deu aquele sorriso torto. – O Tosha ficaria satisfeito.
– Fique na minha frente e você verá qual gato eu vou atropelar. Vamos. – Eu passei por ele que ainda estava rindo de mim, agora, dando gargalhadas da minha fúria repentina.
Sam me seguiu pelas escadas estreitas do prédio e eu percebi que ele havia estacionado o carro na frente da entrada principal do condomínio. Sofie já estava na calçada, contemplando o veículo preto e batendo os pés no chão em nervosismo.
Agora que eu estava lá de fora, não achava mais brilhante essa idéia de dirigir. Se eu já tinha sérios problemas para controlar o carro de dia, imagina quando a noite mais escura já havia chegado? A visibilidade seria muito menor, o que significava que eu teria muito mais chances de arrebentar o veículo novinho que o Sam havia comprado.
– Eu acho que... Bom, o carro é seu e é novo e...
– Está fraquejando? – Ele indagou com aquele sorriso de quem adora me ver encabulada.
– Não.
Mais uma vez, meu orgulho venceu.
– Você deveria ter comprado um trator. – Sofia alertou receosa. Percebi que suas narinas estavam tremendo quando abriu a porta de trás e entrou no automóvel. Não perdeu nem um segundo antes de amarrar os cintos de segurança com toda a força que tinha.
– Vai dar tudo certo. – Sam sorriu para mim tentando parecer bondoso e simpático. Ele não conseguia dar esse tipo de sorriso, então percebi que ele também não acreditara nas próprias palavras. – Fique calma.
– Eu estou calma.
– Então não fique nervosa.
– Não vou ficar. – Era exatamente ele, o nervosismo, que estava me fazendo contrariar todas as frases como modo de defesa.
– Olha o centro de pesquisas fica perto. Andaremos oito quarteirões, depois viraremos à esquerda, mais três quarteirões, passamos pela ponte, esquerda de novo e pronto. Simples. – Ele foi me explicando enquanto sentou no banco do passageiro e se certificou do cinto.
– Isso significa exatamente 58 postes de iluminação, três semáforos, uma ponte e enésimos carros no caminho à noite. Ela tem 12% de chance de não atingir nada.
– Pare de aterrorizá–la. Ela precisa aprender.
– Depois que ela tirar carteira, vou ficar lisonjeada em ir com ela, até lá, somos suicidas.
– Fique quieta! – Eu falei enérgica sem olhar para o banco de atrás. – Estou tentando me concentrar.
– Você consegue. – Sam disse, desta vez, parecendo que realmente acreditava em mim.
Eu enfiei a chave na ignição. Eu sabia o que fazer. Sabia exatamente como preceder, mas o medo era tão forte que me fizera esquecer até como eu me chamava. Era muita responsabilidade em minhas mãos e, por falar em mãos, eu conseguia sentir o suor frio escorrendo por elas.
Fechei os olhos por um momento e coloquei as duas mãos sobre o volante do carro. Estava tentando passar todo o plano mais uma vez na minha cabeça para tentar não falhar. De repente, lembrei–me da frase de Cristian Trent “se você está convencida de que não consegue, não conseguirá”. Então um sentimento novo brotou em mim, eu iria chegar intacta ao curso de Sofia. Girei a chave e liguei o carro.
– Ótimo, agora devagar... – Sam falou satisfeito. Aposto que, em sua mente, dissera para si mesmo que eu desistiria na última hora. Acho que ficou contente por estar errado. Eu não desisto.
Fiz exatamente da maneira que ele me ensinara nos dias que passamos treinando no estacionamento vago. Conclui cada etapa com sucesso e já estava na hora de sairmos da porta do condomínio. O nervosismo me fez apertar muito fortemente o acelerador, o que nos fez voar para frente e quase atingir uma árvore.
– Freia, freia! – Sofia gritou por impulso e eu freei.
O corpo de todas as pessoas dentro do veículo foi projetado para frente e, após a freada brusca, para trás. Meus cabelos voaram por cima do meu rosto e eu comecei a respirar pela boca. Sam não disse nada, quando eu o contemplei pelo canto do olho, ele estava com aquela expressão estranha de quem está tentando não rir. Sofia, ao contrário, não estava achando graça alguma.
– Eu não contabilizei as árvores no meu cálculo. Nossas chances caíram para 4%.
Isso me irritou. Acelerei novamente e virei o volante para a esquerda para sairmos do acostamento. Uma motocicleta buzinou quando quase a acertei.
– Olhe no retrovisor. – Sam me corrigiu.
Isso teria sido mais útil se ele tivesse dito mais cedo. Agora eu já estava no centro da avenida e havia muitos carros passando por mim buzinando ou virando o pescoço para entender porque não estávamos nos movendo.
