quarta-feira, 27 de maio de 2009

Capítulo 6 - O Amante (parte 1)

- É um luau do colégio.

- O que tem? – Ele olhou para mim como se eu tivesse começado a falar coisas sem sentido.

- Só vai ter gente chata. – A mim parecia óbvio.

- Você não disse que sua amiga Rebecca iria?

- Disse. – Realmente, mas tirando ela, iria ser só aquele povo irritante olhando para mim. Porém não quis colocar defeito, às vezes acho que reclamo demais.

- Então. A gente vai e é bom que eu conheço os seus amigos. Você fala tanto deles. Ah, não me olhe com essa cara, Mel. Vai ser divertido.

- Tudo bem. – Ou era o luau com o Sam e toda aquela gente ou era sozinha em algum outro lugar, preferi o luau.

- Você acha que tem problema para o seu pé se formos de moto?

- Não mesmo, eu sempre quis andar de moto! – Isso me animou, uma motocicleta na minha cabeça era sinal de liberdade completa. Imaginei meus cabelos esvoaçando ao vento.

- Você nunca andou de moto? – Ele pareceu ficar com medo ao ouvir a minha frase. Eu não via o problema da minha primeira vez ser com ele, de moto, quero dizer.

- Não, minha vida não é uma aventura, Sam.

- Melhor pegarmos um táxi.

- Por quê? – Fiquei decepcionada, queria mesmo ir de moto. – Você acha que eu não sou capaz de andar de moto?

- Não. É que já é perigoso sem um pé engessado...

- Por favor, papai. – Eu brinquei e ele fez uma careta.

- Só se você usar uma armadura.

- Armaduras caem bem em mim. – Não que eu tivesse alguma vez usado uma armadura, mas é que eu queria mesmo convencê-lo.

- Não duvido. – Ele sorriu malicioso, aquele mesmo sorriso do humor negro. – Estou falando sério, capacete e tudo o mais.

- Não vou precisar de uma joelheira, vou?

- Não... Quero dizer, o quão desastrada você é?

- Não sou desastrada. – Não mesmo, eu só tinha alguns probleminhas de coordenação motora, só isso.

- Sei. – Contemplei-o pensando profundamente por alguns instantes. – Certo, vamos de moto. – Em seguida ficou quieto, muito reflexivo.

- O que foi? – Ele estava mesmo concentrado em seus pensamentos.

- Nada. – Se mexeu do meu lado no sofá e olhou para outro lado.

- Sam, se vamos tentar ser amigos... Sinceridade, lembra? – Toquei-lhe o ombro com delicadeza.

- Só queria perguntar... Como é isso de luau?

- O que quer dizer? – Para mim aquela pergunta não fazia sentido.

- Como tenho que me vestir? O que fazemos?

- Você nunca foi a um luau?

- Mel – ele olhou diretamente para mim – nunca tive tempo para festas. Não existo para me divertir.

- Você não quer se divertir? – Achei muito estranho o fato de uma pessoa negar qualquer hipótese de diversão para ir procurar pessoas perigosas as quais ainda não se sabe exatamente quem são ou o que querem.

- Eu me divirto com você. – Tadinho. Não sabia mesmo que diversão é uma coisa bem diferente de cuidar de alguém com o pé engessado.

- Eu também gosto de sua companhia, mas você precisa sair mais. – Olha quem está falando, a pessoa mais caseira que eu já conheci, eu mesma. Mas é que eu estava disposta a fazer o Sam esquecer essa história de sair por aí caçando pessoas que, ao mesmo tempo, estão lhe caçando. Ele já tinha feito um progresso, essa semana quase não saiu à noite porque estava no apartamento comigo. – Você pode ir com a roupa que costuma vestir, eu acho bem legal. Mas tente usar uma camiseta de mangas mais longas, pode estar frio e lá é bem aberto. – Mentira. Eu estava era com ciúmes dos braços de fora, não queria que o grupinho da Patrícia Petry ficasse encarando o Sam a noite toda. Claro que éramos só amigos, mas mesmo assim. Ele merece alguém menos fútil que a Trícia.

- Certo. Que horas você vai estar pronta?

- Sei lá, oito e meia?

- Você quer ver a novela mexicana, não é? – Ele riu de mim.

- Não, é que eu posso demorar...

- Tudo bem. – Deu uma pausa. - Mel, não podemos voltar muito tarde, você sabe...

- Você acha que pode ocorrer de... Você deixar de ser você? – Eu ainda não sabia direito como me referir à essa história.

- Já disse que o horário não é fixo. Sempre há chances.

- O que aconteceria... Nesse caso?

Ele virou o corpo todo, apoiou um dos joelhos sobre o sofá e olhou para mim. Estava pensando em como me explicar.

- Imagine estar aqui agora, neste horário. Agora imagine que, no segundo seguinte, você está em outro lugar completamente diferente de madrugada. Qual seria a sua reação?

