domingo, 10 de maio de 2009

Capítulo 4 - A Resposta

Eu tenho facilidade em lidar com a verdade. Nunca fui uma garota que precisa de proteção nesse aspecto. Aliás, tenho a impressão de que é mais fácil para uma pessoa aceitar a real situação se ela encarar logo a verdade, retardar esse processo com mentiras, mesmo que pequenas, torna tudo mais difícil.

E eu poderia compreender os motivos que levaram Sam a invadir a casa enquanto eu não estava lá, poderia entender o que ele estava procurando, tinha a capacidade de lidar com tudo com maturidade, isso, é claro, se ele me contasse a verdade.

- Não sei do que está falando.

- Olha, não precisa mentir. É claro que estou muito nervosa, mas como nada sumiu, eu só quero entender porque fez isso.

- Fiz exatamente o quê? – Ele levantou as sobrancelhas com calma, como se estivesse com medo de que meu próximo movimento de loucura fosse pular em seu pescoço com uma adaga.

- Está me dizendo que não invadiu meu apartamento pela sacada? – Pela primeira vez cogitei mesmo a hipótese de não ter sido ele. Havia tanta sinceridade e confusão em seus olhos que fiquei na dúvida.

- O quê? Pela sacada? – Ele pareceu achar isso tudo uma loucura. – Como alguém faria isso?

- E como vou saber? É você quem costuma pular de um andar para o outro como se fosse o King Kong.

- Desculpa, mas eu nunca fiz isso. – Ele disse com delicadeza naquele mesmo tom de quem fala com uma pessoa doente.

Não aceitei mesmo essa história. Nos últimos dois dias ele tinha pulado para o meu andar pela sacada três vezes e agora estava dizendo que não tinha a mínima idéia de como se fazia isso. À menos que eu estivesse mesmo louca e estivesse tendo alucinações, ele estava mentindo.

- Mellanie, você está muito atordoada. Não quer entrar e tomar água com açúcar? – Ele perguntou com grande bondade na voz, afastou-se do portal e abriu um pouco mais porta para que eu pudesse entrar.

Admirei-me com a sala de estar. Era a sala mais bonita que eu já vira, parecia aquelas de novela. Tinha uma combinação moderna e aconchegante. A decoração era toda baseada em cristal branco e espelhos. O sofá preto de armação metálica reluzente combinava perfeitamente com a mesinha de vidro redonda localizada exatamente no centro do lugar. A estante preta tinha as divisórias cristalinas e os livros eram organizados de acordo com a cor e o tamanho enquanto o balcão do bar era de granito escuro e brilhante e fazia par perfeito com os bancos localizados abaixo de uma prateleira de teto onde se guardavam várias taças de cristal.

Eu conseguia ver também, do lugar de onde estava, a cozinha, que era emendada com a sala, na mesma decoração preta e branca iluminada. Tinha balcões marfim espelhados e uma geladeira de porta dupla, o fogão ficava no centro, seguindo aquele modelo de cozinha ilha. As prateleiras na parede tinham as portas de vidro e, portanto, pude perceber a tamanha organização em que as louças estavam postadas. Pratos, talheres, panelas, todos brilhantes e dispostos em uma sequência lógica, ora de formato, ora de cor. Várias luminárias de teto redondas estavam acesas, contribuindo com a grande iluminação do lugar.

A sala de estar também era bem iluminada e mobiliada com tapetes de desenhos abstratos, monocromáticos da mesma forma. Os quadros que habitavam as paredes eram o que dava cor ao cômodo. Todos eles retratavam lugares lindos e paradisíacos, a maioria das vezes com água em abundância e muito verde. Me perguntei se as imagens seriam reais.

Tudo era maravilhoso exceto por um detalhe de 1,78m de altura e sapatos Padra vermelho-sangue. Havia uma mulher de cabelos vermelho-vivo modelados em um coque alto preso cuidadosamente de uma maneira requintada, requinte o mesmo com que tinha as pernas cruzadas e segurava a taça de champagne sentada no sofá da sala. Tinha as feições muito bonitas e, ao mesmo tempo, provocantes. Com olhos escuros profundos e bem delineados com lápis preto e lábios fartos e rígidos pintados com um batom também vermelho. Vestia uma blusa bege social de mangas longas e uma saia preta na altura dos joelhos. Ela me analisou dos pés à cabeça quando entrei e me jogou um olhar de desprezo seguido de um sorriso desafiador enquanto o Sam encostava a porta.

- Mellanie, esta é a May.

Ela acenou com a cabeça ao ouvir essas palavras e sorriu amarelo.

- Ah, oi. – Eu disse sem emoção nenhuma.

- May, podemos continuar com esse acordo em outra hora mais oportuna? – Ele perguntou com muita educação.

- Claro. – Ela sorriu novamente, mas a contrariedade era perceptível em sua face.

Levantou-se com elegância colocando a taça longa e cristalina sobre a mesinha redonda em frente ao sofá e caminhou provocante até a porta, onde Sam estava em pé ao meu lado. Aproximou-se, beijou-lhe a face demoradamente colocando as mãos sobre o peito musculoso dele e deu-lhe as costas saindo rebolando na saia social apertada e de couro. Era uma mulher que conseguia juntar o sexy ao elegante. Não gostei dela.

- Sente-se. – Ele disse ainda muito agradável após fechar a porta. – Quer beber algo?

- Quem é ela? – Não tinha tempo para responder o supérfluo.

- Minha agente.

- Agente? – Estranhei essa palavra ao lembrar que ele havia dito que não trabalhava.

- Sim, eu toco o violoncelo. É ela quem marca os eventos em que devo me apresentar. – Respondeu quando se sentou de maneira fina no sofá. Reparei que o jeito despreocupado e agressivo de andar e sentar haviam sumido.

- Ah. – Talvez ele tivesse esquecido de mencionar isso na noite anterior.