Acelerei outra vez. Pelo espelho do centro, pude ver Sofie tampando os olhos com as mãos. Agora foi mais fácil, eu deveria andar oito quarteirões em linha reta, qual dificuldade poderia ter?
O automóvel foi deslizando suavemente pela avenida, em uma velocidade normal, sem mais desafios, sem ultrapassagens, sem perigo. Eu estava orgulhosa de mim mesma. Aumentei um pouco a velocidade porque estávamos um pouco atrasados para deixar Sofia no Centro. Enrolamos muito com o dilema de quem deveria dirigir e, olha, eu estava desempenhando bem essa função... Até o primeiro semáforo.
Eu estava na velocidade limite quando vi a luz amarela, por um momento ou dois fiquei na dúvida se deveria frear bruscamente ou acelerar mais um pouco e passar. A segunda opção me pareceu melhor naquele momento. Acelerei diante da luz amarela que, logo depois, ficou vermelha, então assustei alguns pedestres na calçada, quase bati em um caminhão que passava no semáforo verde da outra avenida e arranquei alguns galhos das plantas que se encontravam no canteiro central.
Depois disso, eu perdi totalmente o controle do veículo por causa do susto. Quase acertei a traseira de um carro na frente do nosso que estava em velocidade menor, fiz a ultrapassagem e desmontei um ciclista da própria bicicleta, freei bruscamente no próximo semáforo (eu havia aprendido a lição... ou quase) e Sofia bateu a cabeça no vidro, mas o mais importante de tudo: chegamos inteiros ao nosso destino.
– Chão! Chão firme! – Sofia gritou desesperada quando saiu correndo do veículo. Pegou a maleta preta e sumiu de vista.
Sam começou a dar gargalhadas no banco do passageiro e eu ainda estava em choque. Não foi uma completa catástrofe como tinha grandes chances de ter sido, mas estava longe de ser uma viagem tranqüila.
– Do que está rindo?
– Foi divertido. – Ele continuou olhando para frente e rindo de alguma piada que só era contada em sua cabeça.
– Foi um desastre.
– Não exagere.
– Eu quase atropelei uma pessoa.
– Qual é, ele montou na bicicleta de novo em dois segundos! – Ele riu com mais intensidade ainda.
– Podia ter sido perigoso, Sam! – Eu me alterei com a maneira com que ele costumava levar meus desastres como humor.
– Você precisa relaxar mais. Eu não teria deixado você atropelar alguém. – Ele ficou mais sério agora, mas ainda continha aquela expressão bem humorada. – Também não deixaria você colocar nossa vida em risco. Só prometa nunca fazer isso sozinha. Nunca.
– Certo.
– Enquanto você não tiver carteira, não vai dirigir sozinha.
– Tudo bem. – Eu estava tão assustada que poderia concordar com qualquer coisa naquele momento, mas Sam estava correto. Só nos arriscamos assim porque ele estava ao meu lado, pessoas que não sabem dirigir jamais devem tentar fazer algo sozinhas.
Ficamos parados dentro do automóvel por mais um tempo, eu ainda precisava me recuperar dessa experiência marcante. Eu tinha sérias suspeitas de que minha respiração poderia nunca mais voltar ao normal, mas eu estava enganada. Depois de alguns minutos, consegui me acalmar.
– Eu acho que arranhei seu carro. – Eu disse finalmente. Ouvi o tilintar de vários objetos diferentes arranhando o metal durante o trajeto.
– Sem problemas. – Ele sorriu com o habitual humor negro. – Comprei esse carro para praticarmos, não esperava nem que fosse voltar inteiro. Você fez um bom trabalho.
– Sabia que você é irritante?
– Eu sou irritante. – Ele deu de ombros despreocupadamente.
– Sim, muito. Você me irrita ao máximo. Fica rindo do que faço de errado, sempre com esse sorrisinho torto irritante. E a sua perfeição me incomoda.
Ele arregalou os olhos ainda sorrindo.
– Perfeição?
– Sim.
– Eu estou tão longe da perfeição que nem consigo mais vê–la.
Eu não discuti. Não faz o meu feitio ficar babando por causa de um cara, mesmo que seja o Sam e, tudo bem, ele fosse perfeito, ou quase.
– Eu posso falar com a Sarah sobre consertar o carro e...
– Não precisa.
– Mas eu arranhei.
– Estou pouco me importando para o carro.
– Está vendo o que me irrita? Você é rico...
– Eu sou rico. – Ele me interrompeu.
– Você é engraçado.
– Eu sou engraçado.
– Você é sexy. – Eu continuei minha lista de reclamações acerca do Sr. Perfeição.