Tentei pensar em estar de dia, dentro de casa e logo depois me encontrar à noite em uma festa cheia de gente desconhecida. Era assim que o outro Sam se sentiria, provavelmente enlouqueceria. Ele só não sofria os impactos da dissociação de personalidades porque estava convencido de que tinha um grave problema de amnésia e que havia ido dormir no horário em que deixou de ser ele mesmo. Talvez tivesse sido uma má idéia mencionar o luau ao Sam. Seria uma verdadeira catástrofe se ele “acordasse” enquanto estivesse comigo.

- Acho que não devemos ir. – Eu disse com o máximo de sinceridade e cuidado.

- Você não entende, eu quero ir.

- Pode acontecer um desastre.

- Eu ainda quero correr o risco.

- E por quê? – Realmente não entendia porque ele queria insistir nessa loucura se havia chances de dar muito errado.

- Porque quero estar com você.

É, eu fiquei bastante balançada com isso, mas o medo de acontecer o pior ainda não havia ido embora. A idéia de ficar no apartamento dele agora me soava bem mais razoável. Porque, se estivermos perto de casa, não há como nos esquecermos da hora, nos atrasarmos e acontecer a calamidade de outro Sam surgir no trajeto.

- Eu não quero mais ir.

- Mel, eu nunca saí para ir a uma festa sem o motivo de infiltrar-me para tentar descobrir e rastrear alguém ou alguma coisa. Nesses sete anos em que existo, nunca tive alguém com quem compartilhar quem eu sou. Vivo solitário com a única e exclusiva razão de matar. Então lhe peço que deixe-me levá-la nessa festa com a única e exclusiva razão de ficarmos juntos.

Segurou as minhas mãos com força, não tive como recusar. Eu gostava mesmo dele, não queria que o pior acontecesse, mas depois disso, como poderia dizer não? Acho que a frase “Tome cuidado com o que desejas” caiu bem para mim nessa situação. Eu não queria o risco? Eu não pedi pelo novo? Então estava aí a oportunidade de sair da cova e me arriscar a ter um encontro perfeito ou ficar em casa na mesmice.

- Eu sei, eu sou péssimo com as palavras. – Ele disse diante do meu silêncio. Definitivamente eu não o achava péssimo com as palavras. – Nunca tive alguém para conversar, então posso soar meio idiota.

- Não, foi legal o que você disse. Acho que tudo bem se a gente for...

- Obrigado. – Ele deu um leve sorriso e me deu um abraço de lado.

- Ei, não liga se me chamarem de adúltera, okay?

- Por que te chamariam disso? – Ele perguntou ainda me apertando em seus braços.

- Ah, uma outra versão da história do Felix. – Ele levantou as sobrancelhas. – Acham que eu tinha um caso com ele. – Amparei o rosto nas mãos pensando em como as pessoas ainda acreditavam nessa idiotice.

- E tinha? – Sam tentou perguntar seriamente, mas eu sabia que ele estava brincando.

- Ele era um velhinho! – Esganicei e ele riu.



A noite estava muito bonita lá fora. O céu estava bastante estrelado, a lua cheia e poucas nuvens atrapalhando a visão. Decidimos contemplar o céu pela sacada da sala depois que não havia mais o que conversar. Encostei minhas mãos na grade branca e olhei para cima. Sam, do meu lado, fez a mesma coisa. Contemplamos juntos o azul escuro infinito.

Com a minha rotina cheia e corrida, nunca tinha parado sequer por um segundo para observar o que sempre esteve acima de mim. A sensação depois de um tempo é aquela de compreensão, a consciência grita dentro da cabeça “Finalmente entendi” porque, ao olhar as estrelas por um momento, entende-se o sentido da existência. Compreende-se o motivo do sofrimento, da dor, dos sorrisos, da paixão, da angústia, das intermináveis horas de dever de casa, das lágrimas ao ver um filme bonito, dos diálogos banais e corriqueiros, das fotos tiradas e guardadas dentro da gaveta, das milhares de janelas acesas na noite, do canto dos pássaros na manhã, da perda de alguém que amamos e do nascimento de alguém que ainda vamos amar. Vivemos para viver.

- Mel.

- Hum. – Estava absorta nesses pensamentos mais complexos, os quais eu não acho que havia refletido antes.

- Você acha que o universo é mesmo infinito? – Sam perguntou enquanto observava uma constelação que não pude distinguir. Nunca fui boa em astronomia.

- Não sei. – Eu disse ainda olhando para cima e sentindo uma leve brisa balançar os meus cabelos. – Acho que não importa. – Eu estava falando muito devagar por causa da concentração. - Há outras coisas as quais tenho certeza que são infinitas.

- Como o quê?

- O amor. Materno, paterno, fraterno, todos eles. Creio que se forem verdadeiros em essência, ultrapassam a barreira da morte. Então a imortalidade em corpo é desnecessária, a alma transcende. – Percebi que estava tocando em um assunto delicado, Sam não tinha mais ninguém. - Mas essa é só uma teoria que tenho.