- Bem, - tomou um gole da outra taça que não estava suja de batom vermelho sobre a mesinha – por que não me conta que história é essa de estarem querendo me matar? – Perguntou com calma, fiquei muito confusa.

- Eu vim aqui para fazer exatamente a mesma pergunta.

- Supus que você estivesse sabendo de algo que eu não sei, mas como vejo que não, quem lhe contou essa história absurda?

Tive grande vontade de gritar “você” em resposta, porém pensei que poderia soar muito fora do normal visto que ele deveria se lembrar se tivesse me dito isso. Cogitei estar mesmo maluca.

- Você esteve lá em casa hoje à tarde ou não? – Preferi chegar logo ao objetivo central da conversa antes que ele me chamasse um psiquiatra.

- Mellanie, - ele disse com aquele tom de quem iria finalmente me contar que o papai Noel não existe que Rebecca costumava usar antes de me contrariar com delicadeza – eu não cheguei nem perto da sua casa hoje. Passei a tarde inteira com a May.

Ok, se fosse para ouvir isso eu preferiria que ele tivesse respondido que era mesmo um criminoso procurado invasor de apartamentos alheios. O Sam tinha um álibi e agora eu me sentia uma tola por ser a vizinha que bate em sua porta em plena luz do dia e começa a gritar desaforos sem ter as provas e nem a razão.

- Era só isso o que eu queria saber. Desculpe-me pelo engano. – Levantei-me para poder sair de lá, não havia mais o que discutir e eu estava irritada com essa bipolaridade, mas ele segurou uma de minhas mãos com cortesia.

- O que está te deixando tão nervosa? Invadiram a sua casa? O que houve? – Perguntou com calma e solidariedade.

Cogitei contar-lhe sobre o que haviam feito, mas não queria demorar lá. Já havia dito e perguntado o essencial. O meu plano era organizar tudo antes que Sarah e Sofie voltassem para casa por volta da meia-noite. Achei que se omitisse o acontecido evitaria me passar por louca ou irresponsável.

- Não foi nada, acho que é só a dificuldade de andar que está me causando stress. Fico muito nervosa e começo a imaginar coisas. – Escutei passos rápidos no chão espelhado segundos antes de ser atacada e derrubada em cima do sofá.

Um cão enorme estava em cima de mim. Tosha não era marrom-avermelhado como o nome sugeria. Era um Husky Siberiano branquíssimo com algumas manchas escuras e olhos prateados. Tinha o pêlo macio e bem cuidado, era aconchegante apertá-lo, era a mesma sensação de apertar um ursinho de pelúcia felpudo, só que com o quádruplo de tamanho. Ele era muito forte, o Sam teve que puxá-lo para que ele saísse de cima de mim e me deixasse respirar porque eu não consegui afastá-lo. Foi repentino, mas foi divertido.

- Tosha! Nunca mais faça isso com a Mel! – Sam ordenou bravo para o cachorro, que só abaixou a cabeça e deitou-se no tapete.

- Não tem problema, Tosha... – Falei enquanto acariciava o pêlo reluzente. – Só me avise antes. – Brinquei.

- Desculpe, ele estava preso no quarto por causa da May, deve ter escapado.

- Ela não gosta dele?

- Ele é que já tentou arrancar a perna dela. – Pode parecer sanguinário, mas fiquei satisfeita com essa informação. - Não gosta de ninguém além de mim. Você é a primeira pessoa que vem aqui que o agrada.

Achei isso muito fofo da parte do cachorro. Saber que ele me preferiu à May me fez gostar mais dele.

- Bem, tenho que ir.

- Entendo. – Ele acenou com a cabeça. – Volte outro dia para tomarmos um chá ou sei lá. Você pode trazer o açúcar. – Ele sorriu, não com deboche como costumava fazer, mas com ternura. Ele ainda lembrava sobre o fiasco do açúcar.

Chá? Sam tomava chá? Definitivamente não me aparentou ser, nas duas noites anteriores, alguém que tomava chá. O perigo que eu via em seus olhos desaparecera e fora preenchido por calmaria.

- Certo. – Eu respondi duvidosa antes de sair de sua casa. Ele me levou até a porta e esperou que eu entrasse no elevador para fechá-la, muito educado. Educado demais.

Admirei-me como minhas idéias podem ser incrivelmente estúpidas. O plano de ir lá e esclarecer as dúvidas que eu tinha me parecia tão genial, mas agora eu voltava ainda mais confusa.

Dentre minhas milhares de indagações sem resposta estavam: por que Sam disse na noite anterior que estava sendo perseguido e por que agora fingiu não ter dito e nem saber de nada disso? Sem contar o fato de ter agido de uma maneira totalmente oposta à de antes. Somado também à questão de que, se não fora ele, quem invadira minha casa? Como e em busca do quê?

Cheguei ao apartamento e vi que não teria tempo para ficar refletindo se quisesse arrumar tudo antes que minha mãe e minha irmã retornassem. Tudo estava fora do lugar, CD’s, DVD’s, pratos, xampus, cremes, roupas, livros, papéis, tudo. E a minha posição de perneta temporária não melhorava as coisas. Resolvi começar pela sala, afinal, é o lugar central da casa.

Eu conseguia ainda ver a luz do sol pela sacada, estava um dia bonito, mas nuvens escuras estavam começando a se acumular à medida que escurecia. Uma música começou a tocar, vinha do andar de cima. Reconhci o som, era “The Final Countdown” do Europe que Sam estava ensaiando no violoncelo. É uma música contagiante, daquelas que, mesmo depois que termina, o toque fica na sua cabeça.

A música parou quando estava colocando os livros de volta à estante. Já estava escuro e frio lá fora, fechei ambas as sacadas e também as janelas prevendo que iria chover. Como o clima é maluco! Ontem mesmo estava fazendo o maior calor e hoje já estava armando uma tempestade. O clima, contudo, não era o que me atormentava.