– Eu sou sexy. – Ele sorriu torto e depois mordeu o lábio.
Eu achava incrível como ele poderia ser convencido.
– Eu sou seu. – Ele completou depois de algum tempo.
Eu não disse nada.
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31 comentários:
Meeelllllllll Perfeito demaissssssssss!!!!!
Obrigada por proporcionar uma estória tão emocionante:!!!!
Beijosssss
Aaaíii que Lindo!!
Sam dizendo pra Mel:"Eu sou seu".
Mel não demora muito para postar não, sei que deve começar a correria agora que as aulas começaram, mas por favor não nos mate de agonia:(!!
Beijosss!!!
GENTE DO CéU!!!!!!!!!!!!!!
QUe DEclaraÇão!
EU TENHO CERTEZA, QUERO UM SAM PRA MIM...
AONDE EU ENCONTRO UM?
está maravilhosa a história Mel, por favor não demore para postar mais...
não estou pedindo, estou implorando.
bjos, luciane
Nossa derreti aqui!!!
Que lindoooo *-*
Quero um Sam pra mim [2]
estas declaraçoes inesperadas sao as melhores, de tirar o ar...
foi maravilhoso0!
To derretida aqui, isso foi lindo e perfeito e..
Está maravilhosa a história, lhe imploro por mais!
Para o mundo que eu vou ali morre e ja volto
AAAAAA maravilhoso o capitulo ansiosa para o proximo
Que lindoooooooo !
ai q coisa mais lindaa!
Não demore para postar o resto .por favoor!
;D
ain o proximo...
super-power-mega-master-muito-cut,,,
aaaah que liindo *--*
Pelo amor de Deus não demora pra postar outro capitulo *-*
não para, não para!
MEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEL!
Poooor favooor cara! Arranja um Sam pra mim?
*----*
Too amando a fic!
Beeijos ;*
a pessoa acima disse que é fic o_O
INVERSO NAO É FIC!!!!
Ah que lindo!!!!! cada dia me apaixono mais pela historia
Gamey agora *----------------*
Quero um Sam tbm /baba
Mas esse era um ótimo momento pra ela
dizer que ama ele, um 'eu amo você'
ficaria liiiindo xD
Ah, vai dizer q não? uu'
Okay, parey agora
Mais ô/
inverso não é fic! (2) O.O
own, adorei esse final de capítulo *-*
go,go próximo capitulo
Adorei a série, tem coerencia, atrae a nossa atenção tem um discurso ótimo continue assim!!!! Parabéns.
ai meu DEUS, ai meu DEUS !
vc é divinamente diviiiiiiiiina.
cadê vc? vem logo termiiiinar... aiiin acho qi não vou conseguiir dormiir hj.
Meeeeeeel salve-me dessa aflição, preciso de emoção e só encontro aqiii nas suas palavras, por favoor escreeva o outro capitulo mais rápido possível.
miil beijos e parabéns!
Senti tanta falta. Estava viajando e quase morrendo de anciedade pra ler. Achei que teria uns 3 novos posts. Posta logo vai, por favor. E ri muito com a Mel dirigindo. A Sofie é um barato, com esse calculismo todo dela. HAHA. Amo muito.
ahhh , eu tava viajando , achei que ia ter um monte de coisa qndo voltasse [2]. posh , vc disse que ia adiantar bastantes a história nas férias cade ? :~
eu li esse "eu sou seu", como sse fosse pra mim , obg sam :D
Noossa.. comecei a ler semana passada vicieii *___*
Muuito bom meesmo.. esse livro deveria ser publicado! FATO :D
Ansiosa pro próximo capitulo, posta logo por favor!!!
choreeeeeeeeei.
mataria por um ( ou dois ) Sam. ♥
Comecei a ler hoje e já estou morrendo de curiosidade para continuar a ler !!!!!
PARABÉNS !!!
estou aguardando com muita ansiedade a continuação !!!
BJosss
Mel me dá um Sam de Aniversario ? ':P
By Hayetcha
INVERSO ♥
"eu sou seu" QUE LINDOOO
Apaixonei!!
ELE É SEXY HAHA_HA!!!"
Quero um desse pra mim garotaaaa!!!
Perfeito demais esse livro!!
' eu sou seu ' que liindo *--*
eu quero um Sam para miim; ♥
PERFEITO.
Ameeeei o egocentrismo do Sam ;D
Meu deus!!!
"eu sou seu" foi demais pro meu coração
aaaah,eu nunca imaginei q o Noah tivesse envolvido, mas q massa!!! Lihn, cadê vc, fia? mas eu num tôo falando do blog não.. é pq vc sumiu até do twitter.. E a facul, como q tá? :( manda noticias, viiu?! bjbj:*
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