- Hum. Talvez você esteja certa. – Ele olhou para mim, que estava usando as mãos para cobrir os braços. O vento estava me incomodando. – Está com frio?

- Um pouco.

- Acho que já está tarde, vamos entrar.

- São dez horas ainda.

- Você precisa ir dormir, amanhã acorda cedo. – Ele tentou me convencer, mas eu não sou boba.

- Você quer sair. – Ele não disse nada, talvez não quisesse mentir. – Aonde você vai?

- Não quero que se preocupe, preciso fazer umas coisas. – Ele confessou olhando para outro lado e me cobrindo com a jaqueta preta que estava usando. Foi me conduzindo para dentro da sala.

- Que coisas?

- Nada de mais. – Sam disse já saindo pela porta. – Boa noite, pequena, nos vemos amanhã.

Eu fiquei preocupada sim. O grande problema desse Sam é que ele não sente medo, então pensa que nada é perigoso e que pode fazer tudo, quando sabemos que a realidade não é assim. Por mais corajoso que fosse ao pular da sacada dele para a minha correndo o risco de despencar seis andares, não significava que era invencível ou imortal. Ele estava realmente se complicando e caçando problemas dos quais não precisava.

Esse pensamento piorou o meu estado de insônia, então liguei a televisão na esperança de que aquele canal transmitisse outra novela mexicana a qual pudesse me deixar sonolenta, mas não. Encontrei um programa interessantíssimo em que o apresentador tentava vender várias coisas inúteis como uma colher que se auto-esquentava ou uma lamparina de bolso. Me diverti vendo as lorotas que ele contava a fim de enganar os telespectadores fazendo-os acreditar que aqueles produtos eram fundamentais para a sua existência.

Realmente perdi o sono e, quando vi, já passava da meia noite e logo ouvi passos no corredor. Conseguia reconhecer aqueles passos finos e apressados de longe, Sarah e Sofia andando como se tivessem um compromisso o qual não poderiam, de maneira alguma, chegar atrasadas. A porta abriu-se com um clique quase silencioso.

- Ainda acordada? – Minha mãe estranhou e olhou no relógio de pulso que sempre carregava e que declarava como chefe de sua vida.

- É óbvio. – Sofie respondeu impaciente. – Os olhos dela estão bem abertos e ela está se mexendo. Então a não ser que seja sonâmbula...

- Foi uma pergunta retórica, querida. – Sarah interrompeu antes que Sofia pudesse explicar os tipos de sonambulismo. Ela apressou-se pelo corredor e já iria entrar no quarto para dormir.

- Sarah. Quero dizer, mãe. – Ela deu alguns passos para trás e sua face apareceu no corredor. Do lugar onde eu estava, parecia uma cabeça flutuante.

- Sim?

- Vou sair amanhã.

- Obrigada, Mellanie. – Ela pareceu satisfeita com a minha declaração de que iria cooperar e sumiu.

- Aonde você planeja ir? – Sofia perguntou depositando uma pasta muito parecida com a que Noah havia trazido em cima da mesa de jantar.

- Em um luau.

- Com quem?

- Sam.

- O homem do cachorro? – Era incrível como ela ainda lembrava dessa história.

- É, o homem do cachorro. – Achei melhor confirmar logo antes que discutíssemos.

- E eu?

- Você não tem cachorro.

- Não foi isso o que perguntei. Quero saber com quem vou ficar se você for a esse luau. Não tenho intenções de participar de uma festa cujos únicos objetivos são se embebedar até o fígado explodir e realizar troca de material genético por meio da saliva cruzada em um beijo. – Ela disse tudo isso em uma velocidade tão grande que fiquei até meio confusa. Sentou-se cuidadosamente na poltrona em frente ao sofá vermelho e olhou para mim. – Com quem vou ficar? Claro que eu tenho plena capacidade de saber me cuidar sozinha sem precisar de outro Homo Sapiens sapiens para pensar que toma conta de mim, mas é claro que na sociedade chula em que vivemos temos que seguir a hierarquia da faixa etária, fazendo com que pessoas mais intelectualmente desenvolvidas como eu estejam submissas à Dona Matilde do 206.

- Qual o problema com a Dona Matilde?

- Outro dia ela estava tentando abrir a porta do prédio puxando onde claramente lê-se “empurre”. – Ela colocou a mão direita sobre a testa inconformada com tal erro. - E quando você ou Sarah resolvem que precisam de alguém para me vigiar, sou obrigada a respeitar sua maior idade e comer seus biscoitos de espinafre com granola.

- Você vai ficar com o Noah! – Eu disse tentando parecer o mais animadora que pude. Minha irmã voltara visivelmente irritada e até os biscoitos de espinafre e granola da Dona Matilde já haviam entrado em seu círculo do desgosto. Tive que distraí-la antes que ela amaldiçoasse os cachorros, os biscoitos, os pombos ou qualquer outra coisa que tivesse a infelicidade de ser seu alvo.