Mesmo tentando me distrair com a organização do lugar, perguntas continuavam a rodar em minha mente. Sam tinha dito que não trabalhava, então como aquela May era sua agente? Claro que alguém que toca um instrumento tão divinamente precisa de um agente, mas creio que isso conta como trabalho. Além disso, esquecendo um pouco o Samuel, como eu poderia ter certeza de que não entrariam de novo para procurar sabe-se lá o quê? E se, imaginando que terá uma próxima vez, tiver gente aqui dentro, eu ou a minha irmã? Estremeci ao pensar o que aconteceria se um estranho invadisse quando uma de nós estivesse sozinha em casa.

Escutei um barulho seco vindo do meu quarto. Torci para que não fosse o que eu achava que era, mas foi inevitável. Encontrei Sam na minha sacada batendo no vidro da porta que, desta vez, estava fechada.

- Me deixa entrar! – Ele pediu gritando lá fora, mas eu escutei bem baixinho já que estávamos separados pelo vidro.

- Você acabou de dizer que não sabia como pular! – Gritei em resposta.

- Quê? Quando falou comigo hoje?

- Uma hora atrás! – Respondi impaciente. Não agüentava mais essa brincadeira dele de dizer algo, depois desmentir e ficar me tratando de jeitos diferentes dependendo da hora do dia. Poderia ter graça para ele, mas eu já estava achando um saco. Antes eu já estava confusa e irritada por ele ter sido extremamente contraditório hoje à tarde em relação à ontem a noite, agora que tinha pulado a sacada de novo, minha raiva triplicou. – Você mentiu para mim! Eu fiquei preocupada com você e você só estava me fazendo de idiota!

- Me deixa entrar, Mel! – Ele apoiou as mãos no vidro.

- Não. – Para mim estava decidido. Eu não queria mais ficar sem dormir porque estava preocupada com ele, não queria me pegar pensando nele toda hora sendo que ele era tão imprevisível e mentiroso, não queria mais ficar com as histórias dele me atormentando a cada instante. Eu não conseguia entendê-lo e ele era, visivelmente, confuso e contraditório. Desde que o conheci, coisas estranhas começaram a acontecer. Então eu iria colocar um fim nisso.

- Vai me deixar aqui na chuva? – Ele se esforçou para falar alto enquanto contemplava o céu negro. Certamente choveria em minutos.

- Você não desceu? Então suba! – Eu sei que eu fui um pouco malvada, mas estava decidida a tirá-lo da minha vida e da minha cabeça.

- Não consigo subir, só descer!

- Você disse que não sabia como descer hoje à tarde, mas desceu. Suba!

- Abre a porta, Mel! Eu sei que você deve estar confusa e irada, mas eu posso esclarecer as coisas se você me deixar entrar.

Então era eu que era confusa?

- Eu não quero mais saber, Sam... – Eu tentei ser agradável ao dizer. – Isso tudo está me trazendo problemas... Por favor, volte para casa. – Eu disse em tom de súplica antes de sair do meu quarto, ainda bagunçado, e voltar para a arrumação da sala.

Eu estava convencida de que ele sabia como subir e que estava negando para que eu o deixasse entrar. É claro que eu não queria que ele fosse embora e tampouco queria deixar de vê-lo, eu sentia algo novo e excitante quando estava ao seu lado. Não podia, contudo, continuar me torturando da maneira que estava fazendo. Em dois dias, eu tinha quebrado o tornozelo, faltado à aula, perdido duas provas e minha casa tinha sido invadida e colocada de pernas para o ar, era um saldo muito negativo para tão pouco tempo.

Começara a chover e eu ainda nem tinha passado para a cozinha. Não sei o que alguém iria querer ao xeretar nossa cozinha. Qualquer pessoa que abrisse nossa geladeira tinha grandes chances de nos deixar moedinhas de esmola por tanta dó que iria sentir. Além de refrigerante e leite, tinha só umas duas maçãs que estavam lá já fazia quase três meses. Minha irmã e eu só comíamos congelados instantâneos de microondas ou enlatados e mamãe não almoçava em casa. Se o invasor estivesse com fome deve ter ficado muito decepcionado.

Estava organizando as panelas (as quais eu não tinha muita certeza do motivo que levou mamãe a comprá-las visto que nunca foram usadas) quando me lembrei que tinha deixado a janela do meu banheiro aberta, à essa hora ele deveria estar alagado. Ótimo, era mais uma coisa para arrumar.

Passei correndo pelo meu quarto e fechei a janela, quando voltei ao cômodo e estava me direcionando à cozinha, vi que ele não tinha ido embora. Sam estava sentado no chão da sacada com os joelhos dobrados e olhando para baixo, protegendo o rosto dos pingos de chuva. Os cabelos de tamanho médio, lisos e pretos estavam ensopados pela chuva que ele estava tomando. A pequena cobertura da sacada de cima não impedia que a água molhasse tudo na minha sacada, inclusive ele.

Sam levantou a cabeça quando percebeu que eu estava lá e olhou profundamente para mim. Eu queria sim acabar com todo esse tormento e, por mais que já gostasse dele, queria sim parar de vê-lo antes que tudo ficasse perigoso demais, mas eu não pude evitar de abrir a porta quando o vi encharcado na minha sacada olhando para mim.

- Obrigado. – Ele respondeu quando entrou no meu quarto com os cabelos e a roupa pingando.

- Vou pegar uma toalha. – Entrei no meu banheiro e peguei a primeira toalha que encontrei em meio à bagunça.

Ele pegou a toalha e começou a secar com ela os cabelos, que já tinham ocasionado uma poça de água sobre o chão. Não pude deixar de notar que a camiseta preta molhada tinha grudado sobre seus músculos salientes, ressaltando-os de um jeito muito atraente. Quando me peguei reparando nisso lembrei-me da Rebecca e olhei para outro lado. Ainda bem que o Sam estava ocupado balançando a toalha azul sobre a cabeça e não me viu observando seu corpo rigorosamente desenhado molhado.