Ela arregalou os olhos como se tivesse visto um fantasma, estava perplexa.

- Como você vai me deixar ficar na companhia de um estranho a noite toda? Você enlouqueceu?

- Você disse que ele era sua dupla em um trabalho.

- Lembro-me claramente de dizer também que nossa relação era restrita a isso! – Ela falou com a voz tão alterada de raiva que Sarah fez um “shhh” do quarto onde tentava dormir.

- E o que impede de a relação evoluir? Fique amiga dele, ele parece ter o seu nível intelectual. – Esperei que isso não a ofendesse.

- Não tenho palavras para expressar minha contrariedade.

- Então não expresse. Você vai.

Ela cruzou os braços. Apesar de falar e discutir como uma adulta, também conseguia ter comportamentos bem infantis, como a birra.

- Pense no lado bom, você vai ver seu cometa. E vai poder discutir sobre ele com o Noah.

- Isso vai ficar bem gravado na minha memória, Mellanie! – Ela ameaçou e saiu. Estava só contrariada, não dei muita importância.

- Sofie! – Ela voltou, ainda emburrada.- Ele deixou essa pasta ali para você. – Apontei a pasta preta em cima da bancada. Ela pareceu esquecer a irritação, às vezes tinha um comportamento muito oscilante.

- Que estranho. Não me lembro de ter esquecido isso. – Pegou a maleta e, analisando-a profundamente, saiu da sala.

- Mellanie, desliga essa televisão! Estou tentando dormir! – Minha mãe berrou do quarto. Desliguei a televisão na hora, se ela se atrasasse amanhã porque não tinha conseguido dormir direito por causa do barulho da televisão, eu estaria morta.

Como não consegui achar mais nada para fazer, resolvi deitar. Não dormi, mas fiquei imaginando onde o Sam estaria aquela hora, o que estaria fazendo, se já tinha saído de si mesmo.

Em meio a esses pensamentos, o sono finalmente veio. Desta vez não houve sonhos, houve uma imensa cortina de névoa prata que habitava a minha mente, corpo inerte. No momento que dei por mim, o despertador já estava me aborrecendo. Era hora de enfrentar um novo dia.

Apesar de ser sábado, eu tinha meio período de aulas de vez em quando. Era terrível ter que me animar a levantar no sábado para poder chegar à escola e tentar estudar. Eu sabia que o estudo era importante, mas a preguiça, muitas vezes, falava mais alto. Demorei a acordar.

Quase chegamos atrasadas de novo na instituição onde estudávamos havia vários anos. Acredito que as pessoas que trabalhavam na portaria já estavam acostumadas com nossos rotineiros atrasos e nem faziam mais questão de anotar tudo para poder relatar à direção. Até porque, quando se juntava uma certa quantidade de aulas atrasadas a diretora tinha o dever de marcar uma reunião com os pais para saber a origem do problema, como meu pai não tinha como comparecer porque estava morto, minha mãe tinha menos ainda porque estava tomada pelo capitalismo selvagem. Às vezes, eu conseguia ouvir sua voz do outro lado da linha do telefone gritando com a diretora e afirmando não ter tempo para cuidar do problema dos atrasos e que a escola é que tem o dever de estabelecer esse tipo de coisa com os estudantes. Acho que a diretora já tinha sido tão atormentada pelos ataques de Sarah que agora estava fazendo vista grossa ao nosso problema.

Eu, porém, não estava tão preocupada com as atitudes que o corpo administrativo poderia tomar caso eu continuasse chegando com atrasos que variavam de cinco a trinta minutos. Eu estava mais interessada em não perder meu cargo no grêmio, agora que todos aqueles inúteis estavam fazendo questão de espalhar boatos falsos sobre mim é que eu iria começar a irritar ainda mais propondo que, ao invés de fazer festas, poderíamos fazer apresentações no asilo central. Por mim estaria tudo bem, é uma sensação muito agradável fazer ações de caridade, mas eu sei que vários dos meus colegas eram capazes de explodir se pensassem, mesmo que por um segundo, em outra pessoa que não eles mesmos. Ao pensar nisso, Patrícia Petry veio saltitante com um sapato bege de salto alto e uma saia xadrez tom pastel na minha direção. Eu estava começando a acreditar que invocações demoníacas existem.

- Mel, marquei hoje à tarde às duas e meia no saguão! – Ela deu gritinhos de felicidade ao comunicar-me algo que, para mim, não fazia sentido algum
- O quê?

- Nossa foto, tolinha! – Ela apertou uma das minhas bochechas sorrindo como eu acreditava que os reis medievais costumavam sorrir para os bobos da corte antes de alguma execução.

- Eu disse que não queria tirar essa foto.

- Você também disse que iria entrar na moda. – Ela me analisou dos pés à cabeça. Aparentemente, minha calça jeans cheia de rasgados artesanais e uns bordados nos bolsos que eu mesma tinha feito e a minha blusa preta de alças finas não a agradavam. Eu estava mesmo “muito” preocupada com isso. – Como podemos ver, não se pode confiar no que você diz. – Ela me olhou com desdém.

- Não vou aparecer em foto nenhuma.

- Vai sim. – Ela arreganhou os dentes como um vampiro faria para a presa.

- Vamos ver então. – Dei de ombros e saí andando. Sim, eu tinha essa mania de deixar a Trícia falando sozinha e não queria me livrar desse hábito.

- Se você não for vai ser expulsa do Grêmio! – Ela ameaçou ao longe. É, agora minhas escolhas haviam ficado mais restritas.

- Mel! – Lean acenou ao longe ao ver-me cruzando o pátio interno. – Estou tentando desmentir aquela história de ontem.

- Como planeja fazer isso? - Perguntei ao depositar minha mochila em uma das mesas perto da fonte interna. Estava mesmo pesada.

- Estou pensando em criar cartazes com a sua foto estampada e os dizeres: – balançou as mãos no ar como se estivesse visualizando as palavras – “Não heroína”.

- Isso vai parecer que você está fazendo uma campanha anti-drogas e está usando a Mel como exemplo. – Rebecca chegou de repente e sentou-se conosco. Acenei a cabeça para cumprimentá-la.

- Lean, pode nos dar licença? - Perguntei com delicadeza.

- Por quê? – Ele balançou os cabelos rebeldes. Hoje sua roupa estava particularmente mais estranha que o normal. Se Sofie procurava pessoas que já tinham sido abduzidas, Lean tinha a grande chance de estar nessa lista.

- Quero falar uma... Uma coisinha com a Becca. – Não é que eu duvidasse do Lean, é que as coisas, quando caíam nos ouvidos dele eram bem mais prováveis de estarem estampadas no jornal de amanhã. Sem contar que era uma conversa de meninas.

- Olha, eu sei que vocês querem ter papo de garota... – Praticamente deitou-se em cima do concreto da mesa. Parecia bastante folgado. – Mas, tudo bem, podem falar a vontade, eu posso ouvir sem ficar enjoado ou me sentir menos macho. – Rebecca riu ao ouvir essa palavra. Gostava muito de zombar do pobre.

- Hum... Então acho que tudo bem... – Fiquei sem jeito de insistir a saída de um dos meus melhores amigos. – Sam e eu vamos ao Luau.

Rebecca deu um gritinho agudo que assustou metade das pessoas que estavam passando por ali naquela hora da manhã. Balançou as mãos de excitação e sorriu.

- Ótimo, que horas nos encontramos?

- Para fazermos exatamente o quê? – Pensei nas restritas possibilidades de atividades que meu pé engessado impunha.

- Ué, nos arrumarmos! Escolher a roupa, fazer as unhas, o cabelo, a maquiagem, tudo.

- Precisa de tudo isso? – Eu achava isso tudo meio que uma bobagem. Se o Sam já me via todas as noites com uma camisola velha, o cabelo preso em um rabo de cavalo ou desarrumado, sem maquiagem, meio rabugenta e com um pé engessado e mesmo assim me queria, parecia meio hipócrita me arrumar só agora. E eu não gostava dessas roupas que Rebecca arrumava para mim, muito desconfortáveis. Preferia de longe meu coturno e uma calça jeans qualquer.

- Claro que precisa. Agora, primeiro eu tenho que saber. Isso é um encontro de amigos ou um encontro encontro?

- Como vou saber disso?

- Me conte como ele te convidou.

Comecei a contar sobre como minha mãe nos queria fora de casa, como o Noah apareceu e depois o Sam, ameaçando-o com um cano retirado sei lá de onde. Depois tive que dar uma descrição detalhada do Noah, Rebecca não deixa passar uma.

- Ah, isso é muito gay. – Lean concluiu levantando-se da mesa.

- Quem é gay? – Definitivamente esperava que não fosse o Sam.

- Não me refiro a alguém, me refiro a isso. Ficar comentando sobre músculos de homem. Tô fora.

- Você disse que conseguiria agüentar o papo, ô machão! – Rebecca disse rindo.

- Mudei de idéia. Vejo vocês à noite. – Ele sorriu, beijou-lhe a face rapidamente e saiu. Ela ficou visivelmente irritada com o beijo.

- Vou ficar azarada para o resto do dia, justo hoje! – Choramingou. Ela não desistia dessa história de que Lean tinha o poder de infectar os outros com o seu azar, para mim era pura lenda. – Sam te convidou para um encontro encontro.

- Como você pode saber? – Na minha cabeça algumas coisas estavam bem claras. Apesar de sentir algo muito diferente quando estava em sua companhia, eu havia sido rigorosa comigo mesma. As coisas não poderiam ir mais longe entre nós dois. De algum modo, nós estávamos sendo alvos perigosos e, nessa situação, nos juntarmos poderia agravar muito mais os fatos, contando ainda a estranha peculiaridade dele. Sam e eu deveríamos ser só amigos, para o nosso próprio bem.