- O que foi? – Ele percebeu que eu estava evitando olhar em sua direção.

- Nada. – Sou péssima quando tento disfarçar.

- Você é péssima quando tenta disfarçar. – E ele era muito bom para me decifrar, meu Deus.

- É que você está... Molhado. – Disse a frase sem me perguntar como isso explicava minha tentativa frustrada de não observá-lo. Quero dizer, fazia sentido só na minha cabeça.

- O que tem? – Depois de alguns segundos a expressão de que tinha entendido apareceu em sua face. Eu corei só por pensar que ele havia deduzido minha tentativa de desviar o olhar de seu corpo, que despertava pensamentos pervertidos em mim.

Eu tentava evitar esse tipo de pensamento porque eu faço parte daquele grupo de que acredita que as pessoas são mais do que um rostinho e um corpo bonito. Realmente creio que uma conversa interessante e uma personalidade marcante contam mais que qualquer apelação sexual, principalmente vinda daquele tipo de pessoas, como as populares do colégio, que chegam a perder toda a vergonha e o respeito por si mesmas para usar roupas minúsculas apenas para se mostrarem. No fundo são tão vazias e fúteis como uma garrafa pet. A diferença é que o Sam, além de ser divertido, atencioso e legal, também não posso negar que me despertava muita atração. Estava confundindo meus ideais, por isso eu estava me esforçando para não encará-lo.

- Ah, eu estou molhando o chão. – Soltei a respiração ao ver que ele não tinha entendido. – É a camiseta que está encharcada, vou tirá-la e torcê-la na pia. – E colocou as mãos na barra da camiseta preta e começou a levantá-la.

- Não! – Exclamei alto ao pensar nessa possibilidade, ele arregalou os olhos. – Não precisa, tudo bem, não arrumei aqui ainda. – Tentei normalizar a voz. – Vamos sair do quarto talvez. – Sugeri. Ficar sozinha com o Sam molhado dentro do quarto estava incitando más idéias. Peguei na mão dele e o puxei até a sala. – Sua mão está congelada por causa do frio. Vou trazer um cobertor.

- O que aconteceu aqui? – Ele perguntou ao se deparar com a bagunça que restava na sala.

Peguei um cobertor que achei jogado pelo quarto e manquei até onde ele estava.

- Estava bem pior quando eu cheguei. Toma. – Joguei o cobertor e ele o apanhou com precisão.

- Quem fez isso?

- Te falei hoje à tarde. Você tem amnésia?

- Conte de novo, com mais detalhes.

- Não tem mais detalhes. – Suspirei enquanto voltava a colocar os objetos no lugar. – Passei a tarde fora e, quando voltei, tudo tinha sido remexido.

Ele ficou muito assustado e preocupado com essa informação. Parece que a história significava muito mais para ele do que para mim.

- O que levaram?

- Nada.

- Tem certeza?

- Ainda não percebi nada faltando.

- Você trancou a porta quando saiu?

- Sim.

Enxerguei o pânico passando em seus olhos apesar de suas fortes tentativas de mascará-lo.

- Preciso te fazer mais perguntas e quero que me responda com precisão.

- Por quê?

- Porque é perigoso e eu não sei como te coloquei nessa, mas tenho que achar um jeito de tirá-la.

- Eu não respondo mais nada. – Falei decidida.

- Por que não, Mel? Você tem que colaborar... – Ele disse em tom de súplica.

- Não vou colaborar com nada enquanto você não me explicar tudo direitinho, até lá, quem faz as perguntas sou eu. – Sim, eu tenho a personalidade forte e não iria fraquejar nem com a maneira atraente com que ele se sentava com o corpo ensopado despreocupado no meu sofá.

Ele pareceu se assustar com o meu jeito autoritário ao pronunciar essa frase, mas depois deu aquele sorriso de lado, como se tivesse pensando em uma piadinha de humor negro que não quis proferir.

- Justo.

- Primeira coisa, por que você se contradiz tanto? Fala uma coisa, depois diz outra. Aí age de uma maneira, depois age de outra completamente diferente. Isso sem contar as mentiras ocasionais...

- Cite exemplos.

- Você me disse ontem que não trabalhava, hoje já tinha até uma agente bonitona que te arrumava apresentações de violoncelo.

- O que mais?

- Por falar em agente, você também mentiu quando falou que estava brincando sobre ter namorada?

- Até onde eu sei, a May é só uma agente.

- Você disse que estavam atrás de você - mudei de assunto de propósito, a pronúncia daquele nome me irritou – hoje mais cedo fingiu que nem sabia da história e ainda me tratou como se estivesse louca.

- Eu fui grosso com você? – Ele ficou preocupado.

- Não, pelo contrário, foi muito fino e cortês, bem diferente de agora ou ontem. Não que você seja mal educado agora, mas você entendeu. Isso me confunde, Sam. Eu não quero mais a sua companhia se for para continuarmos nessa brincadeira sem graça.

Ele respirou fundo e analisou-me profundamente, estava refletindo se deveria ou não me contar a verdade sobre o que estava acontecendo.

- Sente-se.

- Eu não tenho tempo para me sentar. Tenho que ajeitar tudo para evitar que Sarah ou Sofia me matem.

- Eu preciso da sua atenção completa, preciso que olhe para mim. Depois eu mesmo arrumo a casa para você, você nem deveria estar forçando o pé.

Ele me convenceu, meu tornozelo estava mesmo começando a doer. Sentei-me no sofá vermelho ao seu lado e olhei diretamente em seus olhos.

- Eu não sei como começar a te explicar. Nunca contei nada disso a ninguém antes.

- Por que não?

- Porque não é o tipo da coisa que se sai contando para qualquer pessoa.