- Ele disse “com a única e exclusiva razão de ficarmos juntos”. Significa que ele quer estar junto de você.

- Mas já ficamos juntos todas as noites.

- Você não é boba, me entendeu. Ele quis dizer juntos, juntos.

- Hum, não vai rolar.

Ela ficou muito desapontada.

- Por que não?

- Eu estou passando por problemas e ele também. Ficarmos juntos significaria fazer a somatória desses problemas.

- Sabe o que eu acho?

- O quê?

- Que você raciocina demais. Logo vai virar a Sofia. – Ela riu, mas eu não achei tanta graça. No fundo, era verdade. – Nunca sentiu vontade de fazer algo só por fazer, sem pensar, só no impulso? Agir por instinto, Mel... Fazer o que dá vontade naquele momento, deixar as coisas rolarem sem parar para pensar o que isso pode acarretar. Talvez seja isso o que falta para te fazer mais feliz. Ultimamente tenho te achado tão apagada, tão cansada, você está sumindo, amiga. Não se deixe desaparecer. Pela primeira vez, faça algo por você, pensando em você.
- O que sugere?

Ela deu de ombros.

- Ué, você não vai deixar de ser babá da sua irmã pela primeira vez em anos? Não vai estar sozinha em uma festa com um cara que você gosta? Faça o que achar melhor na hora, pára de ficar colocando limites sobre si mesma.
- Mas eu não posso.

- Viu? Você pode, mas é a primeira a dizer a si mesma que não pode, que não é capaz. Se você se convence de que não pode, quem irá te convencer de que pode? Pense nisso. – Ela piscou para mim logo antes de bater o sinal. Direcionamos-nos para a sala onde iríamos assistir três períodos de aula nesta manhã de sábado.
O que Rebecca me disse me deixou muito pensativa. Apesar de ter sido repetitivo, era uma coisa a ser levada em consideração e, depois de muitas reflexões, percebi que ela tinha razão. Acredito que o maior motivo da desesperança que eu estava sentindo nos últimos tempos era o fato de eu tentar sempre pensar nos outros antes de mim. Antes mesmo de fazer qualquer coisa, me obrigava a verificar se aquilo não atrapalharia Sofia ou Sarah de alguma maneira. Então calculava se não prejudicaria qualquer outra pessoa ou criatura, desde os vizinhos até os pombos do terraço. Isso inviabilizava a maioria dos planos que eu fazia para mim mesma porque é óbvio, e eu já deveria ter descoberto, é impossível agradar a todos. Talvez eu devesse tirar uma noite livre.

Combinei com Rebecca de nos encontrarmos na sorveteria ao lado do colégio por volta das três da tarde daquele sábado ensolarado. Contei-lhe que estava sendo obrigada a tirar uma foto com a Petry para o Folhetim e confessei minhas esperanças de que, depois daquela foto ridícula, o jornal falisse de vez.

- Mellanie, aonde planeja ir hoje? – Sarah perguntou-me durante mais um dos trajetos de carro que percorríamos entre o colégio e o condomínio.

- Luau. – Respondi tentando ser o mais genérica possível. Não queria dar mais detalhes à minha mãe, apesar de não ligar a mínima na maior parte do tempo, era bem rígida quando o assunto era o sexo oposto.

- Com a Rebecca? – Ela estranhou a minha resposta pequena, normalmente eu falo muito.

- E com o homem do cachorro. – Sofie completou do banco de trás. Minha irmã não fizera por maldade, ela só não tinha a mínima idéia de que, por uma espécie de “leis sociais de amizade”, esse tipo de detalhe deveria ser ocultado algumas vezes, principalmente quando os pais não conhecem “o homem do cachorro”. Isso não me impediu de ficar furiosa com ela.

Sarah freou bruscamente e, pela segunda vez na semana, minha testa fora jogada contra o vidro lateral do carro. O motorista de um carro azul metálico que estava logo atrás buzinou e falou algum palavrão que não consegui entender quando ultrapassou minha mãe pelo lado errado. Aparentemente, os carros que estão logo atrás de você não gostam de freadas bruscas quando o sinal está verde.

- Que homem é esse?

- É só o novo vizinho. – Eu respondi enquanto passava a mão direita sobre a testa analisando o machucado e, ao mesmo tempo, olhava para trás ameaçando Sofie ao passar o dedo indicador esquerdo pela garganta como se fosse uma faca.

- Esse vizinho tem nome?

- Isso é óbvio. – Sofie respondeu. – Afinal, quando vocês viram alguém sem nome? – Sofie perguntou irritada frente à minha ameaça. Ignorei-a.

- Samuel. Ele vai me levar porque não posso pegar o metrô com o tornozelo assim. – Era uma meia verdade.

- E sua irmã vai com vocês? – Ela finalmente deixou de atrapalhar o curso da avenida e continuou a mover o carro.

- Não, ela vai com o grupo do centro ao planetário.

- Não! – Sofie tentou manifestar-se, mas meu olhar irritado a calou. Essa história do grupo do centro de pesquisas também era uma meia verdade, mas eu tinha certeza de que Sarah nunca deixaria Sofia ir se soubesse que o “grupo”, na verdade, é composto por uma pessoa só, um loiro bonito de uns dezenove anos.
- Quero conhecer esse rapaz.

- Quem? O Sam?

- “Sam”. – Ela deu um riso de desdém ao ouvir o apelido. – Já está tão íntima assim?

- É só uma festa, mãe.

- Quero conhecê-lo.

- Ah é? Quando, posso saber? Nos cinco minutos em que você pára em casa? E, mesmo assim, ele não tem visão raio-x para vê-la por trás das pilhas de relatórios, mãe. – Meu sarcasmo a irritava.

- Está vendo porque não gosto que você ouça essas músicas? – Era incrível como ela negava a verdade se escondendo por trás das músicas que eu gostava de escutar. Quem disse que “o pior surdo é aquele que não quer ouvir” estava certíssimo.

- Olha, tudo bem. Um dia o levo em nossa casa. – Se eu contasse que ele passara as últimas noites indo lá, era provável que eu saísse voando pela janela com a próxima freada.

- Certo.

- Posso dar a minha opinião? – Sofie interrompeu o silêncio que se seguira.

- Não. – Minha mãe e eu respondemos em coro.

- Poderíamos ver o cometa juntas. – Sussurrou baixinho com os seus botões, Sarah não ouviu.



A tarde passou rapidamente, com exceção dos momentos em que fiquei presa no saguão com a Petry contando minuciosamente todos os detalhes da roupa que escolhera para ir ao luau. Eu já não agüentava mais ouvir as diferenças entre azul petróleo e azul marinho. Apressei o pobre coitado que fora chamado no sábado para tirar uma foto minha com a Petry para poder sair logo dali. Ela me fez colocar outra blusa por cima da que eu estava usando alegando que preto era uma cor muito luxuosa para se usar à noite, mas que, de dia, era cor de luto.

Nas primeiras tentativas para tirarmos a maldita foto, tentei sinalizar um chifrinho com os dedos por cima da cabeça da Trícia, mas depois resolvi cooperar a fim de acelerar tudo. Apesar das várias tentativas de me fazer sorrir, todas foram em vão. Tirei a foto com a maior cara de contrariada na esperança de que ela desistisse dessa bobagem.

Assim que saí dali, comprei um sunday na sorveteria próxima dali onde esperaria por Rebecca, que não tardou a chegar. Ficamos andando pelo centro durante horas. À exceção da loja de música eu não conhecia muito aquela parte da cidade, ao contrário da minha melhor amiga, que pareceu ter um mapa detalhado de toda a região.

Confesso que foi divertido, comprei muitas coisas que seriam úteis, um perfume novo, roupas, um cordão de usar no pescoço e mais um monte de coisas que Rebecca me incentivou a adquirir. Comemos em uma lanchonete bem aconchegante que eu nem sabia que existia. Enquanto comia, fiquei observando pela janela do lugar o movimento das pessoas que passavam apressadas pelas ruas banhadas pelo sol forte. Muitas vezes, por causa da pressa, elas se esbarravam deixando cair algumas sacolas, mas logo se levantavam e voltavam ao destino original. A maioria delas nem mesmo olhava para os lados devido à pressa com que estavam, nem reparavam nos letreiros grandes e coloridos que enchiam as vistas de uma forma muito pesada.

- No que está pensando? – Rebecca me perguntou eventualmente ao ver-me demorar meia hora para dar duas mordidas em um sanduíche e tomar meio copo de suco de laranja.

- Nada em especial.

- Você é muito voadora. – Ela sorriu. Passou as mãos por debaixo da mesa e agarrou uma das sacolas que estava carregando. Quando encontrou o que estava procurando, estendeu-me um frasco redondo de plástico. – Toma. Comprei para você.

- O que é isso?

- É para você dar um jeito no cabelo.

- O que tem de errado com o cabelo?

- Nada, é que se usar isso vai ficar mais vivo e brilhante. Você é tão bonita, Mel, deveria se arrumar mais. Gostar mais de você.

- Ei! – Eu protestei alto enquanto pegava o vidro e analisava o rótulo. – Eu gosto de mim. Só porque não saio por aí desfilando como se tivesse acabado de sair de uma caixa da Barbie não significa que eu não me sinta bem como sou.
Rebecca suspirou.

- Me desculpa. – Não havia porque desculpar-se eu não estava irritada, só expus minha opinião. – Eu usei mal as palavras. O que eu quero dizer é que não iria te matar se você usasse batom ou uns decotes de vez em quando. Muitas garotas do colégio são capazes de matar só para comer o tanto de porcaria que você come – apontou para as batatas fritas que acompanhavam meu hambúrguer generoso – e continuar com o corpo que você tem.