- Então por que vai me contar? Você mal me conhece. – Eu sei que eu queria descobrir o segredo, mas se ele nunca contou a ninguém e iria me contar, haveria de ter um motivo.

- Porque, de alguma forma que ainda não sei, te arrastei para dentro do problema. E o problema é meu, Mel, você não tem nada a ver. Não quero que se machuque por algo que eu causei. – Achei bom que me contasse a verdade, mesmo que fosse assustadora.

- Tudo bem, vamos por partes. O que você fez? Por que estão te perseguindo? – Eu perguntei com calma tentando entender tudo.

- É uma história complicada.

- Pode parecer chocante, mas eu não sou tão burra, posso acompanhar.

- Você estava certa, eu menti para você ontem. Mas foi somente essa mentira.

- Sobre?

- Menti quando contei sobre os meus pais.

- Eles não morreram?

- Morreram, mas não foi de acidente de carro, foram assassinados.

- Por quem? Por quê? – Fiquei assustada. Imaginei como deve ter sido difícil para o Sam ter os dois pais mortos quando tinha apenas 13 anos.

- Eu não sei exatamente por quem, mas é uma corporação, uma empresa que assina os cheques pelo nome de 318 s/a. Aparentemente, meu pai, um pesquisador, tinha realizado uma nova descoberta que se recusou a partilhar com a companhia. Então primeiro ameaçaram, torturaram e mataram a minha mãe e, depois que viram que ele não iria mesmo ceder, o mataram também.

Fiquei horrorizada, ter os pais torturados por causa de uma invenção qualquer era muito aterrorizante. Pensei como me sentiria se imagens de minha mãe sendo torturada ficassem me atormentando o tempo todo.

- E por que estão atrás de você?

- Porque, por anos, eu saí à noite buscando evidências sobre a morte de meus pais. E, desde que eu descobri a verdade sobre o assassinato, procurei o responsável por ele em busca de vingança. Tive o prazer de encontrá-lo dando uma festa em uma casa de praia a uns 300 km daqui no ano passado. O fato é que, quando o matei, a 318 descobriu que eu existia.

- Como assim? – Perguntei meio surpresa com a informação de que ele havia matado alguém.

- De alguma forma, meu pai escondera que tinha um filho. Eu tinha o hábito de passar a maior parte do tempo na casa de campo do meu avô, no Vale. Nunca souberam que meus pais tinham um descendente e, principalmente, um herdeiro. Aí quando me descobriram vivo, começaram a me procurar.

- Então querem o seu dinheiro deixado de herança?

- Não, eles já têm dinheiro. Eles acham que o que quer que seja que meu pai tenha inventado foi deixado para mim com a sua morte.

- E foi?

- Não tenho como saber.

- Por que não?

- Porque eu não sou um cara normal, Mel. – Pela primeira vez demonstrou sentimento na frase. Achei incrível como falou da morte dos pais e do crime que cometera sem sofrimento ou culpa. Que ele não era normal eu já sabia, ou menos, sentia.

- Explique melhor.

- Não sei direito como explicar.

- Tente.

- Às vezes... Eu não sou eu. Quero dizer, eu sou eu, mas não sou eu mesmo.

- Não entendi. – Imaginei que tipo de trava-língua foi aquele.

- É como se eu ainda fosse o Sam, mas fosse um Sam diferente. – Com essa frase eu pude entender do que ele estava falando. Foi isso o que senti quando o encontrei hoje à tarde e agora.

- Eu notei, mas como é isso?

- É como se eu dividisse meu corpo com outro Sam e ele tivesse personalidade, memórias e percepções da realidade diferentes das minhas.

- Está me dizendo que não foi com você que falei hoje à tarde?

- Exato.

Eu não acreditei muito nessa história, já vi duplas personalidades em filmes, mas aquilo me parecia a maneira que ele encontraram para mentir para mim e, ao mesmo tempo, justificar a tal May. Era tudo muito ficcional demais, apesar de que, lembrei, tudo desde que conheci o Sam era meio fora da realidade.

- Então você não se lembra de ter estado comigo hoje à tarde? – Perguntei desconfiada.

- Não. Embora eu tenha breves flashes, por isso você me chamou a atenção.

- O que quer dizer?

- Quero dizer que mesmo quando eu não sou eu e encontro você , consigo ter vaga e minúscula lembrança de tê-la encontrado. Isso já é um avanço, já que eu sempre sinto que perco horas do meu dia.

- Então você se lembra?

- Vagamente. Lembro de você no meu apartamento, uma foto de má qualidade dessa imagem vem à minha cabeça, mas não lembro o que conversamos ou o que mais aconteceu.

- E você não se lembra de nada quando encontra outras pessoas?

- Não, só acontece com você.

- E por quê?

- Não sei. É como se você me fizesse sentir ser um só.

Isso meio que me comoveu, foi uma das coisas mais legais que já me disseram, mas não significava que eu estava inteiramente convencida disso tudo.

- Não era você quando nos encontramos na escada pela primeira vez. – Eu sabia disso porque o Sam de hoje à tarde mencionou o açúcar.

- Não.

- Então como sabia meu nome quando invadiu meu quarto pela sacada antes de ontem, me segurou e me falou para não sair daqui?

- Você é esperta.

Sorri com satisfação.

- Percebi você me observando de tardezinha enquanto eu terminava a mudança. Notei que morava logo abaixo de mim e perguntei seu nome para o porteiro que, aliás, te adora.

Tudo bem, ele estava começando a me convencer. Fiquei um pouco envergonhada por ele ter reparado que eu o estava observando aquele dia.

- Mas como isso funciona? Tem horário fixo para você mudar de... – Não soube como terminar a frase.

- Não. Quero dizer, eu costumo ter controle sobre mim à noite ou por volta dela. O tempo exato em que ocorre varia muito.

- E o que acontece durante o dia?

- Eu não consigo me lembrar do que faço ou converso. Como não tenho controle sobre mim nesse horário, é como se estivesse inconsciente ou dormindo. Depois acordo quando começa a escurecer, fica uma lacuna de horas em minha memória.

- E não tem como você resolver isso? Remédios, médico, simpatia, sei lá.

- Não.

- Por quê?

- Ninguém além do meu avô e, agora, você sabem o que acontece, nem eu mesmo.

- Como assim?

- O outro Sam não sabe da minha existência.

- Como isso pode ser possível? Ele não repara que perde horas da memória?

- Eu tento fazê-lo acreditar que estava dormindo.

- Como? – Tentei imaginar como alguém faria para fazer a si mesmo acreditar que dorme enquanto sai à noite buscando e matando as pessoas responsáveis pela morte dos próprios pais. É muita loucura.

- Eu procuro provas e pistas à noite toda, mas volto de madrugada, visto uma calça confortável que uso de pijama e me deito. Então durmo e só “acordo” no próximo crepúsculo. Imagino que ele pensa que esteve dormindo o tempo todo.

- Ele nem desconfia?

- Não tenho como saber.

- E as outras pessoas? Como você faz para lidar com elas?

- Eu não me relaciono com ninguém, por isso não tenho que dar muitas explicações. Já o outro Sam, imagino que seja tímido.

- O que o faz achar isso?

- Eu verifico a agenda do celular de vez em quando para ver se alguém novo se aproxima, pode ser perigoso. Mas a agenda tem sempre poucos nomes então acho que, como eu, ele é meio solitário.

- E a May? Ela é sua agente, passa bastante tempo com vocês – me dei a permissão de usar o plural – deve perceber a diferença. O conheço há dois dias e percebi.

- Mas você chegou a pensar nessa hipótese sobre a verdade?

- Não. – Aquilo era surreal demais para eu sequer ter imaginado.

- Acho que ela, como você, também fica confusa às vezes, mas não imagina a verdade. Quando o outro Sam marca encontros com ela à noite, eu tento fingir ser ele, o que é bem difícil, pois eu só suponho como ele é já que não o conheço. Ela acha estranho, mas acaba crendo na minha história de ter péssima memória. O mais complicado é arranjar desculpas para não tocar o violoncelo.

- Mas você toca tão bem!

- Eu não faço idéia de como se toca aquilo. Não tenho essa capacidade.

- As habilidades também são divididas?

- Tudo o que é mental é dividido, Mel.

- O outro Sam acha que os pais foram mortos em um acidente então?

- Sim, meu avô me disse que ele não desconfia de nada.

- Isso não é perigoso? Quero dizer, você sabe que está sendo perseguido e toma cuidado, ele pode cair em qualquer armadilha facilmente.

- Foi o que eu disse para o Cristian, meu avô, mas ele acha melhor que o outro Sam não saiba de nada.

- Por quê?

- Eu não tenho como explicar e ele, provavelmente, enlouqueceria se outra pessoa jogasse tudo, principalmente a informação de que ele não é um só, em cima dele. Além disso, de dia é mais seguro. Tem bastante gente por perto, é mais difícil de se esconder ou passar despercebido. A 318 não quer chamar a atenção, não querem que mais alguém descubra sobre o que estão procurando. Devem ter castigado o idiota que acertou o Félix por engano ao invés de mim.

- Tenho outra pergunta: Se você já matou o responsável pela morte dos seus pais, por que continua caçando pistas e outras pessoas?

- Porque eu matei quem segurou a arma e puxou o gatilho, não quem planejou, mandou e pagou pelo crime. Como disse, consegui achar os cheques de pagamento que financiaram o homicídio, mas quero achar quem os assinou e ver o brilho se esvaindo de seus olhos.

- Resumindo, você está atrás deles e eles estão atrás de você.

- Sim.

- Sou só eu ou você também percebe que isso não tem como terminar bem?

- Eu não tenho nada a perder, Mel.

- Sam, escuta, você não precisa fazer isso. Não precisa colocar a própria vida em risco por causa de vingança. Pensa nos seus pais, eles não iriam querer que você se machucasse. Seu pai escondeu a sua existência para te proteger. Pare com isso e fique a salvo, vidas inocentes como a do Sr. Felix estão sendo colocadas em risco. Não precisamos de mais mortes.

- Você não entende, Mel.

- Então me explica.

- Eu só existo por causa da vingança. Sem ela, o outro Sam não precisa de mim. Eu não tenho outro sentido de existência se não este.

- Arrume outro sentido.

- Qual?

- Não sei. Para que a gente vive? – Fiz essa pergunta sem saber a resposta. Eu definitivamente não sabia qual era o motivo existencial da humanidade, talvez fosse uma pergunta grande demais para mim.

- Eu acredito que cada um tenha o sentido de sua vida voltado para um objetivo. O meu é esse, Mel. Já tentei fugir disso, mas é como se fosse meu destino. Preciso encontrar o infeliz que acabou com tudo o que eu tinha, preciso olhar em seus olhos, preciso ver suas súplicas diante de mim, preciso vê-lo implorar por perdão antes de matá-lo.

Pronto, eu estava decidida a fazer o Sam esquecer isso. Estava decidida a fazê-lo encontrar outra razão de existir que não fosse o derramamento de sangue. Havia bondade nele, havia solidariedade e eu sabia disso. Ele me ajudara quando quebrei o tornozelo, antes disso tentou me proteger me alertando do perigo mesmo não me conhecendo e ontem me fez companhia porque sabia que eu iria ficar sozinha. Sem contar o perigo que correu tentando salvar a vida de alguém do prédio que nem conhecia, no caso, a do Sr. Felix.

- Agora vai responder minhas perguntas? – Ele perguntou com educação e tirando o cobertor, dobrando-o e colocando sobre a mesinha. Ele já estava mais seco.

Eu ainda tinha dúvidas e perguntas a fazer, mas achei melhor deixar para outra hora.