Eu não iria mesmo abrir mão da comida que eu gosto só para brincar de ser modelo de alguma revista qualquer. Eu sou só eu mesma, como o que quero, visto o que gosto, digo o que penso.

Meus olhos se estreitaram ao reparar um pouco mais na embalagem do frasco azul – e não sei dizer se era azul petróleo ou marinho – que ela me entregara.

- Isso é de peixe! – Reclamei. Nunquinha eu iria passar óleo de peixe no cabelo.

- Não é peixe, sua boba. – Rebecca balançou a cabeça com desaprovação. Apontou algumas palavras impressas no papel pregado ao pote com as unhas vermelhas e enormes. – É de frutos do mar.

- Em outras palavras... Peixe.

- Pode ser ostras ou pérolas. O que importa é que vai fazer a diferença no seu cabelo. O castanho claro vai ficar bem mais ressaltado.

Não iria discutir com ela o efeito que ostras, estrelas-do-mar ou talvez lulas fariam sobre meus cabelos, até porque, eu não entendia muito disso. Guardei a embalagem em uma de minhas sacolas agradecendo à minha amiga que tivera a delicadeza de comprar o produto para mim.

Nos despedimos na estação de metrô, quando tivemos que tomar rumos diferentes se quiséssemos chegar em casa a tempo de nos arrumarmos. Ainda estava cedo, o Sol ainda brilhava no céu, mas se fizéssemos tudo o que estávamos planejando, provavelmente, estaríamos prontas só depois de amanhã. Eu achava esse tipo de coisa tão monótona, mas pensei no Sam e concordei em me ajeitar um pouquinho, por dentro eu continuaria sendo a mesma.

Estava difícil carregar todas as coisas que eu tinha comprado, principalmente por causa da perna que ainda era um empecilho para tarefas corriqueiras simples. Quando estava quase chegando à porta do condomínio, ao acaso, encontrei Sam também voltando para casa. Ele teria me visto se não fosse pela pilha de coisas que cobriam grande parte do meu rosto, mas certamente reparou na montanha de sacolas ambulantes que se movia na calçada. Sorriu bondosamente ao ver meu esforço em carregar tudo e segurou a maioria das sacolas para mim, me deixando levar somente os embrulhos pequenos e leves.

Eu ainda achava muito estranho o fato de ele não saber de nada, de não suspeitar, de ser inocente e sensível enquanto sua outra personalidade tinha, claramente, um ódio profundo cravado em algum lugar de seu interior. Também estranhava o fato de que, para aquele Sam, eu era apenas uma vizinha que ele encontrara duas vezes sob péssimas circunstâncias. As duas, por infelicidade minha, sendo situações em que eu me mostrara extremamente descontrolada e insana, palavras mais bonitas para “uma louca varrida”. A primeira vez, como bem me lembrava, nosso primeiro encontro no qual eu descia as escadas de uma maneira violenta quando quase o atropelei. A segunda no dia fatídico em que o acusei, sem a mínima idéia da verdade, de arrombar minha casa e remexer minhas coisas quando eu não estava lá. Com exceção desses dois momentos , os quais me faziam corar somente ao pensar neles, e alguns encontros casuais no elevador não tivemos mais nenhuma espécie de contato. Ele era um completo estranho cujo alter ego iria me levar a uma festa hoje à noite. Minha vida virou uma loucura. Definitivamente.

Entramos no elevador que, ainda bem, estava vazio. Seria muito difícil carregar os pacotes sem esbarrar em alguém se tivessem pessoas lá dentro. Pensei na expressão facial da Sarah quando recebesse a conta do cartão de crédito, eventualmente ela iria entender, espero. Não sou uma adolescente que costuma gastar muito.

Subimos em silêncio, até o ponto em que percebi que o Sam havia, por hábito, pressionado o botão do seis onde, claramente, não era o andar em que eu morava.

- Sam, eu... – Ele percebeu meus movimentos de querer apertar o botão cinco, logo abaixo do botão que estava aceso.

- Eu preciso conversar com você. – Ele respondeu cheio de calma. Sua voz tinha uma tendência meio terapêutica. Se ele quisesse entrar no ramo da ioga certamente se daria bem.

- Eu estou meio... Atrasada. Hum... Não pode ser em outra hora? – Como poderia explicar que não poderia me atrasar para o encontro com ele mesmo às oito e meia?

Ele sorriu como uma criança inocente.

- Não.

Fim da parte 1

9 comentários:

Lis :D disse...

viciiei
queria q fosse publicado ;*

Diana disse...

VAI SER PUBLICADOO ♥

Andressa disse...

*_*
Adoro!

Flavia disse...

*.*
Amo!

Raíssaaaa!!! disse...

demaisss

nay disse...

sempre mais, quero sempre sempre mais

Lorena disse...

tô maiis que viciada ♥

Keka disse...

"Não" YUGSEUGYGSEYU
Adorei!

Anônimo disse...

PRECISA MESMO SER PUBLICADO E DEPOIS VIRAR FILME *u*

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