- Vou.

- Obrigado, general. – Antes que eu pudesse reclamar do novo apelido, ele começou a falar. – Onde esteve hoje à tarde?

- Com a Rebecca na biblioteca da escola.

- Alguém sabia que você iria passar a tarde fora?

- Hum... Não. Ah – lembrei – tem a Sofie, falei para ela que não estava em casa.

- Onde a Sofie estava?

- Passou o dia no centro de pesquisas.

- Tem certeza?

- O quê? Está desconfiando que a minha irmã fez isso? – Realmente, Sofie tinha a chave do apartamento e disse que estava procurando uma pasta, mas era tão organizada. Duvidei que seria capaz de revirar o apartamento todo, ainda mais sabendo que o que ela queria, provavelmente, estava em seu quarto.

- Não sei. Você disse que trancou a porta e eu vejo que ela não foi violada. Alguém deve ter a chave.

- Eu desconfiei que tivesse sido você que tivesse entrado pela sacada. – Já que ele havia sido tão sincero, resolvi seguir a mesma linha.

- Você perguntou isso para mim?

- Perguntei.

- E o que eu disse?

- Que não sabia como pular a sacada e que passou a tarde toda com a May.

- O grande problema não é como a pessoa entrou, mas sim o que estava procurando. Se fosse no meu apartamento, eu não ficaria surpreso, mas não sei como te envolvi nisso.

- Você acha que eles pensam que você me deu o negócio do seu pai para guardar?

- Não. Eu te conheço há três dias, não é possível que achariam que eu entregaria seja lá o que for que procuram assim, para uma quase desconhecida.

Fiquei meio ofendida por ser chamada de “quase desconhecida”.

- Então o que querem aqui?

- Talvez tenham encontrado o apartamento errado de novo. Afinal, 501 e 601 podem ser fáceis de se confundir.

- Só se for para uma pessoa extremamente retardada. Quem confunde um 6 com um 5?

- Não sei. Esse é outro motivo que não me deixa parar com a perseguição, Mel. Mesmo que eu parasse, eles continuariam atrás de mim. E agora tem o fator de que, de alguma forma, te coloquei nisso. Vou ter que protegê-la.

- Eu não preciso de proteção. – Tudo bem, eu tenho apenas 1,65m e 54 kg, sei que sou relativamente baixa, mas eu não sou lá tão fraquinha ou indefesa.

- Eu sei que você consegue ser bem durona, mas duvido que seria capaz de se defender com um pé engessado.

Ok, esse foi um bom ponto.

- Sim, mas você também só pode aparecer à noite. O que significa que vou ter que me virar durante o dia. E também vou ficar de olho em você.

- Por quê?

- Porque de dia você não sabe o que acontece, terei que ficar em alerta.

- Você está querendo cuidar de mim, é? – Ele perguntou como se estivesse se divertindo muito.

- Não. – Respondi só para contrariar. – É só para o caso de acontecer alguma coisa diferente.

- Sei, mas se quiser cuidar de mim, é bom começar por não me prender na chuva de novo.

- Continue pulando a minha sacada e vai ver o que vou fazer na próxima vez. – Eu respondi maliciosamente.

- Você é malvada. – E deu aquele sorriso do humor negro de novo. – Vamos começar a arrumar isso daqui? Fica sentada aí e vai me dizendo onde guardar as coisas.

- Também vou ajudar a organizar.

- Você não pode fazer esforço com...

- Eu sei. – Interrompi. – Vou ficar sentada enquanto arrumo.

- Tudo bem. Você costuma ser tão mandona assim? Não me deixa vencer uma.

- Tenho o gênio forte, só. – Levantei-me e sentei-me no chão perto dos CD’s que deveriam ser colocados de volta nas caixas e depois organizados dentro da gaveta.

- O que é aquilo preso na porta do quarto da Sofie?

- Um bilhete que ela deixou avisando que ficaria o dia fora. – Meus olhos se arregalaram ao me lembrar desse detalhe. Sofie deu expressas ordens para que eu não entrasse em seu quarto. A porta continuava fechada, será que também estava bagunçado? E, caso estivesse, como eu faria para arrumar tudo sem entrar lá? Se eu arrumasse ela saberia que entrei porque é impossível copiar seu padrão de organização. Ao mesmo tempo, se eu deixasse como estava, teria que contar a ela a história da invasão. Incrível como minha vida sempre se transforma em uma dualidade difícil.

- O quê?

- Vamos ter que contar á Sofie.

- Por quê? Não pode contar sobre mim à ninguém!

- Não vou contar sobre você! É que ela vai perceber que as coisas dela foram mexidas, vou ter que explicar sobre a invasão.

- Ela vai querer saber porque invadiram.

- Isso nem eu sei, não vou mentir se disser que eu não faço idéia.

- Você é quem sabe. Confio em você.

- E não tem motivos para não confiar.

Ele sorriu satisfeito.

Passamos horas arrumando tudo, foi muito cansativo colocar todas as coisas da casa no lugar onde estavam antes. A maioria dos objetos eu nem me lembrava mais onde estavam guardados então tive que improvisar. Achei muitas coisas que eu nem sabia que a gente tinha, a maioria delas inúteis. Encontrei até um anão de jardim guardado na despensa e coloquei-o em cima do meu criado mudo. Mal acreditei que tinha arrumado meu quarto duas vezes no mesmo dia, era definitivamente um recorde. Se eu arrumasse duas vezes em um mês inteiro era muito.

Enquanto brincávamos de diarista, Sam e eu fomos conversando sobre coisas diversas, livros, filmes, músicas e até aquela novela mexicana que estávamos assistindo ontem. Ficamos refletindo o que aconteceria com Kate Lúcia depois que tivesse um rim novo. Descobri que o Sam é bem parecido comigo, gosta das mesmas músicas de rock malucas que minha mãe insiste que é som de delinqüente. Apesar de que eu faço mais o estilo gothic metal e ele gosta mais de progressivo.

Por volta das onze da noite, depois que terminamos de organizar tudo, com exceção do quarto da Sofia onde nem entramos, deitamos exaustos no sofá e ficamos calados ouvindo a tempestade que ainda rugia lá fora. Pingos de chuva são tão tranqüilizantes, o barulho que fazem ao bater na janela faz sumir qualquer pensamento tempestuoso que ocasionalmente passa em minha mente. Nem reparei quando adormeci.

- Mel, já está tarde... Você está quase dormindo. Vou te levar pra cama e vou subir. - Ele sussurrou em meu ouvido.

- O quê? Não. Fica mais um pouco. Não estou com sono. – Eu disse tentando manter os olhos abertos. Senti ele me puxando para me levantar, então me desviei de seus braços e levantei sozinha. – Então eu te levo até a porta.

- Não precisa.

- Faço questão, ontem você já me levou até lá.

- O pé...

- Não estou fazendo esforço. – Peguei as chaves na mesinha e o acompanhei até a porta. Achei que eu era muito folgada em deixá-lo me ajudar a organizar a casa toda e nem ao menos acompanhá-lo até a porta.

- Tome cuidado e evite ficar andando por aí. – Ele recomendou quando já estávamos na porta.

- Certo. Então... Boa noite, Sam. – Falei agradavelmente ao encarar os olhos cor de oliva.

- Boa noite, Mel. – Respondeu ele fazendo uma leve carícia sobre os meus cabelos. Deu as costas em direção à escada e, de repente, parou. – O que é aquilo? – Apontou para um pedaço de papel azul que estava entre duas grades do corrimão. Espreitei os olhos para enxergar, minha visão já estava embaçada com o sono.

- Parece um bilhete.

- Não, eu reconheço esse papel. – Foi até lá, abaixou-se e segurou o papel sob a luz do corredor. – É do cara que invadiu antes de ontem. Era o papel que estava segurando quando o encontrei no meu andar conferindo o número das placas nas portas. Deve ter deixado cair quando estava descendo correndo depois de trombar com você.

Essa informação jogou um pouco de adrenalina no meu sangue, fiquei mais acordada e alerta.

- O que está escrito?

- A letra é muito ruim, mas acho que diz:

Condomínio Eldorado
Bloco 3
Apartamento 507

- É o endereço do Sr Felix. – Respondi atenta e indo na direção dele.

- Isso significa que o cara invadiu o lugar certo e atirou na pessoa correta. – Ele parecia muito confuso.

- Mas por que iriam querer matar o Sr. Felix? Não faz sentido. – Eu disse já ao seu lado.

- Não sei. Eu estava certo de que tinham pegado a pessoa errada. – Eu cheguei mais perto para olhar o papelzinho azul e meio amassado.

- Sam – eu disse horrorizada – isso não é um 7 é um 1 meio torto. – Ele olhou para mim assustado e encarou a porta do meu apartamento. - Não estavam atrás de você, estavam atrás de mim.

26 comentários:

Samara disse...

Meu Deus!!!!
Vou ter um infarto até o próximo!!

Unknown disse...

Tá incrível *-*
Posta mais logo por favor, estou muuuuito ansiosa...
ñ aguento esperar muito tempo
*viciei*

.. disse...

+++++++++++++++++ :DDDD
vô morrer :T

Myh Cabral disse...

nossa ta muito bom.......perfcte

Anônimo disse...

ADOREII!!

Estou amando a história!!

*-*

Reni disse...

morri!!! vc tem que postar o mas rapido possiveeel

Anônimo disse...

Anciosissima pelo próximo capitulo!!!

Posta rápido!!

=]

Dandara disse...

comecei ontem e já terminei , posta mais rápido :/

Lis :D disse...

cade o resto ? T_T
viciiei

Nathalia disse...

adooorei *-*
to louca pra ler o proximo

Reni disse...

é sexta kd o capitulo 5??? a mais ansiosa

Unknown disse...

O MELHOR LIVRO EVER

Diana disse...

tadinhaaa da Mel!! e agora???

Lia disse...

AMO ESSE LIVRO! VAMOS FAZER UM MOVIMENTO P/ PUBLICA'LO!

Anônimo disse...

Marianna disse...
nooossa sinceramente é muito bom esse livro.
Maais uma modinha pro futuuro rs ;)

lidia disse...

amei esse capitulo muito emocionante

Unknown disse...

To adorando ♥

Mylena Furtado disse...

DEMAIS !

jane disse...

INFARTEEEI MORRI FUI PRA OUTRA DIMENSÃO
MEU DEEEEUS!!!!

bom demaaaais

Mandy Fielding disse...

Muitooooooo bommm, to amandooo!
Peguei o link do Blog na comuna Twilight Brasil, ótima indicação das meninas.
Esse livro é muito bom, você deve publica-lo, com certeza vai conseguir, Parabénsss!

Lorena disse...

OMG; que emocionante :O

Keka disse...

Estavam atrás delaaaaa?!?!?!!?

NUNCA esperava por isso :O

CHOQUEI!!

Lalinha disse...

moooooorrrriii!!! estou tentando entender até agora!! como assim estavam atrás dela??? eu achei que queriam matar o sam mas e agora?? meu deus, vc deu um nó na minha cabeça!!!

Rafa disse...

Estou até tremendo de cuirosidade!! que maldade terminar um capítulo assim!! mesmo vc sendo malvada, amo o que vc escreve hahahaha

Fernanda disse...

nooooooooooooooooooooooooooooooooooo acho maldade demais fazer isso com as fãs!!! haja coração pra ler esse livro rsrsrsrs
brincadeira, amo demais inverso, que seja publicado!! estou torcendo!!

bjos

Hilary disse...

Ameeei, estou louca pro próximo, que venha mais! ♥♥

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